sexta-feira, 16 de maio de 2008
523 - DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA
dois perdidos numa noite suja (brasil, 2002) – versão cinematográfica da famosa e maldita peça de Plínio Marcos, com Débora Falabella e Roberto Bomtempo, que fazem dois imigrantes enfrentando a barra de sobreviver em Nova York. A atmosfera é sombria e os diálogos rascantes refletem a aspereza das vidas perdidas num país distante. Débora está indevida e inevitavelmente bonita, mesmo fazendo um papel masculinizado que, em certos momentos, beira o estereótipo. Roberto Bomtempo é um ator sério, intenso, que leva o personagem Tonho às fímbrias da insegurança e da contradição. Os dois decidem assaltar para sobreviver. A história não funciona na tela grande. Violento, cruel, sem meias-palavras. Ao transpor Dois Perdidos para o cinema, o diretor reproduz a violência da peça de Plínio Marcos, mas não suas sutilezas. Tenta manter a essência do original mudando apenas o seu entorno. Parece que Joffily, o diretor, quis fundir o drama individual com a conotação política, para a qual o cenário armado no império do momento cumpre papel decisivo. Contudo, as imagens da Estátua da Liberdade, das saídas do metrô e dos ambulantes na decolam do imaginário mais gasto da metrópole a americana: em vez de reforçar este drama, elas o diluem em símbolos desnecessários – como a referência a Governador Valadares (MG). O que Joffily recria na tela é um romance bandido insinuado e convencional. Nele não faltam consumo de drogas, perseguições da Imigração e uma violência largamente mais explícita que a da peça. Opta-se pela exterioridade e o impacto, o que deve ter algum apelo estético e até mesmo comercial, mas no que toda adaptação se propõe a ser, uma homenagem a uma obra admirada, o filme peca por não compreender o seu objeto: afinal, Plínio Marcos é um clássico porque transcende a mera pirotecnia da marginália. Direção de José Joffily.