MARIGHELLA
(Brasil, 2012) -Eleito o melhor filme longa-metragem da 7ª Mostra Cinema e Direitos
Humanos na América do Sul, realizada em 2012. Dirigido por sua sobrinha Isa
Grinspum Ferraz, o filme é uma construção histórica e afetiva sobre Carlos
Marighella, líder comunista considerado o maior inimigo da ditadura militar.
Vítima de prisões e tortura, parlamentar e autor de Manual do Guerrilheiro
Urbano, publicado mundialmente em diversos idiomas, Marighella participou dos
principais acontecimentos políticos do país entre 1930 e 1969. Um herói, em todos os sentidos. Best film of
the 7th South American Cinema and Human Rights Show in 2012. Directed by his
niece Isa Grinspum Ferraz, the documentary is a historical and affectional construction
of Carlos Marighella, communist leader and the military dictatorship’s greatest
enemy. Imprisoned and tortured, congressional representative and author of the
urban guerrilla Manual, worldwide published in several idioms, Mariguella took
part in the main political events of Brazil between 1930 and 1969. A hero, in all senses.
MUSSUM,
UM FILME DO CACILDIS (BRASIL, 2019) – Documentário sobre Mussum,
cobrindo sua carreira musical e o sucesso nos TRAPALHÕES. Sem grandes novidades,
a produção serve para registrar a trajetória do músico que encontrou sua vocação
verdadeira como comediante. Documentary
about Mussum, covering his musical career and the success with OS TRAPALHÕES. Without
anything new, the movie is a register of the musician’s trajectory who found his
true calling as a comedian.
EU NÃO SOU SEU NEGRO (I AM NOT YOUR NEGRO, USA,
2016) -1.In 1979,
James Baldwin wrote a letter to his literary agent describing his next project,
"Remember This House." The book was to be a revolutionary, personal
account of the lives and assassinations of three of his close friends: Medgar
Evers, Malcolm X and Martin Luther King, Jr. At the time of Baldwin's death in
1987, he left behind only 30 completed pages of this manuscript. Filmmaker
Raoul Peck envisions the book James Baldwin never finished.There is a
marvelous moment in the film when a philosophy professor challenges Baldwin on
the Dick Cavett Show for his attitudes and holds Baldwin (and by extension
black people) responsible for the continuing racial divide. His message seems
to be "you're the one making an issue out of this, not me." Baldwin's
takedown of him in eloquent words that I will not even begin to try to
replicate captures the essence of the entire film and the black struggle for
equality.
GAROTA
EXEMPLAR (GONE GIRL, USA, 2014) – Apesar de Ben
Affleck, GAROTA EXEMPLAR é um ótimo filme de David Fincher, o cineasta hiperbólico
de SEVEN e CLUBE DA LUTA que foi se tornando cada vez mais contido e minimalista,
como nesta produção, em que não há um único elemento, por menor que seja, que
tenha sido deixado ao acaso. O caso do desaparecimento de Amy (Rosamund Pike) e
a superexposição de seu marido Nick (Affleck) na mídia, acusado de tê-la matado,
é um bom exemplo de como as pessoas, em geral, se comportam de acordo com as
expectativas dos outros, num jogo de aparências interminável. Despite Ben Affleck, GONE GIRL is a great movie,
directed by David Fincher, the hyperbolic moviemaker of SEVEN and FIGHT CLUB
who has become more and more self-contained and minimalist – this is shown in
the movie in which there is no element, smaller as it is, that might be randomly
left. The disappearance of Amy (Rosamund Pike) and the overexposure of her husband
Nick (Affleck) in the media, after being accused of murdering her, is a good example
of how people usually behave according to others’ expectations, in a never-ending
appearance game.
TERREMOTO
(EARTHQUAKE, USA, 1974) – Este filme-catástrofe, típico
produto dos anos 70, começa como uma cena catastrófica: uma briga de casal
muito malfeita com Charlton Heston e Ava Gardner. Levando em consideração os
parcos recursos técnicos (ruins, apesar da ressalva), a atração é o elenco com
alguns dos mais famosos astros da época, como Heston e Gardner: George Kennedy,
Lorne Greene, Richard Roundtree, Lloyd Nolan e o melhor de todos, Walter
Matthau, fazendo um bêbado num bar. O tom de novela alonga um filme curioso que
marcou uma época em que os grandes desastres já estavam no roteiro. This catastrophe movie, a typical product of
the ’70s begins with a catastrophic scene: a couple’s fight, with Charlton
Heston and Ava Gardner. Taking into consideration the limited technical resources
(very bad, despite the warning), the cast is the main attraction, with some of
the most famous stars of the time, besides Heston and Gardner: George Kennedy, Lorne
Greene, Richard Roundtree, Lloyd Nolan and the best of all, Walter Matthau, as
a drunk in a bar. The soap-opera tone makes the movie a landmark in a time in which
the great disasters were already in the writing.
1AGENTE 86 (GET SMART, USA, 2008) –
O filme é uma homenagem justa ao sucesso de Don Adams, no seriado homônimo da década
de 60. Steve Carell (um dos meus atores favoritos) está perfeito como Maxwell Smart
e Anne Hathaway nunca esteve tão bela como a agente 99. O sapato-fone
reaparece, assim como o sempre ineficiente cone do silêncio. Alan Arkin também
está excelente como o chefe do CONTROLE. Mel Brooks, o criador do personagem,
adorou e assim também o teria Adams: tudo bem bobinho, mas não tão bobinho e, ao
mesmo tempo, sério, sem sê-lo em demasia. The movie is a fair homage to the 60’s TV show and
to Don Adams. Steve Carell (one of my favorite actors) is perfect as Maxwell
Smart, and Anne Hathaway has never been as beautiful as agent 99. The shoe-phone
is there as well as ineffective cone of silence. Kudos to Alan Arkin, as The Chief.
Mel Brooks, the show’s creator, loved it as would Adams: it is silly, but not
too silly, and at the same time, a little serious but not too serious.
A
JUVENTUDE (YOUTH, Itália, França, Inglaterra, Suíça, 2015) –
Joe-Joe, não sei como transformar em palavras o impacto que este filme,
indicado por você, provocou em mim, agora, especialmente. Por isso, começo meio
perdido, como não poderia deixar de ser. Até porque, também me perdi ainda
mais, ao tentar me encontrar, na história conduzida por Paolo Sorrentino, que já
nos havia dado de presente o emocionante A GRANDE BELEZA. Mesmo depois de alguns
dias, ainda não consegui analisar o filme sob a ótica de alguma racionalidade,
se é que ainda tenho alguma. A JUVENTUDE trata das perdas, de todas as perdas, que
temos durante a vida, todas carregadas de uma pesada carga afetiva em que se fundamentam
as esperanças que já não temos mais. Todos temos nossos motivos para não reger mais
as peças pedidas pela rainha; todos já passamos, passiva ou ativamente, pelo
jorro verbal de ressentimento e mágoa no qual exumamos todos os traumas de infância
e adolescência em que convivemos com a frieza, a distância e o silêncio de quem
amamos demais, porque nunca poderíamos amar de menos. Obrigatório ver, sentir, sem
entender nem desistir. Michael Caine arrasa no papel principal, com sua costumeira
leveza de ver a vida diante de si. Obrigado, Joe-Joe. Joe-Joe, I really do not know how to express in
words the impact of this movie on me. That is why I start a little bit lost, as
expected. To tell you the truth, I got even more lost as I tried to find myself
in Paolo Sorrentino’s movie – he had already given us THE GREAT BEAUTY. Even after
some days, I am still incapable of analyzing the movie from a rational view,
had I some rationality still left in me. YOUTH is about losses, all losses, the
one we have had, all of them loaded with a heavy emotional content on which are
based the hopes we no more have. We all have had our reasons for not conducting
the musical pieces requested by the queen; we all have passed, passive and actively,
through the verbal gush of resentment and grief in which we had exhumed all the
childhood and teenage traumas during which we had to face coldness, distance,
and silence from the ones we loved too much because we could not love any less.
Michael Caine shines in the leading
role, in his usual soft-spoken and controlled fashion A must-see, in order to feel, without understanding
or quitting. Thanks, Joe-Joe!
Jessica Brown Findlay, um ótimo motivo para buscar a imortalidade
VICTOR
FRANKENSTEIN (USA, 2015) – Contado sob o ponto de vista de
Igor (Daniel Radcliffe), a história de Victor Frankenstein (James McAvoy) e de
sua obsessão em realizar seu projeto definitivo, uma criatura montada com
partes de corpos humanos, ganha um novo fôlego. É uma releitura interessante e
bem realizada, apesar do desfecho apressado. James McAvoy é um ator
impressionante – ele consegue fazer de seu personagem o epítome do cientista nas
frígias da insanidade, mas, ainda assim, mantendo a integridade de seu sonho. Daniel
Radcliffe, ainda lutando para se ver livre de Harry Potter, está muito bem. E ainda
o melhor de tudo: a bela Jessica Brown Findlay, o sonho romântico de Igor e, por
que não, de todo homem com senso estético minimamente desenvolvido. Told from Igor’s point of view (Daniel Radcliffe),
Victor Frankenstein’s story and his obsession with accomplishing his ultimate project,
an artificial creature made from body parts, acquired a new significance. It is
an interesting new perspective of the classic story, despite the hasty ending. James
McAvoy is an impressive actor – his character is an epitome of a scientist in
the fringes of insanity and, even so, he keeps the integrity of his dream. Daniel
Radcliffe, still struggling to get free of Harry Potter, is fine in the role. The
best of all: the gorgeous Jessica Brown Findlay, Igor’s romantic dream as well
as of any man with minimally developed aesthetical sense.
1O
SEGREDO DOS SEUS OLHOS (EL SECRETO DE SUS OJOS, Argentina, 2009) –
Rever este filme é sempre um prazer – é o cinema argentino no seu esplendor em
termos de roteiro e direção; além de ter em cena os dois maiores atores
portenhos da atualidade, Ricardo Darín e Guillermo Francella. Acima de tudo, é
um filme sobre um grande amor, aquele que o tempo não transforma em quase nada.
Darín e Soledad Villamil estão em completa sintonia numa história de amor enredada
numa trama jurídico-policial em que o olhar, sob todos os ângulos, é o
personagem central. Um filme para quem sabe olhar e ver. To watch this movie again is always a pleasure
– this is the Argentinean cinema in its splendor in terms of writing and
direction, and it also has two of the current greatest Argentinean actors,
Ricardo Darín and Guillermo Francella. Moreover, it a movie about great undying
love. Darín and Soledad Villamil are in full connection in a story of love intertwined
with a police/law plot in which the eye is the main character from every
possible angle. A movie for whom knows how to look and see.
DOIS
PAPAS (THE TWO POPES, USA, 2019) – Deixe a religião de
lado – aliás, fique bem longe dela, sempre que possível. DOIS PAPAS não é um
filme religioso, mas sim uma homenagem à amizade e como ela pode ser descoberta
nas condições mais adversas, as mesmas que a moldam e lhe dão pilares eternos. Para
dizer a verdade, os dois papas do título são mesmo os grandes Anthony Hopkins e
Jonathan Pryce, dois dos maiores atores de todos os tempos. Hopkins consegue compor
o Papa Bento XVI com todo o imenso peso da consciência de que não poderia mais exercer
suas funções como chefe da Igreja Católica. Faz isso magistralmente, tanto que
consegue o impossível: faz emanar simpatia e sensibilidade do “rottweiler de
Deus”. Mas é Pryce que tem uma atuação comovente e convincente, não bastasse
ser praticamente o irmão gêmeo de Francisco, tal a sua semelhança física com
Jorge Bergoglio. Fernando Meirelles dirige com competência, privilegiando o que
tem de mais valioso nas suas mãos – dois atores sublimes, no ápice de suas
carreiras. E para melhorar, ainda há um toque de Beatles na história,
enfatizando a importância do maior valor que se pode ter na vida: uma
verdadeira amizade. Amém. Leave
religion aside, and, if possible, stay very far from it. THE TWO POPES is not a
religious movie. It is a homage to friendship and to how it can be found in the
most adverse conditions. These same conditions are the ones that mold and found
it forever. To say the truth, the two popes from the title are really Anthony Hopkins
and Jonathan Pryce, two of the greatest actors of all time. Hopkins builds the
character of Pope Benedict XVI showing all the burden of his being conscious of
his limitations as the Catholic Church chief. He accomplishes it magisterially,
in such a way that we are compelled to feel sympathy for the “rottweiler of God”.
Nevertheless, it is Pryce who has the most emotional and convincing performance,
besides his incredible resemblance to the actual Jorge Bergoglio. Fernando Meirelles
is capable of making the most of his two stars, both at the top of their
careers. In addition, we have a final Beatles touch in a story that emphasizes
the importance of what is the most precious thing we can have in life: a true friendship.
Amen.
NÓS
(US, USA, 2019) – Jordan Peele é responsável por uns dos melhores filmes
de suspense dos últimos tempos, CORRA! (2017). Havia muita expectativa em relação
a US, e a sensação é de desapontamento. O filme é irregular, tem momentos em
que o humor involuntário não se coaduna com o clima de mistério que a história promete
(mas não cumpre). Lupita Nyong’o desperdiça seu talento numa trama pobre de
surpresas, apesar da tentativa do diretor no twist final. Jordan Peele is responsible for one of the
best suspense thrillers in the last years, GET OUT! (2017). There was a lot of
expectation about US, and there was a lot of disappointment as well. The movie
is irregular, and the involuntary humor does not connect with the gloomy mood
that is never accomplished. Lupita Nyong’o wastes her talent in a poor plot,
despite the director’s last effort in a pointless twist.
A
BALADA DE BUSTER SCRUGGS (THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS, USA, 2018)
– Os irmãos Cohen descrevem seis histórias violentas do velho oeste, com humor
e ironia. O efeito cumulativo do filme vai ficando evidente, na medida em que a
ironia vai dando lugar à violência como característica imanente ao ser humano
até o encontro inexorável com a morte. O primeiro episódio, como excelente Tim
Blake Nelson, é memorável. O
mais triste é com Liam Neeson. The Cohen Brothers display six violent western
stories in a funny and ironic way. The cumulative effect of the movie gets more
evident when irony gives place to violence as an immanent trait of the human being
until the inevitable meeting with death. The first episode, with the great Tim
Blake Nelson, is memorable. Liam Neeson stars the saddest one.
VINGADORES: ULTIMATO (AVENGERS:
ENDGAME, USA, 2019) – Tudo chega ao fim,
mesmo o maior amor do mundo. Por isso, esta derradeira edição dos Vingadores é
drama, sem carregar na ação ou na aventura, e o humor tão característico da
Marvel se dilui aqui melancolicamente. Depois do pangenocídio do filme anterior,
os super-heróis sobreviventes têm que conviver com o fantasma da culpa e da
depressão. Os irmãos Russo tentam dar um desfecho ao arco dramático iniciado
com HOMEM DE FERRO (2008) e, dentro do possível, conseguem fechar um ciclo que,
como toda série longa, teve seus altos e baixos. Certos elementos do roteiro
ficaram meio apressados e os furos acabaram dissipados nas digressões de cada personagem
ao longo da história. As alegrias e as tristezas vão se alternando, entre a
esperança da eternidade e a frustração que nos visita diariamente. Mas assim também
é a vida. E Scarlett continua
lindíssima. Everything has an end, even the biggest love of the world. Thus, this
last Avengers edition is more drama and less action and adventure, and the Marvel
characteristic humor is diluted in melancholy. After the pangenocide of the previous
movie, the surviving superheroes have to live up to the ghost of guilt and
depression. The Russo brothers try to end the dramatic arch that began with
IRON MAN (2008) and they accomplished the mission. Certain elements of the
plot feel rushed and loopholes are glossed over. Joy and sadness alternate
pointing to the hope of eternity and the frustration that drops by daily. Nevertheless, that is life, and Scarlett is still gorgeous.
1JENNIFER 8 – A
PRÓXIMA VÍTIMA (JENNIFER 8, USA, 1992) – Bom
thriller policial com Andy Garcia, um detetive que passa a investigar um serial
killer com a ajuda de uma testemunha cega (Uma Thurman, inacreditavelmente
bela, suave e convincente). O excelente John Malkovich tem uma participação
curta, mas memorável. Mas é Uma Thurman que apaixona, logo à primeira vista. Good cop thriller with Andy
Garcia, a detective who investigates a serial killer with the help of a blind
witness (Uma Thurman, incredibly beautiful, light and convincing). The great
John Malkovich has a small but memorable role. However, Uma Thurman is the one
who makes us fall in love with her, at first sight.
HISTÓRIA
DE UM CASAMENTO (MARRIAGE STORY, USA, 2019) – Scarlett
Johansson é mesmerizante em tudo que faz – atuando, cantando, dançando,
defendendo suas posições políticas, existindo, simplesmente. Tudo nela é
delicadamente apropriado: a voz firme e, ao mesmo tempo, suave; o olhar
enviesado e hipnotizante; os lábios provocantemente servindo de moldura para
palavras que emocionam, como “amor” e “saudade”, e sua atuação em MARRIAGE STORY,
construída pelo olhar, sentido e verbo. O filme começa com a fórmula mais que
batida das comédias românticas: sobre uma montagem de cenas, Nicole (Scarlett) e
Charlie (Adam Driver) derramam elogios sobre o outro. Logo se vê que o texto
pertence a redações escritas pelos dois numa mediação terapêutica. Estão a
ponto de se separar, aquela hora indefinível, dolorosa, irreparável,
destruidora, incapacitante. Sim, antes da ruptura, houve amor e afeto, e é isso
que é mais dilacerante neste momento. Mas há um filho na história e ele é que
vai servir para a inominável manipulação de parte a parte. O que
invariavelmente acontece nestes casos. Há também os advogados das partes: um
show de Laura Dern e Ray Liotta, manobrando o divórcio de forma indignamente
competitiva. Nicole e Charlie estão naquele momento em que nenhum dos dois está
muito certo do porquê a relação ter chegado àquele ponto, e isso é perturbador
para ambos e, claro, para mim, sobretudo. Parece claro que a dimensão de um se perdeu para
o outro ao longo da estrada da convivência, apesar (ou por causa) das conexões
que ainda existem entre eles. Scarlett é um talento em forma de perfeição
física, representando uma mulher que quer o melhor para sua família, mas que
não pode mais esperar para realizar seus sonhos; Adam Driver se despe de Kylo
Ren e mergulha no papel que pode redefini-lo como um ator de vastos recursos
dramáticos – as perdas que vão se acumulando em sua vida, a partir da
separação, aparecem no seu rosto como jabs
certeiros de Mike Tyson nos velhos tempos. O diretor Noah Baumbach apresenta
claras referências autobiográficas em suas obras, como em seu melhor filme, A
LULA E A BALEIA, e aqui, não é diferente: deixa escancarado um traço deprimente
dos tempos pós-modernos, a terceirização dos assuntos sentimentais, a cargo, no
filme, dos advogados que terçam armas sobre tudo aquilo que poderia ter sido e
não foi, como disse, uma vez, Manuel Bandeira. Scarlett Johansson is mesmerizing in everything she
does – performing a role, singing, dancing, and defending her political views,
existing, simply. Everything in her is delicately appropriate: the firm, and at
the same time, smooth voice; the skewed and hypnotizing eyes, the provoking
lips as perfect frames for touching words as “love” and “nostalgia”, her
performance in the movie built by the way she looks, in all possible senses.
The movie begins with a formula: over an assembling of scenes, Nicole
(Scarlett) and Charlie (Adam Driver) exchange compliments. We soon realize that
it is discourse written in a therapeutic session. They are on the verge of
separation, that indefinable, painful, irreparable, destructive, incapacitating
moment. Yes, before the rupture, there was love and affection, and this is the
most devastating punch at this point. Nevertheless, there is a child and he is going
to be used as a manipulative element by both of them, which invariably happens in
these cases. There are also the parts’ lawyers: Laura Dern and Ray Liotta rock maneuvering
the divorce in an indignantly and competitive way. Nicole and Charlie are at
that process in which neither of them knows exactly why the marriage failed, and
this is disturbing for them and, of course, for us. It seems clear that each
other’s dimension got lost along the time they spent together, despite (or because)
the connections that still exist between them. Scarlett is the physical form of
talent, playing a woman who wants the best for her family, but cannot wait
anymore to make her dreams come true. Adam Driver takes off Kylo Ren’s character
and takes the plunge into the role that may redefine him as one of the most talented
actors of his time – his losses, after the separation, are shown on his face like
Mike Tyson’s jabs. The director Noah Baumbach displays autobiographical
references in his works, as he did in his best movie so far THE SQUID AND THE
WHALE. It is not different here: he shows a depressing trait of the post-modern
times, the outsourcing of the sentimental matters, in charge, here, of the two
lawyers, who fight over everything that could have been but was not, as once
said Manuel Bandeira.
O
PODEROSO JOE (MIGHTY JOE YOUNG, USA, 1998) – Com 23 anos e
uma beleza estonteante (até hoje, convenhamos), Charlize Theron estrela esta
refilmagem do filme homônimo de 1949 que então surfava na onda do sucesso de KING
KONG. O roteiro é basicamente o mesmo dos tantos que já se inspiraram em A BELA
E A FERA: Jill (Theron) foi criada na selva com um gorila de 5 metros de altura
e se vê obrigada a ir para os EUA para protegê-lo de caçadores inescrupulosos. Os
efeitos são bem satisfatórios, mas é Charlize que ilumina a tela sempre que
aparece. Twenty-three-year-old Charlize
Theron stars this version of a 1949 movie that then applied the successful formula
of KING KONG. The plot is basically the same as some other productions based
on THE BEAUTY AND THE BEAST story: Jill (Theron) was raised in the jungle with
a fifteen-foot tall gorilla named Joe and is obliged to go to the USA to protect
it from poachers. The special effects are satisfactory, but it is Charlize who sheds
light on whatever scene she is in.
AQUAMAN
(USA, 2018) – Super-herói do terceiro escalão do universo dos
quadrinhos do DC Comics, AQUAMAN é um filme estrelado por Jason Momoa, o Khal
Drogo de GAMES OF THRONES, e tão ruim quanto MULHER-MARAVILHA. O bom diretor
James Wan, do excepcional A INVOCAÇÃO DO MAL, tem uma taxa de sucesso bem modesta
aqui. Os CGIs são ruins – as paisagens submarinas ainda não encontraram uma computação
gráfica à altura (ou à fundura) da poesia do mundo submarino – tanto que fica claro
que são bonecos binários, e não atores, que estão fazendo os stunts. Superhero from the lower ranks of DC Comics, AQUAMAN
is starred by Jason Momoa (Khal Drogo from GAMES OF THRONES) and as bad as
WONDER-WOMAN. The good director James Wan, of the great THE CONJURING, has a
very low success degree here. The CGIs are lousy – the underwater landscapes have
not found yet a proper computer graphics –the poetry of the submarine world is
lost in a production in which it is clear that binary dummies are performing the
stunts.
TRAÍDOS
PELO DESTINO (RESERVATION ROAD, USA, 2007) – Doze anos antes
de arrasar como o Coringa, Joaquin Phoenix protagonizou o drama do pai de um
menino de 10 anos atropelado por motorista que não parou, vivido com angústia
interminável pelo talentoso Mark Ruffalo. Phoenix e Ruffalo estão magistrais nos
papéis de pais que, respectivamente, perderam a razão de viver, um pela morte
do filho e o outro pela culpa indelével. No elenco, Jennifer Connely e Mira Sorvino. Twelve years
before his success as the Joker, Joaquin Phoenix starred this drama about a
father of a ten-year-old killed in a hit-and-road accident. Mark Ruffalo plays with
interminable anguish the driver. Phoenix and Ruffalo are remarkable in the roles
of, respectively, fathers who have lost the reason to live, one because of the
son’s death and the other because of indelible guilt.
CAÇA
AOS GÂNGSTERES (GANSGTER SQUAD, USA, 2013) – O elenco é mais
que qualificado: Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Emma Stone, Robert
Patrick e Anthony Mack. O filme, embora simpático, é uma cópia menos densa de OS
INTOCÁVEIS, com Brolin no lugar de Kevin Costner e Sean Penn no de Robert De
Niro. Com algumas tiradas engraçadas e um monte de clichês, dá para assistir
com o cérebro no modo avião, sem grandes expectativas. The cast is more than qualified: Josh Brolin, Ryan
Gosling, Sean Penn, Emma Stone, Robert Patrick, and Anthony Mack. Although pleasant,
the movie is not original, and is a kind of a copy of THE UNTOUCHABLES, with
Brolin in the place of Kevin Costner and Penn playing Robert De Niro’s character.
Some funny passages and a bunch of clichés, the movie is watchable with the
brain in the plane mood, without great expectations.
1 MIL
VEZES BOA NOITE (1,000 TIMES GOOD NIGHT, Noruega, Irlanda, Suécia, 2013) –
Rebecca (Juliette Binoche) é uma famosa fotógrafa de guerra, sempre em lugares
perigosos, de onde a volta é sempre incerta. É exatamente isso que afeta seu
marido e suas duas filhas. O filme trata de temas bem atuais, de modo bem
reflexivo, coisa rara nas produções mais recentes: o foco na fotografia jornalística
dá margem ao aspecto ético de se tirar fotos de pessoas nas mais precárias condições
de sobrevida, na esperança/pretensão de que estas imagens provoquem uma reação global
a respeito dos problemas retratados. Será isso o dilema de todos os fotógrafos?
Ainda há o risco da banalização das imagens numa época em que, por excesso, elas
se tornam quase invisíveis e, assim, incapazes de provocar emoções. O diretor Erik
Poppe, ele mesmo um fotógrafo de zonas de conflito, expõe estas questões ao
colocar Rebecca na encruzilhada existencial que talvez seja injusta com ela:
seguir sua vocação/missão, ou acomodar-se numa vida doméstica que, em determinado
momento do filme, ela mesma define: o trabalho mais difícil é o de casa. Rebecca (Juliette Binoche) is a famous war photographer
in conflict zones, from where it is always difficult to come back. That what
affects her husband and her daughters. The movie is reflexive about its themes:
the focus is on journalistic photography and its ethical aspect of taking pictures
of people suffering in the most precarious situations, hoping that these images
can provoke a global reaction about these problems. Would this be the great
dilemma of all photographers? Moreover, there is still the risk of banalization
of the images during a time in which their excess makes them almost invisible
and, thus, unable to raise emotions. The director Erik Poppe, a war-zone photographer
himself, displays all these issues when he puts Rebecca in an existential and
unfair quandary: follow the calling or settle down in a domestic life, which
she defines as the hardest work of all.
IRREVERSÍVEL
(IRRÈVERSIBLE, FRANÇA, 2002) – Este filme do
diretor argentino Gaspar Noé é mais lembrado pela cena de estupro no metrô de
Paris, com Monica Bellucci. De fato, o filme é violento, confuso, mais parecendo
ter sido feito para chocar do que qualquer outra coisa. This movie of the Argentinean director Gaspar
Noé is more remembered for the rape scene in the Paris subway, with Monica
Bellucci. The movie is violent, confused and it seems to be made only to shock
the audience.
BELEZA
FANTÁSTICA (THIS BEAUTIFUL FANTASTIC, UK, 2016) – Uma
jovem (a bela Jessica Brown Findlay), que sonha em ser escritora para crianças,
começa uma amizade inesperada com um vizinho mal-humorado (Tom Wilkinson). A história
simples é cativante, assim como os personagens. Wilkinson é um ator que nunca decepciona,
mesmo em filmes de baixo orçamento. São belas as metáforas que seu personagem faz
sobre as flores dos jardins, como sendo um mundo ordenado de caos. A young lady (the gorgeous Jessica Brown Findlay),
who dreams of becoming a children writer, starts an unexpected friendship with
a cankerous neighbor (Tom Wilkinson). The story is simple and captivating as
their characters. Wilkinson is an actor who never fails to please, even in
average low-budget movies. He delivers memorable metaphors about gardens, a
world of beautifully ordered chaos.
O
CASTELO ASSOMBRADO (THE HAUNTED PALACE, USA, 1963) – Uma
das boas produções dirigidas por Roger Colman no seu ciclo com histórias de
Edgard Allan Poe, com o sempre excelente Vincent Price, outro obrigatório. Com baixo
orçamento, ótimas tramas e Vincent Price, Corman criou um legado importantíssimo
para a história do cinema. Este filme, na realidade, não é baseado em qualquer conto de Poe, mas possui toda a atmosfera característica do escritor americano. Atenção
para o memorável monólogo proferido por Price logo no início do filme. Que ator!
Ele ainda há de ter o reconhecimento merecido – é capaz de transformar qualquer
papel numa atuação brilhante, mesmo quando está fora de seu gênero fílmico: é
imperdível sua atuação num dos episódios de VIAGEM AO FUNDO DO MAR, em que ele
faz um titireteiro a bordo do Seaview (veja no YouTube “The Deadly Dolls,
quarta temporada). A bela Debra Paget também tem grande atuação. One of the good productions directed by Roger
Colman in his Edgard Allan Poe cycle, with the great Vincent Price, another obligatory
actor. With low budgets, great stories and Price, Corman has created an
important legacy to cinema history. This film is, actually, not based on a story
by Poe, but it possesses the entire atmosphere that characterizes de American
writer. Attention to the remarkable monologue performed by Price at the beginning
of the movie. What an actor! A deserved tribute is still due to him – he is
able to transform any role into an outstanding performance, even when he is out
of his filmic realm: his interpretation in one of the VOYAGE TO THE BOTTOM OF
THE SEA episodes is unmissable, in which he plays a puppet master on board of
the Seaview (see on YouTube “The Deadly Dolls”, 4th season). Debra
Paget has also a terrific performance.
CADÊ OS MORGANS?(DID YOU HEAR ABOUT
THE MORGANS?, USA, 2009) – Hugh Grant é um dos meus atores favoritos. Invariavelmente,
faz, a cada filme, uma versão pouco alterada de si mesmo – o inglês deslocado,
tímido, sempre tentando fazer a coisa certa e, claro, se dando mal – e isso é ótimo!
Neste filme, ele e a esposa (Sarah Jessica Parker, inadequada para o papel)
testemunham um assassinato e são mandados pela polícia para o interior, numa espécie
de serviço de proteção à testemunha. A história é previsível, mas divertida, e conta
ainda com o maravilhoso Sam Elliot e Mary Steenburgen. Hugh Grant is one of my favorite actors. Invariably,
he repeats an unaltered version of himself in every movie – the out-of-place shy
British man, always trying to do the right thing and, of course, in the end, blowing
everything – and this is great! In this movie, he and his wife (Sarah Jessica
Parker, unfitted for the role) witness a murder and are sent by the police to
the countryside, in a witness protection program. The story is predictable but
fun and it is counts with the wonderful Sam Elliot and Mary Steenburgen.
CORINGA
(JOKER, USA, 2019) – Lôbrego, visceral, chocante e magistralmente ancorado
na atuação memorável de Joaquin Phoenix, que sangra, transpira, se desespera e
chora em cada segundo de sua magnífica personificação do mais angustiante
Coringa já visto. E também ri: um ricto involuntário de insanidade e desesperança
que, devo dizer, me acompanha até agora, duas semanas depois de ver o filme. A direção
e o roteiro são perfeitos, e o tom sombrio da história torna-se quase palpável do
início ao fim. Até porque, em grande medida, estamos todos vivendo uma realidade
massacrante que nos transforma em subindivíduos, numa sociedade incapaz de
manter níveis aceitáveis de bem-estar social para as classes sociais mais pobres,
além de não permitir a estes indivíduos oportunidades de desenvolvimento social,
profissional e humano. O ponto fulcral: o filme é totalmente de Joaquin
Phoenix, capaz, especialmente nas várias cenas em que permanece em longo e angustiante
silêncio, de compor com impressionante verdade um homem destroçado, física e
emocionalmente, subtraído de sua alma e esperança e que, na tristeza, loucura e
compaixão, vai se tornando monstruoso, como a sociedade em que está inserto. O diretor
Todd Phillips presta uma homenagem a Martin Scorsese e a Robert De Niro, emulando
a Nova Iorque decadente da década de 70, tão bem representada em TAXI DRIVER. Ao
fim, não há como esquecer, entre sangue, desespero, horror e constrangedora
constatação, que CORINGA é um retrato muito próximo do desmoronamento sócio, político
e existencial do sentido da vida na pós-modernidade. Tragic, visceral, astonishing and masterly anchored
in the memorable performance of Joaquin Phoenix, who bleeds, sweats in
desperation and cries in every and each second of his magnificent
personification of the most anguished Joker ever. And also laughs: an
involuntary and despaired laugher that, I should say, has been burnt in my
memory for two weeks, after seeing the movie for the first time. The directing and writing is slickly
brilliant and the bleak settings and tones are palpable throughout. That’s because, in a certain way, we are all living in
a crushing reality that makes us less than individuals, in a society incapable
of keeping the welfare for the lower classes and preventing its members from social,
professional and existential development. The pivotal aspect of the movie is Joaquin
Phoenix’s performance and his ability to keep silent for long and distressing moments
to compose the impressive truth of a physically and emotionally devastated man deprived
of his soul and hope, who in sadness, insanity and compassion becomes a monster,
like the society around him. Director Todd Phillips pays homage to Martin Scorsese
and to Robert De Niro, emulating a decaying New York of the 70s, as we can see
in TAXI DRIVER. All in all, it cannot be forgotten, among blood, despair,
horror, and compelling conclusion, that JOKER is a very close portrait of the
social, political and existential sense of life in post-modernity.