sábado, 31 de janeiro de 2015

2547 - VOCÊ É O PRÓXIMO


    VOCÊ É O PRÓXIMO (YOU’RE NEXT, USA 2011) Apesar de muitas críticas positivas (que não fazem sentido para mim, confesso), o filme é mais uma versão da velha história de um grupo de pessoas, numa casa isolada, que é atacado por assassinos usando máscaras de bichinhos. A premissa, como se vê, é pouco original, o elenco, todo desconhecido, não tem muito trabalho além de morrer em cena e o twist final, que seria a grande sacada do filme, é fraco e não justifica o esforço que fiz esperando qual alguma coisa acontecesse. Não seja o próximo.  
 

2546 - DIVERGENTE

DIVERGENTE (DIVERGENT, USA 2014) – Entre os filmes que tratam do futuro distópico, este aqui é, sem dúvida, um dos piores. Na onda do paupérrimo JOGOS VORAZES, com uma abordagem juvenil na qual aparece, do nada, uma heroína adolescente, DIVERGENTE é mais um exemplar da subliteratura que anda alimentando as mais recentes “trilogias” do cinema americano. Este filme consegue ser ruim em tudo: atores jovenzinhos que não saber atuar, diálogos risíveis e um roteiro com mais furos que um queijo suíço. A história é tão boba que nem vale a pena contá-la aqui. O que merece ser registrado é o roteiro fraco e demasiado explicativo, caracterização esquemática, ação quase sempre decepcionante, falta de estilo e de imaginação. Se cada vez mais as jovens heroínas proporcionam lucros opulentos aos estúdios, a paciência de quem considera o cinema o conjunto de todas as artes vai, gradativamente, se esgotando.  
 

2545 - O ATENTADO

 
O ATENTADO (THE ATTACK, França, 2012) – O renomado cirurgião árabe Amin Jaafari vive em Israel e tem um casamento feliz com Siham, uma cristã palestina. Até que recebe a notícia de que uma bomba explodiu num restaurante, matando e ferindo dezenas de pessoas, inclusive crianças. Seu mundo rui quando é informado de que a responsável pelo atentado foi sua mulher. Inicialmente, Amin se recusa a acreditar nas autoridades israelitas, mas começam a surgir provas inegáveis de que Siham foi mesmo a autora da explosão. Ao se dirigir para a Cisjordânia, onde se encontra com um cunhado e dois sobrinhos (um deles envolvido com a organização de Siham), o cirurgião fica chocado ao descobrir que a falecida mulher é venerada como uma mártir pelo povo local. A convivência de Amin com a imagem da esposa é muito interessante, sempre procurando proteger as boas memórias que guarda dela e os retratos físicos da amada, algo visível quando pega na moldura com a fotografia de Siham que se encontrava no chão e a coloca à mostra na estante. Mais do que uma mera fotografia, este retrato conserva uma imagem de momentos de felicidade, de um casamento marcado por um segredo devastador descoberto no leito da morte, mas um notório amor e cumplicidade durante a vida. O diretor Ziad Doueiri aborda estas temáticas de forma humana e delicada, explorando as intolerâncias mútuas entre israelitas e palestinianos, mostrando que muito os divide e pouco os parece conduzir a uma paz, conduzindo a ataques extremistas como o protagonizado por Siham. Sem criticar os personagens que permeiam a narrativa, nem fazer a apologia dos mesmos, Ziad Doueiri exibe em "O Atentado" que existe algo de muito mais complexo para além dos estereótipos associados aos ataques terroristas e às questões relacionadas com Israel e Palestina. O filme revela-se uma obra competente e intrigante, capaz de abordar questões polêmicas e delicadas, enquanto mostra um marido que procura preservar as memórias da sua esposa e preencher os espaços em branco de um casamento terminado de forma dolorosa e sentida.

2544 - O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2


O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2: A AMEAÇA DE ELECTRO (THE AMAZING SPIDERMAN 2, USA 2014) – Assim como o anterior, este Homem-Aranha é péssimo, na minha opinião. O filme é todo ruim, da direção dos atores ao roteiro, passando pela descaracterização do personagem. A escalação de Andrew Garfield é totalmente equivocada, assim como a de todo o elenco. O que fizeram com Jamie Foxx, por exemplo, é inimaginável – ele, que é um ótimo ator, está completamente perdido na composição do vilão da vez. Emma Stone também parece não saber o que fazer em cena. Os efeitos especiais não funcionam. O filme é um desastre, os diálogos são pobres, a direção simplesmente parece não existir e, no fim, a gente só fica com mais saudade dos primeiros filmes com a direção de Sam Raimi e com Tobey Maguire no papel principal.
 

2543 - THE WALKING DEAD - 3.a TEMPORADA

 
THE WALKING DEAD, 3.a TEMPORADA - Na trama, após o confronto com os errantes na fazenda de Hershel e o desencontro com Andrea na fuga, Rick e o grupo de sobreviventes decidem se instalar em uma prisão. Com a proteção das grades, o local parece ser ideal para se proteger dentro do mundo dominado por mortos-vivos. Logo descobre-se que não muito longe dali existe uma cidadezinha chamada Woodybury, comandada por um homem intitulado de Governador. À medida que as situações vão surgindo e personagens vão de encontrando, vem à tona que o local vive de aparências e sobre a fragilidade de um homem doentio. Quando Governador acaba descobrindo a existência do grupo de sobreviventes na prisão, sente-se ameaçado e decide então, cravar uma sanguinária guerra onde os errantes parecerão ameaçadas inofensivas.

2542 - CLUBE DE COMPRAS DALLAS

 
CLUBE DE COMPRAS DALLAS (DALLAS BUYER’S CLUB, USA 2013) – Matthew McConaughey realmente mereceu o Oscar de Melhor Ator pelo papel de Ron Woodroof, um caubói urbano promíscuo, ignorante e preconceituoso que, em 1985, descobriu que estava no estágio terminal da Aids. Os médicos lhe deram um mês de vida. De pura teimosia, ele sobreviveu sete anos, nos quais se tornou um ativista na busca de um coquetel de medicamentos e um filantropo na sua distribuição. Jared Leto também arrasa como o travesti com quem Ron se associa na montagem do Clube de Compras do título. O filme – e o Oscar, claro – marcam uma guinada na vida profissional de McConaughey, antes tido apenas como um ator meio preguiçoso que se fiava mais no gesto de tirar a camisa em cena do que em dar um show de interpretação, como faz aqui.

2541 - O PODEROSO CHEFÃO


O PODEROSO CHEFÃO (THE GODFATHER, USA 1972) – O filme é sobre um conflito dentro da máfia, e este é o palco que Coppola usa para exibir o que realmente lhe interessa: lealdade, família e, o mais importante, poder. Um dos truques mais hábeis de Coppola é como ele cria empatia pelos heróis, nos levando a ter uma ligação intensa com eles. Isso é conseguido limitando o âmbito do filme, boa parte do qual se passa em um cenário de família, casamento, batismo e reuniões de negócio. Mas THE GODFATHER vai muito além disso. Já se tornou uma lenda que ultrapassa o cinema como história cheia de tiroteios de gângsteres, brigas e rivalidade. Por trás das câmeras havia tanta ação como na frente dela, com mafiosos reais no set, ameaças de morte enviadas para os produtores, e outros mistérios que talvez tenham sido elementos chave para que o filme passasse uma sensação tão autêntica, que parece que estamos vendo a vida real da janela de nossa casa. Clássico dos clássicos.

2540 - CBGB: O BERÇO DO PUNK ROCK

 
CBGB: O BERÇO DO PUNK ROCK (CBGB, USA, 2013) - Filme sobre o famoso clube de punk rock de Nova York, CBGB, com foco na vida de Hilly Kristal, seu fundador. A casa, que foi fechada em 2006, testemunhou o nascimento de grandes nomes da cena musical, como Ramones, Talking Heads, Patti Smith, Blondie, The Dead Boys e Misfits. Não tem lá muito interesse para quem não está familiarizado com o universo punk da década de 70, mas é bem feito e, de acordo com as críticas, bem fiel ao que aconteceu. Dá para ver o início de THE POLICE. Alan Rickman arrasa, mais uma vez.

2539 - INSÔNIA

INSÔNIA (INSOMNIA, USA 2002) – Mais uma vez, Al Pacino mostra que é um dos maiores atores do mundo, de todos os tempos. Neste filme de Christopher Nolan, ele é Will Dormer (sim, o nome é uma provocação), um detetive de Los Angeles que vai ao Alaska investigar o assassinato de uma adolescente. Chega ao culpado, um escritor esquisitão vivido com surpreendente contenção por Robin Williams. Clássica, mas não convencional, INSÔNIA é uma espécie de noir branco: seus personagens são repletos de zonas escuras, mas tentam escondê-las da melhor forma possível sob a luz onipresente do Àrtico. Hillary Swank, talentosa e incomumente bela num uniforme de polícia, está encantadora ao acompanhar com admiração e doçura os passos de Dormer em direção à resolução do crime e de seus próprios fantasmas.  

2538 - CHARLIE CHAN - CRIME EM NOVA IORQUE


CHARLIE CHAN – CRIME EM NOVA IORQUE (MURDER IN NEW YORK, USA 1940) – Another entry in the series of Charlie Chan movies finds the Asian detective (Sidney Toler) in New York to attend a police convention with his young son (Victor Sen Yung). While there, he begins investigating a case involving sabotage and murder in the airline industry. What caught my attention here is a small part with Shemp Howard, one of the original Stooges. As always, Toler is great at the role, delivering the lines wittily.

2537 - O ULTIMATO BOURNE


O ULTIMATO BOURNE (THE BOURNE ULTIMATUM, USA, 2007) – Se o primeiro filme fazia uma indagação existencial – “quem sou eu?” -, e, no segundo, tudo girava em torno de um dilema moral – “o que eu fiz?”, neste, agora, Jason Bourne passa à etapa seguinte desse questionamento. Bourne quer deixar de ser quem é e, para isso, precisa descobrir como foi criado. Um agente secreto em crise moral e missão de vingança é um artigo perigoso, e há muita gente que deseja mata-lo. Assim, movendo-se por instinto e por reflexo, ele precisa ser, mais do que nunca, uma arma absolutamente mortífera. Este ritmo incessante passou a ser a marca característica da série que, em muito, deve seu sucesso ao seu protagonista – Matt Damon. Com os cabelos curtos, o rosto liso, o físico ágil e compacto, Damon parece ter sido escolhido por suas características aerodinâmicas. Mas ele vai além deste aspecto exterior. Criar um personagem tão sólido a partir de tão pouco é trabalho para um ator que, mais que tudo, emana autenticidade. Seja como Bourne, ou como um viúvo, dono de um zoológico decadente, em COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO, Damon é um daqueles astros que vendem um artigo raro nas atuações da maior parte das celebridades de Hollywood: a verdade de seu personagem, seja ele qual for. 

2536 - A SUPREMACIA BOURNE

 
A SUPREMACIA BOURNE (THE BOURNE SUPREMACY, USA 2004) – Acelerado e frenético, esse segundo filme se inicia dois anos após o primeiro. Jason Bourne se determinou a abandonar de vez o seu passado, mantendo uma existência anônima em detrimento de qualquer tipo de estabilidade. Motivado por fragmentos de pesadelos e assombrado por um passado que não consegue lembrar, Bourne vai se mudando com Marie de cidade em cidade, tentando se manter um passo à frente da ameaça de ser levado de volta a um mundo que espera ter deixado para trás, implícita em olhares inexplicáveis de cada estranho e em telefonemas recebidos por engano. Quando um agente aparece na tranquila vila onde estão vivendo, Bourne e Marie abandonam suas vidas e fogem. Com o passado batendo à sua porta, a única opção é correr. Mas depois que são feitas as apostas num novo jogo internacional de perseguição, aquele Jason Bourne criado pela Treadstone — uma operação secreta envolvendo assassinos profissionais de sangue frio — volta à ação. Não há como não se deixar tocar pela história de Bourne – especialmente por causa de Matt Damon -, sempre marcada por enormes perdas que nem sua amnésia é capaz de aliviar. Na cena aí do lado, um dos momentos mais tristes da narrativa: Bourne, após o assassinato de Marie (Franka Potente), queima fotos, cartas, tudo enfim que registra a presença dela em sua vida. Já vi este filme.

2535 - A IDENTIDADE BOURNE

 
A IDENTIDADE BOURNE (THE BOURNE IDENTITY, USA, 2002) - In Jason Bourne the movies have a fascinating new anti-hero. Portrayed definitively by Matt Damon, Bourne, the cool and methodical star of author Robert Ludlum's trilogy, is a worthy addition to the list of memorable screen assassins. After a turbulent production, which began without a completed script, the knives were being sharpened in anticipation of the film's failure, but whatever problems existed in its making were not in evidence on screen. The Bourne Identity is a hugely entertaining and absorbing action thriller. It is possessed of a rare intelligence, style and irreverent wit that places it head and shoulders above its labored and clichéd counterparts. Compelling, fascinating and with a great deal to be discussed, THE BOURNE IDENTITY is the beginning of one of the most perfect trilogy in action thrillers.


2534 - O HOMEM MAIS PROCURADO

O HOMEM MAIS PROCURADO (A MOST WANTED MAN, USA, Inglaterra e Alemanha, 2014) – No seu último filme completo, Philip Seymour Hoffman se entregou por inteiro no papel de Günther Bachmann. A serviço do departamento de espionagem alemão, ele investiga os passos de Issa Karpov, um checheno mulçumano que chegou clandestinamente a Hamburgo e, segundo informações, pode estar envolvido com terroristas islâmicos. Bachmann é cauteloso na apuração dos fatos, mesmo pressionado por mandachuvas da CIA. Descobre, então, que Karpov, auxiliado por uma advogada especializada em imigração ilegal (Rachel McAdams, cada vez mais linda, como pode?), está tentando entrar em contato com um poderoso banqueiro (Willem Dafoe) a fim de reaver a fortuna deixada por seu pai. Arrasador, o desfecho faz uma crítica à prepotência dos americanos.   
 

2533 - CONEXÃO PERIGOSA


CONEXÃO PERIGOSA (PARANOIA, USA 2013) – Apesar da presença de dois astros – Harrison Ford e Gary Oldman – este pode ser considerado um dos piores filmes de todos os tempos. Previsível, sem graça, com diálogos toscos, coadjuvantes em ponto morto e um protagonista, Liam Hemsworth, que simplesmente não sabe atuar. Além disso, o título original sugere uma coisa que inexiste na história: paranoia. Pelo menos, o título em português aponta para uma leve conexão com o roteiro fraco e sem originalidade que gira em torno de empresas de telefonia móvel. Amber Heard é bonita e sexy, mas parece não ter outras credenciais artísticas, além de ser namorada de Johnny Depp. Tudo muito constrangedor.

2532 - SIDEWAYS


SIDEWAYS, ENTRE UMAS E OUTRAS (SIDEWAYS, USA 2004) – Refletindo a desilusão existencial que a maioria das pessoas experimenta mais cedo ou mais tarde, o diretor Alexander Payne mostra, no filme, dois amigos quarentões, Mike (Paul Giamatti, excelente) e Jack (Thomas Haden Church), que tiram alguns dias para viajar pelos vinhedos da Califórnia. Miles, escritor frustrado, imagina uma semana de degustação de vinhos – o único tópico em que esse pessimista se revela assertivo e desembaraçado. Jack, por sua vez, só quer aventuras sexuais, para esquecer o casamento, do qual tem pavor. É dessas crises de meia-idade que SIDEWAYS trata de forma belíssima, com humor e complacência com seus personagens. Virginia Madsen e Sandra Oh compõem o elenco enxuto e talentoso. No fim, temos a impressão de que o vinho é mesmo uma metáfora para a vida. Um filme para ser degustado.

2531 - NINGUÉM É PERFEITO

NINGUÉM É PERFEITO (FLAWLESS, USA 1999) O título em português não acompanha o sentido mais existencial e relacional que o termo em inglês carrega, ao ser aplicado ao filme. Robert De Niro é Waltz, um veterano policial aposentado que mora num hotelzinho barato em Nova Iorque. Ele não demonstra muita simpatia ou tolerância com seu vizinho, Rusty (Phillip Seymour Hoffman), um travesti que adora cantar e festejar com seus amigos. Um dia, por causa de uma confusão envolvendo bandidos, num dos andares do hotel, Waltz pega a sua arma e resolve intervir. É quando sofre um derrame, passando a ficar semiparalisado e com problemas de fala. Com dificuldade para sair de casa, a fim de se tratar numa fonoaudióloga, resolve, meio a contragosto, ter umas aulas de canto com Rusty. Uma ótima oportunidade de ver como pessoas de universos inteiramente diferentes podem interagir e descobrir uma série de afinidades. De Niro, ótimo, como sempre. Hoffman, um arraso!

2530 - EM TRANSE


EM TRANSE (TRANCE, UK, France, 2013) - Na trama, um funcionário de uma casa de leilões (James McAvoy) tem sérios problemas de dinheiro e arruma uma quadrilha para roubar pinturas. Durante o golpe, ele leva uma pancada na cabeça e acorda com amnésia. Como só ele sabe onde está o quadro e o líder dos mafiosos (Vincent Cassel) suspeita que ele está fazendo jogo duplo, os bandidos contratam uma hipnotizadora (Rosario Dawson) para procurar essas informações em sua mente. A história vai progredindo e regredindo no tempo, misturando realidade com os pensamentos dentro da mente de Simon (McAvoy em seu sotaque escocês mais carregado do que nunca), que também parece estar tão perdido quanto seus captores. De início, pode-se dizer que EM TRANSE é um filme complexo, de difícil assimilação para quem tem preguiça de pensar. No entanto, o diretor Danny Boyle (QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?) consegue simplificar o enredo intricado, sem entregar pistas fáceis ou antecipar o que não deveria – como acontece com diretores menos experientes. McAvoy e Cassel, ambos ótimos atores, tem uma atuação impressionante, entregando-se completamente ao enredo e a suas volutas dramáticas. Agora, a grande surpresa é Rosario Dawson, extremamente à vontade num papel difícil e crucial à história. Apesar do início fazer uso de um recurso nem sempre bem aceito, como a narração do protagonista, a trama vai se descortinando e rapidamente revela plena capacidade de gerar envolvimento.

2529 - AGENTE 86

 
AGENTE 86 (GET SMART, USA 2008) - O roteiro deixa a desejar e, por isso mesmo, depende demais da nostalgia para funcionar - o que deve incomodar quem está conhecendo Maxwell Smart pela primeira vez. De qualquer maneira, quem conhece a série, os bordões, figurinos e outros elementos, encarados aqui ao mesmo tempo como homenagem e atualização, deve encontrar neste AGENTE 86 as mesmas qualidades do original. A começar pela escolha acertada de Steve Carell, uma quase cópia de Don Adams, que funciona perfeitamente no personagem que é seu reflexo, de corpo e alma: um sujeito extremamente competente cuja graça vem da inocência e da necessidade, ainda que ele não se dê conta disso, de aceitação e reconhecimento. Agora, surpresa mesmo é a 99 de Anne Hathaway – belíssima, sexy ao extremo, sisuda na medida certa, para ser a escada ideal para as gags com Carell. O título em inglês, que produz um hilário jogo de palavras com o sobrenome de Max, não dá para ser traduzido. 

2528 - ÀLBUM DE FAMÍLIA

 
ALBUM DE FAMÍLIA (AUGUST: OSAGE COUNTY, USA 2013) – Roupa suja se lava em casa, costuma-se dizer. Neste filme, perturbador e incômodo, ao mesmo tempo com um pé no exagero, Meryl Streep, como sempre, nos faz pensar que a vida, quando encapsulada num roteiro de filme, pode mesmo ser assustadora. Ela é uma mãe infernal (bebe, toma remédios sem parar, dirige devagar demais para o gosto de alguns) que, no fim da vida, decide fazer um acerto de contas com as filhas, situação que provavelmente parecerá familiar aos seus colegas da geração "baby boom" (norte-americanos nascidos entre 1946 e 1964). Claro que não dá para ficar indiferente à boa atuação de Julia Roberts, Sam Shepard, Chris Cooper, entre outros, mas alguma coisa em ÁLBUM DE FAMÍLIA - o título em português é perfeito, mais do que o culturalmente referente original – soa dramático demais, mesmo para o gosto atomista do escritor Tracy Letts, de cuja peça homônima o filme foi adaptado. Não sei, mas John Steinbeck me veio à mente o tempo todo, o que pode referendar ou não o filme. Ainda não decidi. De qualquer forma, o formato teatral de ÁLBUM DE FAMÍLIA permite ao filme se concentrar em duas horas seu comentário desolador sobre o significado que a família pode adquirir: não uma congregação de indivíduos que se apoiam apesar das divergências, como idealmente se espera, mas uma estrutura montada para que pessoas infelizes possam infligir sua infelicidade sobre as outras e assim perpetuá-la geração após geração. Uma nota: ao rever o filme, realmente achei a atuação de Meryl Streep um pouco acima do tom, se deixando levar pelo overacting e pelo gosto da estridência. Mas tem crédito. E muito.   

2527 - AMOR SEM PECADO


AMOR SEM PECADO (PERFECT MOTHERS, USA, 2013) – A premissa do argumento é simples: duas amigas de infância, numa casa de praia, na Austrália, cujos filhos também são grandes amigos, vivem com eles uma relação de paixão totalmente inesperada. O filme explora um território emocional raro nas telas de cinema. Por isso mesmo, deve ser visto sem o véu hipócrita do moralismo, pois trata, basicamente, de relações humanas e de suas mais diversas exteriorizações. Claro que o filtro psicanalítico pode apontar para as mais variadas causas, mas creio que não é esta a intenção da diretora francesa Anne Fontaine. Fica evidente, no entanto, que ela é, em essência, uma esteta: as locações à beira-mar são deslumbrantes, assim como chama a atenção a beleza do quarteto principal. Naomi Watts e Robin Wright são mulheres tão belas (e excelentes atrizes), que a questão etária não ocupa as atenções suscitadas por este filme profundamente instigante.

2526 - OS ESCOLHIDOS

 
OS ESCOLHIDOS (DARK SKIES, USA, 2013) – Excelente thriller de suspense que flerta com o sobrenatural e a ficção científica. É reconfortante saber que ainda existem filmes como "Os Escolhidos", que, embora não seja nenhuma obra-prima, pelo menos ressuscita um estilo de cinema fantástico que parecia morto e enterrado: o que assusta pela sugestão. A história é manjada: família de classe média começa a ser assombrada por aparições de "espíritos" e acontecimentos bizarros, como ver toda a mobília da casa empilhada em estranhas esculturas. No princípio, os pais, Lacy (Kerri Russell) e Daniel (Josh Hamilton), acreditam se tratar de brincadeiras dos filhos, o adolescente Jesse (Dakota Goyo) e o pequeno Sam (Kadan Rockett). Mas logo o casal descobre que alienígenas estão de olho na família. Sam começa a ter pesadelos com seres que descem do céu e faz desenhos onde ele próprio aparece cercado por criaturas. Há ecos de "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" e uma desnecessária incursão pelo artifício narrativo típico da série "Atividade Paranormal" (os pais colocam câmeras nos quartos dos filhos para tentar flagrar os "espíritos"). O diretor Scott Stewart mostra talento ao criar um clima de suspense sem precisar, de fato, mostrar as criaturas, preferindo focar nas reações da família e em pistas que o roteiro vai espalhando pelo caminho (marcas, pegadas, etc.). Atenção para as poucas – e memoráveis – cenas com J.K. Simmons, ganhador do Globo de Ouro como Melhor Ator este ano. O título do filme em português está perfeito!

2525 - OS MACHÕES

OS MACHÕES (BRASIL, 1972) – O mais interessante neste filme é a presença de Erasmo Carlos no elenco, juntamente com Reginaldo Faria, que também dirige, e Flávio Migliaccio. Erasmo, inclusive, ganhou o prêmio de melhor ator do ano. De fato, sempre que vejo o filme, constato que sua atuação surpreende pela naturalidade e histrionismo. Reginaldo Faria contribui, com seus filmes, para que conheçamos como era a vida na cidade do Rio de Janeiro naquela época, mais especificamente da zonal sul, com uma crônica de costumes despretensiosa e muito interessante. 




2524 - EU, ROBÔ


   EU, ROBÔ (I, ROBOT – USA 2004) – Ao investigar o aparente suicídio do Dr. Alfred Lanning (James Cromwell), o detetive de homicídios Del Spooner (Will Smith) depara-se com o inconcebível: um robô, da moderna série NS-5, pode ter sido o responsável pela morte, algo impossível dadas as três leis da robótica, criadas pelo russo Isaac Asimov, em cuja obra o filme se baseia. Dono de uma paranoia intensa e um ódio pelos autômatos que beira o racismo, Spooner começa a aprofundar sua investigação com a reticente ajuda da Dra. Susan Calvin (Bridget Moynahan), uma psicóloga de robôs que trabalha para a U.S. Robots, multinacional, às vésperas da maior distribuição de androides de toda a história da humanidade. Smith está como sempre: tem aquele ar despojado, de quem não pediu para entrar na confusão, igualzinho aos outros personagens em filmes de ação/ficção similares. Os efeitos parecem um pouco datados, especialmente na sequência final. De certa forma, o filme, como todo os contos de Asimov, aponta para as questões que já vimos em FRANKENSTEIN e BLADE RUNNER, pois investigam facetas de um mesmo conflito: aquele entre a lógica que rege os robôs e as criaturas correlatas e as reações bem pouco lógicas dos seres humanos. A necessidade das criaturas de se espelhar em seus criadores ou de se contrapor a eles, e a lisonja e a rejeição com essas tentativas são recebidas por parte dos seres humanos também são componentes de todas essas obras citadas acima.
 

2523 - UMA PAIXÃO EM FLORENÇA


UMA PAIXÃO EM FLORENÇA (UP AT THE VILLA, UK, USA, 2000) – Há dois momentos belíssimos neste filme: as cenas, muito bem fotografadas, em Florença, e Kristin Scott Thomas, uma atriz que consegue aliar talento, classe e contenção a um dos rostos mais encantadores do cinema. É impressionante como ela é bonita (veja aí do lado). A história é uma adaptação de um conto de Somerset Maugham, um dos escritores mais interessantes do século passado. Kristin é Mary Panton, uma viúva que está em Florença, em 1938, com amigos da alta sociedade inglesa. Está para se casar com um homem bem mais velho, mas rico, até que conhece Rowley Flint (Sean Penn), um playboy americano que representa tudo o que ela não quer como plano de vida. Como é de se esperar, eles se apaixonam. Contudo, uma morte inesperada provoca uma reviravolta nos seus planos. O filme é bem feito, mas, ao contrário do título em português, e por algum motivo inexplicável, falta paixão aos protagonistas.













 
 
 



 

2522 - SKYFALL



 
   
    007 - OPERAÇÃO SKYFALL (SKYFALL, USA, Inglaterra, 2012) – Neste filme, pode-se dizer que Daniel Craig é tão dono do personagem quanto Connery jamais o foi e que o compreende melhor do que qualquer outro. George Lazenby e Timothy Dalton foram Bonds ruins; Pierce Brosnan foi um Bond com classe e Roger Moore foi Bond para uma facção de fãs, mas nunca chegou a convencer o restante deles. Outro fator que coloca este filme num patamar superior aos outros da série é o vilão de Javier Barden, um ciberterrorista, uma criatura contemporânea que age a distância e almeja não qualquer espécie de nova ordem, mas a anarquia geral e o seu proveito particular. Em SKYFALL, a preocupação com a atualidade e a verossimilhança volta a figurar entre os componentes fundamentais de um filme de James Bond. E, na direção estupenda de Sam Mendes, surge uma outra prioridade ainda: o realismo da dramaturgia.
 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

2521 - CORPOS ARDENTES

(BODY HEAT, USA 1981) – Revisto hoje, este “noir” dos anos 80, ainda mantém seu interesse e apelo, muito em função do casal de protagonistas – William Hurt, magnífico, e Kathleen Turner, toda fatal, na sua estreia na tela grande – e do roteiro enxuto, embora pouco original. O calor absurdo da Flórida parece mais um personagem desta história em que, a todo momento, veem-se ventiladores ligados e as pessoas estão sempre suando muito, o que aumenta a tensão e a sensualidade. É um dos grandes filmes da década. Atenção para a cena final, onde, bem sutilmente, há uma referência linguística ao nosso país. Atenção para Ted Danson, fazendo quase o Sam, de CHEERS, e para Mickey Rourke, ainda com feições humanas.


2520 - CONSTANTINE

(CONSTANTINE, USA 2005) – Dirigido pelo então estreante Francis Lawrence, CONSTANTINE é um suspense, digamos, teológico, e tem ritmo e exuberância. Keanu Reeves interpreta o personagem-título, uma espécie de policial incumbido de patrulhar a fronteira terrena entre o céu e o inferno, com a natural ausência de espírito de sempre, o que o faz um ator único e extremamente magnético em cena. Seu jeito duro de dizer suas falas, que não raro as melhora, a presença física incomum e seu ar meio ausente, que serve de ponto de fuga em filmes em que o movimento é a tônica da narrativa, fazem dele um ator sensacional e diferente de todos os leading-men contemporâneos. O filme é bem bacana.

2519 - CABO DO MEDO

(CAPE FEAR, USA 1993) – De Martin Scorsese. Depois de quatorze anos na prisão, o atormentado psicopata Max Cady (Robert De Niro) ressurge com uma única missão em mente: vingar-se de seu advogado Sam Bowden (Nick Nolte). Cady se torna uma presença aterrorizante, ameaçando a estabilidade da família do advogado. Percebendo que está legalmente indefeso para proteger sua esposa Leigh (Jessica Lange) e a problemática filha adolescente Danielle (Juliette Lewis), Sam passa a usar de todos os expedientes para fugir da situação.

2518 - O DIA EM QUE A TERRA PAROU (2008)

(THE DAY THE EARTH STOOD STILL, USA, 2008) – O problema de se refilmar um clássico são as expectativas que, sempre desmedidas, acabam nos levando à frustração. É o caso deste remake em que Keanu Reeves interpreta Klaatu, papel que coube ao excelente Michael Rennie, no fantástico filme original, de 1951. Klaatu está aqui para dar aos humanos um ultimato: ou aprendemos a respeitar as outras espécies que vivem no nosso planeta - e o planeta em si - ou a raça humana será exterminada. A matemática é simples: se os humanos vivem, a Terra morre e com ela toda a rara variedade da vida existente aqui; se os humanos morrem, a Terra vive. No entanto, o que seria um debate entre representantes de mundos distintos, graças à ganância humana, logo torna-se uma corrida contra o tempo para evitar a aniquilação da nossa raça. Reeves, com um estilo quase “Spock”, sem demonstrar qualquer emoção além da marcação do personagem, está perfeito. Por outro lado, a bela Jennifer Connely parece totalmente deslocada como a cientista que inadvertidamente torna-se o centro da luta pela sobrevivência. A melhor cena do filme é quando Klaatu vai à casa do professor Barnhard (John Kleese, excelente), recriando com perfeição a mesma cena do filme original. Os CGIs são fracos, assim como quase todo o roteiro – afinal, que são aqueles protocolos para um encontro com um E.T.? Kathy Bates como Secretária de Defesa não convence, assim como a remodelação do Gort, o robô que acompanha Klaatu. Dirigido por Robert Wise, um exímio artesão da velha Holywood, o primeiro O DIA EM QUE A TERRA PAROU sobrevive muito bem como clássico B, em razão do estilo discreto, quase jornalístico, com que acompanha a imersão de Klaatu entre humanos. O que poderia ter sido uma ótima revisão deste clássico da ficção científica resultou apenas numa produção pífia, para ser esquecida, ou lembrada, como o dia em que o cinema parou.     
 

2517 - INFERNO DE DANTE

(DANTE’S PEAK, USA 1993) – Apesar da gracinha do título em português, fazendo referência à primeira parte de A DIVINA COMÉDIA, de Dante Aleghieri – o título original não tem nada a ver com isso -,  DANTE’S PEAK é um dos filmes de que mais gosto, por nenhum motivo especial. Tem dois atores que aprecio – Pierce Brosnan e Linda Hamilton – e um roteiro meio frouxo, sobre a erupção de um vulcão que arrasa uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos. No entanto, é um daqueles filmes que fazem parte de nossa memória afetiva, fazer o quê? Claro, também gosto muito de filmes sobre vulcões, tempestades e coisas do tipo. Linda Hamilton, a Sarah Connor de O EXTERMINADOR DO FUTURO, condizentemente com seu nome, está mais linda do que nunca. Mais uma coisa: os efeitos especiais são maravilhosos, extremamente críveis e perfeitamente ajustados à trama.  
 

2516 - PROPOSTA INDECENTE

(INDECENT PROPOSAL, USA, 1993) – O filme é muito mais profundo do que aparentemente se constata, ao conhecermos a trama: um casal com dificuldades financeiras, David e Diana (Woody Harrelson e Demi Moore) vai a Las Vegas tentar a sorte no jogo. O que o diretor Adrian Lyne, de ATRAÇÃO FATAL, reserva para o espectador é o tipo de jogo que o casal vai encontrar: um milionário (Robert Redford), fascinado por Diana, propõe aos dois um milhão de dólares em troca por uma noite com ele. A partir daí, o que poderia ter sido uma profunda discussão sobre ética, a possessividade nas relações afetivas, a importância do dinheiro e o poder que ele confere, entre outras coisas, passa a ser mostrado de forma rasa e sem reflexão. Talvez, se realizado hoje em dia, um diretor com mais coragem pudesse realizar um grande e inesquecível filme, coisa que este, do jeito que é, nunca foi.
 

2515 - CASSINO ROYALE

(CASINO ROYALE, Inglaterra e USA, 2006) – Apesar de todas as críticas à sua escolha, Daniel Craig mostrou-se um James Bond renovado, com características diferentes das dos seus antecessores, mas com um tal magnetismo que, mesmo que queiramos, não conseguimos desgrudar os olhos de sua performance, digamos, sem trocadilhos, matadora. Com uma das mais belas, sensuais e inteligentes parceiras (“bondgirl” está um pouco aquém do que ela proporciona), Eva Green tem classe demais para ser apenas uma coadjuvante. É ela que faz a diferença, para 007 e, claro, para nós. CASSINO ROYALE dispensa as engenhocas, reduz o contingente de mulheres voluptuosas e pisoteia com gosto itens até então obrigatórios da franquia “bond”. Tudo em nome da evolução que não perde o charme do que é mais tradicional.
 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

2514 - MUNDO CÃO

(GHOST WORLD, USA 2001) - Filme com Scarlett Johansson? É obrigatório ver, seja o que for. Neste, ela está só com 16 anos, mas já exala a força de seu talento e sensualidade. Na história, ela é apenas uma coadjuvante - quem protagoniza é Thora Birch, de BELEZA AMERICANA. A trama gira em torno da amizade das duas, após a formatura de segundo grau. A personagem de Scarlett segue um trajeto mais convencional, amadurecendo gradualmente, assumindo responsabilidades e questionando o mundo de forma mais racional. Já a personagem de Thora é um desses misfits, uma adolescente inconformada com o mundo e um pouco complexada. Como ela é muito bonita, a gente fica com a impressão de que a atriz foi mal escalada para o personagem, mas, ao longo do filme, ela convence como menina perdida e inadaptada à humanidade. Destaque para o ótimo Steve Buscemi, que faz um homem de meia idade, também misfit, que gosta de colecionar discos de vinil.
 

2513 - MEL COM LARANJA

(MIEL DE NARANJAS, Espanha e Portugal, 2012) - A trama passa-se na década de 50, na Andaluzia, e conta a história de um soldado, Enrique, destacado como datilógrafo num Tribunal Militar da ditadura de Franco, sob um ambiente opressivo. A detenção do psiquiatra que cuida da sua mãe o faz revoltar-se contra a realidade em que vive. Aos poucos, Enrique começa a passar informações para os rebeldes e, neste processo, o diretor delineia uma espécie da perda da inocência que atingiu uma geração de espanhóis. O filme me chamou atenção por causa de Blanca Suarez, que esteve em AMORES PASSAGEIROS, de Almodóvar. É impressionante como ela é bonita.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

2512 - FRANGO COM AMEIXAS

(POULET AUX PRUNES, França 2011) O filme se situa na Teerã de 1958 e apresenta Nasser Ali Khan, um virtuoso violinista e pai de família que, depois de sua mulher ter quebrado seu instrumento em uma briga, se esforça para encontrar outro igual. Ao longo das cenas, o espectador descobre por que o instrumento se transformou em algo tão importante para ele e a razão que o levaria à morte caso não encontrasse outro que o preencha da mesma maneira. Embora 'FRANGO COM AMEIXAS' tenha certa carga política, as relações pessoais e os conflitos internos se sobressaem nos levam a refletir sobre o que acontece quando o ser humano se condena a viver no passado e não segue em frente.

 









2511 - SOL VERMELHO

(RED SUN, França, Itália, Espanha 1971) – Dirigido por Terence Young, que já tinha estado à frente de três filmes de James Bond, com Sean Connery, SOL VERMELHO é um western filmado na Espanha e se caracteriza por um elenco insólito: Charles Bronson, Alain Delon, Toshiro Mifune e Ursula Andress. A história não tem nada de original: Link (Bronson) e Gauche (Delon) roubam um trem em que viaja uma comitiva diplomática japonesa, com um samurai (Mifune) de guarda-costa. Gauche tenta matar Link e então foge com o saque, no intuito de encontrar Christina (Ursula Andress, confirmando que nunca foi atriz). Link e o samurai se juntam para recuperar o dinheiro e se vingar. Tudo bem ao estilo de Sérgio Leone, com grandes sequências panorâmicas e longas cavalgadas sob o sol do deserto. O que mais me chamou a atenção, além do elenco, foi a interação de dois personagens tão opostos, como o cowboy de Bronson e a fleuma oriental do samurai interpretado por Mifune. Uma outra curiosidade é que a música incidental deste filme é a mesma utilizada na novela SELVA DE PEDRA, na sua primeira versão, e 1973.

2510 - BASTARDOS INGLÓRIOS

 BASTARDOS INGLÓRIOS (INGLÓRIOS BASTERDS, USA 2009) – Obra-prima do mestre Tarantino, com todos os elementos que compõem seu universo cinemático, mas que, agora, carregam consigo alcances que mostram uma maturidade fascinante, já vislumbrada no segundo KILL BILL. A sequência inicial, com a chegada do tenente-coronel Hans Landa (o maravilhoso Christoph Waltz) a uma pequena casa de fazenda, em algum lugar montanhoso da França, talhada com enquadramentos exímios e tempo impecável, é um dos momentos em que o cinema atinge o ápice da escala artística. Na maneira como Tarantino retrai e prolonga o tempo previsto para chegar ao desfecho, essa abertura é arrebatadora, dando a ideia exata de que estamos prestes a assistir a um filme que pertence só à história do cinema, não à outra, mais ampla. Tudo no filme funciona em consonância com as propriedades desestabilizadoras da elegância, em cada cena, na atuação precisa do elenco fantástico. BASTARDOS INGLÓRIOS assinala uma espécie de ruptura com o estilo do diretor – lá estão a violência, a litragem desmedida de sangue, as falas repletas de frases de efeito, mas também estão presentes a beleza de diálogos travados, não meramente disparados, a utilidade emocional da pausa e dos pequenos milagres que os bons atores podem proporcionar. Entre eles, o já mencionado Waltz, um ator de precisão absoluta, que rouba o filme com a anuência de quem atua e de quem assiste, todos igualmente galvanizados por seu talento. Waltz está simplesmente em outra esfera de talento. Oscar mais que merecido.