quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

3206 - TRAMA FANTASMA

    
TRAMA FANTASMA (PHANTOM THREAD, USA, 2017) – O grande diretor Paul Thomas Anderson sempre pautou sua cinematografia pela imprevisibilidade e ousadia – o célebre MAGNÓLIA (1999) e SANGUE NEGRO (2007) são exemplos deste modo destemido de abordar personagens tomados por alguma obsessão épica. Em TRAMA FANTASMA, Anderson põe o foco dramático na figura, já meio no ocaso profissional, de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, estupendo, como sempre), um estilista ilustre entre ricos e aristocráticos, nos anos 50. Seu ego ingente é capaz de devorar as pessoas que o cercam, sem que ele mostre qualquer laivo de culpa ou piedade. Até que conhece Alma (a luxemburguesa Vicky Krieps), dona também de uma personalidade que não se dobra diante da gigantesca arrogância de Reynolds, e que lhe impõe, com graça e firmeza, uma resistência intransponível que, aos poucos, lhe penetra a intimidade. Tudo no filme é perfeito, do enquadramento preciso das cenas, os embates entre Reynolds e Alma, o excepcional domínio gramático e estilístico do cinema, até a trilha sonora arrojada do inglês Jonny Greenwood. Resta-nos torcer para que tanto Lewis quanto Anderson desistam da aposentadoria anunciada. O cinema não merece perder gênios tão talentosos. The great director Paul Thomas Anderson has always marked his filmography by the unpredictability and boldness – the celebrated MAGNOLIA (1999) and THERE WILL BE BLOOD (2007) are examples of his fearless way to approach characters taken by an epic obsession. In PHANTOM THREAD, Anderson focuses the figure, in the middle of a professional decline, of Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, superior, as always), an illustrious stylist among riches and aristocrats, in the 50s. His huge ego is able to devour everybody around him, without any thread of guilty or piety. Then he meets Alma (Vicky Krieps), who faces Reynolds’ mammoth arrogance and imposes him, gracefully and firmly, an insurmountable resistance that, little by little, penetrates his intimacy. The movie is perfect, from the precise scene framework, the clashes between Reynolds and Alma, the remarkable stylistic and grammatical command of cinematography, to the daring soundtrack by Jonny Greenwood. We can only hope that Lewis and Anderson give up the announced retirement. The movies do not deserve to lose such talented genius. 

      

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

3205 - VENOM

   
 VENOM (USA, 2018) – O clima gaiato da adaptação não encontrou consonância na interpretação de Tom Hardy, um ator intenso, cuja maior característica e dar profundidade e emoção a personagens mais sérios (como no ótimo THE DROP – A ENTREGA). Aqui, ele tenta fazer aflorar uma faceta ligeira e brincalhona, mas perde de longe para o DEADPOOL de Ryan Gosling. A questão é que o filme tem uma matéria-prima pesada e difícil de se amalgamar no tratamento cômico do diretor Ruben Fleisher (do excelente ZUMBILÂNDIA). Distrai, mas não convence. The mischievous atmosphere of this production did not click with Tom Hardy’s performance, an intense actor, whose most remarkable trait is to deepen his roles (as in the outstanding THE DROP). Here, he tries to surface a playful side, but he is very behind Ryan Gosling’s DEADPOOL. The issue that the movie has a heavy and difficult content to be amalgamated into the comical treatment of the director Ruben Fleisher (responsible for the excellent ZUMBILAND). VENOM does not convince at all.     

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

3204 - A INVOCAÇÃO DO MAL 2

    


A INVOCAÇÃO DO MAL 2 (THE CONJURING 2, USA, 2016) – O terror é uma seara difícil para qualquer realizador. O diretor malaio de origem chinesa, James Wan, criado na Austrália e hoje radicado nos EUA, de 39 anos, tem uma sensibilidade que redimensionou o gênero neste ótimo filme (ele também dirigiu o primeiro, e ótimo, A INVOCAÇÃO DO MAL). Sua desenvoltura e ritmo de direção vão construindo uma atmosfera que seduz (por medo, desconfiança, curiosidade?) o espectador, de uma maneira quase hipnótica, especialmente por sua habilidade de posicionar a câmera em ângulos inusitados e surpreendentemente originais, deixando margem para que a imaginação de quem assiste produza as sensações mais angustiantes e sempre incômodas. Patrick Wilson e Vera Farmiga (em absoluta química em cena) estão de volta como Ed e Lorraine Warren, os mais célebres caça-fantasmas americanos que, em dezembro de 1977, vão a Londres para investigar um caso de possível possessão que a imprensa local transformara em circo. Wan vai expondo os acontecimentos magistralmente, expandindo zonas de incertezas e nos convencendo de que estamos diante de um filme memorável. Horror is a hard field for any filmmaker. The 39-year-old Sino-origin Malayan director James Wan, raised in Australia and now settled in the USA has rescaled the genre in this awesome movie as he had done in the previous one. His resourcefulness and rhythm build up an atmosphere that seduces (by the means of fear, mistrust, curiosity?) the viewer in a hypnotic way, especially because he is able to place the camera in unexpected angles, leaving room to imagination work at full throttle, producing anguish and disturbing sensations. Patrick Wilson and Vera Farmiga (great together) are back as Ed and Lorraine Warren, the most famous American ghost-busters who, in December 1977, go to London to investigate a possible case of possession made sensationalistic by the local press. Wan exposes masterfully the facts, expanding uncertainty zones and making us believe that we are seeing a memorable movie.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

3203 - TOMB RAIDER - A ORIGEM

   
  TOMB RAIDER – A ORIGEM (TOMB RAIDER, USA, Inglaterra, 2018) – Lara Croft (Alicia Vikander, sempre cativante, talentosa e suave), cujo pai, sir Richard Croft, desapareceu há sete anos, numa misteriosa expedição à Ásia, trabalha como entregadora em Londres, já que se recusa a reconhecer a provável morte do pai, fato que a faria herdeira da fortuna paterna. A partir daí, o filme segue as etapas de sempre das histórias sobre heróis improváveis que, depois de um baque do destino, se encontram com a própria natureza. Lara Croft (Alicia Vikander, always captivating, talented and light), whose father, Sir Richard Croft, disappeared seven years ago in a mysterious tour in Asia, works as a delivery girl in London, for she refuses to acknowledge the probable death of Richard, a fact that would make her his only heir. From this point on, the movie follows the traditional steps of stories about improbable heroes who, after a blow of destiny, face their own nature.    

domingo, 27 de janeiro de 2019

3202 - A O HOMEM COM OLHOS DE RAIO X

       
O HOMEM COM OLHOS DE RAIO X (THE MAN WITH THE X-RAY EYES, USA, 1963) – Esta ficção-sicentífica de Roger Corman resulta numa boa reflexão sobre a profundidade especular, tanto física quanto filosófica do ser humano, a partir do momento que o Dr. James Xavier (Ray Milland, bem na fita, embora já estivesse claro a escassez de bons papéis para ele) descobre uma droga que o faz enxergar através dos objetos e pessoas, mas com um efeito cumulativo que o leva a ver o mundo além da realidade que conhecemos. Enredo mais platônico impossível. Corman, talvez sem intenção, acaba por nos colocar a discussão do quanto somos capazes de captar a realidade através dos nossos sentidos, embora o desfecho tangencie a abordagem religiosa simplista. Um dos clássicos dos anos 60. This sci-fi by Roger Corman turns out to be an interesting reflexion about the specular depth, as physical as philosophical, when Dr. James Xavier (Ray Milland – or X-Ray Milland – already in search for good roles) discovers a drug that enables him to see through solid objects and people, but its effects are cumulative, and by the end of the movie he is seeing all the way to the core of reality. A more platonic plot is impossible. Corman, maybe unintentionally, brings us a discussion about how much we are able to get from reality through our senses, although the end is tarnished by a simple religious approach.  

sábado, 26 de janeiro de 2019

3201 - MORTDECAI: A ARTE DA TRAPAÇA

   
 MORTDECAI, A ARTE DA TRAPAÇA (MORTDECAI, USA, 2015) Sim, Johnny Depp exagera nas caretas e nos trejeitos à la Jack Sparrow, o roteiro é fraco, cheio de pontas soltas, atores mal aproveitados (Gwyneth Paltrow, Evan McGregor, Jeff Goldblum e Paul Bettany se esforçam, mas ficam completamente perdidos) e uma história sob a égide de déjà-vu. Dito isso, aduzo: incrivelmente, o filme agrada e se sustenta por um apanágio intangível que, nem sempre, está em filmes mais sérios: a total sensação de descompromisso, tanto do diretor David Koepp quanto do elenco. Yes, Johnny Depp hyperbolizes his facial expressions and mannerisms in a “Jack Sparrow style”, the plot is weak, full of loose ends, underrated actors (Gwyneth Paltrow, Evan McGregor, Jeff Goldblum, and Paul Bettany made a great effort, but got completely lost) and a story under the aegis of a déjà-vu production. Having said that, I add: incredibly, the flick works and is sustained by an intangible prerogative that is not present in many serious movies: the total feeling of disengagement of the director David Koepp and the cast.   
      

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

3200 - DEPOIS DAQUELA MONTANHA

  
DEPOIS DAQUELA MONTANHA (THE MOUNTAIN BETWEEN US, USA, 2017) – A fotógrafa Alex (Kate Winslet)  e o cirurgião Ben (Idris Elba) escapam de um desastre com um bimotor nas Montanhas Rochosas, em pleno inverno, sem alimento e cercados por dezenas de quilômetros de neve espessa. A parte da sobrevivência num ambiente hostil está cheia de furos e, depois, o filme resvala num sentimentalismo que poderia ser evitado. The photographer Alex (Kate Winslet) and the surgeon Ben (Idris Elba) survived a plane crash in the Rocky Mountains, in the middle of the winter, foodless and surrounded by miles and miles of thick snow. The survival part is bad and, afterward, the movie falls into avoidable sentimentalism.      

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

3199 - A FREIRA

     
A FREIRA (THE NUN, USA, 2018) O filme é uma história de terror clássica, reinterpretada pela perspectiva do horror moderno, que tem um roteiro preguiçoso e pouco original, sem acrescentar novidades impactantes ao universo compartilhado de INVOCAÇÃO DO MAL (THE CONJURING). Como prequela deste, A FREIRA aposta na repetição narrativa, reproduzindo estruturalmente A INVOCAÇÃO 2 em um contexto diferente. Esta mudança de cenário é que ajuda o filme a ter uma atmosfera de horror conservador, especialmente com o uso adequado de uma fotografia “chiaroscuro” e “sfumato”, bem ao estilo renascentista. A profanação religiosa parece, em alguns momentos, provocativa e gratuita, mas se integra coerentemente à história baseada exatamente na iconoclastia religiosa. The movie is a classic horror story reinterpreted from the modern horror perspective, which has a lazy and unoriginal plot that does not add any impacting novelty to THE CONJURING shared universe. This change of scenario is the only aspect that provides the movie with a conservative horror atmosphere, especially with the adequate use of “chiaroscuro” and “sfumato” photography, in the Renaissance style. The religious profanation seems, at some moments, provocative and unjustified, but it fits coherently to a story based exactly on the religious iconoclasm.     

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

3198 - O LEGADO KENNEDY

    
O LEGADO KENNEDY (CHAPPAQUIDDICK, USA, 2018) - Um ano depois do assassinato de Robert, na noite de 18 de julho de 1969, quando os astronautas da Apolo 11 se preparavam para caminhar na Lua, o carro que Ted Kennedy guiava caiu à água de uma pequena ponte na ilha de Chappaquiddick. O senador sobreviveu, mas a jovem Mary Jo Kopechne, antiga secretária de Robert, que o acompanhava e tinha estado na mesma festa que ele, ficou presa no carro e morreu afogada. Ted Kennedy só comunicou o sucedido às autoridades várias horas depois, na manhã seguinte, e o caso transformou-se num escândalo nacional. A investigação foi apressada e desajeitada, Kopechne foi enterrada sem ser autopsiada, Kennedy acabou por se declarar culpado de abandono do local de um acidente e saiu do tribunal com uma pena levíssima, dois meses de cadeia com pena suspensa e proibição de guiar por um ano. O filme de John Curran mostra um Ted Kennedy hesitante e perdido num labirinto moral e sob a pressão de forças políticas e contingências familiares. Afinal, Ted sempre foi a quarta força entre os irmãos e também vítima das expectativas que o nome Kennedy, até então, suscitava entre os americanos. A year after the assassination of Robert Kennedy, on July, 18th, 1969, when the Apollo 11 astronauts were walking on the Moon (according to Sting), Ted Kennedy’s car fell into the water in the island of Chappaquiddick. The senator survived, but the young Mary Jo Kopchne, Robert’s former secretary, who had been at the same party with him, got stuck in the car and drowned. Ted only reported the fact to the police several hours later and, in the next morning, the case had become a national scandal. A rush and clumsy investigation was conducted by the police, Kopechne was buried without an autopsy, and Kennedy declared himself guilty, leaving the court with a light sentence. John Curran’s movie shows Ted Kennedy as a hesitant politician, lost in a moral labyrinth and under political pressures and familiar contingences. After all, Ted was always the fourth force among his brothers and a victim of the expectations the name Kennedy then raised in America.


domingo, 20 de janeiro de 2019

3197 - ALPHA

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ALPHA (ALPHA, USA, 2018) – É a história, já muito explorada pelo cinema, da amizade que surge entre humanos e animais diante de uma situação limite. Aqui, a situação é mesmo radical: na pré-história coberta de gelo, um rapaz se perde do seu grupo de caça, depois de um acidente. Com a ajuda de um lobo, ele enfrenta as adversidades e tenta reencontrar sua tribo. Os CGIs são razoáveis, mas o roteiro previsível tira muito do interesse logo na primeira parte. It is a much-exploited theme in the movies: a friendship that comes up between humans and animals when they face an unfavorable situation. In a prehistoric past, covered by ice, a young man struggles to return home after being separated from his tribe, with the help of a wolf. The CGIs are reasonable, but the plot is quite predicable and everything gets boring in the first part.  


sábado, 19 de janeiro de 2019

3196 - ENOUGH!

      
NUNCA MAIS (ENOUGH, USA, 2001) – Apesar da importância do tema – a violência sobre a mulher – o filme fica num meio termo entre a exposição da denúncia e a intenção catártica encapsulada nas atitudes vingativas da protagonista (Jennifer Lopez, incapaz de ficar feia). O roteiro se perde em soluções irreais para um problema que exige reflexão e políticas sociais mais eficazes de proteção à mulher. Jeniffer Lopez é uma atriz razoável, que dá conta de papéis que não exigem um maior domínio dramático. O filme tem um desfecho desejável, mas muito pouco provável. Bill Campbell (do mal realizado ROCKTEER) interpreta mal o marido abusivo, e Juliette Lewis está desperdiçada. Chega! Despite the importance of the theme – violence against women – the movie is halfway between the exposition of the denouncement and the cathartic intention encapsulated in the main character’s vindictive attitudes. The plot gets lost in unreal solutions for a problem that demands reasoning and more efficient social policies. Jennifer Lopez (unable to be less beautiful) is a medium actress who keeps up with less demanding roles. The movie has a desirable but improbable end. Bill Campbell (from the badly produced ROCKTEER) has a cartoon-like role of an abusive husband and Juliette Lewis has nothing to do in the story. Enough!  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

3195 - O MISTÉRIO DO RELÓGIO NA PAREDE

O MISTÉRIO DO RELÓGIO NA PAREDE (THE HOUSE WITH A CLOCK IN ITS WALLS, USA, 2018) – Misto de terror e comédia infantil, com um roteiro que gira em torno do resgate da inocência. O diretor Eli Roth (de O ALBERGUE e do ótimo BATA ANTES DE ENTRAR) se perde na simbologia do gótico pré-adolescente, resultando numa flébil versão das histórias de Harry Potter. Cate Blanchett faz quase uma ponta de luxo, num personagem aquém de seu talento e prestígio. A mixture of horror and children comedy, with a plot about the rescue of the lost innocence. The director Eli Roth gets lost in a gothic teen symbolism, and the result is a feeble version of Harry Potter stories. Cate Blanchett has a cameo that is not worthy of her talent and prestige.   

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

3194 - ESCOBAR: A TRAIÇÃO

      
ESCOBAR, A TRAIÇÃO (LOVING PABLO, Espanha e Bulgária, 2017) – A vida de Pablo Escobar não daria apenas um filme. Daria vários, como já vem acontecendo. A série da Netflix, com Wagner Moura (nas três primeiras temporadas) é excelente, com uma produção caprichada e um elenco afiado - a começar por Moura. Benício Del Toro também o interpretou, em ESCOBAR: PARAÍSO PERDIDO. Agora, Javier Bardem incorpora, também magistralmente, Escobar e seu comportamento sádico, violento, vingativo e, até certo ponto, regressivo, sob o ponto de vista psicanalítico. Afinal, o que queria Pablo Escobar da vida? Tornar-se apenas poderoso, rico, sem limites, ter sempre mais do mesmo? Para quê? Morrer num telhado de uma favela de Medelín, sem o glamour da vida que levara até há bem pouco tempo? Este é o tipo de coisa que me pergunto diante de um personagem tão fascinante, e incompreensível, sob uma perspectiva racional. Neste filme, há um desencontro de foco narrativo: nunca se sabe ao certo se a história é contada por Virgínia Valeja (Penelope Cruz), jornalista e amante de Pablo, ou se por ele mesmo. O diretor Fernando Aranoa se limitou a revisitar episódios conhecidos da biografia do traficante e, por pouco, o resultado não foi mesmo uma droga. Pablo Escobar’s life would not result in only one movie. There would be many, as it has been happening. The Netflix production NARCOS, with Wagner Moura, is outstanding and has a great cast. Benício Del Toro also played the character in ESCOBAR: PARADISE LOST (2014). Now Javier Barden masterly plays Escobar, showing his sadist, violent, vindictive and, to a certain extent, regressive behavior, from a psychoanalytic point of view. What did Escobar wanted from life, after all? Become just powerful, rich, limitless, having always more of the same? What for? To die on the roof of a Medellin slum, deprived of the glamour he had all his life...? That is the kind of thing I have always asked myself when I analyze such fascinating, and rationally incomprehensible, character. In this movie, there is a disconnection between the narrative focus: we never know if the story is told by Virgínia Valeja (Penelope cruz), journalist and Pablo’s mistress, or by Pablo himself. The director Fernando Aranoa only revisited well-known episodes of Pablo’s biography and, by a thin hair, did not spoil the result, what has made the audience and the critics sniff at the movie. 
   

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

3193 - ONZE HOMENS E UM SEGREDO

  
 ONZE HOMENS E UM SEGREDO (OCEAN’S ELEVEN, USA, 2001) – Steven Andrew Soderbergh é um baita diretor. Bastaria a mágica que ele fez ao recontar a história de Danny Ocean (George Clooney), um malandro que junta outros dez vigaristas para assaltar o cassino de um rancoroso chefão (Andy Garcia, soberbo), para torná-lo um mestre. O filme, com sua decupagem original, ritmo frenético e atuações mesmerizantes (menos a de Julia Roberts, parecendo desconfortável no papel), é um ensaio de cinefilia do realizador de SEXO, MENTIRAS & VIDEOTAPE. O elenco, estelar, tem, como destaque, Carl Reiner e Elliot Gould. Steven Andrew Soderbergh is a great director. The magic he practiced telling the story of Danny Ocean (George Clooney), a scoundrel who joins other ten swindlers to heist a casino of a big boss (Andy Garcia, superb), would be enough to make him a master. The original editing, frantic rhythm and mesmerizing performances (not including Julia Roberts) is an essay on cinephilia from the maker of SEX, LIES & VIDEOTAPE. Carl Reiner and Elliot Gould stand out in the stellar cast.     

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

3192 - TERRA SELVAGEM

     
Elizabeth Olsen e Jeremy Renner, sem palavras, pelo visto....
 
TERRA SELVAGEM (WIND RIVER, USA, 2017) – Um caçador (Jeremy Renner, ótimo, como sempre) ajuda uma agente do FBI (Elizabeth Olsen) a investigar o assassinato de uma jovem numa reserva indígena, no Wyoming. Muito bom thriller, que evita clichês do gênero, dando crédito a uma história que mostra mistério, violência e excelentes atuações. A fotografia das terras geladas é impressionante. Elizabeth Olsen parece meio deslocada no papel, embora o “star quality” esteja nela, sem dúvida. Veja no vídeo abaixo. A hunter (Jeremy Renner, great as always) helps a FBI agente (Elizabeth Olsen) investigate the murder of a young woman on a Wyoming Native American reservation. A very good thriller that avoids clichés, giving credit to a story that shows mystery, violence, and outstanding performances. The photography of the icy landscapes is impressive. Elizabeth Olsen seems a little bit miscast, although the “star quality” lays undoubtedly on her. Have a look at the passage below:  

sábado, 5 de janeiro de 2019

3191 - SOB O MESMO CÉU

     
Não, não é o sistema solar... 
SOB O MESMO CÉU (ALOHA, USA, 2015) Este é um daqueles filmes que não têm a menor ideia do que se tornam. Parece, em princípio, uma comédia romântica, mas, no fundo, levanta questões importantes sobre a crise de identidade que aparece em vários momentos da vida. Apesar de algumas falhas no roteiro, a mensagem da comunicação não verbal acaba por sobressair, especialmente na última cena, entre Bradley Cooper e Danielle Rose Russel, que me fez entender mais profundamente a relação entre pai e filha. O elenco é de primeira: Rachel McAdams (como pode ser tão linda? Cáspite!!!), Emma Stone e Bill Murray (subaproveitado, contudo). Achei ótimo, mas talvez o problema esteja comigo. This is one of those movies that deliver much more than they have previously promised. At first, it seems one more of those romantic comedies, but, at the bottom, raises remarkable questions about recurrent identity crisis. Despite some laws in the script, the non-communication message turns out to be the highlight, especially during the last scene, between Bradley Cooper and Danielle Rose Russel, which made me understand much more about father and daughter relationship. The cast is top-notch: Rachel McAdams (how can she be so gorgeous? Gosh!), Emma Stone and Bill Murray (wasted, tough). I think the film is great, but maybe the problem is with me. 


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

3190 - LADY BIRD - HORA DE VOAR

     
 LADY BIRD – A HORA DE VOAR (LADY BIRD, USA, 2017) – Gosto muito da atriz Greta Gerwig, de filmes como FRANCES HA e JACKIE (era sua assessora mais próxima). Ela tem uma presença magnética em cena, uma mistura comedida e graciosa de Greta Garbo com Catherine Deneuve. Neste filme, ela estreia como cineasta e roteirista, numa história de referência autobiográfica, cujo resultado é apenas simpático. Ou seja, talvez ainda seja necessário um pouco mais de experiência para que ela consiga realizar uma obra consistente. Questão de tempo. I am very fond of Greta Gerwig, from movies like FRANCES HA and JACKIE (she was her closest advisor). She has a magnetic presence on the screen, a subtle and gracious mixture of Greta Garbo and Catherine Deneuve. In this movie, she debuted as a director and screenwriter, in an autobiographic story, whose outcome is just nor more than pleasant. That is to say that she may need a little more experience to accomplish a more consistent work. A matter of time.  

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

3189 - OPERAÇÃO RED SPARROW

     
OPERAÇÃO RED SPARROW (RED SPARROW, USA, 2018) Há um trambolho linguístico que, vez por outra, se espalha pelo discurso de gente dita “descolada” que, a meu ver, deveria desaparecer: diz-se, sem pena dos ouvidos mais sensíveis, que “fulana sensualizou”, assim, intransitivamente, eliminando inapelavelmente, o objeto direto, com um tiro perfeito na testa da gramática. É exatamente assim que trabalha a agente secreta russa Dominika Egorova (Jennifer Lawrence, explorando ao máximo o corpo e capacidade de ser sexy): letal, fria, sedutora, usando a sexualização como arma, apesar dos paradoxos do viés puritano do pós-feminismo, num cenário de uma interessante paranoia acerca da extensão do desejo russo de recuperar a glória soviética. É um papel arriscado que só uma atriz corajosa, bonita, sexy, e com moral para se impor em qualquer produção em que esteja, seria capaz de incorporar. Jennifer Lawrence é tudo isso. De acordo com muitas resenhas, ela “sensualiza” o tempo todo. O verbo, além de ser usado de forma pouco precisa em português, convenhamos, é pouco para ela... there is a linguistic invention that sometimes comes up in some “cool” people’s discourses: the verb “sensualize” is not intransitive in Portuguese, it needs a direct object. Not doing that is like shooting the grammar in the head. That is the way the Russian secret agent Dominika Egorova (Jennifer Lawrence, exploiting her body and the ability to be sexy at the most) works: lethal, cold, seductive, using sex as a weapon, in spite of the post-feminism puritan trait, in a scenario of an interesting paranoia about the Russian desire to recover the soviet glory. It is a risky role that only a bold, beautiful, sexy and respected actress could play. Jennifer Lawrence is this person. According to many reviews, she “sensualizes” all the time. Besides being used imprecisely in Portuguese, the verb “to sensualize” is not enough to describe what she does….    

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

3188 - A LIVRARIA

     
A LIVRARIA (THE BOOKSHOP, Inglaterra, Espanha, Alemanha, 2017) Como não amar um filme chamado A LIVRARIA? Em 1959, a cativante Florence (Emily Mortimer, encantadora) transforma uma casa arruinada, de um vilarejo retrô na costa inglesa, em livraria, para oferecer aos locais os benefícios de autores como Nabokov, Kingsley Amis e Ray Bradbury. A seu favor, tem o misantropo Edmund (Bill Nighy, comovente em todas as cenas), um leitor voraz, que logo se interessa pelo novo negócio e, claro, por sua dona. Contra, todo o restante da comunidade, sob a liderança de uma ricaça autoritária, Violet (Patricia Clarkson), que parece ver mais vantagens na ignorância atávica do que na sabedoria dos livros – algo bem similar ao que acontece no Brasil de hoje. Mas, enfim, o filme é lindo, delicado e uma inspiração para quem ama os livros. How not to love a movie called THE BOOKSHOP? In 1959, the captivating Florence (Emily Mortimer, charming) transforms an old ruined house, in a retro village in the British Coast, in a bookshop, to offer the locals the benefits of authors like Nabokov, Kinglsey Amis, and Ray Bradbury. In her favor, she has the misanthrope Edmund (Bill Nighy, poignant in every scene), an avid reader who soon gets interested in the shop and in its owner. Against, all the community, under the leadership of a rich authoritarian woman, Violet (Patricia Clarkson), who seems to see more advantages in the atavistic ignorance than in the wisdom of the books – something similar to what has been happening in Brazil of today. Anyway, the movie is beautiful, delicate and inspirational for the book lovers.  
              

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

3187 - A INVOCAÇÃO DO MAL

  
Vera Farmiga, do outro mundo...
  
A INVOCAÇÃO DO MAL (THE CONJURING, USA, 2013) – Lembro que, por causa do lançamento do "prequel" ANNABELLE, tinha revisto A INVOCAÇÃO DO MAL, para checar alguns pontos que me fugiram quando assisti ao filme pela primeira vez. O mais importante deles é a forma como o diretor James Wan evita o formalismo dos filmes de terror de hoje e nos coloca, a cada cena, diante do imponderável. A montagem do filme usa o número de portas em cada quarto para nos desnortear, e a multiplicidade de ângulos (câmera ora no teto, ora de ponta-cabeça) e de perspectivas (câmera sobre o ombro da mãe, do pai, das filhas, é gente demais num lugar que já não parece grande o suficiente) termina de fazer o trabalho de nos apavorar, sem, contudo, fazer apologia ao susto fácil. Ah, e ainda há os olhos azuis da bela Vera Farmiga. A propósito, ela está em O JUIZ, com Robert Downey Jr. Ao voltar para a cidade onde cresceu, o personagem de Downey Jr. reencontra uma antiga paixão, vivida por ela. Sortudo este sujeito... afinal, quase ninguém é feito de ferro. I remember that, because of the ANNABELLE première, I had seen THE CONJURING, to check some aspects that I had missed when I saw it for the first time. The more important approach of the director James Wan is to avoid the formalism of the current horror movies, placing us, in each scene, in front of the imponderable. The editing uses the number of doors in each room to mislead the viewer, and the multiplicity of angles (cameras on the roof or upside-down), and several points of view (too many people in a small room) – all this results in a frightening movie. Ah, and there are still the incredible blue eyes of the gorgeous Vera Farmiga, who is also in THE JUDGE, with Robert Downey Jr, a man who comes back to his hometown to find his old love – her. Lucky guy… after all, almost nobody is made of iron. 

3186 - INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA

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 INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA (INDIANA JONES AND THE LAST CRUSADE, USA 1989) – O melhor filme da quadrilogia de Spielberg, com Harrison Ford como o arqueólogo Henry Jones Jr. E Sean Connery precisa de mais comentários? A história sobre a procura do Graal atinge magistralmente momentos inesquecíveis, combinando o roteiro com os elementos temáticos, ação e humor sutil. The best edition of the four movies Spielberg made, with Harrison Ford as the archeologist Henry Jones Jr. Moreover, does Sean Connery need further commentary? The story about the quest for the Holy Grail succeeds in hitting the keynotes at the proper moments, thus drumming up enough of the right combination of story and thematic elements, action and humor to make it worthwhile.