quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

3206 - TRAMA FANTASMA

    
TRAMA FANTASMA (PHANTOM THREAD, USA, 2017) – O grande diretor Paul Thomas Anderson sempre pautou sua cinematografia pela imprevisibilidade e ousadia – o célebre MAGNÓLIA (1999) e SANGUE NEGRO (2007) são exemplos deste modo destemido de abordar personagens tomados por alguma obsessão épica. Em TRAMA FANTASMA, Anderson põe o foco dramático na figura, já meio no ocaso profissional, de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, estupendo, como sempre), um estilista ilustre entre ricos e aristocráticos, nos anos 50. Seu ego ingente é capaz de devorar as pessoas que o cercam, sem que ele mostre qualquer laivo de culpa ou piedade. Até que conhece Alma (a luxemburguesa Vicky Krieps), dona também de uma personalidade que não se dobra diante da gigantesca arrogância de Reynolds, e que lhe impõe, com graça e firmeza, uma resistência intransponível que, aos poucos, lhe penetra a intimidade. Tudo no filme é perfeito, do enquadramento preciso das cenas, os embates entre Reynolds e Alma, o excepcional domínio gramático e estilístico do cinema, até a trilha sonora arrojada do inglês Jonny Greenwood. Resta-nos torcer para que tanto Lewis quanto Anderson desistam da aposentadoria anunciada. O cinema não merece perder gênios tão talentosos. The great director Paul Thomas Anderson has always marked his filmography by the unpredictability and boldness – the celebrated MAGNOLIA (1999) and THERE WILL BE BLOOD (2007) are examples of his fearless way to approach characters taken by an epic obsession. In PHANTOM THREAD, Anderson focuses the figure, in the middle of a professional decline, of Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, superior, as always), an illustrious stylist among riches and aristocrats, in the 50s. His huge ego is able to devour everybody around him, without any thread of guilty or piety. Then he meets Alma (Vicky Krieps), who faces Reynolds’ mammoth arrogance and imposes him, gracefully and firmly, an insurmountable resistance that, little by little, penetrates his intimacy. The movie is perfect, from the precise scene framework, the clashes between Reynolds and Alma, the remarkable stylistic and grammatical command of cinematography, to the daring soundtrack by Jonny Greenwood. We can only hope that Lewis and Anderson give up the announced retirement. The movies do not deserve to lose such talented genius.