quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

4631 - 8 1/2 (continuação, 1963)


 8 ½ (Itália, 1963) – Quando Fellini faz de Marcello Mastroiani seu alter-ego no papel de Guido Anselmi, ele tem o cuidado de tirar o personagem do centro do roteiro, num movimento narrativo envolvendo as consequências de suas posturas pessoais e escolhas artísticas e nos convidando a construir uma outra história, uma quase biografia de cada espectador, em função dos arquétipos afetivos (Espinoza) apresentados pelas memórias de infância e fantasias do seu espírito confrangido pela pressão de realizar uma obra-prima. Isso nos leva à impressão da incompletude do filme assistido/construído por nós, diante de um mundo diegético ainda incompleto. Há também um convite permanente para o quem assiste: a capacidade de se ver em vários mundos e dimensões temporais diferentes e relacioná-las, após descobrir o fio condutor que os enfeixe num continuum ancho de sentidos. Assim, Fellini faz uma reflexão sobre o fazer artístico, com toda a sua carga de subjetividade, especialmente quando está submetido à indústria cultural, como aponta a Escola de Frankfurt. A crise pessoal e criativa do diretor é uma alegoria, para dizer o mínimo, da angústia de todos nós diante da obra existencial sempiterna, em permanente andamento, da nossa própria vida. When Fellini makes Marcello Mastroiani his alter-ego in the role of Guido Anselmi, he is careful to take the character out of the center of the script, in a narrative movement involving the consequences of his personal postures and artistic choices and inviting us to build another story, an almost biography of each spectator, according to the affective archetypes (Espinoza) presented by childhood memories and fantasies of his spirit constrained by the pressure of making a masterpiece. This leads us to the impression of the incompleteness of the film watched/constructed by us, in the face of a diegetic world that is still incomplete. There is also a permanent invitation for the viewer: the ability to see oneself in several different worlds and temporal dimensions and relate to them, after discovering the common thread that brings them together in a continuum of meanings. Thus, Fellini reflects on artistic making, with all its subjectivity, especially when it is submitted to the cultural industry, as the Frankfurt School points out. The director's personal and creative crisis is an allegory, to say the least, of the anguish of all of us in the face of the everlasting existential work, in permanent progress, of our own life. DVD.