sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

2858 - O PROFESSOR ALOPRADO

     
O PROFESSOR ALOPRADO (THE NUTTY PROFESSOR, USA 1963) – Este é um dos filmes mais importantes da carreira de Jerry Lewis, principalmente por não ser a comédia escancarada que se espera de um ator que fizera DELINQUENTE DELICADO (1957) e O TERROR DAS MULHERES (1961). THE NUTTY PROFESSOR tangencia elementos da bipolaridade humana – Dr. Jeckill e Mr. Hyde e laivos faustianos são referências recorrentes durante a história que lida com a fantasia da metamorfose. O professor Julius Kelps (Lewis), que é o que hoje se chamaria de “nerd”, tenta superar suas deficiências estéticas e sociais ao desenvolver uma poção que o transforma em Buddy Love, um homem bonito, descolado, com aquele jeito de malandro que se dá bem em tudo (percebam como, desde esta época, este padrão de virilidade está estabelecido). Ao criar uma nova persona, Kelps projeta a disparidade entre seus desejos sexuais (está apaixonado por Purdy, a belíssima Stella Stevens) e a competência para realizá-los num novo personagem que, de certa forma, é um “upgrade” (no seu entendimento primário) dele mesmo. Ou seja, o professor desajeitado (talvez um título melhor para o filme) sofre “bullying” dos alunos e dos seus superiores, o que, entre outros fatores, o leva a concluir que nunca será objeto do amor de Purdy. Seu ego substituto é, em princípio, um modelo de protesto masculino e de comportamento compensatório, já que, quando em cena, aparece em cores chamativas e com uma postura empertigada, em contraste com o acanhado Kelps. É exatamente aí que THE NUTTY PROFESSOR introduz uma alegoria fálica, na qual Love representa Kelps em um estado ereto, ativo e ameaçador. Além disso aponta para uma análise do status do homem numa cultura que, então e ainda, vive apontando para suas falhas estruturais e, assim, incentivando a agressividade e competição desmedida como características imanentes ao gênero masculino. Isso é demonstrado através da constante irregularidade do alter-ego de Kelps – sua transformação num Übermensch nietzschiano é temporária, pois os efeitos da poção não duram nem umas poucas horas, denunciando sua superficialidade. Depois de um tempo, Kelps se dá conta de que seu objetivo maior – a conquista do amor de Purdy – só se dará com a aceitação de sua verdade, da sua real personalidade, cujas qualidades se superpõem a tudo que é imposto culturalmente como certo, obrigatório e definitivo. Por outro lado, o roteiro, se visto sob uma ótica mais perfunctória, tem a ver com o eterno esforço para conquistar a menina mais bonita da escola, empresa recorrente em várias manifestações culturais humanas, principalmente no cinema.