UM
GRANDE GAROTO (ABOUT A BOY, UK, 2002) – O filme é uma
deliciosa reflexão sobre a solidão e a maturidade, tudo isso amalgamado no
personagem de Hugh Grant, Will Freeman (sim, o sobrenome já diz muito do seu
universo): solteiro, rico, preocupado apenas em ter relações rápidas e sem
profundidade com mulheres e, como era de se esperar, com uma mentalidade de um
garoto de 12 anos. Por isso, não é de ser admirar que ele se torne o melhor
amigo de um outro garoto que realmente tem 12 anos e que vive com a mãe
depressiva (Tony Collette, em grande atuação). É uma comédia para quem vê a
realidade com pouca profundidade. Por outro lado, é um filme de várias camadas
importantes sobre os conflitos internos por que todos passamos, em vários
momentos da vida. A citação do poeta inglês John Donne – “Nenhum homem é uma
ilha” – abre o filme e provoca de imediato a reflexão das relações humanas,
especialmente na liquidez destes tempos pós-modernos. O que funciona muito bem
no filme é a narração em “voice-over” de Grant, em perfeita consonância com a
aparente futilidade com a vida de Will, indo além do que superficialmente se
poderia entender da sua conduta. Will é um homem que se recusa a crescer e
assumir seu papel de responsabilidade na vida adulta, com uma noção meio difusa
das profundezas emocionais que se escondem atrás de uma superfície de apatia e
indiferença. É exatamente aí que se
percebe que Hugh Grant é um ator que poderia ter tido voos mais altos
dramaticamente, em função do imenso talento que ele, curiosamente, parece nunca
ter tido a vontade de expandir. Mais maduro, menos caricaturalmente britânico e
com um “timing” de comédia irrepreensível, ele consegue fazer do fútil e
descartável Will um personagem não só plausível como até “gostável”. Grant
trabalha nos extremos da escala, sem ser herói ou vilão, perdedor ou vencedor,
esperto ou ingênuo. UM GRANDE GAROTO é um grande filme, dirigido com extrema
sensibilidade e estrelado por atores extraordinários, entre os quais Hugh Grant
se destaca justamente por quase passar despercebido.