segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

4629 - O QUE A VITÓRIA DE FERNANDA TORRES ENSINA AO CINEMA BRASILEIRO (2025)

 


O QUE A VITÓRIA DE FERNANDA TORRES ENSINA AO CINEMA BRASILEIRO Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro como Melhor Atriz de Drama por AINDA ESTOU AQUI. Essa notícia deveria bastar para o cinema nacional refletir sobre sua trajetória ao longo de tantos anos de alguns altos e muitos baixos. Fernanda Torres e toda sua linhagem dramática de Fernanda e Fernando souberam formar um público capaz de preferir o Bourbon ao Sangue de Boi, um público ansioso por obras de arte sinalizadoras de caminhos mais favoráveis no meio do aranhol digital causador de tantas mazelas como, por exemplo, a ascensão da extrema-direita fascista, cujo dínamo anímico roda em função do ódio a tudo, principalmente à cultura e ao belo. Apontar a arte e a cultura – conceitos sinônimos, por sinal – como forma de resistência à truculência intelectual, à indigência cognitiva e à tendência niilista de louvar o precipício é, de certa forma, repetir uma certeza consabida. Que se repita, então, milhares, milhões de vezes, se necessário, principalmente pela via polissêmica do cinema, aqui no Brasil, com menos filmes partícipes da difusão agnotológica aceita tão acriticamente por um público fanatizado pela pior política e a mais retrógrada religião, e mais filmes como AINDA ESTOU AQUI, graças ao qual Fernanda Torres obteve um reconhecimento merecido e emocionante, nos fazendo sentir pessoas melhores e mais felizes, coisa só possível quando a arte nos atinge, inexoravelmente, como um raio de vida. Fernanda Torres won the Golden Globe for Best Drama Actress for I'M STILL HERE. This news should be enough for the Brazilian cinema to reflect on its trajectory over so many years of some ups and many downs. Fernanda Torres and all her dramatic lineage of Fernanda and Fernando knew how to form an audience capable of preferring Bourbon to cheap wine, an audience eager for works of art that signal more favorable paths in the middle of the digital hub that causes so many ills such as, for example, the rise of the fascist far right, whose soul dynamo rotates due to the hatred of everything, especially to culture and beauty. To point to art and culture – synonymous concepts, by the way – as a form of resistance to intellectual truculence, cognitive indigence and the nihilistic tendency to praise the precipice is, in a way, to repeat a well-known certainty. Let it be repeated, then, thousands, millions of times, if necessary, mainly through the polysemic way of cinema, here in Brazil, with fewer films participating in the agnotological diffusion accepted so uncritically by a public fanaticized by the worst politics and the most retrograde religion, and more films like AINDA ESTOU AQUI, thanks to which Fernanda Torres obtained a deserved and exciting recognition, making us feel better and happier people, something only possible when art hits us, inexorably, like a ray of life.



4628 - JESUS CRISTO, EU ESTOU AQUI (1970)


JESUS CRISTO, EU ESTOU AQUI (Brasil, 1970) – Este é um dos filmes mais insólitos do cinema nacional: é inexplicável a música de Roberto Carlos, sucesso do LP daquele ano, como tema principal, até porque mão tem nada a ver com a história; a ação se passa em Magé e Friburgo, como se fossem a mesma cidade, independentemente das diferenças geográficas – aliás, só há uma sequência em Friburgo, na qual Costinha, como um padre, atravessa a praça Demerval Moreira e vai até o Centro de Turismo e tem um diálogo surreal com o funcionário. Além disso, o roteiro mal construído mostra uma disputa entre dois coronéis (Zé Trindade e Colé), dentro de uma ambientação típica do Nordeste. Vale a pena pelo registro histórico. This is one of the most unusual films in the Brazilian cinema: the music by Roberto Carlos, a hit on that year's LP, as the main theme is inexplicable, because it has nothing to do with the story; the action takes place in Magé and Friburgo, as if they were the same city, regardless of geographical differences – in fact, there is only one sequence in Friburgo, in which Costinha, as a priest, crosses the Demerval Moreira square and goes to the Tourism Center and has a surreal dialogue with the employee. In addition, the poorly constructed script shows a dispute between two colonels (Zé Trindade and Colé), within a typical northeastern setting. It is worth it for the historical record. DVD.


4627 - O DONO DA BOLA (1961)

 


O DONO DA BOLA (Brasil, 1961) – Neste filme, dirigido por JB Tanko, Ronald Golias interpreta um personagem bem conhecido das comédias nacionais: o ingênuo bem intencionado, meio marginalizado pela própria inabilidade social, invariavelmente metido em situações marcadas pela comédia pastelão e apaixonado pela mocinha, numa disputa com um outro homem, sempre um galã, ou quase isso. Bem, aqui ele gosta de Eva (Norma Blum, lindíssima) e entra numa triangulação com o conquistador, Fernando (Perry Salles, escolha totalmente equivocado para o papel), durante um programa de TV. É curioso notar a relevância da televisão naquele momento histórico: era a Hollywood local, objetivo de todos os artistas, mesmo nas condições precárias de funcionamento, como mostrado em várias outras produções durante a década de 60. A cópia, no YouTube, está excelente. In this film, directed by JB Tanko, Ronald Golias plays a well-known character in the Brazilian comedies: the well-intentioned naïve, somewhat marginalized by his own social inability, always involved in situations marked by slapstick comedy and in love with the girl, in a dispute with another man, always a heartthrob, or almost so. Well, here he likes Eva (Norma Blum, extremely beautiful) and gets into a triangulation with the conqueror, Fernando (Perry Salles, totally wrong choice for the role), during a TV show. It is curious to note the relevance of television at that historical moment: it was the local Hollywood, the goal of all artists, even in the precarious conditions of operation, as shown in several other productions during the 60s. The copy, on YouTube, is excellent.



4626 - O PROTETOR 3 (2023)

 


O PROTETOR 3 (THE EQUALIZER 3, USA, 2023) – Denzel Washington é obrigatório. No terceiro filme da franquia, Robert McCall está na Itália e ajuda uma pequena localidade a se livrar de um grupo de criminosos meio caricatos. Esta segunda visita ao filme confirma a tibieza do roteiro, apesar do sempre magnífico Denzel e da presença de Dakota Fanning como uma agente do FBI, depois de atuarem juntos no ótimo CHAMAS DA VINGANÇA, de 2004. A bela cidade costeira de Atrani, encrustada harmoniosamente na encosta (também locação do memorável RIPLEY, e com Dakota no elenco) é uma atração irresistível para quem sonha em estar ali, pelo menos uma vez na vida, tomando vinho diante do pôr do sol – e isso já seria uma bela cena da nossa vida – e digo isso lembrando de planos oníricos deixados na longa estrada que transforma tudo em quase nada. Dakota Fanning adota, neste filme, a mesma atuação contida (e encantadora) oferecida em RIPLEY: é um estar, sem estar realmente ali, mas, ao mesmo tempo, apenas movida pelo silêncio, mostrar um entendimento profundo do mundo ao redor, discreta, como se apenas entendesse o inexplicável com o olhar, substantivo e verbo, algo que só Scarlett Johansson faz. Denzel Washington is mandatory. In the third film of the franchise, Robert McCall is in Italy and helps a small town to get rid of a group of criminals who are a bit caricatured. This second visit to the film confirms the lukewarmness of the script, despite the always magnificent Denzel and the presence of Dakota Fanning as an FBI agent, after acting together in the great MAN ON FIRE, from 2004. The beautiful coastal town of Atrani, harmoniously embedded in the hillside (also the location of the memorable RIPLEY, and with Dakota in the cast) is an irresistible attraction for those who dream of being there, at least once in their lives, drinking wine during the sunset – and that would already be a beautiful scene of our lives – and I say this remembering dreamlike shots left on the long road that turns everything into almost nothing. Dakota Fanning adopts, in this film, the same restrained (and charming) performance offered in RIPLEY: it is to be present, without really being there, but, at the same time, only moved by silence, showing a deep understanding of the world around her, discreet, as if she only understood the inexplicable with her gaze, noun and verb, something that only Scarlett Johansson does. Prime.



sábado, 4 de janeiro de 2025

4625 - 8 1/2 (1963)

 


8 ½ (Itália, 1963) – Essa obra-prima de Fellini é uma experiência a ser revisitada de tempos em tempos, em função dos múltiplos níveis de interpretação oferecidos pelo roteiro autobiográfico do marido de Giulietta Masina. Marcello Mastroianni é Guido, um diretor com bloqueio criativo e uma série de traumas existências cuja origem está no caldo de cultura latina da Itália do pós-guerra, envolvendo a influência da igreja católica, o fantasma do pecado, conflitos com a relação materna, a reconstrução do país no sentido cultural, depois da onda neorrealista de Rosselini. Uma coisa é certa: não é um filme para se ver apenas uma vez – 8 ½ é como se fosse uma dízima periódica narrativa, capaz de estabelecer identificações com todo tipo de público. Basta ter paciência, como a história tão bem coloca. E, além do mais, Fellini conseguiu a perfeita tradução da beleza feminina, um dos anseios de Guido: Claudia Cardinale. This masterpiece by Fellini is an experience to be revisited from time to time, due to the multiple levels of interpretation offered by the autobiographical script of Giulietta Masina's husband. Marcello Mastroianni is Guido, a director with creative block and a series of existing traumas whose origin is in the Latin culture of post-war Italy, involving the influence of the Catholic Church, the ghost of sin, conflicts with the maternal relationship, the reconstruction of the country in the cultural sense, after Rosselini’s neorealist wave. One thing is for sure: it is not a film to be seen only once – 8 1/2 is as if it were a periodic narrative tithe, capable of establishing identifications with all types of audiences. Just be patient, as history puts it so well. And, moreover, Fellini achieved the perfect translation of feminine beauty, one of Guido's desires: Claudia Cardinale. DVD.



4624 - TEMPOS MODERNOS (1936)


TEMPOS MODERNOS (MODERN TIMES, USA, 1936) – O funcionário de uma fábrica começa a enlouquecer diante da automação de suas tarefas e passa a desafiá-las numa sequência memorável, na qual brinca com as peças fabricadas, enfrenta o patrão e os companheiros de trabalho, entra nas engrenagens da enormes máquinas que, literalmente, o engolem – assim começa essa clássico de Chaplin, um libelo contra a despersonalização imposta pelas grandes indústrias aos responsáveis por elas, os operários anônimos, e por vezes esquecidos, sem os quais nada funciona. Ou não deveria funcionar. Num filme premonitório do quase descarte total do elemento humano na linha de produção das grandes indústrias, Chaplin mostra um a revolta contra um sistema opressor, numa sociedade incapaz de, minimamente, alimentar sua população. E é exatamente o elemento comida o fio condutor da história: quase todas as sequências contêm referências à alimentação – ou a falta dela -, principalmente por causa da personagem de Paulette Goddard, uma espécie de Robin Hood de saias, simbolizando a resistência das pessoas sem trabalho e sem tem o que comer. A partir deste filme, a imagem pública de Chaplin ficou diretamente ligada à política, deixando-o sob o olhar atento da paranoia anticomunista americana. Revisitar o filme é um prazeroso exercício de compreensão de uma época marcada por grandes contrastes sociais nos EUA e mais uma constatação do gênio de Chaplin, capaz de, logo no início do filme, mostrar a voracidade também da indústria cinematográfica, ao emular na cena em que é engolido pelas engrenagens da fábrica, um corte transversal de uma câmera de filmagem. Gênio é pouco para ele. The employee of a factory begins to go crazy in the face of the automation of his tasks and starts to challenge them in a memorable sequence, in which he plays with the manufactured parts, faces the boss and his co-workers, enters the gears of the huge machines that literally swallow him – this is how this classic by Chaplin begins, a libel against the depersonalization imposed by large industries on those responsible for them, the anonymous, and sometimes forgotten, workers without whom nothing works. Or it shouldn't work. In a film that foresees the almost total discarding of the human element in the production line of large industries, Chaplin shows a revolt against an oppressive system, in a society incapable of minimally feeding its population. And it is exactly the food element that is the common thread of the story: almost all the sequences contain references to food – or the lack of it – mainly because of Paulette Goddard's character, a kind of Robin Hood in skirts, symbolizing the resistance of people without work and without anything to eat. From this film on, Chaplin's public image was directly linked to politics, leaving him under the watchful eye of American anti-communist paranoia. Revisiting the film is a rewarding exercise in understanding a time marked by great social contrasts in the USA and another observation of Chaplin's genius, capable, right at the beginning of the film, of showing the voracity of the film industry as well, by emulating in the scene in which he is swallowed by the gears of the factory, a cross-section of a film camera. Genius is not enough for him.



4623 - O PROTETOR 2 (2018)


O PROTETOR 2 (THE EQUALIZER 2, USA, 2018) – Robert McCall (Denzel Washington, obrigatório, sempre) ganha a vida dirigindo um carro de aplicativo em Boston e, eventualmente, se dedica a ajudar pessoas em perigo, como no primeiro O PROTETOR, de 2014, também dirigido por Antoine Fuqua. Denzel é um desses atores maiúsculos, capazes de tornar a história de seus filmes um simples acessório para seu talento. Assim, OP 2 projeta o imenso carisma de seu protagonista para muito além de um roteiro inicialmente interessante, mas inconsistente no seu terço final. O ponto alto é a cena na qual ele dá uma lição de moral ao jovem traficante morador do modesto prédio onde ambos vivem. Pedro Pascal tem uma atuação tépida e seu personagem não mostra a ambiguidade esperada até o twist final. Mas nada disso importa: temos em cena Denzel Washington, e isso é um privilégio para seus coevos. Robert McCall (Denzel Washington, obligatory, always) makes a living driving an app car in Boston and eventually dedicates himself to helping people in danger, as in the first PROTECTOR, from 2014, also directed by Antoine Fuqua. Denzel is one of those capital actors, capable of making the story of his films a simple accessory to his talent. Thus, TE 2 projects the immense charisma of its protagonist far beyond an initially interesting script, but inconsistent in its final third. The highlight is the scene in which he gives a moral lesson to the young drug dealer who lives in the modest building where they both live. Pedro Pascal has a tepid performance and his character does not show the expected ambiguity until the final twist. But none of that matters: we have Denzel Washington on stage, and that's a privilege for his coevals. Prime.





sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

4622 - SUPER-HOMEM: A HISTÓRIA DE CHRISTOPHER REEVE (2024)

 


SUPERMAN – THE CHRISTOPHER REEVE STORY (USA, 2024) – Emocionante documentário sobre a vida de Christopher Reeve e seu mais famoso papel no cinema. A segunda parte é dedicada ao acidente que o deixou tetraplégico e ao amor de sua esposa, Dana, durante todo o período de intenso sofrimento, para ela e para a família. A história de Reeve sempre vai fazer o paralelo com a imagem do Super-Homem, e esta conexão foi tão intensa na época do lançamento do primeiro filme, que a tragédia da queda do cavalo, numa prova de equitação, pareceu uma ficção aos olhos dos seus admiradores. Imagens marcantes de Reeve em casa, com seu amigo Robin Willians e depoimentos sensíveis de seus filhos. Touching documentary about Christopher Reeve’s life and his most famous film role. The second part is dedicated to the accident that left him quadriplegic and the love of his wife, Dana, throughout the period of intense suffering, for her and their family. Reeve's story will always parallel the image of Superman, and this connection was so intense at the time of the release of the first film, that the tragedy of the fall from the horse, in a riding event, seemed like a fiction in the eyes of his admirers. Striking images of Reeve at home, with his friend Robin Williams and sensitive testimonies from his children. Prime.



4621 - UM AMOR INESPERADO (2018)

 


UM AMOR INESPERADO (EL AMOR MENOS PENSADO, Argentina, 2018) O cinema argentino é bom até quando erra. O filme de Juan Vera trata de uma separação: Marcos (Ricardo Darín) e Ana (Mercedes Morán) estão em crise, principalmente depois da viagem do único filho para estudar na Europa. O roteiro (sim, previsível) leva o casal a vários relacionamentos superficiais, durante os quais os dois protagonistas se questionam sobre a natureza de seus sentimentos e a conexão inevitável de suas aspirações. Não é o melhor filme argentino, até porque conta com o grande Darín, mas é muito, mas muito, melhor do que qualquer filme brasileiro. Argentinean cinema is good even when it makes mistakes. Juan Vera's film deals with a separation: Marcos (Ricardo Darín) and Ana (Mercedes Morán) are in a wedding crisis, especially after their only son's trip to study in Europe. The script (yes, predictable) leads the couple into several superficial relationships, during which the two protagonists question each other about the nature of their feelings and the inevitable connection of their aspirations. It's not the best Argentine film, despite the great Darín’s presence, but it's much, much, better than any Brazilian film. Disney Plus.



4620 - JURADO #2 (2024)


JURADO # 2 (JUROR #2, USA, 2024) – Clint Eastwood é obrigatório. No seu quadragésimo filme como diretor, ele propõe questões essenciais – e incômodas – constituintes de dilemas morais e do âmago de um roteiro enxuto, mas não menos profundo: verdade e justiça são conceitos indissociáveis ou instâncias que eventualmente se encontram? Justin Kemp (Nicholas Hoult, excelente) é escolhido para o júri de um caso de homicídio e descobre uma possível participação sua no evento. A partir daí, Clint no leva a exercitar o que ainda há de empatia em nós, a simples capacidade de se colocar no lugar do outro, baseado num tipo peculiar de universalidade inserta num mundo que parece ocorrer mediante um juízo existencial de não vacuidade e sem a pretensão de uma universalidade abrangente, pois, afinal de contas, por mais que façamos, nunca poderemos nos livrar do peso de nossas escolhas. Uma obra-prima. Clint Eastwood is a must. In his fortieth film as a director, he poses essential – and uncomfortable – questions that constitute moral dilemmas and the core of a lean but no less profound script: are truth and justice inseparable concepts or instances that eventually meet? Justin Kemp (Nicholas Hoult, excellent) is chosen to be on the jury in a murder case and discovers his possible participation in the event. From there, Clint leads us to exercise what is still empathetic in us, the simple ability to put oneself in the place of the other, based on a peculiar type of universality inserted in a world that seems to occur through an existential judgment of non-emptiness and without the pretension of an all-encompassing universality, because, after all, no matter how hard we try, we can never free ourselves from the weight of our choices. A masterpiece. Max.



terça-feira, 31 de dezembro de 2024

4619 - CHARLIE CHAN NO EGITO (1935)

 

Warner Oland e Rita Hayworth

CHARLIE CHAN NO EGITO (CHARLIE CHAN IN EGYPT, USA, 1935) – Charlie Chan (Warner Oland) vai ao Egito investigar o assassinato de um arqueólogo encontrado dentro de um sarcófago. O personagem Charlie Chan foi vagamente baseado em uma pessoa real, Chang Apuna, um famoso e condecorado detetive chinês que viveu em Honolulu e serviu bem ao público por muitos anos. O personagem foi concebido como uma reação contra caricaturas racistas anti-asiáticas como o Dr. Fu Manchu; e foi muito popular por muitos anos; rivalizando com o sucesso de Sherlock Holmes e Hercules Poirot. Neste filme, uma curiosidade preciosa: Rita Hayworth, antes da fama, no papel de uma empregada. Charlie Chan (Warner Oland) goes to Egypt to investigate the murder of an archaeologist found inside a sarcophagus. The Charlie Chan character was loosely based on a real person, Chang Apuna, a famous and decorated Chinese detective who lived in Honolulu and served the public well for many years. The character was conceived as a reaction against racist anti-Asian caricatures like Dr. Fu Manchu; and was very popular for many years; rivaling the success of Sherlock Holmes and Hercules Poirot. A precious curiosity: Rita Hayworth, before being famous, on the role of a maid. Youtube.



4618 - CAMALEÕES (2023)

 


CAMALEÕES (REPTILE, USA, 2023) – Thriller policial com Benicio Del Toro investigando o assassinato de uma corretora de imóveis e descobrindo, ao longo do processo, uma série de conexões comprometedoras. O filme segue um padrão tradicional, sem nada de original no roteiro e atuações apenas medianas. Há um excesso de closes-ups, e algumas pontas soltas comprometem o resultado final, não revelando o que deveria ser revelado. Crime thriller with Benicio Del Toro investigating the murder of a real estate agent and discovering, along the way, a series of compromising connections. The film follows a traditional pattern, with nothing original in the script and only average performances. There is an excess of close-ups, and some loose ends compromise the final result, not revealing what should be revealed. Netflix.



4617 - PARIS, TEXAS (1984)

     

Icônica virada de rosto de NK

PARIS, TEXAS (USA, 1984) – Numa imagem aberta, numa área desértica do interior dos EUA, um homem alquebrado caminha aparentemente sem rumo. Assim começa um dos maiores filmes de todos os tempos, um verdadeiro tratado sobre a solidão, as perdas, os sonhos, os abandonos, a sensação de total falta de sentido em determinado momento da vida. Tudo isso abordado por Wim Wenders através de metáforas poderosas e inesquecíveis – como, por exemplo, esquecer a cena na qual Travis (Harry Dean Stanton) conversa com Jane (Natassja Kinski) através do espelho de um peep-show, um toque lyncheano, num dos mais marcantes solilóquios já vistos no cinema? Road movie por excelência, PT também faz uso extremamente original da paleta de cores, desde a primeira cena, sempre acompanhado dos acordes da guitarra de Ry Cooder, emulando a beleza árida do Texas, uma paisagem de apelo universal, e o microcosmo do rosto abatido do protagonista. Além disso, há uma interessante abordagem da desconstrução do american way of life, do machismo do oeste e da violência familiar e, sobretudo, a alienação causada pela falta – ou impossibilidade – de diálogo. Um filme perfeito. In an open shot, in a desert area of the interior of the USA, a broken man walks seemingly aimlessly. Thus, begins one of the greatest films of all time, a true treatise on loneliness, losses, dreams, abandonments, the feeling of total meaninglessness at a certain point in life. All this approached by Wim Wenders through powerful and unforgettable metaphors – such as, for example, the unforgettable scene in which Travis (Harry Dean Stanton) talks to Jane (Natassja Kinski) through the mirror of a peep-show - a Lynchean touch - in one of the most remarkable soliloquies ever seen in cinema? Road movie par excellence, PT also makes extremely original use of the color palette, from the first scene, always accompanied by Ry Cooder's guitar chords, emulating the arid beauty of Texas, a landscape of universal appeal, and the microcosm of the protagonist's haggard face. In addition, there is an interesting approach to the deconstruction of the American way of life, the machismo of the West and family violence and, above all, the alienation caused by the lack – or impossibility – of dialogue. A perfect movie. Mubi.



segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

4616 - THE BIG BANG THEORY - TEMP 10 - 24 EPISÓDIOS (2016)


THE BIG BANG THEORY – TEMP 10 – 24 EPISÓDIOS (USA, 2016) – Esta temporada confirma os piores temores: a série perdeu seu potencial criativo, se afastando do núcleo temático original. Além disso, e talvez o mais importante, TBBT vem perdendo a graça desde a quinta temporada. Evidentemente, num show tão longevo, é normal e esperado que os personagens evoluam, estabeleçam novas relações, se transformem. O problema é isso acontecer abdicando da razão de ser do programa: ser engraçado. As meninas se tornaram desagradáveis, sempre desvalorizando seus maridos/namorados e fazendo pouco das suas realizações. Penny ficou sem propósito, depois do casamento com Leonard, que continua submisso e sempre se autodepreciando; Sheldon e Amy finalmente vão morar juntos e nada saiu de divertido dessa situação; Bernadette se tornou cáustica, emasculando Howard em todas as cenas, além de ser a personagem menos indicada para ser mãe; e Raj ficou perdido entre ser um namorador serial e seu antigo perfil de abandonado. Somente Stuart se sobressai como o personagem mais engraçado, nas poucas oportunidades dadas a ele. This season confirms the worst fears: the series has jumped the shark, moving away from the original thematic core. In addition, and perhaps most importantly, TBBT has been losing its grace since the fifth season. Evidently, in such a long-running show, it is normal and expected that the characters evolve, establish new relationships, transform themselves. The problem is that this happens by abdicating the raison d'être of the program: to be funny. The girls became obnoxious, always devaluing their husbands/boyfriends and making fun of their achievements. Penny was left without purpose after her marriage to Leonard, who remains submissive and always self-deprecating; Sheldon and Amy finally move in together and nothing fun has come out of this situation; Bernadette became caustic, emasculating Howard in every scene, as well as being the least suitable character to be a mother; and Raj was lost between being a serial flirter and his old abandoned profile. Only Stuart stands out as the funniest character, in the few opportunities given to him. Prime.



4615 - O RATO QUE RUGE (1959)

 


O RATO QUE RUGE (THE MOUSE THAT ROARED, UK, 1959) – Uma nação minúscula europeia declara guerra contra os EUA, para conseguir uma compensação financeira após a previsível derrota, mas as coisas não saem como planejado. O filme é o veículo perfeito para Peter Sellers dar um show, interpretando três personagens, emulando o feito de seu ídolo, Alec Guinness. O filme é uma sátira da Guerra Fria e apresenta a paranoia das invasões tão comum na época, seja a estrangeira quanto a espacial. A premissa básica do roteiro, de que é melhor economicamente perder uma guerra do que ganhá-la, não poderia ser mais atual. A tiny European nation declares war on the U.S. to get financial compensation after the predictable defeat, but things don't go as planned. The film is the perfect vehicle for Peter Sellers’ talent, playing three characters, emulating the feat of his idol, Alec Guinness. The film is a satire of the Cold War and presents the paranoia of invasions so common at the time, both foreign and space. The basic premise of the script, that it is better economically to lose a war than to win it, could not be more current. DVD.



4614 - UM GRANDE GAROTO (2002)


UM GRANDE GAROTO (ABOUT A BOY, UK, 2002) – Hugh Grant é obrigatório. Neste filme, ele é Will, o garoto do título – ele não trabalha, tem uma vida luxuosa graças aos direitos autorais deixados por seu pai, se orgulha de ser uma pessoa vazia e totalmente independente dos outros – inclusive, ele se refere a si mesmo como uma ilha, Ibiza. A transformação, no sentido hegeliano do processo, se dá quando Marcus (Nicolas Hoult), um problemático menino de 12 anos, entra na sua vida. Evidentemente, Marcus também passa por uma evolução à medida em que interage com Will, levando-o a reformular sua vida no sentido de estabelecer uma relação duradoura com Rachel (Rachel Weisz) e se inserir num contexto social-familiar. Sim, é um filme superficial sobre aspectos muito profundos da vida, como a amizade, por exemplo, e a forma como ela é capaz de reanexar ilhas aos continentes. Atenção para o trecho de A NOIVA DE FRANKENSTEIN e o monólogo do monstro na casa do velho cego. Há também uma boa oportunidade para a discussão do bullying nas escolas. Hugh Grant is maandatory. In this film, he is Will, the boy of the title – he doesn't work, he has a luxurious life thanks to the copyrights left by his father, he prides himself on being an empty person and totally independent of others – he even refers to himself as an island, Ibiza. The transformation, in the Hegelian sense of the process, takes place when Marcus (Nicolas Hoult), a troubled 12-year-old boy, enters her life. Evidently, Marcus also undergoes an evolution as he interacts with Will, leading him to reformulate his life in order to establish a lasting relationship with Rachel (Rachel Weisz) and insert himself in a social-family context. Yes, it's a superficial film about very deep aspects of life, such as friendship, for example, and the way it is able to reannex islands to the continents. Attention to the excerpt from BRIDE OF FRANKENSTEIN and the monologue of the monster in the blind old man's house. There is also a good opportunity for discussion of bullying in schools. DVD. 



4613 - UMA MULHER CONTRA HITLER (2005)

 


UMA MULHER CONTRA HITLER (SOPHIE SCHOLL – DIE LETZTEN TAGE, Alemanha, 2005) – A Rosa Branca era um movimento de estudantes na Alemanha contra o Nazismo. Baseado em registros históricos, o filme retrata os últimos seis dias de Sophie Scholl, líder da resistência junto com seu irmão, de forma quase teatral, dando à narrativa um peso dramático tão excepcional quanto a atuação maiúscula de Julia Jentsch, como a jovem cuja coragem representa um chamado pela liberdade e contra a repressão dos regimes autoritários. The White Rose was a student movement in Germany against Nazism. Based on historical records, the film portrays the last six days of Sophie Scholl, leader of the resistance along with her brother, in an almost theatrical way, giving the narrative a dramatic weight as exceptional as Julia Jentsch’s remarkable performance, as the young woman whose courage represents a call for freedom and against the repression of authoritarian regimes. Prime.



4612 - LETI IT BE (1970)


 LET IT BE (UK, 1970) - A coisa mais surpreendente sobre a reedição de Let It Be é que ela começa com imagens filmadas não em 1969, mas no ano passado: uma entrevista entre Peter Jackson e o diretor do filme, Michael Lindsay-Hogg. Além do mais, isso sugere que Lindsay-Hogg é um bom esportista, já que a série documental de oito horas de Jackson em 2021, THE BEATLES: GET BACK, recontou substancialmente a versão dos eventos retratados no filme de Lindsay-Hogg sobre as sessões de gravação dos Beatles em 1969 no Twickenham Studios e no porão de sua sede da Apple. Mas a versão restaurada brilha por conta própria. É certamente um filme falho, principalmente pelo fato de apresentar suas filmagens inteiramente sem contexto. Nunca explica o que os Beatles estavam fazendo - ensaiando para um especial ao vivo projetado e sendo filmado para um documentário de bastidores - o que aumenta a sensação de falta de objetivo que assombra as sessões de Twickenham. Nem explica por que a ação de repente se move de Twickenham para a sede da Apple e o clima melhora distintamente (em parte porque a ideia do especial de TV e rostos iluminados por tochas foram permanentemente rejeitadas como condição para o retorno de Harrison; em parte por causa da presença do tecladista auxiliar Billy Preston, um velho amigo de seus dias em Hamburgo em cuja companhia os Beatles se sentiram obrigados a tocar bem). The most surprising thing about the reissue of Let It Be is that it commences with footage shot not in 1969 but last year: an interview between Peter Jackson and the film’s director, Michael Lindsay-Hogg. If nothing else, this suggests that Lindsay-Hogg is a good sport, given that Jackson’s eight-hour 2021 docuseries The Beatles: Get Back substantially retold the version of events depicted in Lindsay-Hogg’s film about the Beatles’ 1969 recording sessions at Twickenham Studios and in the basement of their Apple HQ. But the restored version burnishes its reputation on its own. It’s certainly a flawed film, not least in the fact that it presents its footage entirely without context. It never explains what the Beatles were doing – rehearsing for a projected live special and being filmed for an accompanying behind-the-scenes documentary – which amps up the sense of aimlessness that haunts the Twickenham sessions. Nor does it explain why the action suddenly moves from Twickenham to Apple HQ and the mood distinctly lifts (partly because the idea of the TV special and the torchlits have been permanently nixed as a condition of Harrison returning; partly because of the presence of ancillary keyboard player Billy Preston, an old friend from their Hamburg days in whose company the Beatles felt obliged to play nice).



4611 - UMA NAÇÃO EM PERIGO (1994)

 


UMA NAÇÃO EM PERIGO (FATHERLAND, USA, República Checa, 1994) – Estamos em 1964, e a Alemanha foi a grande vencedora da WW2. Um oficial da SS (Rutger Hauer) descobre um plano do governo para assassinar os remanescentes da Conferência de Wannsee, onde se decidiu o destino dos judeus, em 1942, e, assim, obter o auxílio dos EUA no confronto com a União Soviética. Interessante distopia sobre um mundo no qual os alemães venceram a guerra, mas ainda têm objetivos expansionistas e usam os mesmos métodos de repressão. É um filme feito para TV e, talvez por isso, não consiga manter um nível de produção condizente com o tema. No entanto, vale a pena ver como seria, se tudo tivesse dado errado em 1945.  It's 1964, and Germany was the big winner of WW2. An SS officer (Rutger Hauer) discovers a government plan to assassinate the remnants of the Wannsee Conference, where the fate of the Jews was decided, in 1942, and thus obtain U.S. aid in the confrontation with the Soviet Union. Interesting dystopia about a world in which the Germans won the war, but still have expansionist goals and use the same methods of repression. It is a made-for-TV movie and, perhaps for this reason, it cannot maintain a level of production consistent with the theme. However, it is worth seeing what it would have been like if everything had gone wrong in 1945. YouTube.



4610 - INFERNO EM LA PALMA - 4 EPISÓDIOS (2024)


 INFERNO EM LA PALMA – 4 EPISÓDIOS - (LA PALMA, Noruega, 2024) – Uma família norueguesa está passando férias em La Palma, uma ilha perto de Tenerife, Espanha, e uma erupção vulcânica iminente ameaça os habitantes, com a possibilidade de provocar um tsunami. A minissérie segue o padrão dos filmes-catástrofes: um grupo de turistas curte a vida, cientistas tentam avisar do perigo, há um pânico geral quando a tragédia se anuncia e, entre mortos e feridos, os sobreviventes ponderam sobre as vidas que poderiam ter sido salvas, se eles não fossem tão indiferentes aos riscos. Bons CGIs fazem de IELP um produto consumível, embora rapidamente descartável. A Norwegian family is vacationing on La Palma, an island near Tenerife, Spain, and an imminent volcanic eruption threatens the inhabitants, with the possibility of triggering a tsunami. The miniseries follows the pattern of disaster movies: a group of tourists enjoy life, scientists try to warn of danger, there is a general panic when tragedy announces itself and, among the dead and injured, the survivors ponder on the lives that could have been saved if they were not so indifferent to the risks. Good CGIs make IELP a consumable, albeit quickly disposable, product. Netflix.



domingo, 29 de dezembro de 2024

4609 - THE GOLDEN BAT (1966)

 


THE GOLDEN BAT (OGON BATTO, Japão, 1966) – A Terra está ameaçada por uma invasão alienígena, e um grupo de cientistas da ONU descobre uma múmia com superpoderes, cuja missão é ajudar os humanos a sobreviver a esse terrível ataque. O Morcego Dourado (!) é considerado o primeiro super-herói dos quadrinhos, antes mesmo do Super-Homem e Batman, e é muito parecido com o Fantomas: veste uma armadura supostamente dourada, usa uma capa e uma espécie de bastão de onde emanam raios e a cabeça é uma caveira com um dente faltando, o que o torna, no mínimo, perturbador para quem vê. Earth is threatened by an alien invasion, and a group of UN scientists discover a mummy with superpowers, whose mission is to help humans survive this terrible attack. The Golden Bat (!) is considered the first superhero in comics, even before Superman and Batman, and is very similar to Fantomas: he wears a supposedly golden armor, has a cape and a kind of staff from which rays emanate and his head is a skull with a missing tooth, which makes him, at the very least, disturbing to the beholder. YouTube.



4608 - EM RITMO JOVEM (1967)


 EM RITMO JOVEM (Brasil, 1967) – Durante a Jovem Guarda, Márcio Greick tem uma estafa e, por ordens médicas, vai com seu empresário passar uns dias em Friburgo, hospedado no hotel Sans Souci, onde é jurado de um concurso de bandas de rock e se apaixona pela cantora de uma delas. Sim, esse inacreditável filme se arrasta por pouco mais de uma hora e tem como mérito mostrar cenas da cidade nos anos 60, apesar da cópia precária. Grande Otelo faz uma participação inexplicável. During the Jovem Guarda, Márcio Greick has a burnout and, by doctor's orders, goes with his manager to spend a few days in Friburgo, staying at the Sans Souci hotel, where he is a judge of a rock band contest and falls in love with the singer of one of them. Yes, this unbelievable film drags on for just over an hour and has the merit of showing scenes of the city in the 60s, despite the precarious footage. Grande Otelo makes an inexplicable appearance. YouTube.



4607 - UM CONTO CHINÊS (2011)

 


UM CONTO CHINÊS (UM CUENTO CHINO, Argentina, 2011) – Roberto (Ricardo Darín) é o dono de uma loja de ferragens em Buenos Aires e tem sua vida virada de ponta cabeça ao tentar ajudar um rapaz chinês, que não fala uma palavra em espanhol, a encontrar um tio. Este maravilhoso filme tem várias leituras: é, principalmente, sobre a importância da amizade, especialmente nas grandes cidades; é um ensaio profundo sobre a solidão (a vida de Roberto se resume à loja); mostra como a comunicação pode ser feita por gestos (Roberto e Jun não têm uma língua em comum), muito mais do que por palavras; aponta para a necessidade de entender que a vida é composta de situações inusitadas e aparentemente sem sentido, mas fazem parte das histórias mais marcantes de todos (aa noiva de Jun morre quando uma vaca cai do céu em cima dela). Todos esses aspectos filosóficos/existenciais se expandem durante o processo de descoberta mútua entre dois protagonistas, em príncípio tão diferentes, mas extremamente iguais na consciência de sua solidão e da inescapável necessidade de, em algum momento, estabelecer uma relação significativa de amizade e empatia. Além de tudo, Ricardo Darín é obrigatório. Roberto (Ricardo Darín) is the owner of a hardware store in Buenos Aires and has his life turned upside down when he tries to help a Chinese boy, who doesn't speak a word of Spanish, find his uncle. This wonderful film has several layers: it is mainly about the importance of friendship, especially in big cities; it is a profound essay on loneliness (Roberto's life is limited to the store); it shows how communication can be done by gestures (Roberto and Jun do not have a common language), much more than by words; points to the need to understand that life is made up unusual and seemingly meaningless situations, but are part of the most striking stories of all (Jun's fiancée dies when a cow falls from the sky on top of her). All these philosophical/existential aspects expand during the process of mutual discovery between two protagonists, in principle so different, but extremely equal in the awareness of their loneliness and the inescapable need to, at some point, establish a meaningful relationship of friendship and empathy. Above all, Ricardo Darín is mandatory.