JACKIE (USA, 2016) – O filme do chileno Pablo Larrain enfoca o sofrimento de Jacqueline Kennedy, nos dias subsequentes ao assassinato do marido, em em 23 de novembro de 1963. Aí, reside a originalidade do roteiro: como teria se comportado a primeira-dama dos EUA, logo depois da tragédia em Dallas, a sua imensa dor e a preocupação com o seu futuro e dos dois filhos. Desta forma, vemos aqui um retrato psicológico da devastação emocional por que Jackie passou, suas dúvidas, suspeitas e, além de tudo, sua total devoção à memória de JFK. A trilha sonora meio fantasmagórica de Mica Levi dá uma dimensão sobrenatural às longas sequências de Jackie na Casa Branca, nas quais ela parece tocar de leve os objetos que lhe traziam de volta a presença de Kennedy. Tudo gira em torno da atuação de Natalie Portman que, de fato, vai além das expectativas, embora, em alguns momentos, ela própria pareça não suportar a carga dramática de um personagem tão intenso. De qualquer forma, Portman vai perfilar ao lado de Helen Mirren (A RAINHA), Marion Cotillard (EDITH PIAF) e Meryl Streep (THE IRON LADY), como uma das mais perfeitas personificações nas telas. Foi emocionante ver um dos últimos trabalhos de John Hurt, falecido há apenas três dias atrás – no filme, ele é o padre que ouve Jackie enquanto caminham por uma longa alameda. Peter Sarsgaard não convence muito como Bobby nem John Carroll Lynch como Lyndon Johnson, embora este último tenha pouquíssimo tempo em cena. JACKIE é um filme que faz jus a esta que é uma das mais dramáticas histórias de todos os tempos – o assassinato de Kennedy – e, como aconteceu em PARKLAND, joga luzes em personagens nem tão secundários assim, mas que foram essenciais para o fascínio da era de Camelot para o mundo desde então.