uma amizade sem fronteiras (monsieur Ibrahim et les fleurs du coran, frança, 2003) – o grandíssimo Omar Sharif é o Ibrahim do título que na Paris dos anos 60 (não a Paris fotogênica, mas a do meretrício da Place Pigalle) toca uma mercearia, de cujo balcão acompanha os movimentos do jovem Momo (Pierre Boulanger). Abandonado pela mãe, Momo vive à sombra do irmão ausente, que, segundo seu pai não lhe cansa de dizer, era melhor do que ele em tudo. Momo cozinha para o pai, sonha com as prostitutas que vê pela janela e, vez por outra, furta algum artigo da mercearia de Ibrahim, que finge não ver. Na tradição do cinema francês, Momo enfrenta a passagem da infância à vida adulta em meio à indiferença familiar, solitariamente e sem referências. O filme me lembrou um pouco o Encontrando Forrester, que vi há poucos dias, explorando a relação de um jovem sem referências com um “pai” por ele eleito e que, de certo modo, lhe mostra o sentido da vida. E a história enfoca isso mesmo: a conversão de Ibrahim, que não tem filhos, na figura paterna de Momo. Na realidade, há algo mais em Sharif que emociona: na vida real, ele mora há alguns anos num hotel em Paris por cortesia do dono, que é seu amigo, e desde que sofreu um enfarto praticamente não bebe e não joga mais. Direção François Dupeyron.