Joaquin Phoenix, um monstro... |
CORINGA
(JOKER, USA, 2019) – Lôbrego, visceral, chocante e magistralmente ancorado
na atuação memorável de Joaquin Phoenix, que sangra, transpira, se desespera e
chora em cada segundo de sua magnífica personificação do mais angustiante
Coringa já visto. E também ri: um ricto involuntário de insanidade e desesperança
que, devo dizer, me acompanha até agora, duas semanas depois de ver o filme. A direção
e o roteiro são perfeitos, e o tom sombrio da história torna-se quase palpável do
início ao fim. Até porque, em grande medida, estamos todos vivendo uma realidade
massacrante que nos transforma em subindivíduos, numa sociedade incapaz de
manter níveis aceitáveis de bem-estar social para as classes sociais mais pobres,
além de não permitir a estes indivíduos oportunidades de desenvolvimento social,
profissional e humano. O ponto fulcral: o filme é totalmente de Joaquin
Phoenix, capaz, especialmente nas várias cenas em que permanece em longo e angustiante
silêncio, de compor com impressionante verdade um homem destroçado, física e
emocionalmente, subtraído de sua alma e esperança e que, na tristeza, loucura e
compaixão, vai se tornando monstruoso, como a sociedade em que está inserto. O diretor
Todd Phillips presta uma homenagem a Martin Scorsese e a Robert De Niro, emulando
a Nova Iorque decadente da década de 70, tão bem representada em TAXI DRIVER. Ao
fim, não há como esquecer, entre sangue, desespero, horror e constrangedora
constatação, que CORINGA é um retrato muito próximo do desmoronamento sócio, político
e existencial do sentido da vida na pós-modernidade. Tragic, visceral, astonishing and masterly anchored
in the memorable performance of Joaquin Phoenix, who bleeds, sweats in
desperation and cries in every and each second of his magnificent
personification of the most anguished Joker ever. And also laughs: an
involuntary and despaired laugher that, I should say, has been burnt in my
memory for two weeks, after seeing the movie for the first time. The directing and writing is slickly
brilliant and the bleak settings and tones are palpable throughout. That’s because, in a certain way, we are all living in
a crushing reality that makes us less than individuals, in a society incapable
of keeping the welfare for the lower classes and preventing its members from social,
professional and existential development. The pivotal aspect of the movie is Joaquin
Phoenix’s performance and his ability to keep silent for long and distressing moments
to compose the impressive truth of a physically and emotionally devastated man deprived
of his soul and hope, who in sadness, insanity and compassion becomes a monster,
like the society around him. Director Todd Phillips pays homage to Martin Scorsese
and to Robert De Niro, emulating a decaying New York of the 70s, as we can see
in TAXI DRIVER. All in all, it cannot be forgotten, among blood, despair,
horror, and compelling conclusion, that JOKER is a very close portrait of the
social, political and existential sense of life in post-modernity.