segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

2191 - MATRIX

(THE MATRIX, USA 1999) - Devo dizer que, quando vi MATRIX pela primeira vez, não dei ao filme a atenção devida. Volto, portanto, ao tema, ao assistir à encenação mais uma vez. Claro está que MATRIX tem muito a ver com a concepção de "verdade" que Descartes aponta em sua obra, quando aceita mergulhar no ceticismo mais absoluto em nome da exigência da verdade, dirigindo-se ao desconhecido ponde em dúvida tudo o que sabe. Pensei nisso, enquanto me recompunha com a história que questiona as sensações reais. É precisamente esse o universo de MATRIX, em que as sensações vividas são fruto de estímulos que fazem o cérebro acreditar que correspondem a objetos reais, ao passo que apenas as sensações são reais. Morpheus (Laurence Fishburne) convida Neo (Keannu Reeves) a pôr em dúvida a realidade e a mudar seu olhar sobre tudo o que o que o cerca, indicando que o real pode ser um mero sinal elétrico interpretado pelo cérebro. A partir daí, o roteiro vai nos levando para perto do Mito da Caverna, ao emular um dos conceitos de Descartes: não há meio de determinar se o que posso ver e sentir é real ou não, se existe fora de mim ou não passa de uma ilusão dos meus sentidos. Ou seja, não é: primeiro, eu penso e, então, em seguida, deduzo que existo. É ao mesmo tempo. Não um sem o outro, mas um como condição do outro, logo, os dois juntos, inseparáveis até mesmo por uma vírgula temporal. Tudo o que pode ser traçado, desenhado no espaço, geometricamente, pode ser escrito em números, aritimeticamente. Esse é o princípio de MATRIX e da realidade virtual. Assim Morpheus pode ser visto como uma referência clara a Descartes, procurando definir as condições da evidência, ao opor o mundo que conhecemos, o mundo ilusório, ao mundo tal como existe, o deserto do real. Permito-me, então, fazer uma alusão ao meu trabalho com O RETRATO DE DORIAN GRAY e apontar que MATRIX tenta nos mostrar o que seria o mundo do ponto do vista do espírito, ao passo que o filme, por definição, só pode fazê-lo com os recursos do mundo físico. O filme, assim como o retrato de Dorian, só pode mostrar o mostrável, uma imagem, pois é o que mais se aproxima da ideia, que não é uma evidência visual. Falando nisso, tinha me esquecido de como Carrie-Anne Moss é bonita...