quinta-feira, 5 de setembro de 2013

2131 - ABUTRES

(CARANCHO, Argentina, 2010) - minha admiração pelo cinema portenho cada dia aumenta mais. O diretor Pablo Trapero fez um thriller de alta relevância social, pois além de fazer um enorme sucesso na Argentina, levou o congresso local a discutir mudanças na legislação de seguros para acidentes de automóveis. Não é para menos, afinal o filme denuncia abertamente uma máfia que se tornou famosa ganhando dinheiro de seguros por acidentes não tão acidentais assim. O excepcional Ricardo Darín faz o papel de um desses "abutres", um advogado que trabalha para uma máfia que aplica golpes nas seguradoras. Ele se apaixona por uma paramédica, Luján (Martina Gusman, emocionante), depois de conhecê-la durante uma ocorrência, e passa a reavaliar seus valores éticos, enquanto tem que tentar se desvencilhar dos seus "patrões". É uma aposta corajosa de Darín e Trapero, trazendo o ator para encarnar um tipo diferente daquele com que o público está acostumado. Ele não é o herói - tampouco o vilão -, mas uma espécie de anti-herói trágico e atormentado, que começa a ser consumido pela culpa, à medida em que cresce seu amor por Luján. Corajoso e incisivo, o filme denuncia também as precaríssimas condições de trabalho dos hospitais de BA e até onde chega o desrespeito que o ser humano pode ter pela vida.