sábado, 17 de maio de 2008

549 - ANTES DO PÔR-DO-SOL

antes do pôr-do-sol (before sunset, usa 2004) – de Richard Linklaker. Maravilhoso. Sensível. Poético. Linda história vivida por Ethan Hawke e mesmerizante Julie Delpy. E a história ainda se passa em Paris! Nove anos depois de se conhecerem e viverem uma noite de amor, Celine (Delpy) vai à tarde de autógrafos de Jesse (Hawke) que, surpreso com o reencontro, passa a caminhar com ela pelas ruas de Paris, num transbordamento de lembranças que só confirma o grande amor que os une. É um filme cheio de esperanças na possibilidade de se ter uma segunda chance de reencontrar o grande amor de nossas vidas. Jesse e Celine só têm menos de uma hora e meia para tirar nove anos de dúvidas, e aí está o ponto alto do filme: não há diálogos, no sentido estratificado do termo, mas sim uma conversa que flui com uma naturalidade jamais vista na tela grande. Construído com uma simplicidade comovente, é mais econômico ainda que o primeiro filme, que tinha o apelo turístico de Viena e pequenas interferências de personagens simbólicos (o poeta vagabundo, a cigana, o dono do bar, os atores de teatro amador etc.). Aqui só temos Jesse e Celine e uma conversa envolvente, com hora marcada pra dizer adeus (novamente), o que provoca suspense em querer saber como é que vai terminar essa história. É aí que entra o toque de gênio de Linklater e sua equipe de roteiristas. Arrisco dizer que é um dos finais mais bonitos que vi em anos. Putz! É lindo demais! Linklater consegue atingir aquele momento de puro encantamento,cometendo o tipo de cena que ficará para sempre na minha memória. O fato de Ethan Hawke ser realmente escritor e Julie Delpy ser compositora (a música que ela canta na seqüência final é dela) só colabora na incrível atmosfera de honestidade do filme. Embora a fita equilibre os lados masculino e feminino da situação, é evidente que Celine ficou bem mais interessante que Jesse dez anos depois. Enquanto Jesse continua o risonho bobão do filme anterior, Celine apresenta nuances mais sutis, deixando transparecer as mágoas, as frustrações e a dificuldade de ser adulto e ainda perseguir o 'grande e eterno amor'. Julie Delpy está brilhante, sensual, arrasadora na seqüência final, que merecia até uma indicação ao Oscar. Resta a Jesse ficar completamente abobalhado, junto com os espectadores, por essa mulher que ele nunca conseguiu esquecer nem por um minuto dos dez anos que separaram esse encontro daquele adeus numa manhã na estação de trem de Viena. Richard Linklater fez a cabeça de muita gente (a que escreve, incluída) em meados dos anos 90 com o filme Antes do Amanhecer. Nele, o cineasta companhava o encontro de jovens viajantes, uma garota francesa (Julie Delpy) e um rapaz americano (Ethan Hawke), que se conhecem num trem, passam uma noite em Viena e se paixonam, prometendo reencontrar-se seis meses depois. Eis que, nove anos depois, Linklater resolve retomar a trajetória do casal, separado desde o encontro em Viena, resgatando não só o filme, mas o tom emocional largado na despedida de 1995. Sendo assim, o reencontro não é uma oportunidade para colocar pontos nos is, mas para retomar a química da identificação entre os dois protagonistas e retomar suas trajetórias, a partir da despedida na estação de Viena, que é o que importa para o filme e para nós. O resultado é Antes do Pôr-do-Sol, um filme arrebatador, sobre gente real, que parece existir no mesmo plano que nós. Econômico nas seqüências, Linklater resume o encontro de seus personagens em meia dúzia de situações, que servem de cenário para uma hora e meia de conversa, iniciada quando Céline (Delpy) aparece numa entrevista coletiva dada por Jesse em Paris, para o lançamento do seu livro (que narra exatamente a noite passada pelos dois em Viena). A partir do reencontro, Linklater conduz o filme com imensa naturalidade, a partir de uma sucessão de diálogos vistos sem pressa, mirados na mosca. Linklater despreza as elipses e as supressões de elementos subentendidos pelo contexto. Ao contrário, sua câmera acompanha nos mínimos detalhes a conversa travada pela dupla protagonista (daí a fluidez impressionante de um filme calcado principalmente na força dos seus diálogos e na economia de artifícios estilísticos).Obra-prima!