domingo, 29 de setembro de 2013

2151 - HITCHCOCK

(HITCHCOCK, USA 2012) - Baseado no livro "Alfred Hitchcock And The Making Of Psycho", este filme revela os bastidores do clássico Psicose (1960). Na época, mesmo estando no auge de sua carreira, Hitchcock não conseguiu apoio para realizar a obra, porque os estúdios não queriam investir em um pequeno filme de terror. O resto é história. Este filme ajuda a humanizar um pouco a figura do mestre Hitch, mas devo dizer que Anthony Hopkins, sob uma pesada maquiagem, me deixou uma impressão de estranheza, como se ele próprio não estivesse muito à vontade. O Hitch de Toby Jones, em A GAROTA, me pareceu muito mais convincente. O foco, um pouco insistente, na relação do diretor com Alma (feita por Hellen Mirren, toda botocada, ptz!) ficou meio sem sentido, pelo menos para mim, pois ansiava por uma radiografia mais profunda dos bastidores de PSYCHO. Pelo menos, a mais que bela Scarlett Jonhasson, no papel da igualmente belíssima Janeth Leigh, ambas talentosas, diga-se, enfeita o filme até o fim.
 

2150 - INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA

(INDIANA JONES AND THE LAST CRUZADE, USA 1989) - Sempre que revejo este filme, aumenta a minha admiração por Spielberg. Esta terceira parte da trilogia é sensacional, do primeiro ao último fotograma, e a minha preferida. Afinal, um filme com Sean Connery só pode mesmo se tornar um clássico.

2149 - HELP!

(UK, 1965) - Embora tenha sido dirigido também por Richar Lester, HELP! oferece pouco mais do que uma versão de história em quadrinhos da imagem do grupo, com quase nenhum traço do enunciado cultural incisivo que fez do primeiro longa um registro documental tão revigorante. Ainda assim, o filme pode se gabar de uma memorável canção-título (o apelo real de um homem consumido pela própria fama, como John declarou depois) e de um punhado de sucessos, da gaguejante TICKET TO RIDE, à desafiante YOU'RE GONNA LOSE THAT GIRL, passando pela confessional e acústica YOU'VE GOT TO HIDE YOUR LOVE AWAY. John estava claramente identificado com Dylan, ansiando por (e encontrando) letras que revelassem sua dissonãncia interior, mesmo quando encobriam os detalhes salientes das fantasias teatrais e dos duplos sentidos. Mas, são os Beatles! Qualquer falha é totalmente desculpável.
 

2148 - A HARD'S DAY NIGHT

(UK, 1964) - aproveitei que acaber de ler mais uma das biografias de Paul McCartney (MINHA VIDA, de Peter Ames Carlin), para rever esta jóia documental sobre os anos seminais da beatlemania. Os Beatles passaram algumas semanas, entre os inúmeros compromissos da época, agindo como eles mesmos num filme barato, produzido em grande medida para expandir a marca do conjunto para a indústria cinematográfica e para servir de meio de divulgação do disco com as canções originais. O filme, uma versão ligeiramente reinventada da vida real do grupo como pop stars insanamente populares, acabou se transformando num marco cultural. No enredo deliciosamente anárquico, os Beatles viajam de cá para lá, são insultados pelos mais velhos, são tratados como fontes valiosas, mas totalmente substituíveis pelos empresários do showbiz, as fãs se entregam à histeria, a polícia os assedia e figuras vetustas lhes dizem como se comportar. A ironia, no entanto, é que os Beatles são as únicas pessoas bem-comportadas ali: na realidade, foi o resto do mundo que enlouqueceu completamente. Um detalhe literário que percebi agora: Paul, numa cena em que está no camarim, repete uma fala de Hamlet: "That this too too solid flesh would melt".  
 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

2147 - O RETRATO DE DORIAN GRAY

(DORIAN GRAY, UK 2009) - Há certos filmes que não podem ser filmados, a não ser que se tenha absoluta certeza de que a nova versão vai ser tão ou mais impactante do que o original. Este é o problema (bem sério, por sinal) desta produção que, embora capriche nos cenários de uma Era Vitoriana bem sombria e nos efeitos especiais devidamente comedidos, não traduz em nada a mágica literária de Oscar Wilde. Sua finas ironias, seus aforismos geniais e o impacto de suas famosas frases foram adaptados da pior forma possível. Claro que, numa tradução intersemiótica (que se dá na adaptação de um livro para o cinema), corre-se sempre o risco de adulterar o original a ponto de o reconhecimento não ser possível nem por DNA. Neste filme, a magia de Wilde ficou de fora, portanto, nada justificaria a remontagem. Nem Colin Firth, que é um excelente ator, conseguiu dar credibilidade ao seu Lord Henry. A versão de 1945, dirigida por Albert Lewin, ainda é a melhor que se fez do romance. 
 

2146 - A EVOCAÇÃO DO MAL

(THE CONJURING, USA 2013) - Não há nada de original neste thriller de horror que conta a história de uma família aterrorizada por fantasmas na casa para a qual acabaram de se mudar. Então, chamam um casal de investigadores paranormais (Patrick Wilson e Vera Farmiga, ela, um arraso) para ajudar no exorcismo. O diretor James Wan caprichou numa fotografia que nos remete à atmosfera da década de 70, quando os fatos reais que deram origem ao argumento do filme aconteceram. Sustos e arrepios garantidos neste bom exemplo de filme de horror competente. O diretor malaio faz o básico - e eficiente - para que o espectador sinta medo: mostra apenas os indispensável, deixando quase tudo para que a plateia faça o trabalho de imaginar. Seus enquadramentos, movimentos de câmera e cortes são magistralmente calculados para extrair o máximo de suspense de cada cena, embora peque um pouco no terço final, ao explicar demais o que devia ser menos didático.
 

2145 - AS AVENTURAS DE PI

(LIFE OF PI, USA 2012) -  Ang Lee é um diretor curioso, porque sempre faz um filme diferente, não estabelecendo, assim, uma marca autoral. Foi assim em O TIGRE E O DRAGÃO, RAZÃO E SENSIBILIDADE e O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN. Neste aqui, depois do naufrágio do cargueiro que levava os animais do zoológico de sua família indiana, Pi se vê no meio do oceano, num bote salva-vidas, na companhia de um tigre. A alegoria do filme começa aí - o tigre pode simbolizar os grandes perigos da vida, os obstáculos que temos que superar para vencer, de um modo ou de outro. O senso estético de Lee, com a luxuosa ajuda do 3-D, transforma o cenário marítimo numa festa para os olhos. Além disso, o diretor não pesa a mão na possível leitura religiosa da história, deixando que as belas cenas nos levem a achar que o espiritual está mesmo na beleza. Há um "twist" interessante no final do filme que justifica todo a abordagem fabular e que nos faz pensar que, às vezes, a verdadeira história pode não ser tão interessante quanto a versão escolhida para contá-la.
 

sábado, 21 de setembro de 2013

2144 - ROBOSAPIENS: O MEU MELHOR AMIGO

(ROBOSAPIENS: REBOOTED, USA 2013) - Como gosto muito de robôs, arrisquei ver este filme, mesmo já advinhando como seria a história: perseguido por empresários inescrupulosos, o robô inventado por um cientista bonzinho acaba sendo encontrado por um garoto brilhante, depois de ter sido vítima de bullying no colégio. Soa pouco original? Pois é, e assim o filme vai, totalmente previsível, desperdiçando razoáveis efeitos especiais numa trama boba e "família" demais. Porém, a história é mesmo para a família, no sentido mais superficial do termo. Já que falei em "bullying", o assunto é tratado de maneira simplista pelo roteiro, sem a devida atenção e critério que deveria ter - afinal, o filme é feito para as crianças.O curioso, além de tudo, é a escalação do ator português Joaquim de Almeida, para o papel de vilão totalmente estereotipado e, a meu ver, deslocado inteiramente..
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

2143 - CIDADE DE DEUS

(BRASIL, 2002) - quando assisti a este filme, na época do lançamento, achei-o maravilhoso, mas me lembro que me ocorreu que ele pudesse ficar datado, meio anacrônico no futuro. Bem, o filme continua excepcional e, felizmente e infelizmente, não ficou datado. O mesmo pavor que as favelas dominadas por traficantes inspiravam continua existindo e, talvez, numa escala ainda maior. O que constato hoje é que, lamentavelmente, a maioria dos atores do filme não fizeram carreira cinematográfica, a não ser Alice Braga, que nem é a protagonista. Dos atores principais, pouco se ouviu falar na última década, fora alguns programas de TV (Cidade dos Homens, na Globo). De qualquer forma, é uma produção excelente e fica lado a lado com TROPA DE ELITE no grupo dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
 

2142 - PERFUME - A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO

(PERFUME: THE STORY OF A MURDERER, USA 2006) - Ainda na lista dos filmes que devem ser revistos, reencontrei-me com este, que se passa no século XVIII, na França. Jean Baptiste Grenouille (Ben Whishaw, o Q do novo James Bond) passou por grandes rejeições a começar por sua mãe, que o abandonou sob uma banca de peixes esperando que ali morresse como todos os outros cinco filhos que tivera. Apesar das condições desfavoráveis, contrariou todas as expectativas e sobreviveu à negligência de sua mãe e aos maus tratos de todos os outros durante o decorrer de sua infância. Mas Jean Baptiste possuía um talento que seria, ao mesmo tempo, sua glória e sua derrocada: com um olfato excepcionalmente apurado, a cada dia demonstrava grande obsessão por odores. Inicialmente não fazia distinção entre os bons e maus, mas com o afloramento de sua sexualidade e libido, a fonte de seu prazer, de todos os olfatos já experimentados, passou a ser o odor feminino. O olfato era seu único modo de reconhecimento e relacionamento com o mundo, cujos odores Jean Baptiste dizia conhecer profundamente. No entanto, era o odor feminino que mais o mesmerizava e, a partir daí, se transforma num assassino em série, tentando capturar o cheiro de mulheres. Porém, logo se deu conta que aquele era um cheiro particular e não poderia ser encontrado em mais ninguém e nem retirado do corpo das mulheres. É então que fica claro a sua incapacidade para lidar com a frustração, pois não suportava a ideia de que não podia reter sua fonte de prazer. A grande sacada psicológica do filme acontece quando ele percebe que ele mesmo não possuía cheiro e assim não possuía identidade. Sendo que a busca pelos odores estava além de seu prazer, tornando-se uma busca para si próprio, para se tornar um ser pertencente ao mundo, já que seu método de inclusão era feito pelos odores. A lei do eterno retorno entra em cena: como a lembrança do prazer de ter sentido o cheiro de sua primeira vítima, sempre lhe vinha à memória, Jean Baptiste decidiu capturar o cheiro das mais belas e puras mulheres que encontrasse para reter suas essências e fazer o perfume perfeito. Usando sua habilidade, Jean Baptiste cria um perfume que reunia as  características encantadoras femininas, como a inocência, a sedução, o encantamento e a beleza, qualidades poderosíssimas usadas, não à toa e não raro, como armas pelas mulheres para atingir seus objetivos. Possuidor de tal poder, o jovem, contudo, tinha consciência de que aquele perfume nunca poderia lhe transformar em uma pessoa capaz de amar e ser amada como todas as outras, sendo essa descoberta a maior de todas as suas frustrações. Voltando ao local de sua infância, Jean Baptiste derrama o perfume todo sobre si e é devorado (literalmente) pelo amor daqueles que sempre o rejeitaram, deixando claro que o que realmente desejava era capturar o amor que nunca teve, para que o tivesse no momento em que bem desejar. Este suicídio acontece tanto no plano físico quanto no psicológico, já que Jean Baptiste também quis por fim ao personagem que ele próprio criou para si, por não suportar um poder no qual nem ele via sentido.

 

domingo, 15 de setembro de 2013

2141 - O DEUS DA CARNIFICINA

CARNAGE, França, Alemanha, Polônia e Espanha, 2011) - A história dirigida por Roman Polanski é uma releitura do pilar filosófico da peça ENTRE QUATRO PAREDES, de Sartre: o inferno são os outros. Sim, é o que acabamos concluindo depois que uma situação cotidiana (uma criança machuca involuntariamente outra, enquanto brincavam num parque) reúne os respectivos pais e mães no apartamento de um deles, para terem uma conversa supostamente civilizada a respeito do ocorrido. Depois das amenidades sociais, ao estilo de Buñuel,  a história faz do local de encontro uma prisão da qual ninguém consegue sair. Mas o motivo deste "impedimento", de deixar o ambiente, não é surreal, ele se deve ao acaso: um convite para o café na hora da despedida, o celular que não funciona no elevador, um importante argumento que merece maior atenção antes do adeus. Temos então o palco, onde todos começam a se mostrar como realmente são, agredindo uns aos outros, até exporem constrangedoramente seus lados mais sórdidos. Baseado numa peça de teatro, o filme conta com o talento de quatro excepcionais atores: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly, que ficam o tempo todo em cena. No final, "Deus da Carnificina" apresenta uma sinceridade assustadoramente hilária vinda dos casais, um show de banalidades entre estranhos. Eles perdem as estribeiras, suas veias saltam à testa, mágoas profundas são literalmente regurgitadas, entre ressentimentos, palavrões, tudo abastecido por um pouco de álcool e muita raiva reprimida. Um grande filme.

 


2140 - TRÁFICO DE ÓRGÃOS

(INHALE, USA 2010) - Este é um daqueles filmes que fogem ao mainstream hollywoodiano, porque não enfeitam a história - a realidade, nua e crua, está ali na tela, sem o cosmético elducorado dos roteiros politicamente corretos. Paul Stanton (Dermot Mulroney, em ótima atuação) vai às últimas consequências para conseguir um transplante de pulmão para a filha pequena. Acaba descobrindo que, no México, existe um mercado tráfico de órgãos (por isso, o título em português fica óbvio demais), apenas regulado pela falta de ética e a quantidade de dinheiro de que se dispõe. De fato, como em muitos filmes, o México é retratado como terra de ninguém, um lugar sem leis ou autoridades constitucionalmente estabelecidas. Inclusive, antes dos créditos finais, ficamos sabendo que a prática criminosa do tráfico de órgãos é uma rotina em diversos países, inclusive sob a conivência de médicos e ministérios da saúde. O filme é muito bom e, se os responsáveis pelo comércio de órgãos não são presos, pelo menos nossa atenção o é pelo bom trabalho do diretor Baltasar Kormákur.
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

2139 - MILK: A VOZ DA IGUALDADE

(MILK, USA, 2008) - O filme conta a história de Harvey Milk (Sean Penn, excelente) que, aos 40 anos, é um executivo de sucesso em Nova Iorque (onde esconde sua sexualidade) e conhece Scott (James Franco). A partir deste encontro, Milk se muda para São Francisco, então em formação como capital gay americana, onde se projeta como líder do movimento homossexual para, finalmente, se eleger para um cargo legislativo (supervisor), correspondente ao de um vereador. No melhor estilo "a esperança venceu o medo", o diretor Gus Van Sant não repete aqui a sutileza e a inteligência que exibiu em ELEFANTE (2003) e PARANOID PARK (2007). Mas MILK vale pela memorável atuação de Sean Penn, que encarnou o personagem de tal forma que não há como se emocionar muito. O filme, contado a partir do assassinato do protonista, é permeado por uma atmosfera de luto que, por outro lado, não se furta de fazer uma homenagem ao prazer de existir e de aproveitar a vida. No entanto, este lado festivo não esconde o drama pessoal de Milk e sua luta realmente solidária que, ao ser contextualizada na ultraconservadora sociedade americana, assume proporções épicas que corroboram a imagem do herói pós-moderno.
 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

2138 - APENAS O FIM

(BRASIL, 2008) - Nada mais repetitivo e, ao mesmo tempo, mais original, do que o desenlace, sempre doloroso, das histórias de amor. É o que parece nos mostrar a história em que Tom (Gregório Duvivier) tenta convencer sua amada (Érika Mader) a não abandoná-lo. Diálogos poéticos, salpicados de abandono, traduzem uma carta de intenções em que muitos de nós poderemos nos reconhecer. As situações são revestidas de referências pop e piadas sobre marcas da sociedade de consumo e da indústria cultural. Não deixa de ser uma forma de mostrar como foi formada a subjetividade e a juventude infantil dos personagens. As referências a uma série de produtos e de personagens de séries, ou em série, assim como a games e bandas de pop, não são apenas estratégias de esbanjar os dados de contemporaneidade. Essas referências são os personagens: eles são o que consumiram. Ele é um nerd com os óculos do avô, uma mistura teen da Gávea entre Woody Allen e Paul Giamatti, que fala sem freios na língua e, diante do drama do desfecho de uma relação, faz piadinhas o tempo todo. Ela é uma patricinha cheia de si, que, zarpando para fora do namoro e do Rio, não perde a pose de gatinha da turma. Um fala do outro, eventualmente com carinho, a maior parte do tempo com ironia, porque, afinal, o romantismo a sério, aparentemente, é bloqueado como possibilidade, talvez por ser considerado démodé ou apelação sentimental. Rodada no campus da PUC, na Gávea, APENAS O FIM serve como digital cinematográfica para uma geração integrada via MSN, que admira Tarantino como seu Goddard e considera O BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS, como seu "Pierrot le fou". Ou seja, mesmo que lembre muito o ANTES DO PÔR DO SOL, com Julie Delpy, muito linda, reaparecendo na vida de Ethan Hawke, este palavrório sobre paixões perdidas é o momento Claude Lelouch, com enquadramentos que nos remetem imediatamente a UM HOMEM, UMA MULHER, de 1966. Para quem acredita no amor, vale dar uma olhada.
 

2137 - BON JOVI: WHEN WE WERE BEAUTIFUL

(USA, 2009) - Documentário da turnê LOST HIGHWAY, com boas entrevistas com os membros da banda, mas com a evidente preocupação de mostrar Jon como um CEO do grande negócio em que o grupo se transformou, depois de 25 anos de estrada. Os depoimentos são bem previsíveis, especialmente se você conhece minimamente o conjunto e o universo do showbiz: todos achando que tudo é muito gratificante, mas que é um sacrifício ficar tanto tempo longe da família etc. Achei que se podia ter dado mais ênfase à relação de Jon com Richie Sambora, embora o diretor Phil Griffin tenha procurado mostrar como os dois vêm se relacionando desde os primeiros tempos. Vale como registro, mas não passa de um documentário sobre um grupo de rock, como tantos outros.
 

domingo, 8 de setembro de 2013

2136 - JOBS

(JOBS, USA 2013) - Na onda recente de biografias cinematográficas, esta, sobre Steve Jobs, é lamentavelmente infestada de clichês e muito longe de estar à altura do personagem principal que, por sua importância no mundo pós-moderno, mereceria uma produção menos antiquada, que repisa lugares-comuns que não cabem mais no cinema de hoje. Tudo começa errado já na escolha de Ashton Kutcher para interpretar o personagem-título. Apesar da semelhança física, logo se confirma os limitadíssimos recursos dramáticos de Kutcher, que não consegue dar vida ou alma a Jobs, desde o aluno rebelde, o funcionário hippie (e avesso a banhos), o visionário ambicioso, até o superexecutivo que é traídos pelos pares gananciosos, mas que volta como herói à empresa que fundou. O melhor desempenho cabe a Josh Gad, no papel de Steve Wozniak, sócio e melhor amigo de Jobs que, por sinal, já apareceu em THE BIG BANG THEORY, no episódio em que Sheldon quer se transformar em um robô. O fundado da Apple era um homem autocentrado na ideia do sucesso a qualquer preço, e foi isso que o levou a revolucionar o mercado dos computadores, fazendo com que qualquer pessoa pudesse ter acesso à tecnologia. Só esta premissa, juntamente com sua fascinante personalidade, já seria o gancho para um grande filme, mas JOBS para construção perfunctória do seu personagem central, desperdiçando, assim, a chance que teríamos para conhecer uma das mais importantes figuras dos últimos tempos. O que se vê na tela é uma ficcionalização em que informações são apenas pinçadas sobre sua passagem pela Índia, o drama de não conhecer seus pais biológicos, a parceria com Woz, e que não tem citação alguma à sua participação na Pixar, que o levou a ser o maior acionista físico da Walt Disney, por exemplo. Como falei, a inusitada semelhança física de Kutcher com Jobs parece algo alvissareiro, mas a frustração vem assim que que o ator (!!!), digamos, entra no personagem. A partir daí é difícil não confundir o Jobs da época hippie com aquele garotão que apareceu na porta de Alan Harper (Jon Cryer) e substituiu há dois anos o falecido Charlie Harper (Charlie Sheen) em TWO AND A HALF MEN. Em JOBS, Kutcher é um tanto mais excêntrico e temperamental, com mania de andar descalço e gritar com subordinados, mas parece o mesmo jovem mimado que enriqueceu com o boom da informática. Acabou com seriado de que tanto gosto e fez o mesmo com este filme.
 

sábado, 7 de setembro de 2013

2135 - INTOCÁVEIS

(INTOUCHABLES, França 2011) - Tiro certeiro no descortino da tensa situação social da europa contemporânea, cuja tensão racial é mais uma das características da quase absoluta falta de comunicação entre o universo dos cidadãos brancos e dos descendentes de imigrantes oriundos das ex-colônias, INTOCÁVEIS é um filme soberbo, tanto na complexidade que simboliza, quanto na singeleza de um roteiro que deveria ser modelos para outros: emocionante. Philippe (François Cluzet), milionário e colecionador de arte, e seu cuidador, Driss (Omar Sy), um jovem senegalês que acabou de cumprir uma breve temporada na prisão por furto, viram improváveis melhores amigos. O convívio dos dois faz com que Philippe readquira seu senso de humor e perca um tanto de autopiedade, e que Driss saia de seu mundo culturalmente acanhado e reprimido pelo clima de confronto aberto que domina este segmento social na França, provocando a diluição, a desfiguração ou mesmo a destruição da matriz cultural e étnica destes indivíduos. Cluzet e Sy fazem um trabalho magistral, tanto que este se tornou o primeiro negro a ganhar o César, o Oscar francês. O filme é baseado numa história real, cujos protagonistas aparecem no meio dos créditos finais, numa imagem emocionante. Se fosse num cinema em Friburgo, ninguém veria esta parte, pois os selvagens espectadores daqui fazem questão de se levantar antes de o filme acabar, como se isso lhe desse uma espécie de status (status de retardados...).
 

2134 - NOITES DE TORMENTA


(NIGHTS IN RODANTHE, USA - Dando continuidade ao retorno sentimental a histórias que fazem parte da minha vida, me instalo dentro de NOITES DE TORMENTA e sou tomado emoções raras. Ainda me lembro da primeira vez em que ouvi falar deste filme e da forma como o amor acontece nele. Baseado num romance de Nicholas Sparky, que até que é bem legalzinho, por sinal, o filme conta a história de Paul Flanner (Richard Gere), um médico meio desiludido com a vida, que se hospeda num hotelzinho de janelas azuis à beira da praia, sem saber que vai encontrar um abrigo definitivo no coração da gerente temporária (Diane Lane, lindamente solitária). E, para arrebentar com a gente, a história dos dois começa ao som de Dinah Washington, durante um jantar, no hotel azul. Aliás, a cor azul está presente o tempo todo, nos cenários, na paisagem da praia e até nas roupas dos personagens. O filme também tem algo de que gosto: uma tempestade. E tem também uma coisa com cartas...  apesar de, em algumas sequências, esbarrar um pouco no dramalhão, por motivos misteriosos, no fim, tudo funciona, e a gente fica mesmo com a impressão de que o amor é mesmo azul...
 

2133 - GOD IS THE BIGGER ELVIS

(GOD IS THE BIGGER ELVIS, USA 2012) - Documentário sobre a a vida de Dolores Hart, atriz de Hollywood, que largou a carreira no auge, para se entrar num covento. Atriz famosa e reconhecida nas décadas de 50 e 60, atuou com grandes atores de sua época como  Gary Cooper,  e Elvis Presley. No filme “In Loving You” foi a primeira atriz que beijou Elvis nos cinemas. Foi garota propaganda de muitos filmes, revistas e muitas outras coisas. Não podia ficar muito em lugares públicos porquer os fãs faziam de tudo para conseguir um autógrafo. No dia 13 de junho de 1963, a superestrela Dolores Hart, depois de terminar uma turnê anunciando seu último filme, pediu para o motorista de sua limusine deixá-la em frente ao mosteiro que nunca mais saiu! Eu me lembro muito bem dela do filme SÃO FRANCISCO DE ASSIS, em que se torna uma freira também. É uma história única no showbiz.
 

2132 - JOHNNY E JUNE

(WALK THE LINE, USA 2005) - Este é um dos filme mais lindos que já vi. Curiosamente, muitos desconhecem ou não deram bola para o relato da vida do cantor Johnny Cash, que abriga uma das mais belas e intensas histórias de amor do cinema, justamente porque aconteceu realmente. Não achava que teria condições de ver este filme novamente, dentro de um período de menos de um ano. Mas esse é o problema de se ter o DVD na prateleira, à mão. Revi. E, mais uma vez, confirmo o que senti na primeira vez: este filme mostra exatamente como eu acho que o amor deva ser - arrebatador, libertário, repeitoso das individualidades, não linear. É assim que acontece com Johnny e June (Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, eletrizantes, os dois). O filme começa contando a vida de cash desde a infância, o trauma de ter perdido o irmão e a relação difícil com o pai. Com seu interesse fortemente atraído pela música, Cash começa a fazer pequenas turnês pelo interior dos EUA. Então, ele encontra June. A partir deste momento - que acontece somente aos trinta minutos de projeção - o filme muda de rumo, concentrando-se na relação complexa e repleta de idas e vindas entre o casal. Ambos casados e com filhos pequenos, os cantores viveram uma história de amor proibida (vale lembrar que a história se passa predominantemente na puritana década de 60) e tornada ainda mais difícil graças ao vício em drogas de Cash. O roteiro não se deixa intimidar pelo assunto e, se não se aprofunda no tema (também por não ser o enfoque da trama) ao menos não o ignora nem tampouco faz de seu protagonista um herói simpático: não há benevolência no roteiro baseado em duas autobiografias do músico, que é retratado com todos os seus inúmeros defeitos. Felizmente, todas as suas ambivalências encontram em Joaquin Phoenix o intérprete intenso, visceral e existencialmente amalgamado com o personagem mais importante de sua carreira. Repito, o filme é lindo e é exatamente como o amor deve ser.
Abaixo, um trecho do filme e a canção mais linda de Cash (minha opinião).
 

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

2131 - ABUTRES

(CARANCHO, Argentina, 2010) - minha admiração pelo cinema portenho cada dia aumenta mais. O diretor Pablo Trapero fez um thriller de alta relevância social, pois além de fazer um enorme sucesso na Argentina, levou o congresso local a discutir mudanças na legislação de seguros para acidentes de automóveis. Não é para menos, afinal o filme denuncia abertamente uma máfia que se tornou famosa ganhando dinheiro de seguros por acidentes não tão acidentais assim. O excepcional Ricardo Darín faz o papel de um desses "abutres", um advogado que trabalha para uma máfia que aplica golpes nas seguradoras. Ele se apaixona por uma paramédica, Luján (Martina Gusman, emocionante), depois de conhecê-la durante uma ocorrência, e passa a reavaliar seus valores éticos, enquanto tem que tentar se desvencilhar dos seus "patrões". É uma aposta corajosa de Darín e Trapero, trazendo o ator para encarnar um tipo diferente daquele com que o público está acostumado. Ele não é o herói - tampouco o vilão -, mas uma espécie de anti-herói trágico e atormentado, que começa a ser consumido pela culpa, à medida em que cresce seu amor por Luján. Corajoso e incisivo, o filme denuncia também as precaríssimas condições de trabalho dos hospitais de BA e até onde chega o desrespeito que o ser humano pode ter pela vida.
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

2130 - OS TRÊS PATETAS

(THE THREE STOOGES, USA 2012) - quando soube que este filme seria lançado, achei que a intenção era uma homenagem - mais que justa - ao trio que durante a primeira metade do século XX fez enorme sucesso com seus curtas e seu estilo pastelão, com humor físico típico do vaudeville. Era e ainda é uma delícia de ver. Se queriam que este filme mostrasse às novas gerações quem foram e o que fizeram os "stooges", o resultado não podia ser pior. Dividido em três histórias curtas, o trio está sempre num cenário contemporâneo que, por mais que se tenha boa vontade, não combina com o estilo escrachado que se coadunava com o mundo de antigamente, todo em preto e branco (este é em cores), como ainda permanece no imaginário afetivo dos fãs. Ou seja, não funcionou, lamentavelmente.