domingo, 29 de dezembro de 2013

2207 - PROVA DE VIDA

(PROOF OF LIFE, USA 2000) - Só desta vez notei a excelente fotografia deste filme com Russel Crowe e Meg Ryan, que começaram um romance na vida real durante a produção. O filme é longo demais, embora seja correto na sua proposta de mostrar - um pouco estereotipadamente,  é verdade - o clima de guerrilhas em países subdesenvolvidos da América do Sul. Meg Ryan continua, aqui, a ser uma péssima atriz, além de ser a dona do andar mais feio que o cinema já focalizou. Neste filme, ela ainda não apresentava o constrangedor contorno "bico de pato" na boca, resultado de uma aplicação de Botox, que a deixou ainda mais sem graça e feia. Crowe, por outro lado, mostra que é excelente, mesmo num papel sem grande envergadura.

2206 - PODEROSO JOE

(MIGHTY JOE YOUNG, USA 1998) - Eu nunca tinha assistido a este filme com atenção, mas, hoje, enquanto passava na TV, comecei a perceber que, tecnicamente, PODEROSO JOE é muito bom. Se compararmos com o KING KONG de Peter Jackson, com falhas técnicas evidentes, o Joe desta história ficou perfeito, em todas as cenas. A produção, em si, está à altura do original de 1949, ou seja, um exemplo de um remake que valeu a pena. Bacana ver o cameo de Terry Moore, o protagonista do filme original, e Harry Harryhausen, responsável pelos efeitos daquela produção. Ah, e, claro, tem Charlize Theron, linda e suave.

2205 - O SEGREDO DE SANTA VITÓRIA

(THE SECRET OF SANTA VITTORIA, USA 1969) - Este é um dos filmes que marcaram a minha vida, pois é uma história cativante, principalmente pela atuação ígnea de Anthony Quinn, como Bombolini, um simplório prefeito de uma cidadezinha italiana, no pós-guerra, Santa Vitória. É ali que os nazistas pretendem fazer uma ocupação, saqueando o maior tesouro da população: um milhão e trezentas mil garrafas de vinho. Ciente disso, Bombolini executa um plano ousado: esconder a maioria da produção numa das cavernas próximas da cidade. Atenção para a atuação igualmente vibrante de Anna Magnani, que consegue, em inglês, dar a sonoridade italiana a um discurso sempre colérico, engraçado e, claro, politicamente incorreto. A sequência final é hilariante, inesquecível! Um clássico.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2204 - MELANCOLIA

(MELANCHOLIA, Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, 2011) - Nos oito minutos iniciais, ao som de Tristão e Isolda, de Wagner, Lars von Trier dá a partida para a história de duas irmãs que esperam o fim do mundo. Sim, o mundo vai acabar, e vemos isso claramente quando o gigantesco planeta Melancolia se aproxima da Terra e colide com ela estrondosamente. Ver isso logo no início do filme tem um propósito específico: surpreender não com a ideia do fim do mundo, mas com a maneira como seus personagens o receberão. Este ano, vi um outro filme com temática semelhante, PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO, que também me emocionou muito. É uma ideia interessante ver os dois em sequência.

2203 - UM HOMEM DE FAMÍLIA

(THE FAMILY MAN, USA 2000) - Este é um dois filmes que sempre vejo no fim de ano. Nicolas Cage é Jack Campbell, um investidor de Wall Street, que tem a oportunidade de ver como sua vida teria sido se ele tivesse casado com a namorada da época da faculdade (Téa Leoni, lindíssima). É uma boa oportunidade para pensarmos como seria a nossa vida se tivéssemos tomado decisões diferentes. Platão dizia: "Uma vida não examinada não merece ser vivida" - o filme, portanto, pode ter este viés filosófico, que instiga um questionamento sobre coisas como o "destino", o livre-arbítrio e a capacidade de empatia.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

2202 - 2 DIAS EM NOVA YORK

(2 DAYS IN NEW YORK, França/Alemanha/ Bélgica, 2012) - Evidentemente, vi este filme por causa de Julie Delpy, que protagoniza e dirige esta comédia meio sem graça. O casamento de seu personagem, Marion, com um americano naufragou, deixando-lhe só o filho pequeno - mas ela está feliz no namoro como Mingus (Chris Rock, péssimo), que também tem uma filha de outro relacionamento. Essa simetria harmônica é fragorosamente rompida com a chegada a Nova York do pai de Marion, sua irmã doidinha e o namorado idiota desta. Imagino que Julie tenha querido dar ênfase ao choque cultural, mas o que se vê é uma série de estereótipos preconceituosos em relação ao comportamento inapropriado dos franceses quando em visita a um país estangeiro. No fim, como se quisesse ser politicamente correta, a bela e talentosa Julie acaba fazendo a apologia da união da família, sem as devidas visões críticas.

2201 - LOBISOMEM - A BESTA ENTRE NÓS

(WEREWOLF - THE BEAST AMONG US, USA 2012) - Tenho sempre curiosidade a respeito dos filmes de terror, para compará-los com as pioneiras produções da Universal, lá da década de 30. Apesar de todo o avanço tecnológico, os filmes antigos eram infinitamente melhores. Este filme é muito bem cuidado na fotografia e nos cenários, mas falha no principal: o dono da festa, o lobisomem, é feito no pior CG possível, destoando totalmente da decente produção que até apresentou um roteiro bem original, dentro do possível, pois lembra, em algumas sequências, VAN HELSING. O cubano Steven Bauer e o irlandês Stephen Rea são os nomes mais famosos do elenco praticamente desconhecido.

domingo, 22 de dezembro de 2013

2200 - O AMOR É CEGO

(SHALLOW HAL, USA 2002) - Os irmãos Farrelly conquistaram espaço nobre no coração da novíssima crítica cinematográfica a partir de uma série de comédias calcadas na incorreção política, na qual limitações físicas estimulam o debate sobre exclusão. Neste filme, eles apostam numa das (muitas) doenças da nossa sociedade: a obsessão pela magreza. Soma-se a isso um boa catucada nas bases do desejo visual masculino, e temos Jack Black e seu humor cínico na pele de Hal, ensinado desde garoto a só se interessar por mulheres dentro dos padrões espartanos de beleza e desprezado por, ele mesmo, não estar dentro da expectativa feminina. Até que conhece Rosemary (uma Gwyneth Paltrow capaz de provocar abandono de lar), um exemplo de mulher tamanho GG, mas que, aos olhos dele é a mais bela das sílfides, graças à hipnose de um guri de autoajuda.

2199 - O SOLTEIRÃO

(SOLITARY MAN, USA 2010) -O equivocado título em português quase estraga este interessante filme em que Michael Douglas meio que faz um personagem-espelho de sua vida afetiva, consabidamente afetada pelo vício que ele próprio fazia questão de declarar, não sem com uma ponta de orgulho: sexo. Pois bem, neste filme, ele é Ben Kalmen, um famoso vendedor de carros, que já conheceu melhores dias, que dinamita seu futuro ao ceder à sedução de sua enteada, numa visita a um campus universitário. Lá, trava amizade com um garotão nerd (Jesse Eisenberg), para quem será uma espécie de tutor. A relação dos dois não descamba para o paternalismo raso. O roteiro do filme é delicado demais para sentimentalismos. Não se fala em redenção. Fala-se da em inconsequências afetivas - e em seus efeitos colaterais - sem juízos morais. Kalmen não tem medo da solidão, mas, sim, da miséria, da qual se dá conta após um torvelinho de episódios comoventes e hilários que nos levam ao impacto da cena final, tão singela como dramática. Atenção para o excepcional Danny DeVito e para a sempre resignada ex-esposa interpretada por Susan Sarandon.

2198 - AS AVENTURAS DE SIMBAD

(CAPTAIN SIMBAD, USA 1963) - Meu maior interesse, neste filme, é rever Guy Williams, o professor Robinson de Perdidos no Espaço, no papel de Simbad, numa história que envolve todo o universo fantástico do mundo árabe, incluindo um dragão invisível ( ! ). É uma boa oportunidade de comparar os efeitos deste filme com os do mestre Harry Harryhausen, sempre em produções de pouca criatividade. Aqui, não: a história é repleta de surpresas e as cenas super coloridas estimulam o interesse sobre uma típica atração da Sessão da Tarde.

sábado, 21 de dezembro de 2013

2197 - O RESGATE

(STOLEN, USA 2012) - Apesar de não andar fazendo bons filmes, Nicolas Cage ainda conta com crédito comigo. O RESGATE não é um filme ruim. É péssimo. Com qualquer outro ator, seria insuportável por mais de 10 minutos. A história é muito parecida com TAKEN, estrelado por Liam Neeson e tudo parece ter sido feito meio às pressas, como fica evidenciado no roteiro. Não lhe soa familiar uma trama em que um ex-presidiário procura pela filha, com quem tem problemas de relacionamento, é rejeitado por ela que, por sua vez, é sequestrada por um antigo comparsa do pai procurando vingança, para, no fim, todos se harmonizarem? Pois é, o filme é isso apenas. A falta de originalidade só agrava o que, por si só, já seria ruim. Os personagens são muito estereotipados, especialmente o psicopata com uma perna de pau interpretado por Josh Lucas.  A sequência final é constrangedora, com direito até a uma pálida alusão ao EXTERMINADOR DO FUTURO.
 

2196 - VIAGEM FANTÁSTICA

(FANTASTIC VOYAGE, USA 1966) - Este é um dos meus filmes favoritos. Quando um diplomata, de importância vital nas relações da Guerra Fria, sofre um atentado em entra em coma, um grupo de médicos é convocado por um programa secreto do governo para operá-lo, depois de serem miniaturizados dentro do PROTEUS, um dos mais legais submarinos atômicos já mostrado pelo cinema de sci-fy. Entre os cientistas, está Raquel Welch, mais linda do que se pode imaginar, num uniforme colado ao corpo sinuoso. Vendo hoje, pude perceber que a música incidental é muito parecida com a que rolou, anos depois, em O PLANETA DOS MACACOS, com Charlton Heston, e que o roteiro pareceu ter sido feito meio às pressas, acentuando de maneira quase infantil o didatismo de algumas cenas. Mas, no todo, é ainda o mesmo filme que me impressionou indelevelmente, desde a primeira vez que o vi. Imagino como deve ter sido no cinema, com a tela grande.  
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

2195 - O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER

(MAN HUNT, USA 1941) - Esta pequena obra-prima de Fritz Lang tem um ritmo quase teatral, mas que se coaduna muito bem com o clima da II Grande Guerra, no que diz respeito ao que, à época, era considerado um "serviço de inteligência". A história parte de uma premissa curiosa: um cidadão britânico, sem motivo aparente, enquanto de férias na Alemanha, aponta seu rifle de caça para o Führer em pessoa, tranquilamente dando bobeira numa sacada de uma casa de campo. Um soldado nazista se atraca com ele, antes de sabermos se o tiro seria ou não disparado. Os alemães concordam soltá-lo, sob a condição de que ele assinasse um documento responsabilizando o governo inglês pelo quase atentado. Walter Pidgeon é o protagonista, o oligopiônico John Carradine é o seu perseguidor e, para nossa surpresa, o jovenzinho Roddy MacDowell já mostra seu talento.
 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

2194 - UM MÉTODO PERIGOSO

(A DANGEROUS METHOD, Inglaterra/Alemanha/Canadá/Suíça) - Sou fã de David Cronenberg, por isso fiquei curioso para saber como ele iria mostrar como Jung e Freud progrediriam de uma relação confortável entre discípulo e mestre para o ressentimento, o ataque e o ódio. Fica claro, no filme, o simbolismo psicanalítico entre o aluno e a figura paterna que, logicamente, Freud encarnava muito bem. De fato, o roteiro nos traz um Jung fraco que, no fundo, deseja o parricídio que nunca será capaz de perpetrar, emocionalmente, é claro - Jung teve um longo período de glória, mas é sob a égide de Freud, não a sua, que vivemos até hoje. Não obstante, Michael Fassbender dá a seu Jung a dimensão de uma colisão controlada de ambição científica, desejo rebelde e necessidade de afirmação. É por aí que, diante de Freud (Viggo Mortensen), ele tentar justificar sua relação amorosa com Sabine (Keira Knightely), uma ex-paciente que logo vai, também, se tornar uma psicanalista. Embora começasse a formular uma teoria dissidente da libido (como professava Freud), o Jung do filme quase põe tudo a perder ao se enrabichar pela mulher que lhe dava os prazeres que a esposa (esta, sim, objeto mais evidente de uma psicanálise mais intensa) lhe negava.
 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

2193 - ARGO

(ARGO, USA 2012) - Este filme dirigido por Ben Affleck ganhou o Globo de Ouro e o Oscar - isto é tão difícil de acreditar quanto o fato de sua história tratar de um episódio verídico. De fato, não achei o filme tivesse potencial para tanto, embora seja correto e bem dirigido por um dos piores atores que já pisaram a sombra do famoso letreiro de Hollywood. De talentos menos notáveis como ator que como diretor, Affleck repete a fórmula bem sucedida de ATRAÇÃO PERIGOSA, deixando os melhores papéis para quem sabe atuar e acertadamente escolhe o personagem cuja maior característica é nunca chamar atenção sobre si. De qualquer forma, apesar de todas as críticas que lhe fiz, Affleck é um exemplo de um profissional que cresceu ao se desviar do óbvio fracasso na frente das câmeras, para aí, sim, aparecer para o mundo do cinema como um bom diretor que pode ir ainda mais longe.
 

2192 - TOY STORY 3

(TOY STORY 3, USA 2010) - Mais uma obra-prima da Pixar, o filme desenvolve de maneira comovente - e às vezes assustadora - uma dúvida dos primeiros filmes: que destino têm os brinquedos quando seus donos crescem? A Pixar não não só se mantém magistral nos aspectos técnicos da animação digital, da qual foi pioneira, mas também nos fundamentos do bom cinema: um excelente roteiro e grandes personagens. TOY STORY 3 não repisa ideias dos filmes anteriores, mas sim as desenvolve até suas consequências extremas, como a cena aterrorizante dos brinquedos no lixão, em direção ao incinerador e o alívio humorístico de um curioso deus ex machina. O encanto da série talvez esteja em grande parte nessa visão nostálgica, talvez ingênua, mas muito sensível de uma infância que acho que não existe mais hoje em dia. Neste terceiro filme, os brinquedos precisam escapar da aniquilação, depois de adquirirem a consciência de que são precários. De certa forma, o filme nos leva a pensar sobre a aceitação das transições da vida
 

2191 - MATRIX

(THE MATRIX, USA 1999) - Devo dizer que, quando vi MATRIX pela primeira vez, não dei ao filme a atenção devida. Volto, portanto, ao tema, ao assistir à encenação mais uma vez. Claro está que MATRIX tem muito a ver com a concepção de "verdade" que Descartes aponta em sua obra, quando aceita mergulhar no ceticismo mais absoluto em nome da exigência da verdade, dirigindo-se ao desconhecido ponde em dúvida tudo o que sabe. Pensei nisso, enquanto me recompunha com a história que questiona as sensações reais. É precisamente esse o universo de MATRIX, em que as sensações vividas são fruto de estímulos que fazem o cérebro acreditar que correspondem a objetos reais, ao passo que apenas as sensações são reais. Morpheus (Laurence Fishburne) convida Neo (Keannu Reeves) a pôr em dúvida a realidade e a mudar seu olhar sobre tudo o que o que o cerca, indicando que o real pode ser um mero sinal elétrico interpretado pelo cérebro. A partir daí, o roteiro vai nos levando para perto do Mito da Caverna, ao emular um dos conceitos de Descartes: não há meio de determinar se o que posso ver e sentir é real ou não, se existe fora de mim ou não passa de uma ilusão dos meus sentidos. Ou seja, não é: primeiro, eu penso e, então, em seguida, deduzo que existo. É ao mesmo tempo. Não um sem o outro, mas um como condição do outro, logo, os dois juntos, inseparáveis até mesmo por uma vírgula temporal. Tudo o que pode ser traçado, desenhado no espaço, geometricamente, pode ser escrito em números, aritimeticamente. Esse é o princípio de MATRIX e da realidade virtual. Assim Morpheus pode ser visto como uma referência clara a Descartes, procurando definir as condições da evidência, ao opor o mundo que conhecemos, o mundo ilusório, ao mundo tal como existe, o deserto do real. Permito-me, então, fazer uma alusão ao meu trabalho com O RETRATO DE DORIAN GRAY e apontar que MATRIX tenta nos mostrar o que seria o mundo do ponto do vista do espírito, ao passo que o filme, por definição, só pode fazê-lo com os recursos do mundo físico. O filme, assim como o retrato de Dorian, só pode mostrar o mostrável, uma imagem, pois é o que mais se aproxima da ideia, que não é uma evidência visual. Falando nisso, tinha me esquecido de como Carrie-Anne Moss é bonita...

sábado, 14 de dezembro de 2013

2190 - JACK REACHER - O ÚLTIMO TIRO

(JACK REACHER, USA 2012) - Tom Cruise é um investigador misterioso que se envolve no caso de um ex-fuzileiro que matou, aparentemente sem razão e aleatoriamente, cinco pessoas, no centro de uma grande cidade americana. Achei que Cruise fez este personagem meio ligado no automático, quase como uma obrigação, como se não fizesse muita questão de se desligar do Ethan Hunt, de MISSÃO IMPOSSÍVEL. Faz caras e bocas para a bela Rosamund Pike, a advogada solitária (só em filme mesmo...) que luta pela justiça, e vai abatendo, um por um, todos os bandidos que lhe aparecem pela frente. Tudo bem, mas o roteiro poderia ter sido menos óbvio - a gente logo percebe o que está por trás da trama - e o filme mais curto. O excelente Richard Jenkins faz, novamente, um papel secundário, sem grande importância para a história, o que é um grande desperdício de um ator excepcional que teve, infelizmente, apenas uma grande chance para brilhar, em O VISITANTE (2007). Robert Duvall se reencontra com Cruise, depois do longínquo DIAS DE TROVÃO, e tem apenas uma atuação correta, como sempre, embora merecesse também um destaque maior, pela carreira e pelo ator sensacional que é.
 

2189 - FORREST GUMP - O CONTADOR DE HISTÓRIAS

(FORREST GUMP, USA 1994) - Forrest Gump é aquele personagem de entendimento bastante limitado, nas frímbrias da debilidade mental, mas que dispõe, como todo ser humano, e uma vontade feminina. Com a morte da mãe, de quem era completamente dependente afetivamente, Forrest se vê inerte. Petrificado pelo luto, não fala mais e não se mexe. Não vive sequer uma indecisão, que supõe hesitação diante de diversas ações possíveis - ele está no nada. Abúlico, não manifesta qualquer desejo, até que uma mudança produz-se nele; sente vontade de correr. Logo no início do filme, Forrest, ainda menino, é obrigado a usar um aparelho nas pernas. É, então, perseguido por um bando de garotos. Aí, temos uma das mais belas cenas, na minha opinião: ao correr, ele vai se libertando do aparelho e consegue fugir em meio a um campo.
 

2188 - O HOBBIT

(THE HOBBIT, New Zealand, USA 2012) - Assim como Tolkien faz nos seus livros, gastando páginas e páginas para descrever um única cena, o filme de Peter Jackson também é, de certa forma, um vasto preâmbulo para mostrar o universo da Terra Média, muito antes de O SENHOR DOS ANÉIS. No fim, tudo ficou um pouco confuso, como um desfile de carnaval que tentasse impor ao espectador um resumo de, digamos, dez anos de enredo de uma escola de samba. O excesso de CGI também me cansou. Um dos acertos foi a escalação de Martin Freeman para o papel de Bilbo - Freeman leva ao extremo a arte britânica de se evadir de situações desagradáveis, mediante polidas hesitações, além de preencher com graça um personagem difícil, mais ladino e bem menos altruísta do que Frodo.
 

2187 - APAGAR HISTÓRICO

(CLEAR HISTORY, USA 2013) - Larry David faz, aqui, um personagem bem parecido com o que ele mesmo interpretava em SEGURA A ONDA (CURB YOUR ENTHUSIASM). Este filme pode muito bem funcionar como um episódio estendido da atração da HBO. Para quem é fã da série, APAGAR HISTÓRICO tem tudo para agradar, em função do seu potencial para diversão baseado em situações constrangedoras do dia a dia, especialidade de David, desde os roteiros de SEINFELD. Dá para ver, se você está com o cérebro em modo "neutro". O elenco ainda tem coadjuvantes de luxo - as participações de Michael Keaton e Liev Schreiber são imprevisivelmente engraçadas.