LAR DAS
CRIANÇAS PECULIARES (MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN,
USA/INGLATERRA/BÉLGICA, 2016) – Como em todo
filme de Tim Burton, aqui o mundo adulto é um pote até aqui de mágoas e um lugar
traiçoeiro, onde a fantasia é vista como ameaça à ordem. A partir daí, Burton vai
costurando lembranças, traumas, desilusões numa narrativa que vai acumulando o desajuste
e o isolamento com obsessões visuais que remetem a um delírio de Salvador Dali.
Jake (Asa Butterfield, com atuação aquém da expectativa) sempre acreditou nas histórias
do avô, Abe (Terence Stamp), que morreu recentemente. A mais extraordinária dá conta
de um estranho orfanato que sobreviveu aos bombardeios da guerra, e onde um grupo
de crianças com poderes extraordinários, sob os cuidados de Miss Peregrine (Eva
Green, mesmerizante, como sempre), vive isolado do mundo. Jake encontra uma forma
de volta ao passado e visitar o lugar, ao mesmo tempo em que vai reconstruindo emocionalmente
os danos que a falta do avô lhe causou. Assoma-se, em certo momento uma história
com a leveza e a graça dos antigos trabalhos de Burton, sem, porém, a corrente anímica
que o levou, com méritos, ao panteão dos grandes diretores contemporâneos.