segunda-feira, 30 de junho de 2014

2332 - O FILHO DA NOIVA

(EL HIJO DE LA NOVIA, Argentina/Espanha 2001) - Juan José Campanella se esmera no tratamento delicado das relações humanas. Rafael Belvedere (Ricardo Darín, o malandro-chefe de Nove Rainhas), um quarentão estressadíssimo, pai divorciado, administra o restaurante de seu pai, Nino (Hector Altério), mas não tem realizações próprias das quais se orgulhar. Para piorar, sua mãe, Norma (Norma Aleandro), começa a sofrer os primeiros sintomas de Mal de Alzeheimer, a perda da memória. Mas quando Nino propõe a Norma um novo casamento na igreja, para reforçar votos feitos há quarenta anos, Rafael, o filho da noiva, percebe o momento de mudar também sua própria vida. Vale destacar a preparação da película. A história se baseia na experiência real do diretor, cuja mãe realmente sofre da doença. Quando convidou Norma Aleandro para o difícil papel, a atriz temia não alcançar o ponto certo da interpretação. Campanella levou Norma a um passeio de carro, juntamente com sua mãe. Escondida no banco de trás do automóvel, bastou à atriz alguns momentos para entender a situação. Na tela, o desempenho de Norma surpreende pela segurança. Esse processo intimista e atencioso de composição, de aprendizado, reflete-se no filme. Com piadas e referências da cultura pop (com referências a sitcons) intercaladas pelas belas atuações do trio protagonista, o resultado agrada no riso e no choro, com passagens emocionantes de verdade. Campanella inova ao exibir, como pano-de-fundo, a tempestade econômica em Buenos Aires. E consegue impor seu estilo em situações teoricamente previsíveis - em uma cena, a discussão de Rafael com seu melhor amigo acontece em meio às tomadas de um filme fictício; em outra, a reconciliação com sua amada é exibida através do videofone de um apartamento. Mais um grande filme com o grande Ricardo Darín.
 

2331 - A GRANDE BELEZA

(LA GRANDE BELLEZZA, Itália 2013) - Na obra de Paolo Sorrentino, Oscar de melhor filme estrangeiro, é possível identificar milionários excêntricos de A Doce Vida, de Federico Fellini, como reencontrar uma certa personificação de Roma, berço da antiguidade cujas ruínas resistem em meio à modernidade líquida, tão bem descrita pelo meu querido Bauman, conectada, acelerada e globalizada. Jap Gambardella, o escritor consagrado e boêmio interpretado por Toni Servillo, se depara com a nulidade de sua rotina aos 65 anos. Àquela altura da vida, não tem grandes pretensões a não ser driblar o tédio com noitadas regadas a bebida, música eletrônica, relacionamentos fugazes e conversas sobre a chateação de se viver em um período de decadência estética. Jap e a capital italiana, cenário do filme, têm muito em comum. Enquanto todas (ou quase todas) as grandes cidades da humanidade tiveram de se adaptar em algum momento ao mundo moderno, Roma se deu ao luxo de seguir um caminho inverso: foi a modernidade que se adaptou a ela. O que Bauman diria disso? Jap, a exemplo da cidade, é adorado pelo que produziu no passado. E está, como a cidade, cercado por uma perspectiva de futuro extramuros. Aos 65 anos, o personagem não se vê obrigado a aderir a mais nada. O descompromisso dá a ele o direito inclusive de abandonar uma conversa com uma mulher com quem passaria a noite. Seminua, sobre a cama, ela pergunta se ele quer ver algumas fotos dela (nua, claro) postadas no Facebook (irk!); quando ela volta com o laptop em mãos, ele já não está lá. "Aos 65 anos", explica diante da câmera, "tenho o direito de não fazer nada que não queira". A desobrigação com o novo e sua linguagem, eletrônica, posada, plastificada, é latente. Neste mundo de exposições gratuitas, que se espalham em rede mas não encantam, como encontrar a grande beleza, a matéria-prima da criação artística? “Como posso escrever sobre isso?”, pergunta-se o escritor ao ver os amigos dançarem até cair em uma das muitas festas em sua casa. “Isso é o nada. E como eu posso escrever sobre o nada se nem Flaubert conseguiu?”. Sem perceber, é justamente esta inquietação que faz do personagem um artista autêntico. Para o artista, viver e escrever (ou pintar ou dançar) não são atividades dissociadas: o drama de não escrever nem alcançar o que se quer é o drama que o move e o aprisiona. Pois a angústia de não produzir à altura do que se sonha é uma obra de arte em si – inacabada, mas eterna. Como este filme tão belo quando seu título. 
 

2330 - TRÊS HOMENS EM CONFLITO

(THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY, Itália, Espanha e Alemanha, 1966) - Quis rever este filme por causa da recente morte de Eli Herschel Wallach, o Feio do título original. Última edição da famosa "trilogia dos dólares", de Sergio Leone, cujas marcas registradas já fazem parte do imaginário dos westerns: close nos rostos suados e sujos, um longo tempo sem qualquer fala, ótimos enquadramentos em busca do perfeccionismo, humor ácido, momentos que pegam o espectador de surpresa com cortes emocionantes e um permanente clima de suspense em todas as sequências. E, claro, a que talvez seja a trilha sonora mais famosa de todos os tempos, composta pelo maestro Ennio Morricone (ouça, abaixo). Clint Eastwood interpreta o papel de Blondie (Loirinho) e também é apresentado como “O Bom” (apesar de não ser tão bom assim); Lee Van Cleef é Angel Eyes (Olhos de Anjo) e também “O Mau” (o nome tem tudo a ver); e o papel do “Feio” (cujo verdadeiro nome no filme é Tuco Benedicto Pacífico Juan-Maria Ramirez) fica, como já disse, para Eli Wallach, numa atuação marcante e sendo o principal ator da trama, conseguindo dar ao seu personagem uma atitude engraçada e, ao mesmo tempo, vingativa. Estes epítetos se referem à analogia do comportamento dos três personagens. Leone investe em jogos de cena bem realizados para mostrar justamente as emoções mais latentes dos personagens envolvidos em disputa e dominados por ódio e ganância. Com cortes rápidos e zoom frontais, é quase impossível não se envolver no clima árido do deserto, como se estivéssemos contracenando com os atores. O personagens são tão bem construídos, que a troca de olhares frios entre eles, por vezes, tenta transmitir a segurança que eles fingem possuir, podendo ser comparadas a jogadas de pôquer. Um clássico imperdível.
 

domingo, 29 de junho de 2014

2329 - TREM NOTURNO PARA LISBOA

(NIGHT TRAIN TO LISBON, Alemanha, Suíça e Portugal, 2013) -  Jeremy Irons é Raimund Gregorius - o sobrenome diz muito sobre o personagem - um solitário professor de latim, que vive em Berna. Partidas de xadrez solitárias e o trabalho são suas únicas atividades, até que ele avista uma mulher de casaco vermelho prestes a pular de uma ponte. Ao salvá-la da morte, Raimund vê a possibilidade de renascer, pois é a partir daí que vai parar em Lisboa, onde se vê às voltas com ramificações da Revolução dos Cravos, ocorrida na década de 70, e, de quebra, acaba encontrando um sentido para sua vida, o que inclui a redescoberta do amor. Competente no papel, Jeremy Irons, sempre emocionante, é acompanhado no elenco por compatriotas - Jack Huston, Tom Courtenay, Christopher Lee e Charlotte Rampling -, além de colegas de vários lugares da Europa: a francesa Mélanie Laurent, os alemães Martina Gedeck, Burghart Klausner e August Diehl, o suíço Bruno Ganz, a sueca Lena Olin, o moçambicano Marco D'Almeida e alguns coadjuvantes e figurantes portugueses. O filme perde seu encanto inicial quando opta por uma narrativa mais pesada, a partir do momento em que Gregorius chega ao território português. Vale, claro, pela mensagem do "carpe diem" também presente no livro em que o filme se baseia. Mas o grande motivo para assistirmos a TNPL é estarmos diante de um grande ator como Irons.
 
 


2328 - UM DRINK NO INFERNO

(FROM DUSK TILL DAWN. USA 1996) - Neste filme, já clássico, de Robert Rodriguez, George Clooney e Quentin Tarantino são dois irmãos fugindo da polícia, depois de roubarem um banco. No caminho, sequestram uma família, cujo chefe é Harvey Keitel, um religioso extremo que vive para os filhos (Juliette Lewis e Ernest Liu). Todos vão parar num bar para motoqueiros e carreteiros que, em determinado momento, se transforma num ninho de vampiros. Pois é, sob o comando de qualquer outro diretor, este roteiro do próprio Tarantino não funcionaria. No entanto, Rodriguez dá um jeito de nos transportar para a atmosférica feérica e alucinatória de uma maneira tão convincente, que não dá mesmo para não ir até o fim. Claro, tem a cena marcante de Salma Hayek dançando de biquíni e enrolada numa cobra, que já valeria o filme - dê uma olhada no vídeo abaixo. A fixação de Tarantino nos pés femininos está presente em várias sequências. Entendo bem a cabeça desse sujeito.
 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

2327 - LINHA DE AÇÃO

(BROKEN CITY, USA 2013) - Pegando carona no nome do livro de Zuenir Ventura, o título em inglês dá a dica sobre o roteiro cheio de twists deste filme com elementos noir, que mostra que, aqui como nos EUA, a política é sempre um inesgotável fonte de chantagens, golpes sujos, traições e ganância, só para nomear um pouco da sujeira que orbita os gabinetes das autoridades. Russel Crowe é o prefeito de Nova Iorque que contrata um detetive particular (Mark Wahlberg, convincente, como sempre) para investigar a própria esposa (Catherine Zeta-Jones, apagada), suspeita de estar tendo um caso. A partir daí, o filme vai se desdobrando de modo muito eficaz, prendendo a atenção até o fim. Crowe e Wahlberg têm um atuação correta, porém sem grandes brilhantismo. Quem me chamou a atenção foi a israelense Alona Tal, que faz a secretária de Wahlberg. Sua presença em cena é uma daquelas preenchem qualquer vazio, e não apenas por ser bonita. Ela é talentosa. Há, nela, um magnetismo surpreendente, desse que a gente vê cada vez menos. Confira aí embaixo: 
 

2326 - O FANTASMA DE FRANKENSTEIN (1942)

(THE GHOST OF FRANKENSTEIN, USA 1942) - Sequência não tão brilhante de O FILHO DE FRANKENSTEIN (1939), por vários motivos, o primeiro deles sendo a ausência de Boris Karloff na pele costurada do Monstro. Aqui, ele é substituído por Lon Chaney Jr., que, digamos, não conseguiu construir o personagem a contento. O Monstro, que havia sido dado como morto no último filme, reaparece, depois que é descoberto por Ygor (Bela Lugosi), preservado em um poço de enxofre ( ! ). Este filme é o último da saga que tem o Monstro como foco central da trama e é um triste canto dos cisnes para o personagem tão bem representado pelo grandíssimo Karloff. É uma pena também por Chaney que, certamente, não anteviu que seria um risco muito grande assumir um dos ícones cinematográficos mais marcantes de toda a história do cinema. Por sua vez, Lugosi também não consegue repetir o Ygor que fez em O FILHO DE FRANKENSTEIN, muito por causa do roteiro claudicante de W. Scott Darling que, no entanto, acertou a pena em muitos outros sucessos como, por exemplo, CHARLIE CHAN NA ÓPERA, de 1936, com Warner Oland e Boris Karloff.  No elenco, o ótimo Sir Cedric Hardwick e Ralph Bellamy.
 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

2325 - CHARLIE CHAN NA BROADWAY (1937)

(CHARLIE CHAN, USA 1937) - Antepenúltimo filme de Warner Oland no papel de Charlie Chan, no qual ele tem que resolver o assassinato de uma cantora num night-club da Broadway. O roteiro, como sempre, é delicioso, com os curtos comentários de Chan fechando as cenas, geralmente com uma sutil crítica ao seu interlocutor. Duas curiosidades: Lon Chaney Jr faz um cameo não creditado, e talvez um dos primeiros merchandisings do cinema, quando a câmera focaliza sem nenhuma sutileza um frasco de aspirina Bayer, sobre a mesinha de cabeceira de quarto de hotel.
 

terça-feira, 24 de junho de 2014

2324 - ANTES DA MEIA-NOITE

(BEFORE MIDNIGHT, USA 2013) - Nesta mais recente edição da trilogia do texano Richard Stuart Linklater, Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) fazem um balanço de suas vidas. Casados e com filhas (gêmeas), os dois estão na Grécia, passando as férias de verão na casa de amigos. Linklater se deixa enamorar pela paisagem grega paradisíaca, mas não deixa de lado a característica marcante da série mais DR do cinema mundial. Sim, Jesse e Celine continuam a discutir a relação de maneira cada vez mais cativante, o que não deixa de ser surpreendente em um casal com tanta bagagem amorosa (quem viu os dois primeiros filmes sabe do que estou falando). No primeiro filme, eles falam de planos; no segundo, de arrependimento, de tudo aquilo que, manuelbandeiramente, poderia ter sido e não foi. Agora, eles se lançam numa avaliação do que sobrou disso tudo e de como será a vida quando os sonhos não mais brotarem no caminho, como antes. Se, no filme anterior, eles, peripateticamente, flanavam pela cidade mais amorável do mundo - Paris - , agora é a paisagem grega que nos arrebata, enquanto somos a terceira e invisível pessoa a acompanhar os diálogos ainda tão instigantes e tão familiares entre Jesse e Celine. Se o segundo filme tratava de um reencontro físico, principalmente, este aqui se encarrega de promover um resgate de sentimentos e emoções tragados, sem que nos demos conta, no dia a dia da vida pós-moderna. Ah, Julie continua linda e inteligente, uma das mais fascinantes misturas de suavidade com firmeza que já vi, dentro e fora da tela. Um dia, ainda haverá de ser possível encontrar uma mulher assim.  
 

2323 - CORTINA DE FUMAÇA

(SMOKE, USA 1995) - O filme não apresenta uma narrativa muito linear, mas sim uma espécie de vinhetas existenciais sobre oportunidades, a falta de comunicação entre as pessoas e suas trocas afetivas. Harvey Keitel é Auggie,  dono de uma tabacaria por onde transitam várias pessoas, cujas vidas, de uma forma ou de outra acabam se interligando. Assim como a fumaça do cigarro - presente em quase todas as cenas - a história parece que vai tomando uma direção errática, até assumir um sentido inesperado, a partir da conversa, já no fim do filme, entre Auggie e Paul, um escritor vivido brilhantemente por William Hunt. Embora não haja nada de particularmente especial em cada um dos sete personagens principais, todos aparentemente egressos de qualquer esquina de Nova Iorque, eles acabam se transformando em uma espécie de heróis urbanos, desses que se tornam quase invisíveis, mas que podem nos tocar definitivamente. O Auggie de Harvey Keitel, por exemplo, é responsável pela cena mais linda do filme, na minha opinião. Ele possui um hábito peculiar: toda manhã, na mesma hora, fotografa a mesma esquina perto de sua loja e arquiva as fotos em vários álbuns. Ele não sabe por que faz isso; só sente que tem que fazer, segundo confessa a Paul, personagem de Hunt, que se espanta: "Mas são todas iguais!". "Não", retruca Auggie, "cada uma é totalmente diferente da outra." E é aí que está talvez a mais importante mensagem do filme: tudo o que importa está bem diante de nós; nós é que temos que ter olhos para poder enxergar o que há de especial e único a nossa volta. SMOKE é um filme transcendental, no qual o belo e o sublime de que nos fala Edmund Burke nos atingem inexoravelmente na observação da existência cotidiana. Abaixo, a belíssima cena na qual Auggie mostra os álbuns a Paul. Emocionante, para dizer o mínimo.


 

domingo, 22 de junho de 2014

2322 - O LOBISOMEM DE LONDRES (1935)

(WEREWOLF OF LONDON, USA 1935) - Este é o primeiro tratamento que a Universal (o estúdio, não a igreja) dá à licantropia, embora não seja o primeiro filme sobre um lobisomem (houve um curta de 18 minutos, lançado em 1913). Precedeu o clássico estrelado por Lon Chaney Jr., em 1941, e se distingue deste em um aspecto importante: Jack Pierce, responsável pelas maquiagens desde o primeiro ciclo de horror do estúdio, queria fazer um lobisomem mais hirsuto (que conseguiu com Chaney), mas foi convencido por Henry Hull, o protagonista deste filme, a pegar mais leve, dando chance ao ator de explorar mais as expressões faciais. Hull, um ator egresso do teatro, não consegue dar ao bichano a intensidade dramática que o cinema exige e nem de longe chega perto da capacidade de empática de Chaney. Uma outra presença chamou a minha atenção: Warner Oland, que estrelou vários filmes como CHARLIE CHAN, está no elenco, no papel de um cientista, e pode ser visto na foto acima, em pleno conúbio com o lobisomem de Hull. Esta é a única incursão do diretor Stuart Walker, e ele se sai muito bem na caracterização de uma Londres sombria e na incorporação de alguns elementos da carpintaria cinematográfica de James Whale: a bela esposa do cientista, sempre cortejada por um ex-namorado, formando, assim, um triângulo amoroso, os guardas "cockney" e personagens femininas caracteristicamente histriônicas, além, claro, da estalagem repleta de bêbados. Os efeitos na transformação do lobisomem são bem satisfatórios.
 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

2321 - MATADOR DE ALUGUEL

(ROADHOUSE, USA 1989) - Este filme com Patrick Swayze é um dos que mais gosto, sem nenhuma razão mais relevante. Aliás, o filme não tem nada de especial, além da lembrança afetiva que todos temos do seu protagonista. Swayze é, aqui, um leão de chácara todo zen, com formação em filosofia, que é chamado para pôr ordem num bar de beira de estrada, uma espelunca cujo dono já não sabe mais o que fazer para manter os clientes e se ver livre do manda-chuva da cidade, vivido, com alguma ironia, por Ben Gazarra. ROADHOUSE é um daqueles filmes aos quais a gente se apega e revê com renovado prazer, sem qualquer razão aparente, talvez apenas por gostar da história, sem qualquer implicação mais intelectualizada. É uma das mágicas do cinema. O guitarrista cego Jeff Healey, que já esteve no Brasil algumas vezes, arrasa em vários números de blues. O título em português é totalmente equivocado, pois o personagem principal não é um matador profissional, embora, de fato, não tenha casa própria.  
 

2320 - CANDY

(CANDY, USA, França, Itália, 1968) - Como estou lendo um biografia de Marlon Brando, este filme chamou-me a atenção, por ser um daqueles que o legendário ator fez na sua fase de total decadência. Com o corpo pintado de corante vermelho, olhos maquiados, torso envolto num sári branco e com o rosto emoldurado por uma peruca de longos cabelos negros, Brando está grotesco. Por sinal, este  é mesmo o objetivo: o filme é uma farsa sobre a era Eisenhower, com seus "squares" (burgueses reprimidos), seus falsos guias espirituais, sua cultura impiedosa em tudo o que diz respeito ao sexo. Foi feito para chocar a sociedade tradicionalista, mas peca exatamente no seu exagero anárquico e falsamente contestador. No elenco luxuoso, Richard Burton e Ringo Starr. No mais, vale, sobretudo pela atriz principal, Ewa Aulin, considerada uma revelação, mas que só faria depois alguns filmes italianos medíocres. Miss Teen Suécia, ela é de fato uma deusa entre as deusas dos anos 60. Veja aí embaixo.
 
 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

2319 - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA

(SLEEPY HOLLOW, USA 1999) - Sou fã de Timothy Walter Burton, por sua criatividade e originalidade. É um daqueles diretores de cujos filmes não se tem dúvida da autoria. SLEEPY HOLLOW ainda mantém o interesse e o fascínio, não tanto pela história - que em certo momento fica um pouco confusa -, mas pela caprichada carpintaria cenográfica, marca registrada do marido de Helena Bonham-Carter. Seu ator-assinatura, Johnny Depp, é mais que competente no papel de Ichabod Crane, policial que é enviado ao vilarejo de Sleepy Hollow para investigar um criminoso que tem como vezo decapitar suas vítimas. Misturando thriller policial, humor negro, horror e comédia, Tim Burton faz um filme tecnicamente impecável, equilibrado nas suas doses de gênero e extremamente saboroso de assistir. Christina Ricci, em cujos olhos a gente tem vontade de mergulhar, está linda, antes da série de operações plásticas que a deformaram.  
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

2318 - UM HOMEM COMUM

(A COMMON MAN, USA, Sri Lanka, 2013) - Inesperado - pelo menos para mim - thriller de suspense sobre um homem (Ben Kingsley) que planta várias bombas em diversos locais da cidade mais populosa do Sri Lanka, Colombo, ameaçando detoná-las, se as autoridades não libertarem quatro perigosos terroristas. Uma satisfatória combinação de suspense, ação e edição de imagens, num filme que escapa do radar do mainstream cinemático. Aproveitando uma ideia que não é lá muito original, o diretor Chandran Rutnam, que foi gerente de produção de INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO, consegue dar um ritmo ágil à história e surpreende com um desfecho quase previsível, não fosse a presença marcante de Kingsley num momento crucial da trama.  
 

2317 - A VIDA MARINHA DE STEVE ZISSOU

 
(THE LIFE AQUACTIC WITH STEV ZISSOU, USA 2004) - Só um diretor com um pendor para o surrealismo, como Wes Anderson, poderia colocar Seu Jorge em alto mar, cantando versões em português de músicas de David Bowie, e um protagonista (Bill Murray, mais uma vez estupendo) que é uma espécie de Jacques Cousteau com sede de vingança conta um turbarão que devorou seu amigo. Ou seja, o filme pode ser qualquer coisa, dependendo do ângulo que você escolha. Muitos acham isso um defeito. Não é o meu caso. A forma como Anderson filma é de uma criatividade anárquica que arrebata o espectador até a última cena (atenção, retardados que levantam antes do fim dos créditos: a música cantada por Seu Jorge, enquanto rola a ficha técnica do filme, é sensacional). Claro que este nonsense ganha muito com o imenso talento de Bill Murray, liderando um elenco inesperado: Cate Blanchett, Owen Wilson, Anjelica Huston, Willem Dafoe e Jeff Goldblum.  
 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

2316 - O ÚLTIMO TANGO EM PARIS

(ULTIMO TANGO A PARIGI, França e Itália, 1972) - Bernardo Bertolucci arriscou muito num filme pretensamente ousado para a época, tendo como protagonista um ator que, por si, podia levar qualquer produção do céu ao inferno, de acordo com o seu humor e vontade de atuar. Pois bem, o Marlon Brando que vemos na tela é o mais preguiçoso possível, aparentemente sem muita vontade de viver o personagem que, depois do suicídio da esposa, vaga por Paris, até encontrar uma jovem em crise com o noivo. Num apartamento, os dois se propõem a se entregar apenas à relação sexual, sem nomes, sem compromisso, sem planos. Sempre achei o filme muito parado, com diálogos chatos e arrastados e frustrante, principalmente, pela não atuação de Brando. O alarido que O ÚLTIMO TANGO provocou na época do lançamento, de fato, não se justifica, pois, na realidade, o filme é fraco e não funciona nem como uma tentativa de chocar o espectador, mesmo se levarmos em conta o moralismo hipócrita daquele tempo.
 

2315 - WOLVERINE, IMORTAL

(THE WOLVERINE, USA 2013) - Em geral, o filme é bem satisfatório, que envolve traição familiar e assassinatos, numa história em que Logan tem que enfrentar a diminuição de seus poderes regenerativos, enquanto se enamora de uma bela nissei, que tenta apagar a cicatriz que ele tem no coração: a morte do seu grande amor. Até os mutantes sofrem por amor, fazer o quê? Bom roteiro, diálogos sólidos e um jeito de filme de samurai, não fosse o fato de o filme se passar 90% em terras nipônicas. Não gostei do embate final, feito, ao que parece, para agradar as plateias americanas com idade mental de 12 anos, e que deixa uma estranha impressão de que vamos ver uma cena de TRANSFORMERS.
 

2314 - TESE SOBRE UM HOMICÍDIO

(TESIS SOBRE UN HOMICIDIO, Argentina e Espanha, 2013) - Roberto Bermudes (o grandíssimo Ricardo Darín) é um professor especialista na área criminal que está convencido de que um dos seus alunos cometeu um crime brutal, bem em frente à universidade, só para desafia-lo. A partir daí, Roberto se torna obcecado pela investigação e faz tudo para desmascarar o culpado. Mais uma vez, o cinema argentino ganha de goleada do nosso, principalmente em termos de roteiro e direção. Enquanto aqui, o público acrítico parece se satisfazer com comédias de gosto duvidoso, nossos irmão portenhos se esmeram em produções intelectualmente sofisticadas e na realização de filmes cativantes, principalmente quando encabeça o elenco o maior de seus atores, Ricardo Darín. Este filme está na categoria dos muito bons da recente safra argentina, embora, a meu ver, dê uma leve deslizada no fim, ao encontrar uma solução meio óbvia para a trama. De qualquer forma, é um produto de excelência deste país, em muitos aspectos, injustamente negligenciado pelos brasileiros.
 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

2313 - THE BLING RING: A GANGUE DE HOLLYWOOD

(THE BLING RING, USA 2013) - Eu já havia assistido a este filme ano passado, mas queria rever alguns pontos que me chamaram a atenção: as belas ruas arborizadas de Los Angeles, as mansões encravadas nas colinas de Hollywood e a atuação impecável de Emma Watson, como uma patricinha de Beverly Hills, que se mete com um grupo de adolescentes descerebrados para entrar nas casas das celebridades locais e roubar tudo aquilo que eles achavam interessante. O roteiro, por si só, é pra lá de absurdo. E fica ainda mais absurdo porque é baseado em fatos reais. Ou seja, em algum momento de sua vidas sem graça, estes adolescentes de classe média alta resolvem praticar roubos e outras ações ilícitas, sempre a toque de muita droga, só pelo simples prazer de perpetrar o ato e, eventualmente, se tornar uma súbita celebridade atrás das grades. Gosto muito do trabalho de Sofia Coppola como diretora, especialmente por sua capacidade de extrair do cotidiano estes exemplos inesperados de patologia social, quase sempre provocados pela onda de vaidade que permeia a sociedade pós-moderna.
 

terça-feira, 3 de junho de 2014

2312 - THE NORMAL HEART

(THE NORMAL HEART, USA 2014) - Telefilme produzido pela HBO, baseado na peça do dramaturgo e ativista Larry Kramer, que mistura ficção e passagens autobiográficas, tendo como pano de fundo o aparecimento da AIDS em Nova Iorque, entre 1981 e 1984. O elenco famoso é encabeçado por Mark Ruffalo, escritor e alter ego de Kramer, alçado a líder de uma comunidade devastada por uma doença tão desconhecida como letal, por meio da ONG Gay Men's Health Crisis. De fato, é impressionante a luta deste grupo para que o governo americano passasse a dar atenção à pesquisa e fabricação de remédios que combatessem a doença. Chega a ser patética a postura indiferente das autoridades diante de uma epidemia que claramente se alastrava. Aí, entra em cena o inconcebível preconceito americano em relação aos homossexuais. Ruffalo está excelente, o que não surpreende, pois já demonstrou, em outras oportunidades, que é mesmo um grande ator. Temos também Jim Parsons, o Sheldon, reprisando, no filme, o personagem que também viveu nos palcos da Broadway, na montagem de 2011. Não dá muito para descolar o Sheldon de sua atuação, mas, em uma das cenas, numa homenagem a um amigo morto, em uma igreja de Nova Iorque, ele arrasa com um discurso profundamente emocionante. Julia Roberts vive uma médica, uma das primeiras a tratar dos pacientes com o vírus. Um filme maravilhosamente triste.
 

domingo, 1 de junho de 2014

2311 - MEU MALVADO FAVORITO 2

(DESPICABLE ME 2, USA 2013) - Tão maravilhoso, e às vezes superior, ao primeiro filme, MMF2 é uma delícia, do começo ao fim. Agora, Gru (voz de Steve Carell, excelente), em total dedicação às filhas e sua produção de geleia, vai descobrindo um caminho que o levará ao amor, pois os ex-malvados também amam. Tudo funciona com graça e donaire no filme, mas quem se destaca, mais uma vez, são os Minions. Se antes Gru era o protagonista, agora divide o destaque com os bichinhos amarelos, que já conseguiram lugar cativo na cultura pop. Aviso para os retardados que não ficam para os créditos: os Minions, mesmo depois do The End, aprontam mais uma surpresa. O legal do filme é a saudável ausência da já tradicional "lição de moral". Isso se torna um atributo importante de MMF2 - a intenção aqui é fazer rir, e a equipe de criação consegue, sem ofender a inteligência do espectador ou apelar para piadas de gosto duvidoso. O filme é adorável, como todos os seus personagens.