terça-feira, 6 de maio de 2008
361 - O HOMEM QUE COPIAVA
o homem que copiava (brasil, 2002) – de Jorge Furtado. Eu tinha visto este filme na época do lançamento, mas havia esquecido da história, que é surpreendentemente original. A narrativa é ágil, com André (Lázaro Ramos, 01 de novembro de 1978) narrando em off as ações do seu personagem, um ilustrador que trabalha como operador de xérox numa papelaria, se apaixona por sua vizinha (Leandra Leal, 08 de setembro de 1982) e trama um plano para ganhar muito dinheiro e se casar com ela. Mas o filme tem a presença espetacular de Luana Piovani (29 de agosto de 1976), que é uma espécie de Cataratas do Iguaçu em forma de mulher. Ela consegue estar linda em todas as cenas, uma coisa impressionante! Pedro Cardoso (31 de dezembro de 1962) está muito engraçado como Cardoso, personagem que ajuda o de Lázaro a roubar um banco. Se há uma coisa que o diretor gaúcho Jorge Furtado sabe fazer é ganhar a atenção da platéia. E o faz com um cinema sem truques nem vícios, apoiado na substância de sua história e na forma inovadora como ele a pensa e conta. O personagem principal, André, tira xerox numa papelaria de Porto Alegre e ama Sílvia (Leandra Leal). Pelo binóculo, André montou um panorama do quarto de Sílvia – na verdade, uma colagem mental, feita com base nas imagens que vê no espelho da menina. Tudo na vida de André segue esse princípio. Enquanto trabalha, ele lê fragmentos dos textos que está copiando e monta essas informações em sua cabeça das formas mais inusitadas. Cada situação que vive se repete, mas num outro contexto. E cada uma das poucas frases que diz é acompanhada, na sua narração, de uma torrente de pensamentos. Furtado extrai um humor ácido destes descompassos e, partindo de uma colagem, faz um filme original que não se parece com nenhum outro de que me lembre. Os personagens são amorais. Candidamente amorais. Perversamente amorais. Não são imorais, não discutem o bem e o mal, o certo e o errado, estão além destas dicotomias. O filme estetiza a tragédia, dando-lhe leveza e, de certa forma, “retrata” nossa realidade, além e ser uma “cópia” da cultura atual. O diretor, assim, reproduz o real, recolhendo e re-colando os fragmentos de um mundo calcado em imagens esparsas. Vale ressaltar que Furtado projeta, enquadra, revela, organiza as coisas, embora, aparentemente, pareça não ter nenhuma responsabilidade com a “natureza viva” que reproduz. Analisando a questão não pelo lado da identidade, mas pelo da diferença, poder-se-ia perguntar: qual a diferença entre a “cópia”, que Jorge Furtado faz da realidade, e a síndrome da repetição, do pastiche, do louvor ao “fake” e a adoção culposa da estética da marginalidade presente na maioria das obras expostas pela arte contemporânea?