terça-feira, 3 de janeiro de 2017

2854 - TRUMAN



TRUMAN (TRUMAN, Espanha/Argentina, 2015) – Delicado e sensível ensaio sobre a solidão, o amor e a despedida, com dois atores excepcionais: Ricardo Darín e Javier Cámara. Desde o momento em que Tomás (Cámara) viaja do Canadá para a Espanha para visitar seu amigo Julian (Darín), o que se vê na tela é um filme que segue a cartilha dos invejáveis roteiros do atual cinema de língua espanhola. A abordagem “bitter sweet” é poética e traz um dos melhores retratos do que pode ser uma amizade profunda, na qual há respeito, admiração, carinho e total entendimento. Os diálogos são preciosos e os silêncios entre os dois protagonistas são de cortar o coração. Contudo, não é um filme de lágrima fácil – muito pelo contrário, é uma homenagem a um sentimento que anda cada vez mais rarefeito, muito em função da absurda e injustificada competição e vaidade que, infelizmente, caracterizam a maioria das relações de amizade atualmente. Atenção para uma das primeiras cenas, na qual os dois se reencontram – tudo é traduzido pelo olhar. O foco da narrativa está numa questão basilar: até que ponto podemos manejar e controlar a nossa própria vida, mantendo as rédeas até seu último instante e garantindo até mesmo situações posteriores a ela mesma? Que domínio podemos ter sobre a própria morte? Qual a melhor maneira de se despedir da vida? E como nossas decisões podem afetar os outros? Que direito temos de levá-los a compartilhar de nossos desejos fúnebres? Quais são esses limites? Assim, a história vai jogando luzes nestas e em outras questões existenciais, sempre a um passo do nível mais surpreendente de consciência, numa rara e feliz conjunção do drama e do humor, elementos básicos na constituição de nossas existências. Além disso, nunca é demais dizer que qualquer filme com Ricardo Darín é obrigatório.