quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

3009 - STRANGER THINGS - TEMPORADA 1

   
The kids rock!!!!
  STRANGER THINGS (USA, 2016) – Para quem atravessou os anos 70 e 80, ST é o paraíso dos “easter eggs”: as referências aos panorama pop das duas décadas pululam em todas as cenas desta série que, como todo bom trabalho de roteiro, começa meio morna, mas vai tomando corpo à medida em que as histórias vão se entrelaçando e apontando para outras vertentes. Os irmãos Matt e Ross Duffer conseguiram ir além de uma recriação retrô, construindo uma história que vai fascinando não só pelas referências do passado recente, mas também pelas possibilidade que se vislumbram no futuro dos personagens que certamente já vimos em filmes de John Carpenter, Spielberg, John Hughes ou nas adaptações de Stephen King. Estamos, portanto, num mundo diferente do que se conhece hoje: sem celular ou internet, a vida parecia mais simples, havia tempo para as crianças brincarem juntas no porão, a quase desnecessidade de competir e se exibir dava espaço para o surgimento das amizades profundas da infância o ritmo menos acelerado permitia uma contemplação que, hoje, seria percebida, no mínimo, com preocupante estranhamento. O elemento sobrenatural que desponta na história sublinha o impacto das recordações dos filmes de Spielberg e dá um excelente pano de fundo para um elenco espectacular, a começar pela turma infantil, perfeitamente integrada à trama. É neste grupo que se destaca Millie Bobby Brown, uma baita atriz, pronta, intensa, cuja expressividade, isso sim, parece ser de outro mundo. Na parte adulta, Winona Ryder é a atriz mais fraca. Ela leva um baile na cenas com o excelente David Harbour, o xerife da cidadezinha que, meio indiferente a princípio, vai se lançando como uma locomotiva desgovernada no sentido de desvendar os mistérios da trama. Assistir aos oito episódios desta primeira temporada é como ver um filme longo que, em nenhum momento, cansa ou nos faz perder o interesse. A coisa mais estranha seria não cair de cabeça na segunda temporada.  

sábado, 23 de dezembro de 2017

3008 - FILHOS DO SILÊNCIO

Hunt e Matlin, uma amor além das palavras
FILHOS DO SILÊNCIO (CHILDREN OF A LESSER GOD, USA 1986) – FILHOS DO SILÊNCIO  é uma belíssima história de amor que vai além das palavras: um professor de surdos, James Leeds (William Hurt) se apaixona pela zeladora deficiente auditiva, Sarah Norman (Marlee Matlin), da escola em que trabalha. Nesta história, o sentimento é tão simples e o conflito tão plausível, que nos sentimos menos vendo um filme, mas sim acompanhando dois amigos através de seu processo de descoberta do amor. Toda cena é como uma fotografia capturando a essência de cada momento do processo de aproximação entre James e Sarah. Ah, e há os olhos de Marlee, impressionantemente expressivos, muito além de qualquer palavra. Em certos momentos, é como se estivéssemos vendo uma pintura em movimento, como se Vermeer ou Michelangelo estivessem a cargo da direção. O filme é uma poderosa mensagem de amor incondicional, aceitação mútua e crescimento pessoal, em que a diretora Randa Haines documenta, meticulosamente, os esforços necessários para a realização de um verdadeiro relacionamento amoroso. Há cenas memoráveis. Numa delas, Sarah, na borda da piscina, apenas observa James, quando ele vem procurá-la – é inacreditável o que seus olhos dizem. Em outra cena linda, James, que adora Bach, diz a Sarah que não consegue mais apreciar a música, pelo fato de ela não poder. Numa sequência emocionante, depois de uma breve separação, James mergulha na piscina, como se quisesse reencontrar Sarah no silencioso mundo submerso e líquido. Também impressionante é a atuação de Hurt, praticamente minimalista, permitindo que seus silêncios sejam tão eloquentes quanto o de Sarah. Não é de se admirar que os dois atores tenham se aproximado romanticamente durante as gravações. Está clara em cena a alta voltagem entre os dois. Marlee recebeu justamente o Oscar por esta atuação. Infelizmente, ela nunca mais teve a oportunidade de ter outros papéis à altura de seu imenso talento. 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

3007 - A TENTAÇÃO

Charlie Hunnam e Liv Tyler

.       A TENTAÇÃO (THE LEDGE, USA, 2011) – Thriller mais filosófico do que psicológico que lida com um tema pouco visitado pelo cinema: o embate entre o fundamentalismo cristão e o ateísmo. O roteiro é simples, em princípio: Shana (Liv Tyler) trai o marido Joe (Patrick Wilson), um religioso fervoroso, com o ateu Gavin (Charlie Hunnam). Ao descobrir o caso da mulher, o marido traído dá a Gavin uma escolha mórbida: ou ele pula do alto de um prédio, ou Shana morre. A partir daí, o filme foge aos clichês ao explorar nuanças da vida, da ética, da religião que não são facilmente classificadas. De certa forma, o cena final pode dar a impressão de que houve uma tendência para a desqualificação da posição ateísta, mas, no todo, o filme enseja a discussão de vários aspectos no cotejo entre as duas posições antagônicas. Há abordagem sobre a natureza da fé, o homossexualismo sob a ótica do cristianismo, os laços conjugais utilitários, as relações de poder no ambiente de trabalho. É um daqueles filmes que são mais complexos e interessantes do que parecem à primeira vista.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

3006 - OS MACHÕES

Os três em ação
       OS MACHÕES (BRASIL, 1972) – Apesar de ter Reginaldo Faria como o galã protagonista, além de diretor, quem realmente se destaca nesta pornochanchada meio atípica é mesmo Erasmo Carlos, cuja atuação ganhou o prêmio da APCA, de Melhor Ator Coadjuvante. O terceiro elemento é Flávio Migliaccio, também excelente com um personagem meio “clown” que ele mesmo, em sua carreira, erigiu como sua “grife” pessoal. O roteiro é direto: os três amigos passam a vida armando esquemas para ganhar dinheiro e conquistar mulheres facilmente, mas poucas vezes tem sucesso nas empreitadas. Até que, um dia, pensam no plano perfeito: os três tornam-se cabeleireiros gays para poderem se infiltrar com maior facilidade na intimidade das mulheres. Narrativamente, o filme se equivoca ao apresentar histórias paralelas com os três amigos, deixando um pouco de lado o que realmente funciona: os três, juntos em cena. É desta forma que a história alcança seus melhores momentos. Como era natural na época, o roteiro apresenta situações homofóbicas e a total reificação da mulher diante de uma sociedade predominantemente machista. Estes dois aspectos são cruciais para o entendimento do panorama cultural da época. A canção-tema foi mais um dos tiros certeiros de Roberto e Erasmo: “Mundo Cão” descreve com fidelidade o ambiente da trama e a motivação de seus personagens principais. É mesmo curioso constatar que Erasmo poderia facilmente ter seguido uma carreira de ator, por causa da sua naturalidade ao entregar as falas e ao seu “timing” cênico. Se tivesse trabalhado este talento bruto, ele certamente teria tido enorme sucesso no cinema nacional.  

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

3005 - LOGAN

Hugh Jackman, o Wolverine perfeito
      LOGAN (LOGAN, USA, 2016) – A primeira impressão, logo no começo do filme, é que Logan (Hugh Jackman) aderiu ao Uber para ganhar a vida, pois, sabemos, não está fácil para ninguém. De fato, Logan está alquebrado, cabelo e barba cheios de fios brancos, respiração ofegante. Em nada se parece com o Wolverine das sete edições anteriores do personagem no cinema. É assim, entre a aceitação e a relutância de aceitar a própria decrepitude, que Logan mergulha no longo e doloroso processo de reencontrar o homem que há dentro dele. Neste caldeirão de sofrimentos, ele ainda tem que cuidar do Professor Xavier (o grandíssimo Patrick Stewart, numa atuação de cortar o coração de tão sofrida e dramática) e de Laura, de 11 anos, cujos esqueleto e lâminas de Adamantium deixam Logan confuso e perplexo com a perspectiva de descobrir uma paternidade que, ao mesmo tempo, o repugna e o consome. O roteiro apresenta referências a dois filmes que refletem a mesma temática. A primeira, OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (1953), é mais explícita; a segunda, OS IMPERDOÁVEIS (1992), de Clint Eastwood, é mais implícita, porém igualmente impactante: é a história de um matador que sai da aposentadoria tão angustiado quanto Wolverine diante de seu último trabalho. O filme de Eastwood emula os desafios que Logan tem que enfrentar: os limites da velhice, a desilusão com os próprios feitos e a sofrida constatação de que ainda há algo importante, ainda que indefinido, por fazer e que todo mundo, mesmo os super-heróis, envelhecem.  

3004 - PAZ, AMOR E MUITO MAIS

   
Jeffrey Dean Morgan em plena cantada
 
PAZ, AMOR E MUITO MAIS (PEACE, LOVE & MISUNDERSTANDING, USA, 2011) - O filme mostra a reinvenção de Diane (Catherine Keener), uma advogada conservadora na faixa dos 40 anos que é pega de surpresa pelo pedido de divórcio do marido. Ela decide retomar o contato com a mãe, Grace (Jane Fonda), que não vê há mais de 20 anos e leva os filhos adolescentes para passar um fim de semana na casa da avó, uma autêntica riponga tardia que ainda vive seguindo os preceitos de Woodstock. Entre um conflito de geração e outro, Diane acaba se interessando por um músico, Jude (Jeffrey Dean Morgan) que, esbanjando doçura e simpatia, nem de longe, aqui, nos faz lembrar do Negan, de THE WALKING DEAD. O filme é simpático, sem ousar abordar uma temática muito aprofundada, e mesmo com a estereotipagem dos personagens, permite uma hora e meia de divertimento e leveza. Jane Fonda, mesmo com algum excesso de botox, ainda é uma atração, principalmente para quem a viu em Barbarella. 

3003 - CRIME NA MADRUGADA

    
Não é Denzel
  CRIME NA MADRUGADA (SLEEPLESS, USA 2017) – Feito com todos os clichês possíveis dos filmes deste gênero, SLEEPLESS, ao contrário do título, é um convite ao sono imediato. É lamentável ver um ator como Jamie Foxx metido numa furada dessas. O roteiro é fraco, os diálogos são muito ruins, tudo é previsível e sem graça. É o tipo de filme que a gente vai esperando pouco e acaba recebendo ainda menos. Flébil tentativa de Hollywood de refilmar NUIT BLANCHE (PURA ADRENALINA, França, 2011), que é muito melhor. Se Foxx continuar com escolhas tão ruins, nunca vai ser um novo Denzel Washington. 


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

3002 - A LUZ ENTRE OCEANOS

Vikander e Fassbender, numa situação delicada
      A LUZ ENTRE OCEANOS (THE LIGHT BETWEEN THE OCEANS, USA, 2016) – Preparem os lenços! Logo após a Primeira Grande Guerra, Tom e Isabel, casados, (Michael Fassbender e Alicia Vikander – que também são casados na vida real), vão morar numa ilha minúscula, na qual ele é responsável pelo funcionamento do farol. Ela perde dois bebês, até que, um dia, aparece um bote, com um homem já morto e um bebê. Contra a vontade de Tom, Isabel decide que vão criá-lo, sem notificar as autoridades. Anos depois, aparece a mãe verdadeira da criança, e o drama se instala na vida de todos os personagens, todos com suas razões irretocáveis em relação ao acontecido. A bela fotografia, juntamente com a boa atuação dos protagonistas, ajuda a amenizar o peso do drama que se estende até ali, quase no exagero da exploração das emoções humanas em relação à maternidade. As questões morais e éticas são colocadas de maneira clara e direta, oportunizando uma excelente oportunidade para uma reflexão sobre como e quando se deve fazer a coisa certa. Ficamos, não raro, sem saber se o certo é o melhor ou vive versa. É notável a atuação de Michael Fassbender, trazendo mais uma das suas performances cheias de sutilezas, que quase eliminam a necessidade de diálogos, assim como a de Alicia Vikander, que finalmente teve a oportunidade de mostrar alguma musculatura dramática. O argumento lembra muitas das novelas de Manoel Carlos.   

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

3001 - ROGUE ONE

 
Diego Luna, Felicity Jones e K-2SO
    ROGUE ONE (USA, 2016) – A concepção inicial de Rogue One - Uma História Star Wars nasceu a partir de um detalhe presente no clássico STAR WARS, de 1977: logo no letreiros iniciais, ficamos sabendo que os planos da Estrela da Morte tinham sido roubados pela Rogue One, possibilitando que a Aliança Rebelde tivesse uma nova esperança. Quem eram eles, nenhum dos filmes lançados respondeu E é isso que descobrimos nesta viagem .Vendo pela segunda vez, agora com mais atenção, percebo que ROGUE ONE ainda em um ritmo dissonante com a série principal: a carga dramática, ainda mais acentuada nesta edição, tem momentos de certa artificialidade que acabam comprometendo a história certinha demais, como se não pudesse se afastar das referências que já conhecemos de A NEW HOPE. Os CGIs que emulam de maneira muito insatisfatórias os personagens de Peter Cushing e de Carrie Fisher quebram imediatamente o clima, já que a nossa atenção é logo desviada para a checagem do resultado final na tela. O destaque é o sempre competente Mads Mikkelsen, como Galen Erso, pai de Jyn Erso (Felicity Jones) e da Estrela da Morte, cujos planos de construção serão roubados pelos rebeldes. A sensação que fica é que o filme poderia ter sido mais impactante, em termos de roteiro. Por outro lado, os efeitos são excepcionais e estonteantes em algumas cenas.   

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

3000 - BELEZA OCULTA

    BELEZA OCULTA (COLLATERAL BEAUTY, USA, 2016) – Estrelado por Will Smith, que esteve na Comic Con em São Paulo, neste último final de semana, BELEZA OCULTA é um drama feito para emocionar, mas por pouco não se perde na armadilha da pieguice resultante da soma de assuntos emocionalmente delicados: amor, tempo e morte. São para estas abstrações que Howard (Will Smith, em boa atuação) escreve três cartas, nas quais questiona as razões para o sofrimento que o mantém recluso e infenso a qualquer contato com o mundo: a morte de sua filha de seis anos. É claro que qualquer filme que trate de cartas me interessa sobremaneira, fui seguindo os passos do roteiro até o entrecho final e me surpreendi com uma solução bem interessante, em que amor, tempo e morte se conectam sensivelmente, unindo e resignificando as vidas dos personagens, além de nos reservar uma supresa que tira o filme da rota da lágrima fácil. Destaque, no elenco, para Keira Knightley e Michael Peña. E, claro, para Nova Iorque enfeitada para o Natal, que é sempre uma forma de voltar ao passado. O filme toca todas aquelas sensibilidades que ficam mais à flor da pele: solidão, rejeição, culpa, amor, cumplicidade, desejo de proteger, entre outras. 

domingo, 10 de dezembro de 2017

2999 - LIGA DA JUSTIÇA

  
A liga, sem muita força
    LIGA DA JUSTIÇA  (JUSTICE LEAGUE, USA, 2017) – Mais uma vez, vou contra a maré. Assim como aconteceu em MULHER-MARAVILHA, que achei um filme chocho, pretensioso e sem alma, LIGA DA JUSTIÇA também não retiniu com meu metal. Tudo – ou quase tudo - joga contra: Ben Affleck, como Batman, é o que se sabe, a Mulher-Maravilha repete a presença desenxabida do filme solo e, a partir daí, as coisas começam a se agudizar. Um Aquaman heavy-metal cético, um The Flash medroso, um Super-Homem com ares de Jesus Cristo ressusscitado, um Ciborgue claudicante nas suas intenções e um vilão estereotipado todo em CGI são a pá de cal na proposta de Joss Whedon, catapultado para a  função de diretor por causa da saída prematura de Zach Snyder, cuja filha cometeu suicídio durante as filmagens. Muito se fala do equilíbrio deste filme em relação aos outros da DC, mas isso não se constitui em grande vantagem, já que MULHER-MARAVILHA, BATMAN vs SUPERMAN são, no mínimo, sofríveis.  

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

2998 - THE LAND UNKNOWN (1957)

 
A modernidade e a pré-história
   THE LAND UNKNOWN (USA, 1957) – Este clássico da ficção científica ficou esquecido injustamente no extenso rol de produções similares que pulularam na década de 50. Uma expedição composta de três homens e uma mulher cai em uma cratera na Antártica, depois que o helicóptero em que viajavam tem uma pane. Lá, encontram um mundo pré-histórico selvagem e hostil, habitado por plantas carnívoras gigantes e dinossauros. Com os cortes no orçamento, o filme passou a ser uma daquelas produções B, em preto e branco e cenários mais acanhados. Mas, mesmo assim, o filme acaba funcionando. Os efeitos especiais são bastante decentes, e o roteiro não perde tempo com elementos não essenciais. Há, de fato, uma atmosfera sedutora nesta aventura, especialmente para quem gosta de filmes sobre mundos perdidos, como é o meu caso. THE LAND UNKNOWN, em muitos aspectos, é muito mais agradável de ver do que algumas produções recentes de Hollywood, na quais os CGIs, de tão mal feitos, comprometem a apreciação e o mergulho no “suspension of disbelief”. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

2997 - ASSASSINO A PREÇO FIXO, A RESSURREIÇÃO

Statham e Jessica Alba com cara de inteligentes
 ASSASSINO A PREÇO FIXO 2 – A RESSURREIÇÃO (MECHANIC: RESURRECTION, USA 2016) – Se o primeiro filme já não era lá essas coisas, este aqui é o fim da linha de uma franquia que não se sustentava por vários motivos. Um deles é a total fata de originalidade do roteiro: assassino-aposentado-vivendo-longe-da-civilização-é-convocado-para-um-último-trabalho-e-se-apaixona-pela-mocinha. Jason Statham sempre contou com minha simpatia. Em seus filmes ele não quer ir além do seu papel unidimensional, sem pretensões dramáticas. Mas, aqui, ele está bem abaixo do seu normal, que já é medíocre. Jessica Alba, a mocinha, de fato, não sabe atuar. É surpreendente ver Tommy Lee Jones num filme como este, pois a história e seu personagem não estão à altura de seu talento. Para piorar, os CGIs são ruins de chorar. As locações exóticas – a começar pelo bondinho do Pão do Açúcar – em nada contribuem para este desperdício de tempo e dinheiro. Além disso, o apêndice do título – A RESSURREIÇÃO – é a prova de que não se poderia mesmo esperar muito desta produção canhestra, cujo binarismo moral insulta a inteligência do espectador mais atento.  

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

2996 - SHOULDER'S ARMS (1918)

Chaplin de árvore: hilário
       SHOULDER’S ARMS (USA, 1918) – Mais um obra-prima de Chaplin. Na primeira Grande Guerra. Aqui, ele é um soldado na trincheira que sonha em ser um herói. Há cenas marcantes: Chaplin disfarçado de árvore é uma delas; outra é quando, no fim do filme, aparece caracterizado de oficial alemão, exatamente como Hitler o faria, dez anos depois. Só um artista excepcional como ele poderia fazer humor com os horrores da Primeira Guerra, com um estupendo trabalho de câmera e com sequências criativas e inesperadas. Pode ter sido considerado uma propaganda para os EUA, mas o tempo se encarregou de mostrar que, antes de tudo, é mesmo mais um trabalho magistral de um gênio do cinema, que deve ter sua obra sempre revista. Chaplin sofreu muitas críticas na época por parte dos intelectuais britânicos que afirmavam que o diretor havia fugido do conflito, por não ter se alistado como voluntário a favor do seu país, a Inglaterra. O filme, em certa medida, é uma resposta indireta e bem criativa a este grupo.

sábado, 2 de dezembro de 2017

2995 - VIRANDO A PÁGINA

 
Grant, em aula
     
VIRANDO A PÁGINA (THE REWRITE, USA 2015) – Hugh Grant tem um talento único: faz a si mesmo com perfeição. Em três filmes, o argumento é o mesmo: seu personagem é sempre alguém que fez um grande sucesso e, de repente, se vê diante de um recomeço. Foi assim em ABOUT A BOY, LETRA E MÚSICA e, agora, neste VIRANDO A PÁGINA, ótimo título em português para uma história sobre um roteirista de um grande sucesso em Hollywood e que vai dar aulas de redação em uma universidade. O fato é que Grant, nestes três filmes, consegue repetir os mesmos trejeitos, sem ser cansativo, e mantém uma curiosa e rara conivência com o espectador, seduzindo-o com um olhar melancólico e uma atitude irônica que nos parece agradável e permanentemente familiar. Embora o filme prometa uma comédia leve, VIRANDO A PÁGINA traz elementos reflexivos bem profundos, misturados em cenas aparentemente apenas engraçadas. Grant achou seu caminho dramático ao encarar, sem medo, os limites da idade. Sem reinventar a roda, o filme lança luzes sobre os aspectos fugazes da fama, o valor das relações verdadeiras que florescem sem a selvagem competitividade do mundo pós-moderno, além de ter um novo olhar para o ambiente de uma sala de aula numa daquelas encantadoras universidades americanas. 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

2994 - O SINAL

 
Peretti e Darín
    O SINAL (LA SEÑAL, Argentina, 2007) – Apesar das críticas negativas, esta estreia de Ricardo Darín na direção é bem razoável. Neste “noir” portenho, ele é um detetive particular que divide o escritório com seu sócio (Diego Peretti), sempre às voltas com casos pequenos, mais enfadonhos do que estimulantes. Até que o pedido da mulher-fatal da receita do “noir” (Julieta Diaz, do ótimo O AMOR NÃO TEM TAMANHO), para que ele investigue uma pessoa, o faz redescobrir novos horizontes em sua vida. A fotografia esmaecida é caprichada. A história, contudo, vai perdendo um pouco de força, à medida que se encaminha para o desfecho. Há um aspecto trágico real no filme: o diretor inicial, Eduardo Mignogna, morreu antes de começar o filme – Darín, então, resolveu dirigi-lo. De qualquer forma, convém lembrar de que Ricardo Darín é obrigatório em qualquer circunstância. Por isso, vale a pena conferir.