sábado, 26 de julho de 2014

2356 - A CONVERSAÇÃO

(THE CONVERSATION, USA 1974) - De Francis Ford Coppola. É provavelmente um dos filmes que espelham, mostram, traduzem com maior fidelidade o espírito da sua época, do seu momento histórico. Trata da perda dos valores morais da nação americana nos anos Nixon. Premonitoriamente, foi produzido e lançado pouco antes de estourar o escândalo Watergate, que revelou a corrupção e outros atos ilegais que haviam tomado conta da Casa Branca no início dos anos 70. A conversação que dá o título ao filme acontece entre uma jovem mulher, Ann (Cindy Williams), e um rapaz, Mark (Frederic Forrest), no horário de almoço, em plena Union Square, em San Francisco. Os dois aparentemente são amantes, e ela é casada. Estão caminhando na praça, entre centenas de pessoas que almoçam sanduíches ou descansam no intervalo do trabalho. Harry Caul (o grande Gene Hackman) é o técnico responsável pela gravação da conversa dos dois, serviço encomendado por um homem misterioso, que é representado por Martin (Harrison Ford, bem jovenzinho). Revisto hoje, quando câmaras de vigilância estão em todo lugar e que a invasão de privacidade passou a ser uma regra, o filme parece ainda mais profético. À parte disso, o personagem de Hackman é um primor de construção e desempenho. Coppola e o ator Gene Hackman criam um Harry Caul impressionamente real, palpável. Harry é extremamente solitário, trancado dentro de si mesmo, sem amigos. Não expressa seus sentimentos, até porque não saberia como fazê-lo. Harry parece afastar todos que, mesmo timidamente, tentam se aproximar dele. Irrita-se com a namorada, Amy (Terri Garr), quando ela começa a perguntar sobre seu trabalho, sua vida pessoal. É absolutamente zeloso com sua privacidade – tem três fechaduras diferentes no apartamento onde mora, não fornece para ninguém o número de seu telefone. O único prazer que tem na vida é solitário e anônimo: em casa, tendo ao fundo um LP tocando jazz, Harry acompanha os mestres ao saxofone. Em INIMIGO DE ESTADO, de Tony Scott, de 1998, Hackman volta a fazer um técnico em escutas. Este filme, no entanto, não tem o mesmo clima sufocante e a assustadora premonição de A CONVERSAÇÃO.