terça-feira, 9 de janeiro de 2018

3015 - STAR WARS - OS ÚLTIMOS JEDI

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Daqui para frente, tudo poderia ter sido diferente...
STAR WARS – OS ÚLTIMOS JEDI (STAR WARS: THE LAST JEDI, USA, 2017) – Depois da emoção incontida e coletiva provocada pela última cena de O DESPERTAR DA FORÇA, quando Rey (Daisy Ridley) se vê finalmente diante de Luke (Mark Hammil), numa cena visceralmente surpreendente, que conseguiu unir o universo (em todos os sentidos) do ciclo canônico iniciado nos anos 70 com a proposta de um novo panteão de personagens e a oxigenação da trama que parecia ter se perdido nos três filmes intermediários, era de se esperar que o diretor Rian Johnson aproveitasse a chance de realizar um grande filme que, pelo menos, se ombreasse com a obra-prima de J.J. Abrams. Só que não aproveitou. A emoção, pura, pulsante, perfeita, estava pronta para fisgar tanto o espectador comum quanto o o fã mais radical, mas Johnson resolveu ir por um caminho diferente e, nem por isso, melhor. Num didatismo meio forçado, submete o público a uma avalanche de minúcias, numa abordagem explicativa que põe sempre em risco a magia de uma história que nunca precisou explicar, por exemplo, o que era Força. A Força é a Força, pronto! Não é para ser explicada, entendeu? Ao detalhá-la, Johnson se assemelha a um time de futebol que, de tanto se defender, acaba fazendo um gol contra. Sim, ele é um diretor medroso e, indesculpavelmente, destituído de talento e sensibilidade, ao não valorizar a ingente expectativa que o filme anterior gerou. Ele demora a fazer a movimentação dos personagens, exagera nas longas sequências dedicadas a subtramas desimportantes e desperdiça imaturamente um capital emocional cultivado ao longo de décadas (e isso não se compra num supermercado) para, por exemplo, esvaziar a pungência de algumas cenas – Carrie Fisher merecia muito mais, convenhamos. Ao revisitar personagens pivotais, como Yoda, na constrangedora cena com Luke, o diretor compromete não só a história que tinha em mãos, mas também fere de morte as referências afetivas que se construíram em torno destas figuras. Os CGIs continuam excelentes, porém parecem apenas servir como camadas diversionistas para um miolo insatisfatório. Talvez esta sensação se esvaia com o tempo, e o filme passe a ter um significado mais próximo à enorme expectativa que o filme VII estabeleceu. Agora, além do niilismo temático, fica-nos o abismo gnóstico de tudo aquilo que poderia ter sido e não foi. Johnson teve a chance de resumir, na mesma narrativa, todos os “motifs” que o universo de STAR WARS foi acumulando ao longo de tantos anos. Ele preferiu, despudoradamente, expor ao público a cicatriz que sua falta de talento produziu. Isso causou, entre outros aspectos, um predicamento incontornável – até Rey (Daisy Ridley, ainda ótima, mas sem ser a atriz catalisadora do primeiro filme) não consegue reencontrar o Luke que vivia no inconsciente coletivo de todos que optaram, um dia, pela Força, sem precisar entendê-la “in totum”. Um diretor despreparado como Johnson, ao tirar o filme VIII dos trilhos que J. J. Abrams havia habilmente preparado em O DESPERTAR DA FORÇA, inviabiliza, por inépcia, os axiomas que sustentam e legitimam a expectativa natural de três gerações, tal como a busca de uma motivação que apenas existe, inquestionavelmente, e permanece em função da magia do cinema, ao perpetuar a arte de contar uma história. Mesmo que este relato tenha lá seus defeitos. Afinal, mesmo um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia. Perdeu-se, portanto, a chance de uma abordagem mais hamletiana, na qual a devastadora consciência dos personagens (Luke? Rey?) determinasse, por si só, que a história que todos nós amamos caminhasse descalça pelo arame farpado do clichê e do acanhamento artístico, corajosamente, naturalmente, no presente, no passado e no futuro, em uma galáxia muito, muito distante, com imperfeições, certamente, mas todas elas pertencentes à saga e não a um diretor claramente limitado. Algo digno de STAR WARS, enfim. Como todos esperavam...