O PASSAGEIRO – PROFISSÃO REPÓRTER (THE PASSENGER, Itália, França, Espanha, 1975) – Um repórter, David Locke (Jack Nicholson), troca de identidade com um desconhecido recém falecido e muito parecido com ele. Essa é a premissa usada por Antonioni para mostrar a decisão e as consequências de Locke, depois de sua decisão de abandonar uma vida frustrada e mergulhar em outra totalmente desconhecida. O filme, característico do diretor italiano, tem poucos planos e sequências longas, como no início do filme, quando Locke vaga pelo cenário desértico, quase sem nenhum diálogo. Aí, vemos como o enredo está totalmente subordinado à imagem, ou seja, a forma não se submete ao roteiro e sim o contrário. Assim, Antonioni rompe com o paradigma narrativo clássico ao mostrar o fato mais importante da história: ao resolver trocar de vida, motivado pela liberdade, Locke encara inexoravelmente as consequências e, sobretudo, os problemas da vida do homem morto. E fez isso por sua própria vontade e consciência e não por uma circunstância e imperativo exógenos, conforme mostra Sartre – somos um nada, um vazio a ser preenchido com nossas experiências. Essa perspectiva existencialista aponta para uma circunstância incontornável – não conseguimos nos livrar do peso de nossas escolhas, pois ao assumir uma nova identidade, Locke não se livrou da sua insatisfação e angústia. A parte final reserva o mais belo plano-sequência do cinema. A reporter, David Locke (Jack Nicholson), switches identities with a recently deceased stranger who looks very similar to him. This is the premise used by Antonioni to show Locke's decision and consequences, after his decision to abandon a frustrated life and dive into a totally unknown one. The film, characteristic of the Italian director, has few shots and long sequences, as at the beginning of the film, when Locke wanders through the desert scenery, with almost no dialogue. There, we see how the plot is totally subordinated to the image, that is, the form is not submitted to the script, but the opposite. Thus, Antonioni breaks with the classical narrative paradigm by showing the most important fact of the story: by deciding to change lives, motivated by freedom, Locke inexorably faces the consequences and, above all, the problems of the dead man's life. And he did this by his own will and conscience and not by an exogenous circumstance and imperative, as Sartre shows – we are a nothingness, a void to be filled with our experiences. This existentialist perspective points to an unavoidable circumstance – we cannot get rid of the weight of our choices, because by assuming a new identity, Locke did not get rid of his dissatisfaction and anguish. YouTube.