Gênio |
O GAROTO (THE KID, USA, 1921) – Depois
de abandonar seu filho recém-nascido numa limusine – na esperança de que ele
pudesse ser criado por uma família rica – o carro é roubado por dois ladrões.
Quando se dão conta de que havia um bebê no banco de trás, eles o deixam perto
de um monte de lixo, onde é encontrado pelo vagabundo vivido magistralmente por
Chaplin. É a partir desta premissa que o filme vai construindo uma atmosfera
perfeitamente balanceada entre comédia e drama. A história já foi interpretada
como uma alegoria cristã, mas, agora, revendo a obra, percebo que Chaplin possa
ter querido fazer uma abordagem crítica do tema, ao exagerar a dramaticidade em
algumas sequências. Tanto que, conceitos como generosidade e arrependimento, posse
e não posse, querer e não querer perpassam toda a história, a partir do momento
em que a mãe rejeita o filho, para, depois querê-lo de volta. De todo modo, é impressionante
como uma obra-prima como esta pôde ser realizada há quase cem anos, numa plataforma
que requer o trabalho de vários profissionais, por apenas uma pessoa. É impressionante
como Chaplin consegue colocar tantos aspectos subliminares, tanto “pathos” e tanta
hilaridade em um tempo relativamente curto. Isso sem falar na sensível abordagem
dos problemas sociais relacionados com a pobreza, situação vivida pelo próprio Chaplin
na sua infância, na Inglaterra.