sexta-feira, 4 de agosto de 2017

2901 - UM GRANDE GAROTO

 
Hugh Grant, sensacional
      UM GRANDE GAROTO (ABOUT A BOY, UK, 2002) – O filme é uma deliciosa reflexão sobre a solidão e a maturidade, tudo isso amalgamado no personagem de Hugh Grant, Will Freeman (sim, o sobrenome já diz muito do seu universo): solteiro, rico, preocupado apenas em ter relações rápidas e sem profundidade com mulheres e, como era de se esperar, com uma mentalidade de um garoto de 12 anos. Por isso, não é de ser admirar que ele se torne o melhor amigo de um outro garoto que realmente tem 12 anos e que vive com a mãe depressiva (Tony Collette, em grande atuação). É uma comédia para quem vê a realidade com pouca profundidade. Por outro lado, é um filme de várias camadas importantes sobre os conflitos internos por que todos passamos, em vários momentos da vida. A citação do poeta inglês John Donne – “Nenhum homem é uma ilha” – abre o filme e provoca de imediato a reflexão das relações humanas, especialmente na liquidez destes tempos pós-modernos. O que funciona muito bem no filme é a narração em “voice-over” de Grant, em perfeita consonância com a aparente futilidade com a vida de Will, indo além do que superficialmente se poderia entender da sua conduta. Will é um homem que se recusa a crescer e assumir seu papel de responsabilidade na vida adulta, com uma noção meio difusa das profundezas emocionais que se escondem atrás de uma superfície de apatia e indiferença.  É exatamente aí que se percebe que Hugh Grant é um ator que poderia ter tido voos mais altos dramaticamente, em função do imenso talento que ele, curiosamente, parece nunca ter tido a vontade de expandir. Mais maduro, menos caricaturalmente britânico e com um “timing” de comédia irrepreensível, ele consegue fazer do fútil e descartável Will um personagem não só plausível como até “gostável”. Grant trabalha nos extremos da escala, sem ser herói ou vilão, perdedor ou vencedor, esperto ou ingênuo. UM GRANDE GAROTO é um grande filme, dirigido com extrema sensibilidade e estrelado por atores extraordinários, entre os quais Hugh Grant se destaca justamente por quase passar despercebido.