STRANGER THINGS (USA, 2016) – Para quem atravessou os anos 70 e 80, ST é o paraíso dos “easter eggs”:
as referências aos panorama pop das duas décadas pululam em todas as cenas
desta série que, como todo bom trabalho de roteiro, começa meio morna, mas vai
tomando corpo à medida em que as histórias vão se entrelaçando e apontando para
outras vertentes. Os irmãos Matt e Ross Duffer conseguiram ir além de uma
recriação retrô, construindo uma história que vai fascinando não só pelas
referências do passado recente, mas também pelas possibilidade que se
vislumbram no futuro dos personagens que certamente já vimos em filmes de John Carpenter,
Spielberg, John Hughes ou nas adaptações de Stephen King. Estamos, portanto, num
mundo diferente do que se conhece hoje: sem celular ou internet, a vida parecia
mais simples, havia tempo para as crianças brincarem juntas no porão, a quase desnecessidade
de competir e se exibir dava espaço para o surgimento das amizades profundas da
infância o ritmo menos acelerado permitia uma contemplação que, hoje, seria percebida,
no mínimo, com preocupante estranhamento. O elemento sobrenatural que desponta na
história sublinha o impacto das recordações dos filmes de Spielberg e dá um excelente
pano de fundo para um elenco espectacular, a começar pela turma infantil, perfeitamente
integrada à trama. É neste grupo que se destaca Millie Bobby Brown, uma baita atriz,
pronta, intensa, cuja expressividade, isso sim, parece ser de outro mundo. Na parte
adulta, Winona Ryder é a atriz mais fraca. Ela leva um baile na cenas com o excelente
David Harbour, o xerife da cidadezinha que, meio indiferente a princípio, vai se
lançando como uma locomotiva desgovernada no sentido de desvendar os mistérios da
trama. Assistir aos oito episódios desta primeira temporada é como ver um filme
longo que, em nenhum momento, cansa ou nos faz perder o interesse. A coisa mais
estranha seria não cair de cabeça na segunda temporada.