segunda-feira, 16 de setembro de 2013

2142 - PERFUME - A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO

(PERFUME: THE STORY OF A MURDERER, USA 2006) - Ainda na lista dos filmes que devem ser revistos, reencontrei-me com este, que se passa no século XVIII, na França. Jean Baptiste Grenouille (Ben Whishaw, o Q do novo James Bond) passou por grandes rejeições a começar por sua mãe, que o abandonou sob uma banca de peixes esperando que ali morresse como todos os outros cinco filhos que tivera. Apesar das condições desfavoráveis, contrariou todas as expectativas e sobreviveu à negligência de sua mãe e aos maus tratos de todos os outros durante o decorrer de sua infância. Mas Jean Baptiste possuía um talento que seria, ao mesmo tempo, sua glória e sua derrocada: com um olfato excepcionalmente apurado, a cada dia demonstrava grande obsessão por odores. Inicialmente não fazia distinção entre os bons e maus, mas com o afloramento de sua sexualidade e libido, a fonte de seu prazer, de todos os olfatos já experimentados, passou a ser o odor feminino. O olfato era seu único modo de reconhecimento e relacionamento com o mundo, cujos odores Jean Baptiste dizia conhecer profundamente. No entanto, era o odor feminino que mais o mesmerizava e, a partir daí, se transforma num assassino em série, tentando capturar o cheiro de mulheres. Porém, logo se deu conta que aquele era um cheiro particular e não poderia ser encontrado em mais ninguém e nem retirado do corpo das mulheres. É então que fica claro a sua incapacidade para lidar com a frustração, pois não suportava a ideia de que não podia reter sua fonte de prazer. A grande sacada psicológica do filme acontece quando ele percebe que ele mesmo não possuía cheiro e assim não possuía identidade. Sendo que a busca pelos odores estava além de seu prazer, tornando-se uma busca para si próprio, para se tornar um ser pertencente ao mundo, já que seu método de inclusão era feito pelos odores. A lei do eterno retorno entra em cena: como a lembrança do prazer de ter sentido o cheiro de sua primeira vítima, sempre lhe vinha à memória, Jean Baptiste decidiu capturar o cheiro das mais belas e puras mulheres que encontrasse para reter suas essências e fazer o perfume perfeito. Usando sua habilidade, Jean Baptiste cria um perfume que reunia as  características encantadoras femininas, como a inocência, a sedução, o encantamento e a beleza, qualidades poderosíssimas usadas, não à toa e não raro, como armas pelas mulheres para atingir seus objetivos. Possuidor de tal poder, o jovem, contudo, tinha consciência de que aquele perfume nunca poderia lhe transformar em uma pessoa capaz de amar e ser amada como todas as outras, sendo essa descoberta a maior de todas as suas frustrações. Voltando ao local de sua infância, Jean Baptiste derrama o perfume todo sobre si e é devorado (literalmente) pelo amor daqueles que sempre o rejeitaram, deixando claro que o que realmente desejava era capturar o amor que nunca teve, para que o tivesse no momento em que bem desejar. Este suicídio acontece tanto no plano físico quanto no psicológico, já que Jean Baptiste também quis por fim ao personagem que ele próprio criou para si, por não suportar um poder no qual nem ele via sentido.