a vila (the village, usa 2004) – de M. Night Shyamalan que, desde o maravilhoso Sexto Sentido, tem tentado se superar. É o caso de quem começou com uma obra de excelência e que dá a sensação de estar sempre tentando fazer alguma coisa que lembre o sucesso inicial do filme com Bruce Willis. Difícil, não? Pois é, o cara continua tentando, tanto que A Vila foi anunciado como um filme excepcional, mas não passa de um bom, e até original, thriller. Estamos numa Pensilvânia tranqüila e rural nos fins do século XIX, e a aldeia não tem mais do que algumas dezenas de moradores. Ainda assim, eles vivem em permanente estado de alerta laranja: a floresta que delimita os contornos do seu vale próspero e ordeiro (uma espécie de Shangri-lá?) é dominada por criaturas tão terríveis que os habitantes da vila se referem a eles como “aqueles de quem não falamos”. O combinado é que ninguém deve passar pela floresta e chegar à civilização, seja ela qual for (parece uma alegoria da história de Chapeuzinho Vermelho – os personagens até usam uma vestimenta com capuz ao se aventurarem na floresta). O personagem de Joaquim Phoenix não parece disposto a obedecer a esse dogma, quebrando a trégua que terá desdobramentos misteriosos e surpreendentes. Bem, pelo menos é o que pretende o diretor, mas sem muito sucesso. Ele próprio parece ter embarcado numa espécie de egotrip sem volta, pois a publicidade de A Vila gira em torno apenas de seu nome, esquecendo o elenco de excelentes atores: William Hurt, Sigourney Weaver e Adrien Brody, entre outros. É isso que se percebe ao vê-los se comportando como se numa versão amadora de A Testemunha, falando com muitas pausas e vocabulário antiquado, como se fossem os Hamish do filme de Peter Weir. A Vila funciona como perfeito registro do comportamento bovino dos americanos quando lidam com instituições e autoridades. Eu gostei do filme num primeiro momento. No entanto, depois de refletir, percebo que estas falhas acima mencionadas acabam por criar um clima postiço e estéril, um veículo desgovernado para o nome do diretor que - é fato - começou com o pé direito, mas que, agora, vê seus filmes despencarem ladeira abaixo quanto mais o sucesso lhe sobe à cabeça. Mas é lógico que dá para ver e apreciar, principalmente pela originalidade do roteiro. Não deixa de ser também uma alegoria sobre os efeitos da pós-modernidade, ao enfocar as relações temporais e os efeitos da tecnologia. Uma das coisas que me chamaram a atenção foi o fato de o personagem de William Hurt enviar sua filha, que é cega, à cidade, buscar remédios. O fato de ela ser cega é muito representativo, pois seria a única que não poderia ver o que havia além da floresta. Serve como exemplo de imagem na pós-modernidade.