O PROFESSOR ALOPRADO (THE NUTTY
PROFESSOR, USA 1963) – Este
é um dos filmes mais importantes da carreira de Jerry Lewis, principalmente por
não ser a comédia escancarada que se espera de um ator que fizera DELINQUENTE
DELICADO (1957) e O TERROR DAS MULHERES (1961). THE NUTTY PROFESSOR tangencia elementos da bipolaridade humana – Dr. Jeckill e Mr. Hyde e laivos faustianos
são referências recorrentes durante a história que lida com a fantasia da
metamorfose. O professor Julius Kelps (Lewis), que é o que hoje se chamaria de
“nerd”, tenta superar suas deficiências estéticas e sociais ao desenvolver uma
poção que o transforma em Buddy Love, um homem bonito, descolado, com aquele
jeito de malandro que se dá bem em tudo (percebam como, desde esta época, este
padrão de virilidade está estabelecido). Ao criar uma nova persona, Kelps
projeta a disparidade entre seus desejos sexuais (está apaixonado por Purdy, a
belíssima Stella Stevens) e a competência para realizá-los num novo personagem
que, de certa forma, é um “upgrade” (no seu entendimento primário) dele mesmo.
Ou seja, o professor desajeitado (talvez um título melhor para o filme) sofre
“bullying” dos alunos e dos seus superiores, o que, entre outros fatores, o
leva a concluir que nunca será objeto do amor de Purdy. Seu ego substituto é,
em princípio, um modelo de protesto masculino e de comportamento compensatório,
já que, quando em cena, aparece em cores chamativas e com uma postura
empertigada, em contraste com o acanhado Kelps. É exatamente aí que THE NUTTY
PROFESSOR introduz uma alegoria fálica, na qual Love representa Kelps em um
estado ereto, ativo e ameaçador. Além disso aponta para uma análise do status
do homem numa cultura que, então e ainda, vive apontando para suas falhas
estruturais e, assim, incentivando a agressividade e competição desmedida como
características imanentes ao gênero masculino. Isso é demonstrado através da
constante irregularidade do alter-ego de Kelps – sua transformação num Übermensch nietzschiano é temporária, pois os efeitos da
poção não duram nem umas poucas horas, denunciando sua superficialidade. Depois
de um tempo, Kelps se dá conta de que seu objetivo maior – a conquista do amor
de Purdy – só se dará com a aceitação de sua verdade, da sua real
personalidade, cujas qualidades se superpõem a tudo que é imposto culturalmente
como certo, obrigatório e definitivo. Por outro lado, o roteiro, se visto sob
uma ótica mais perfunctória, tem a ver com o eterno esforço para conquistar a menina
mais bonita da escola, empresa recorrente em várias manifestações culturais humanas,
principalmente no cinema.