BATMAN VS SUPERMAN (USA, 2016) – O filme de Zack Snyder possui, à feição de seu diretor, imagens intensas e táteis que acabam dizimando o roteiro que já é fraco e nos deixando com a impressão de que perdemos tempo tentando achar algo que nos foi prometido, mas que não foi entregue. Falta a BvsS unidade dramática – tem-se a sensação de que começamos a assistir a um filme e terminamos vendo outro. A ausência de ritmo é o efeito colateral mais percebido, à medida em que o paradigma narrativo vai perdendo a uniformidade e emerge uma total desconexão entre personagens e a história propriamente dita. A necessidade de apresentar um desses personagens para a franquia – o caso da Mulher-Maravilha – parece estar acima da coerência narrativa, pois em nada acrescenta à trama e às subtramas, todas estéreis, compartimentalizadas e sem unidade. Por incrível que pareça, Ben Affleck talvez seja o ponto alto do filme, embora continue aqui o péssimo ator que sempre foi. Ele se destaca porque empresta ao Batman da vez uma carga de frustração e desilusão que não é oriunda do talento, mas do sofrimento de ter tido - ele, Affleck - uma vida profissional como ator (sim, apenas isso, pois ele é ótimo diretor) e particular tão acidentadas. É um feliz caso de coincidência entre ator e personagem em que as dores existenciais do primeiro ajudam a projeção do segundo. Amy Adams está perdida e desperdiçada, assim como o grandíssimo Jeremy Irons, como o Alfred mais inócuo projetado numa tela. Nada a comentar sobre o Superman, vivido por Henry Cavill – é mesmo uma pedreira criar conflitos para um personagem tão certinho, tão politicamente correto e, convenhamos, tão chato. Zack Snyder é um bom diretor no lugar errado e, como já foi dito, não segura a onda de explosões físicas que, ao fim, inibem a única cabível e desejada: a dramática. Há de se observar que o roteiro possui um laivo premonitório nestes tempos de pós-verdades: a verdadeira ameaça é a neurose de um homem pelo poder, a qualquer custo. E Trump nem tinha sido eleito.