(OBLIVION, USA 2013) - O cinema já mostrou várias formas de o mundo encontrar a própria destruição: desastre nuclear, pandemia, revolta das máquinas, fenômeno
sobrenatural, colapso climático ou julgamento divino. O diretor Joseph Kosinski escolheu a já conhecida invasão alienígena e adicionou amor e saudosismo ao seu pacote apocalíptico. A trama se passa 60 anos depois do ataque dos Scavs: a humanidade
venceu a ameaça, mas a salvação teve seu preço: a própria Terra foi dizimada. Extraindo
os últimos recursos naturais do planeta antes da mudança definitiva para
uma lua de Saturno, Jack Harper (Tom Cruise) passa
seus dias entre as ruínas da civilização, resgatando pequenas lembranças
- livros, discos, plantas e um bobble head do Elvis - durante suas
missões. O oficial veterano, que teve a memória apagada por questões de segurança, é acompanhado por Victoria (Andrea Riseborough), sua navegadora e esposa neste novo mundo. O personagem de Tom Cruise me parece meio perdido num planeta arrasado, mas tecnologicamente desenvolvido. Da sua casa fincada no alto de uma torre - bem bacana, por sinal - onde tudo é clean ao extremo, às cavernas dos soldados da resistência, há uma preocupação em demarcar os territórios e deixar bem claro para o espectador quem é quem nessa história. Mas é exatamente nesta crise de identidade de Jack Harper que o caldo engrossa, deixando, para nós, um sabor de roteiro requentado a que nem mesmo um ator tarimbado como Cruise consegue dar o dinamismo necessário. A história quase se perde quando Jack encontra seu oásis, uma
cabana improvisada em frente a um lago, uma espécie de Shangri-lá nostálgico, onde tudo volta a ser do jeito que já foi um dia. Nas sequências no esconderijo
(cuja localização é devidamente ocultada de Victoria), os tons quentes e
naturais encontram a "verdadeira" Terra. O lugar serve para mostrar a
ligação de Jack com o planeta que ele não quer abandonar, o local onde
deposita seu espólio e encontra paz ao som de rock, um pouco de literatura
(de poetas romanos a Charles Dickens) e a lembrança difusa de um amor, a não menos apocalíptica Olga Kurylenko, que já andou obrigando James Bond a ter que fazer uns remendos no coração, em QUANTUM OF SOLACE. Ou seja, OBLIVION consegue sucesso na sua proposta imagética, mas é recalcitrante em relação ao roteiro, pois, depois de um terço de projeção, o filme passa a exigir um esforço dobrado do espectador, para, ele próprio, não se perder no vaivém do psiquismo de Harper. Certamente, OBLIVION não cairá no oblívio, em função do capricho técnico, mas ficará marcado pelo fato de o diretor não ter aproveitado o bom elenco (Morgan Freeman é pouco mais que um figurante de luxo) para fazer um filme redondo que, por si só, poderia se transformar num clássico - aí sim - inesquecível.