quinta-feira, 31 de julho de 2025

4752 - GOSTO DE CEREJA (1997)

 


GOSTO DE CEREJA (TA’M E GUILASS, Irã, 1997) – Um homem circula pelas paisagens áridas de Teerã oferecendo dinheiro a quem aceite enterrá-lo após o suicídio. O diretor Abbas Kiarostami parte desta premissa simples, mas intrigante, evita o drama, os diálogos explicativos e as imagens espetaculares, para instalar o silêncio e as pausas como marcadores narrativos estruturais. O roteiro não revela os motivos do protagonista – um homem comum, com olhar passivo, sem qualquer aparente motivo para uma atitude tão radical. Aí, entra o jogo sutil do diretor, ao nos colocar como um dos passageiros abordados pelo personagem principal, um homem sem vida procurando a própria morte. Não há aparentemente uma lógica emocional capaz de alinhavar uma história tão insólita, na qual a proposição se coloca como o drive mais importante, mesmo causando um estranhamento diverso em cada não resposta recebida por ele. Kiarostami filma de modo intenso, quase minimalista também, predominantemente de dentro do carro do protagonista, provocando no espectador a mesma sensação de angústia e silencioso desespero, e isso se intensifica com a paisagem árida e sinuosa do começo até o terço final do filme, quando passamos a observar laivos de vegetação, construções mais harmonizadas com o espaço físico, grupos de pessoas aparentemente mais felizes. Esta mudança da paisagem coincide com o terceiro passageiro e sua frase definitiva: “Se você se matar, não mais sentirá o gosto das cerejas”. Há, aí, um espaço ético entre proposta e resposta, entre o desejo de morrer e o direito de não julgar. O filme se instala neste intervalo, e nele se define, sem fechamento, clímax ou resolução dramática. Uma obra-prima.  A man roams the arid landscapes of Tehran offering money to anyone who agrees to bury him after suicide. Director Abbas Kiarostami starts from this simple but intriguing premise, avoiding drama, explanatory dialogues and spectacular images, to install silence and pauses as structural narrative markers. The script does not reveal the protagonist's motives – an ordinary man, with a passive gaze, without any apparent reason for such a radical attitude. Then comes the director's subtle game, as he places us as one of the passengers approached by the main character, a lifeless man looking for his own death. There is apparently no emotional logic capable of stitching together such an unusual story, in which the proposition is placed as the most important drive, even causing a different strangeness in each non-response received by him. Kiarostami films in an intense, almost minimalist way as well, predominantly from inside the protagonist's car, provoking in the viewer the same feeling of anguish and silent despair, and this is intensified with the arid and sinuous landscape from the beginning to the final third of the film, when we start to observe traces of vegetation, constructions more in harmony with the physical space, groups of people apparently happier. This change in the landscape coincides with the third passenger and his definitive phrase: "If you kill yourself, you will no longer taste the cherries." There is an ethical space between proposal and response, between the desire to die and the right not to judge. The film settles in this interval, and defines itself in it, without closure, climax or dramatic resolution. A masterpiece. Reserva Imovision.