Hunt e Matlin, uma amor além das palavras |
FILHOS DO SILÊNCIO (CHILDREN
OF A LESSER GOD, USA 1986) – FILHOS
DO SILÊNCIO é uma belíssima história de amor que vai além das palavras: um
professor de surdos, James Leeds (William Hurt) se apaixona pela zeladora deficiente
auditiva, Sarah Norman (Marlee Matlin), da escola em que trabalha. Nesta história,
o sentimento é tão simples e o conflito tão plausível, que nos sentimos menos
vendo um filme, mas sim acompanhando dois amigos através de seu processo de
descoberta do amor. Toda cena é como uma fotografia capturando a essência de
cada momento do processo de aproximação entre James e Sarah. Ah, e há os olhos
de Marlee, impressionantemente expressivos, muito além de qualquer palavra. Em
certos momentos, é como se estivéssemos vendo uma pintura em movimento, como se
Vermeer ou Michelangelo estivessem a cargo da direção. O filme é uma poderosa
mensagem de amor incondicional, aceitação mútua e crescimento pessoal, em que a
diretora Randa Haines documenta, meticulosamente, os esforços necessários para
a realização de um verdadeiro relacionamento amoroso. Há cenas memoráveis. Numa
delas, Sarah, na borda da piscina, apenas observa James, quando ele vem
procurá-la – é inacreditável o que seus olhos dizem. Em outra cena linda,
James, que adora Bach, diz a Sarah que não consegue mais apreciar a música,
pelo fato de ela não poder. Numa sequência emocionante, depois de uma breve separação,
James mergulha na piscina, como se quisesse reencontrar Sarah no silencioso mundo
submerso e líquido. Também impressionante é a atuação de Hurt, praticamente
minimalista, permitindo que seus silêncios sejam tão eloquentes quanto o de
Sarah. Não é de se admirar que os dois atores tenham se aproximado romanticamente
durante as gravações. Está clara em cena a alta voltagem entre os dois. Marlee
recebeu justamente o Oscar por esta atuação. Infelizmente, ela nunca mais teve a
oportunidade de ter outros papéis à altura de seu imenso talento.