A CHEGADA (ARRIVAL, USA, 2016) – Esta obra-prima do diretor Dennis Villeneuve não é uma ficção
científica no sentido mais comercial e palatável do termo – não espere
encontrar batalhas intergaláticas, aliens estereotipados, lasers e coisas do gênero.
Tudo aqui é mais cerebral, mais intimista, muito mais para 2001 – UMA ODISSEIA
NO ESPAÇO e do genial INTERESTELAR, do que STAR TREK ou WARS. Doze naves alienígenas
aparecem em todo o planeta, gerando medo e desconfiança. Precisa-se saber do
que se trata. Mas como sabê-lo? Os gigantes de meio quilômetro de altura estão
suavemente flutuando perto do chão, quase um chamado para serem tocados, e não
parecem ser agressivos. A forma é de uma elipse negra, sem arestas nem saliências,
lembrando, à primeira vista (vista?) uma enorme lente de contato – já seria
isso uma pista importante: teriam eles chegado para nos ensinar a ver melhor? É
necessário que se estabeleça uma comunicação. A Dra. Louise Banks (Amy Adams,
perfeita no papel), professora e linguista, é convocada pelo exército para que
se inicie algum tipo de diálogo com os alienígenas através de um idioma comum. A
partir daí, desperta nela – e em nós – uma curiosidade existencial que traz uma
série de indagações sobre o real motivo da visita. Em vez da costumeira pirotecnia
a laser, o maior obstáculo é a comunicação – ou a falta dela. Villeneuve, em
sua carreira, demonstra uma versatilidade de gêneros: INCÊNDIOS, o sensacional
O HOMEM DUPLICADO e SICÁRIO são exemplos da sua abrangente concepção direcional.
Em todos, uma característica: ele não mastiga nada para os espectadores e tem na
reviravolta narrativa sua marca registrada, sempre com domínio total dos aspectos
técnicos como fotografia, direção de arte, trilha sonora e montagem. O roteiro
brilhante tangencia vários temas, sendo que o principal é o da não linearidade do tempo. Isto já fica evidente nos “flashbacks” que ocorrem a Louise, mas que,
no fundo, podem ser também “flashforwards”, na medida em que ela começa a
entender a escrita circular dos aliens, uma espécie de holograma que é a própria
representação do filme. Há uma simetria “kubrickiana” na representação das
naves alienígenas, como o monolito de 2001 - UMA ODISSEIA... que, tal como a
espada de Dâmocles, paira sobre a humanidade confusa e indecidida. O fato mais
relevante da história é este: é necessário que seres de outro planeta venham
nos advertir que, se não aprendermos a nos comunicar entre nós mesmos, a humanidade
terá o destino da destruição. É quase inaceitável que, com toda a tecnologia
atual, caracterizada como a era da comunicação, os humanos tenham tanta dificuldade de ouvir e de serem ouvidos, de trocar ideias, de se colocar no
lugar do outro, sem agressão ou intolerância. O filme de Villeneuve é uma aula sobre
a civilidade, o altruísmo e, sobretudo, sobre a importância de exercer a
linguagem com perfeição, pois ela pode ser a arma mais poderosa deste e de
outros mundos.