terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

3218 - CULPA

      
CULPA (DEN SKYLDIGE, Dinamarca, 2018) – Concentrado no rosto do excepcional ator Jakob Cedergren, confinado num centro de atendimento de emergência, e fazendo uso de uma exímia edição de som, o filme de estreia do diretor Gustav Möller deixa o espectador grudado na tela. Asger Holm (Cedergren) atende a uma ligação: uma mulher balbuciando na linha, como se estivesse falando com a filha pequena, dá a entender que foi sequestrada. A partir daí, o filme se mostra magistral – com praticamente só um ator em cena, num único cenário, CULPA vai preenchendo a nossa imaginação e, de alguma forma, nos fazendo tentar prever o imprevisível, como se constata na mesmerizante cena final. Platão adoraria. O filme é um estudo sobre as decisões precipitadas que fazemos, na maioria das vezes tisnadas por uma percepção mal concebida da realidade, principalmente por nossa incapacidade de prestar atenção no outro e, por conseguinte, em nós mesmos. Um grande ator, um enredo extraordinário, um diretor competente, uma produção coerente e coesa – tudo isso faz de CULPA uma obra de arte digna do cinema escandinavo que, em alguma medida, se aproxima em qualidade do argentino, e confirma, por cotejo, a mediocridade do cinema brasileiro atual. Focused on the face of the great actor Jakob Cedergren, confined in an emergency call center, and making use of a dexterous sound editing, the first movie of Gustav Möller leaves the viewer glued to the screen. Asger Holm (Cedergren) picks up a call: a woman stammering on the other side of the line, as she was talking to her little daughter, makes him believe that she is being kidnapped. From this point on, the movie becomes masterful – with only one actor in the scene, a sole scenario, THE GUILTY fulfills our imagination and, somehow, makes us try to preview the unpredictable, as we can verify in the final scene. Plato would love it! The movie is a study on hasty decisions we make, most of the times clouded by poor perception of reality, mainly because we haven’t learned to pay attention to the others and, therefore, to ourselves. A great actor, an extraordinary plot, a competent director and a coherent production – the result is a masterpiece worthy of the Scandinavian cinema that, to a certain extent, equals to the Argentinean, and confirms the mediocrity of today’s Brazilian movies.