O QUE A VITÓRIA DE FERNANDA TORRES ENSINA AO CINEMA BRASILEIRO – Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro como Melhor Atriz de Drama por AINDA ESTOU AQUI. Essa notícia deveria bastar para o cinema nacional refletir sobre sua trajetória ao longo de tantos anos de alguns altos e muitos baixos. Fernanda Torres e toda sua linhagem dramática de Fernanda e Fernando souberam formar um público capaz de preferir o Bourbon ao Sangue de Boi, um público ansioso por obras de arte sinalizadoras de caminhos mais favoráveis no meio do aranhol digital causador de tantas mazelas como, por exemplo, a ascensão da extrema-direita fascista, cujo dínamo anímico roda em função do ódio a tudo, principalmente à cultura e ao belo. Apontar a arte e a cultura – conceitos sinônimos, por sinal – como forma de resistência à truculência intelectual, à indigência cognitiva e à tendência niilista de louvar o precipício é, de certa forma, repetir uma certeza consabida. Que se repita, então, milhares, milhões de vezes, se necessário, principalmente pela via polissêmica do cinema, aqui no Brasil, com menos filmes partícipes da difusão agnotológica aceita tão acriticamente por um público fanatizado pela pior política e a mais retrógrada religião, e mais filmes como AINDA ESTOU AQUI, graças ao qual Fernanda Torres obteve um reconhecimento merecido e emocionante, nos fazendo sentir pessoas melhores e mais felizes, coisa só possível quando a arte nos atinge, inexoravelmente, como um raio de vida. Fernanda Torres won the Golden Globe for Best Drama Actress for I'M STILL HERE. This news should be enough for the Brazilian cinema to reflect on its trajectory over so many years of some ups and many downs. Fernanda Torres and all her dramatic lineage of Fernanda and Fernando knew how to form an audience capable of preferring Bourbon to cheap wine, an audience eager for works of art that signal more favorable paths in the middle of the digital hub that causes so many ills such as, for example, the rise of the fascist far right, whose soul dynamo rotates due to the hatred of everything, especially to culture and beauty. To point to art and culture – synonymous concepts, by the way – as a form of resistance to intellectual truculence, cognitive indigence and the nihilistic tendency to praise the precipice is, in a way, to repeat a well-known certainty. Let it be repeated, then, thousands, millions of times, if necessary, mainly through the polysemic way of cinema, here in Brazil, with fewer films participating in the agnotological diffusion accepted so uncritically by a public fanaticized by the worst politics and the most retrograde religion, and more films like AINDA ESTOU AQUI, thanks to which Fernanda Torres obtained a deserved and exciting recognition, making us feel better and happier people, something only possible when art hits us, inexorably, like a ray of life.