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O FILHO DA NOIVA (EL HIJO DE LA NOVIA,
ARGENTINA, 2001) – Para manter uma tradição que começou ano
passado, quando, no primeiro dia do ano, assisti ao excelente TRUMAN, com Ricardo
Darín, inicio 2018 revisitando O FILHO DA NOIVA, de 2001, um belo melodrama
sobre o desalento que tomava conta da Argentina naquela época. E, em se falando
de tradição, não custa repetir: Ricardo Darín é obrigatório. Aqui, ele é
Rafael, um quarentão estressadíssimo que tenta manter funcionando o restaurante
herdado dos pais (estupendamente interpretados por Héctor Alterio e Norma
Aleandro, protagonistas, em 1984, do marcante A HISTÓRIA OFICIAL), enquanto
finge para si mesmo que tem uma vida. Não dá a atenção devida à filha e à
namorada e foge da mãe, internada com Alzheimer, para não ter que se confrontar
com os traumas que sua relação com ela produziu. Rafael também dorme pouco e
fuma muito, o que o torna candidatíssimo a um infarto. Quando este sobrevém, os
dias passados numa UTI o convencem de que algo tem que mudar. É a partir daí,
que o diretor Juan José Campanella vai construindo uma bela e emocionante
história em que os personagens podem ser interpretados como alegorias da
desilusão e do sofrimento do povo argentino, que tanto acreditavam que seu país
daria certo, finalmente. Darín, como sempre, está irretocável – é o patrimônio
maior da cultura dos portenhos. Destaque também para Eduardo Blanco e Natalia
Verbeke. Perceba a clara referência ao Zorro interpretado por Guy Williams,
enorme sucesso na Argentina. Atenção para uma das mais belas declarações de
amor do cinema, com Darín, feita através de um interfone.
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Alterio, Norma Aleandro e Darín, notáveis... |