sexta-feira, 2 de maio de 2008

344 - CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ

capitão sky e o mundo de amanhã (sky captain and the world of tomorrow, usa 2005) – Uma das coisas mais interessantes deste filme é que nada que está diante dos olhos da platéia existe realmente. Afora os atores e uns poucos objetos de cena, tudo o que se vê em Capitão Sky é virtual, numa mistura de desenho, fotografias convencionais modificadas e imagens criadas em computador, soberbamente costuradas pelo diretor estreante Kerry Conran. Este mundo retro-futurista do filme é seu grande charme, além da presença de Gwyneth Paltrow (28 de setembro de 1972), claro. Capitão Sky é, acima de tudo, uma saudável matinê dos anos 30 e 40. Quando um gigantesco Hinderburg se aproxima de Nova York até atracar no topo do Empire State Building, numa noite de 1939, trazendo um cientista cujo sumiço quase imediato atiça a curiosidade da intrépida repórter Polly Perkins (Paltrow), uma série de acontecimentos fantásticos passa a ocorrer: o surgimento de robôs colossais, da altura de prédios, marchando sobre Manhattam; uma perseguição aérea de tirar o fôlego protagonizada pelo aviador que dá nome ao filme (Jude Law, 29 de dezembro de 1972); a decisiva intervenção de uma estação aérea comandada por uma charmosa oficial britânica (Angelina Jolie, 4 de junho de 1975), muito favorecida por um tapa-olho estiloso, e todas as aventuras típicas dos heróis da primeira metade do século passado. O diretor reúne, desta forma, vários dos gêneros mais em voga à época em que a ação é ambientada – a ficção científica à moda tanto de Flash Gordon quanto de Metrópolis, a comédia romântica lapidada por diretores como Ernst Lubitsh e Preston Sturges, em que o par central necessariamente vive às turras, as aventuras B e também o noir, que andava então em seus primeiros momentos. No entanto, esse espírito passadista e essa concepção visual singular pode não ser de fácil digestão para quem se acostumou com o pedestre padrão hollywoodiano do fast-food cinematográfico. Passado o primeiro impacto dos monumentais cenários art déco e da fotografia quase fantasmagórica, que combina a saturação do tecnicolor com o preto-e-branco, Capitão Sky passa a ser coisa para iniciados, para aqueles que percebem que há mais coisa entre ó céu e a terra do que supõe os diretores vanguardistas e pretensiosos que pululam no cinemão comercial de hoje. Capitão Sky poderia ser o mais audacioso dos híbridos – algo como uma aventura de Indiana Jones dirigida por um impressionista alemão, como Lang ou Murnau – mas dá conta do recado e restitui-nos a esperança de um bom filme finalmente livre das limitações do mundo físico e das mentes anãs. Note que há referências a King Kong, Planeta Proibido, Guerra dos Mundos e outros filmes da época. Altamente recomendável – não deixe de ver!