ray (ray, usa 2004) – de Taylor Hackford, também diretor do magnífico O Advogado do Diabo, com Al Pacino. Maravilhosa versão da vida de Ray Charles, com Jamie Foxx (13 de dezembro de 1967) fazendo o biografado com uma perfeição raramente vista, num desempenho arrebatador. Impressionante reconstituição da trajetória de Ray ao sucesso mundial, de sua vida pessoal, inclusive o seu envolvimento com as drogas e o privilegiado tino comercial que o possibilitou fazer excelentes contratos na carreira. Ray Charles foi o tipo mais obstinado de sobrevivente: aquele que faz de suas fraquezas um ponto de apoio. Vibrante, sensual e generoso nas cores – sem falar na trilha sonora sensacional, claro – Ray é uma contribuição inesperada do diretor Taylor Hackford a um gênero muito em alta, o da cinebiografia. Seu filme não se afasta das convenções dedicadas pelo cinema americano às grandes personalidades, em que a trajetória de tribulação e superação é item indispensável. Um exemplo está na seqüência em que a mãe de Ray, pouca mais de uma menina, se despe de toda e qualquer piedade para ensinar o filho a ser cego sem ser coitado. Sharon Warren, uma potência como atriz, faz a cena de forma direta, sem floreios e sem tentar ganhar a solidariedade do espectador para com seu próprio sofrimento. Menos ególatra do que Will Smith e muito mais sintonizado com suas origens do que Denzel Washington, Foxx interpreta Ray acima de tudo como um negro que fez o que tinha que fazer para contornar as adversidades pessoais – a pobreza, o preconceito, a cegueira, a tragédia familiar.