a noiva-cadáver (corpse bride, england 2005) – o universo de Tim Burton é mesmo fascinante: lugares sombrios, personagens mórbidos, melancolia em altas doses e um incurável romantismo exatamente nestes lugares onde menos se espera. É o caso deste filme. Tim Burton adora sua mulher, Helena Bonhan Carter, caveiras e Johnny Depp. Isso fica evidente nos filmes do diretor e aqui, em especial, nas vozes dos personagens principais. Misto de animação em 3-D e stop-motion, o filme trata do calvário do jovem Victor, prestes a casar com Victoria, herdeira de um casal de aristocratas falidos. Da mesma forma que seu prometido, Victoria é doce e romântica – e, portanto, compartilha com ele o azar de ser uma estranha em sua insensível família. Isso é tema recorrente no cinema de Burton: filhos sensíveis em famílias perversas, nas quais pais e mães são entes grotescos, o mundo real corrompe e deforma, e as palavras têm o poder demoníaco de levar uma pessoa para cada vez mais longe de aonde ela quer chegar. Transposta para animação, a estética peculiar do cineasta – gótica, soturna, bizarra – ganha matizes ainda mais fantásticos. Tecnicamente perfeito.