CARNAGE, França, Alemanha, Polônia e Espanha, 2011) - A história dirigida por Roman Polanski é uma releitura do pilar filosófico da peça ENTRE QUATRO PAREDES, de Sartre: o inferno são os outros. Sim, é o que acabamos concluindo depois que uma situação cotidiana (uma criança machuca involuntariamente outra, enquanto brincavam num parque) reúne os respectivos pais e mães no apartamento de um deles, para terem uma conversa supostamente civilizada a respeito do ocorrido. Depois das amenidades sociais, ao estilo de Buñuel, a história faz do local de encontro uma prisão da qual ninguém consegue sair.
Mas o motivo deste "impedimento", de deixar o ambiente, não é surreal, ele se
deve ao acaso: um convite para o café na hora da despedida, o celular que não
funciona no elevador, um importante argumento que merece maior atenção antes do
adeus. Temos então o palco, onde todos começam a se mostrar como realmente são, agredindo uns aos outros, até exporem constrangedoramente seus lados mais sórdidos. Baseado numa peça de teatro, o filme conta com o talento de quatro excepcionais atores: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly, que ficam o tempo todo em cena. No
final, "Deus da Carnificina" apresenta uma sinceridade assustadoramente hilária
vinda dos casais, um show de banalidades entre estranhos. Eles perdem as
estribeiras, suas veias saltam à testa, mágoas profundas são literalmente
regurgitadas, entre ressentimentos, palavrões, tudo abastecido por um pouco de álcool
e muita raiva reprimida. Um grande filme.