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STAR
WARS – OS ÚLTIMOS JEDI (STAR WARS: THE LAST JEDI, USA, 2017) – Depois
da emoção incontida e coletiva provocada pela última cena de O DESPERTAR DA
FORÇA, quando Rey (Daisy Ridley) se vê finalmente diante de Luke (Mark Hammil),
numa cena visceralmente surpreendente, que conseguiu unir o universo (em todos
os sentidos) do ciclo canônico iniciado nos anos 70 com a proposta de um novo
panteão de personagens e a oxigenação da trama que parecia ter se perdido nos
três filmes intermediários, era de se esperar que o diretor Rian Johnson
aproveitasse a chance de realizar um grande filme que, pelo menos, se ombreasse
com a obra-prima de J.J. Abrams. Só que não aproveitou. A emoção, pura,
pulsante, perfeita, estava pronta para fisgar tanto o espectador comum quanto o
o fã mais radical, mas Johnson resolveu ir por um caminho diferente e, nem por
isso, melhor. Num didatismo meio forçado, submete o público a uma avalanche de
minúcias, numa abordagem explicativa que põe sempre em risco a magia de uma
história que nunca precisou explicar, por exemplo, o que era Força. A Força é a
Força, pronto! Não é para ser explicada, entendeu? Ao detalhá-la, Johnson se
assemelha a um time de futebol que, de tanto se defender, acaba fazendo um gol
contra. Sim, ele é um diretor medroso e, indesculpavelmente, destituído de
talento e sensibilidade, ao não valorizar a ingente expectativa que o filme
anterior gerou. Ele demora a fazer a movimentação dos personagens, exagera nas
longas sequências dedicadas a subtramas desimportantes e desperdiça
imaturamente um capital emocional cultivado ao longo de décadas (e isso não se
compra num supermercado) para, por exemplo, esvaziar a pungência de algumas
cenas – Carrie Fisher merecia muito mais, convenhamos. Ao revisitar personagens
pivotais, como Yoda, na constrangedora cena com Luke, o diretor compromete não
só a história que tinha em mãos, mas também fere de morte as referências
afetivas que se construíram em torno destas figuras. Os CGIs continuam
excelentes, porém parecem apenas servir como camadas diversionistas para um
miolo insatisfatório. Talvez esta sensação se esvaia com o tempo, e o filme
passe a ter um significado mais próximo à enorme expectativa que o filme
VII estabeleceu. Agora, além do niilismo temático, fica-nos o abismo gnóstico de
tudo aquilo que poderia ter sido e não foi. Johnson teve a chance de resumir,
na mesma narrativa, todos os “motifs” que o universo de STAR WARS foi
acumulando ao longo de tantos anos. Ele preferiu, despudoradamente, expor ao
público a cicatriz que sua falta de talento produziu. Isso causou, entre outros
aspectos, um predicamento incontornável – até Rey (Daisy Ridley, ainda ótima,
mas sem ser a atriz catalisadora do primeiro filme) não consegue reencontrar o
Luke que vivia no inconsciente coletivo de todos que optaram, um dia, pela
Força, sem precisar entendê-la “in totum”. Um diretor despreparado como Johnson,
ao tirar o filme VIII dos trilhos que J. J. Abrams havia habilmente preparado
em O DESPERTAR DA FORÇA, inviabiliza, por inépcia, os axiomas que sustentam e legitimam a
expectativa natural de três gerações, tal como a busca de uma motivação que
apenas existe, inquestionavelmente, e permanece em função da magia do cinema, ao perpetuar a arte de
contar uma história. Mesmo que este relato tenha lá seus defeitos. Afinal,
mesmo um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia. Perdeu-se,
portanto, a chance de uma abordagem mais hamletiana, na qual a devastadora
consciência dos personagens (Luke? Rey?) determinasse, por si só, que a história
que todos nós amamos caminhasse descalça pelo arame farpado do clichê e do acanhamento artístico,
corajosamente, naturalmente, no presente, no passado e no futuro, em uma
galáxia muito, muito distante, com imperfeições, certamente, mas todas elas pertencentes à saga e não a um diretor claramente limitado. Algo digno de STAR WARS, enfim. Como todos esperavam...
Daqui para frente, tudo poderia ter sido diferente... |