quinta-feira, 19 de outubro de 2017

2960 - ANIMAIS NOTURNOS

Amy Adams, num ensaio sobre a beleza e a feiura represada
      ANIMAIS NOTURNOS (NOCTURNAL ANIMALS, USA 2016) – Tom Ford, além de diretor, é designer e magnata da moda. Tal currículo o faz ter um apreço exacerbado pela estética, quase como uma obsessão que, contida, emerge, aqui e ali, quando menos se espera. É assim que ele apresenta ANIMAIS NOTURNOS: como um desfile de sentimentos e impressões que, a cada mudança de roupa/cena/personagem, explode no cultivo do belo, do simétrico, do “clean” total, do perfeito, do rarefeito. É exatamente aí que ele joga com uma certa ambiguidade – na beleza aparentemente equilibrada da vida da galerista Susan Morrow (Amy Adams, excelente), escondem-se feiuras que o tempo tratou de reprimir. Quando recebe um livro escrito pelo ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal) e começa a lê-lo, Susan vai percorrendo um caminho que a deixou anestesiada pela culpa. Os tons narrativos vão se superpondo, como tecidos diáfanos sob a roupagem principal. Gosto, sobretudo, de filmes que têm livros como elementos da história. E é através da leitura de Susan que os fantasmas, dela e de Edward, reaparecem dando novo significado à história interrompida de suas vidas. É um filme que se equilibra entre a abordagem cerebral e o açulamento das emoções represadas pela culpa e a vingança. O espetacular Michael Shannon aparece como um policial cujo oblíquo código moral dá ao roteiro – e aos personagens - uma válvula de escape inesperada.