RITA – TEMP 2 –
8 EPISÓDIOS (RITA, Dinamarca, 2013) – Nesta temporada, Rita (Mille Dinesen)
aprofunda sua relação com Ramus (Carsten Bjornlund) num convívio onde fica
evidente suas posições existenciais – Rita domina, e Ramus parece se deixar dominar,
numa passividade quase pedagógica – e isso, gradualmente, vai afetando Rita
positivamente. A protagonista continua sendo um elemento disruptivo numa
sociedade aparentemente sem contradições e com uma linha de conduta linear. Em dado momento, a hipocrisia fica evidente. In this
season, Rita deepens her relationship with Ramus and this highlights their
existential positions – Rita dominates whilst Ramus seems to allow the
domination, in an almost pedagogical way, which affects Rita positively. She keeps
on being a disruptive element in a society apparently devoid of contradictions
and in favor of a linear behavior. At a certain point, hypocrisy pops up. Netflix.
THE CROWN –
TEMP 3 – 10 EPISÓDIOS (UK, 2019) – Não era mesmo fácil passar pela
transição do elenco num período de
tempo tão curto. Foi dureza tentar esquecer a presença angustiada e sofrida, ao
mesmo tempo doce e suave, de Claire Foy, como Lilibeth. Mas, enfim, a terceira
temporada começa com Olivia Colman como a rainha e, apesar de todos os elogios,
ela sempre me pareceu um pouco desconfortável no papel. Essencialmente, o nível
de THE CROWN continua altíssimo. Colman é tão fascinante quanto Foy nas
temporadas anteriores. Contudo, Olivia tem menos área de manobra para dar
amplitude dramática ao seu personagem. Nesta
temporada, o destaque é Tobias Menze, como Philip, Erin Doherty, como a
princesa Anne e Josh O’Connor, como Charles. Sente-se falta de Vanesa Kirby
dando vida e alma a Margaret – a talentosa Helena Bonham-Carter não teve espaço
para desenvolver uma Margot mais velha e amargurada num casamento infeliz. A fotografia
e a produção, além do figurino, são impactantes e uma maravilha para os olhos. As atuações continuam soberbas. It was not easy to go
through the cast transition from the brilliant two previous seasons to this one
– it is not easy undergoing such a big change in a short space of time. It was
tough to try to forget Claire Foy’s anguished and, at the same time, sweet presence
as Lilibeth. Anyway, the third season starts with Olivia Colman as the queen
and despite all the compliments she seems to me a little bit uncomfortable on the
role. Essentially, the quality of The Crown is untarnished. Colman is as exquisite as
Foy was. Nevertheless, Colman gets less of a platform to really stretch herself
here. In this season, the
highlights are Tobias Menze as Philip, Erin Doherty as princess Anne, and Josh
O’Connor as Charles. Vanessa Kirby is deeply missed as Margaret – the talented
Helena Bonham-Carter had no room to develop a much older and unhappy Margot in
a failed marriage. The photography and production and costume design are
evocative and a sight to behold. The acting is superb as usual. Netflix.
BLONDE (USA, 2022) – O filme
de Andrew Dominik é uma avalanche de imagens e fatos relacionados com a vida
turbulenta de Marilyn Monroe, numa espécie de sessão de psicanálise em forma de
narrativa cinematográfica. Ana de Armas faz um bom trabalho com a tarefa
difícil de interpretar um personagem tão complexo quanto Norma Jean. Sua atuação
é prejudicada pelo roteiro pesado, baseado no relato ficcional do livro de
Joyce Carol Oates. Entre as mais recentes biopics, como ELVIS e JACKIE, BLONDE fica num terceiro honroso
lugar. Andrew Dominik’s movie is an avalanche
of images and events related to Marilyn Monroe’s troubled life, a kind of
psychoanalysis session inside a cinematographic narrative. Ana de Armas does a
great job coping with a hard task to play such complex character as Norma Jean.
Her performance is impaired by the heavy script based on Joyce Carol Oates’s
fictionalized account in her book. Among the most recent biopics like ELVIS and
JACKIE, BLONDE has a third place. Netflix.
Paula Beer, o grande motivo para se atirar de cabeça
UNDINE (Alemanha, 2020) – Nos escritos alquímicos
de Paracelso, é encontrada uma categoria de seres elementais associados à agua:
são os undines. Entre suas várias adaptações, temos PEQUENA SEREIA, de Hans Christian Andersen. Nesta
versão, na Berlim moderna, Undine (Paula Beer) trabalha em um museu e começa o
filme sendo abandonada pelo namorado. Depois, conhece Christoph (Franz
Rogowski, uma versão tedesca de Joaquin Phoenix) e se apaixona por ele. O filme
do diretor Christian Petzold é uma espécie de A FORMA DA ÁGUA, com uma
narrativa ponteada por referências ao mundo líquido, bem ao estilo de Bauman. A
grande razão do filme é Paula Beer (ganhadora do Urso de Ouro de Melhor Atriz
por este filme), também perfeita em NUNCA DEIXE DE LEMBRAR, outro filme alemão
imperdível. Ela é a própria tradução do poema de João Cabral de Mello Neto, a IMITAÇÃO
DA ÁGUA: “De flanco sobre o lençol, paisagem já tão marinha, a uma onda
deitada, na praia, te parecias. Uma onda que parava ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento seu rumor de folhas líquidas. Uma onda que parava naquela hora precisa em que a
pálpebra da onda cai sobre a própria pupila. Uma onda que parava ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse no alto de sua crista e se fizesse montanha (por horizontal e fixa), mas que ao se fazer montanha continuasse água ainda. Uma
onda que guardasse na pária cama, finita, a natureza sem fim do mar de que
participa, e em sua imobilidade, que precária se adivinha, o dom de se derramar
que as águas faz femininas mais o clima de águas fundas, a intimidade sombria e
certo abraçar completo que dos líquidos copias”. In the alchemical writings of Paracelso, “undine” is a category of
elemental beings associated with water. Among several adaptations, we have Hans
Christian Andersen’s THE LITTLE MERMAID. In this version, in modern Berlin,
Undine (Paula Beer) works for a museum and is abandoned by her boyfriend in the
beginning of the movie. Then she meets Christoph (Franz Rogowsk, a German version
of Joaquin Phoenix) and falls in love with him. Christian Petzold’s movie is
similar to THE SHAPE OF WATER, with a narrative fraught with references to the
liquid world, in Bauman style. Paula Beer is the main reason to watch the movie
(she won the Silver Bear for the role), as she was in WERK OHNE AUTOR, another
great German movie. She is the translation of João Cabral de Mello Netto’s
poem, THE IMITATION OF WATER: Lying on her side on the sheet, such a marine scenery,
a lying wave, on the beach, you resemble. A wave that stood still, or contained
itself, a wave that comprised a moment with its liquid layers rumor. A wave that
stood still at that precise time in which the wave eyelid drops on its own
pupil. A wave that stood still when it is bent, interrupted, a wave that froze
on the top of its ridge and made itself a mountain (for horizontal and fixed),
but being a mountain, it still continued being water. A wave that kept on the
bed, finite, the endless nature of the sea it takes part with, and in its
immobility, supposedly poor, the gift of pouring water in a female way, plus
the deep waters’ mood, the somber intimacy and some kind of hugging copied from
the liquidness. TC Cult.
20.000
LÉGUAS SUBMARINAS (20,000 LEAGUES UNDER THE SEA, USA, 1954) – Mesmo depois
de tanto tempo, o filme dirigido por Richard Fleischer (de VIAGEM FANTÁSTICA)
ainda é um marco no cinema de ação e ficção científica. A história de Jules
Verne é impressionantemente atual como um alerta em relação à preservação do
planeta. James Mason está perfeito como Capitão Nemo, com a mesma gravidade de
Herbert Loom, em A ILHA MISTERIOSA. Kirk Douglas é a epítome de Ned Land (um
pouco exagerado a meu ver) e a figura curiosa de Peter Lorre sempre me remete M,
O VAMPIRO DE DUSSELDORF (Lorre não tem muito o que fazer com seu personagem,
quase um apêndice de Land). Um pouco longo demais, o filme tem ótimas
sequências de ação, principalmente quando o Nautilus enfrenta um polvo gigante.
Even after so much time, the movie
directed by Richard Fleischer (FANTASTIC VOYAGE) is still a hallmark in the
sci-fi movies. Jules Verne’s story is impressively current as an alert to the
planet’s preservation. James Mason is perfect as Captain Nemo, having the same
gravitas as Herbert Loom in THE MYSTERIOUS ISLAND. Kirk Douglas is the epitome
of Ned Land (a little bit over in my opinion), and the curious figure of Peter
Lorre is related to Fritz Lang’s M (1931) (Lorre has not much to work with his
character, almost an appendix to Land). A little too long, the movie ahs great
action sequences, mainly when the Nautilus is attacked by a giant squid. Disney
Plus.
O ENFERMEIRO DA NOITE (THE GOOD
NURSE, USA, 2022) – Amy
(Jessica Chastain) é uma enfermeira com um problema cardíaco, sobrecarregada
com seus turnos no hospital e duas filhas pequenas. Com Charlie (Eddie
Redmaine), um enfermeiro recém contratado, ela desenvolve uma amizade
improvável. No entanto, mortes misteriosas de pacientes do hospital começam a
levantar suspeitas em relação a Charlie. Baseado numa história real, o filme
peca por causa de alguns vazios narrativos, mas tem seu ponto de apoio na
atuação de Jessica, mesmo com um personagem muito aquém de seu talento. Amy
(Jessica Chastain), a compassionate nurse and single mother with a heart
condition, is stretched by the hard demanding night shifts at a hospital. With Charlie
(Eddie Redmaine), a recently hired nurse, she develops an improbable
friendship. But after a series of mysterious patient deaths, Charlie becomes
the target of police investigation. Based on a true story, the movie has some
narrative voids, but has its highlight on Jessica’s performance, even with a
character beyond her talent. Netflix.
LADRÕES DE BICICLETA (LADRI DI BICICLETTI,
Itália, 1948) – Clássico
do neorrealismo italiano, dirigido por Vittorio De Sica, LDB mostra a Itália no
pós-guerra, destruída, sem esperança, vivendo do caos. Tudo em cena contribui
para o entendimento da dimensão trágica da população e sua luta pela
sobrevivência: um homem tem sua bicicleta roubada – item essencial para a
manutenção de seu emprego, coisa rara naqueles tempos. A partir daí, ele e seu
filho pequeno saem por Roma, tentando encontrar o bem precioso, a única chance
de sustento de sua família. No Neorrealismo,o ordinário
mostra-se imensamente importante para uma compreensão completa de contexto de
época. É o simples a serviço do complexo, do minimalismo do roteiro ao cenário
caótico de um mundo em reconstrução. Sergio Leone foi assistente de De Sica
neste filme. Classic
of the Italian Neorealism movement, directed by Vittorio De Sica, the movie
displays a post-war Italy, destroyed and hopeless, surviving amidst the chaos. Everything
in scene contributes to the understanding of the tragic dimension of the
populace: a man has his bicycle stolen – it was an essential item for him to
keep his job. From this point on, he and his son start looking for the bicycle
in the streets of Rome. In the Neorealism, the ordinary is immensely important
to understand that period. It is the simple at the service of the complex, from
the minimalism of the script to a world under construction. Sergio Leone worked
as an assistant to De Sica during the filming of this movie. TC Cult.
AOS OLHOS
DE ERNESTO (BRASIL, 2018) – Enfim, um filme brasileiro de alto nível.
A diretora Ana Luiza Azevedo, que assina o roteiro com Jorge Furtado, traz a
história de Ernesto (o maravilhoso Jorge Bolani, de WHISKY), um fotógrafo
uruguaio de 78 anos, morando sozinho em Porto Alegre e enfrentando as
limitações da idade, como a cegueira progressiva e a solidão, cuja vida é
transformada com a chegada de Bia, uma jovem parecida com um furacão de vida,
capaz de ensiná-lo a viver com mais esperança e alegria. O filme é lindo. Preparem
o Kleenex. Como resistir a um filme sobre cartas e saudades...?At last, a Brazilian movie that
is Worth seeing. Director Ana Luiza Azevedo, who teams up the script with Jorge
Furtado, narrates Ernesto’s story: he is a Uruguayan photographer, living alone
in Porto Alegre, facing the limitations of old age, such as progressive blindness
and loneliness, who has his life changed by Bia, a young woman similar to a hurricane
of life, able to teach him to have more hope and joy. The movie is beautiful. Save
Kleenex. How can we resist a movie about letters and nostalgia...? Canal Brasil.
APOLLO 11 (USA, 2019) – Documentário sobre a missão Apollo, na comemoração
dos 50 anos do primeiro pouso na Lua. As cenas (muitas inéditas) cobrem as
últimas preparações para o lançamento, o pouso em si e a volta para casa. Mesmo
50 anos depois, não há como não se emocionar com um feito tão extraordinário,
numa época, no cotejo com a tecnologia de hoje, comparável à Idade Média. Documentary about the Apollo 11 mission, celebrating
the 50th anniversary of the first Moon landing. The scenes (many unseen
footage) span from the eleventh hour preparations for the launch to shortly
after the safe touchdown of the capsule with the astronauts back to Earth. Even
after 50 years, we can not avoid being emotional with such extraordinary deed
during a period, compared to today’s technology, similar to the Middle Ages. Netflix.
ARGENTINA, 1985 (Argentina, 2022) – Ricardo Darín é obrigatório. No filme, ele
é Julio Strassera, o responsável, com sua equipe de advogados, por colocar
Videla e outros militares na cadeia, pelos crimes cometidos durante a sangrenta
ditadura argentina. Ricardo Darín, como sempre, é extraordinário na composição
do seu personagem, dando a medida exata de tensão e contenção do promotor
Strassera diante das ameaças contra ele e sua família. A,1985 é uma imensa
lição para países como o Brasil, onde os arreganhos autoritários do governo
militar, ao longo de 22 anos, não foram julgados e devidamente punidos. Ricardo Darín is mandatory. In this movie, he is Julio
Strassera, who was responsible, with his team of lawyers, for imprisoning
Videla and other military leaders for the crimes committed during the bloody
Argentinean dictatorship. Ricardo Darín, as always, is extraordinary in his
character composition, displaying the exact measure of Strassera’a tension and contention,
despite the threats against him and his family. A,1985 is a huge lesson to be learned
by countries like Brasil, where the military government’s authoritarianism,
during 22 years, was not judged and properly punished. Amazon Prime.
ENCONTRO DE AMOR (MAID IN NEW
YORK, USA, 2002) – Conto de
fadas com laivos de comédia romântica sobre o romance improvável entre uma
camareira de um hotel luxuoso, Marisa (Jennifer Lopez), e um congressista
importante, Chris Marshall (Ralf Fiennes). EENY é um filme simpático,
principalmente por causa da relação paternal do personagem de Bob Hoskins com
Marisa e da abordagem (embora rasa) das diferenças de classe. Jennifer Lopez raramente
esteve tão bonita num filme e tem alguma química com Ralf Fiennes, especialmente
nas cenas com o filho de Marisa, Ty (Tyler Posey). Fairy tale with some traits of romantic comedy about an improbable
affair between a fancy hotel maid (Jennifer Lopez) and an important congressman,
Chris Marshall (Ralf Fiennes). MINY is a nice movie, mainly because of Bob
Hoskins’ character’s paternal relationship with Marisa and the superficial approach
of the class differences. Jennifer Lopez has rarely been so beautiful in a
movie and has some chemistry with Fiennes, especially in the scenes with Marisa’s
son, Ty (Tyler Posey). HBO.
FRANKENSTEIN (USA, 1931) - Clássicos dos clássicos da época de ouro da
Universal, FRANKENSTEIN, dirigido por James Whale, é um daqueles filmes
perfeitos. Toda a influência do Expressionismo alemão aparece na direção de
Whale na forma de elementos mais populares, como a utilização de
impressionantes aparatos elétricos, coisa que não existia no livro de Mary Shelley.
Tecnicamente, o filme não é classificado como horror, já que o termo só foi primeiramente
usado como gênero a partir de 1934. Top classic
movie of the Universal era, FRANKENSTEIN, directed by James Whale, is one of
those movies thant can be considered perfect. All the influence of the German
Expressionism can be seen in Whale’s direction, that added more popular elements,
as the use of impressive electrical apparatus, which were not present in Mary
Shelley’s book. Technically, not conceived as a horror movie, since the term as
a film genre was first used in 1934. Blu-Ray.
CONTATOS IMEDIATOS DE TERCEIRO GRAU
(CLOSE ENCOUNTERS OF THE THIRD KIND, USA, 1977) – Steven Spielberg é obrigatório. É impressionante
como, neste filme, ele constrói as cenas, apenas sugerindo as ações, até o final apoteótico,
na Torre do Diabo, no Wyoming. Sim, Richard Dreyfuss, um ator maiúsculo, está
perfeito num personagem em constante busca de sentido para sua vida. E é isso
uma das linhas-mestras do filme: a insopitável busca de sentido para a existência,
um ímpeto misterioso e tão poderoso num grupo de pessoas, capazes de enfrentar
tudo (inclua-se aí o exército americano) para encontrar respostas ainda não
respondidas. Spielberg usa essa metáfora da existência humana para explorar o
fascínio pelo desconhecido e os elementos imponderáveis deste e de outros mundos. Uma
observação: Bob Balaban (o pai de Phoebe, em FRIENDS, e Russel Dalrymple, em
SEINFELD) divide muitas cenas com Lacombe (François Truffaut, no seu primeiro
filme americano). Steven Spielberg is mandatory. It is impressive how he
builds-up the scenes, just suggesting the actions until the apoeotic finale, in
the Devil’s Tower, in Wyoming. Yes, Richard Dreyfuss, a great actor, is perfect
playing someone in constant search for sense in life. That is one of the
hallmarks of the movie: the uncontrollable search for sense, a mysterious and
powerful drive that makes people fight everything (even the American Army) to
find unanswered questions. Spielberg uses the metaphor of the human existence
to explore the fascination of the unknown and the imponderable elements of this
and other worlds. One note: Bob Balaban (Phoebe’s father in FRIENDS, and Russel
Dalrymple in SEINFELD) has many scenes with Lacombe (François Truffault in his
first American film). HBO.
FAUSTO (FAUST: EINE DEUTSCHE VOLKSSAGE, Alemanha, 1926) – Adaptação de Murnau da peça de Goethe: o demônio Mefisto aposta com Deus a corrupção moral da alma de um homem. Por causa do sucesso anterior do diretor, THE LAST LAUGH (1924), UFA lhe deu orçamento ilimitado para este filme. E Murnau aproveitou para fazer um filme impressionante: FAUSTO se apoia em imagens impactantes (atenção para Mefisto se agigantando sobre a cidade e espalhando as sementes da peste negra). A combinação de trucagens óticas e figurino marcante, além das locações com inspiração expressionista, torna o filme uma festa para os olhos. Murnau emprega todos os elementos conhecidos – fogo, vento, bruma, raios – para sugerir o tom sombrio da narrativa e fazer do filme uma verdadeira obra de arte. As referências expressionistas sustentam a estética da narrativa, junto com a belíssima cinematografia, especialmente nas sequências mais sombrias. Junto com NOSFERATO (1922), FAUSTO está no panteão do cinema expressionista alemão que, no pós guerra, tinha como público a classe média reprimida, sem identidade nacional por causa das perdas infligidas pelo Tratado de Versalhes, passou, a partir de FAUSTO, a privilegiar a identidade cultural atrelada à realidade da República de Weimar. O filme é um espetáculo escapista, mas também uma fábula de corrupção e maldade, frente às qualidades redentoras do amor e do perdão. Murnau’s adaptation of Goethe’s: The demon Mephisto wagers with God that he can corrupt a mortal man's soul. 'Faust' is based on some remarkable visuals, solid acting, a truly sinister villain, and above all is an epic tale of love, loss and evil. Relying very heavily on visuals, 'Faust' contains some truly stunning on-screen imagery, most memorably the inspired shot of Mephisto towering ominously over a town, preparing to sow the seeds of the Black Death. A combination of optical trickery and striking costumes and sets makes the film an absolute delight to watch, with Murnau employing every known element – fire, wind, smoke, lightning – to help produce the film's dark tone. 'Faust' is a masterpiece to behold. The scenery is expressionistic and gives the film a strong sense of beauty (which is increased by the excellent cinematography), especially in the darker scenes; all of which are an absolute delight to behold. It definitely deserves its place next to 1922's NOSFERATU in the pantheon of German Expressionism. Frontloaded in terms of spectacle and dazzling visuals, this retelling of Goethe's classic version of Dr. Faust's story is as slow paced and dark as Nosferatu but with the kind of fantastic, mystical and romantic blend that characterized German post-war cinema. A cinema aimed at repressed lower middle-classes which, in the absence of a national identity swept away by war, were now turning to a new cultural identity conscious of the social realities of the times. In that sense, Murnau's Faust is part escapism spectacle, part edifying fable on the corruption of evil and the redeeming qualities of love and forgiveness. TC Cult.
MARTE ATACA (MARS ATTACKS, USA, 1996) – De forma genial,
Tim Burton faz em MA! uma ácida crítica à hipocrisia do mundo: política,
religião, fanatismo, forças armadas, meios de comunicação, ambição, jogo e muito
mais. O filme é uma anarquia organizada relatando uma invasão marciana e os
efeitos diversos deste fato na humanidade. Outro fato interessante: este é um
filme que deve ter custado uma fortuna para parecer uma produção B, típica dos
anos 50. O elenco é estelar: de Jack Nicholson a Pierce Brosnan e Annette Bening.
Algumas participações poderiam ter sido mais exploradas: a icônica Pam Grier
aparece muito pouco, e Tom Jones brilha numa aparição totalmente sem sentido
para a trama. Mas é essa exatamente a graça de Tim Burton. Ingeniously, Tim Burton acerbically criticizes
the world’s hypocrisy: politics, religion, fanaticism, armed forces, media,
ambition, gambling and much more. The movie is an organized anarchy about a Martian
invasion and the effects on people. Interesting fact: this very well might be
the only film that cost a fortune in order to look cheap. The cast is starry:
from Jack Nicholson to Pierce Brosnan and Annette Bening. Some bits could have
been more explored: the iconic Pam Grier has few scenes, and Tom Jones is ok in
a totally senseless cameo. But this is Burton’s panache. HBO.
RITA – TEMP. 1 – 8 EPISÓDIOS (RITA,
Dinamarca, 2014) – Rita
é uma professora numa escola na Dinamarca. Sua competência em sala de aula
contrasta com sua tumultuada vida pessoal, na qual tem que lidar com três
filhos e uma relação estremecida com a mãe. Rita é, de certa forma, uma pessoa
na contramão de uma sociedade supostamente certinha – seu comportamento
complexo, rebelde, irreverente e sexualmente livre a coloca sob constante
desconfiança de seus amigos e colegas de trabalho. De certa forma, ela procura
quebrar as regras juntamente para tentar ajudar sua família e seus alunos. Mille
Dinesen tem postura e energia compatível com um personagem rico nas suas
contradições e certezas. A série pode, inicialmente, lembrar Mérli, produção
catalã, mas a temática é muito diferente. Rita is a teacher
in a school in Denmark. Her competence in the classroom contrasts with her
hectic personal life, in which she has to deal to with her three children and a
estranged with her mother. Rita is, in a way, a strange person in a supposedly
perfect society – her complex, rebellious, irreverent and sexually free
behavior puts her under suspicion by her friends and work colleagues. In a way,
she tries to break the rules in order to help her family and her students. Mille
Dinesen has the profile and energy compatible with a character full of
contradictions and certainties. Netflix.
À PROCURA DE VINGANÇA (SERAPHIM
FALLS, USA, 2006) – Liam
Neeson persegue Pierce Brosnan nas florestas geladas de Nevada, neste faroeste
clássico: a vingança do personagem de Neeson é o foco do filme. A narrativa é
um pouco lenta, mas o desfecho, com Neeson e Brosnan, num deserto, com todas as
conotações filosóficas conexas ao tema, vale a pena. Liam Neeson
chases Pierce Brosnan through the icy forests in Nevada in this classic
western: Neeson’s revenge is the main subject. The narrative is a little bit
slow, but the ending is worth seeing with Neeson and Brosnan, in the desert,
and all the philosophical conotations about the theme. DVD.
O LOBISOMEM NA NOITE (WEREWOLF BY NIGHT, USA, 2022)– Os “filmes de monstro” da
Universal, na década de 30, são, a meu ver, irretocáveis. Incorporando várias
estéticas cinematográficas, especialmente o Expressionismo alemão de Murnau e
Fritz Lang, produções como FRANKENSTEIN (1931), A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1932)
e DRÁCULA (1931) estabeleceram uma concepção artística presente até hoje. Quem dirige
é o compositor Michael Giachinno – ele faz uma justa homenagem aos filmes clássicos
de monstros da Universal, através de uma narrativa simples, a fotografia em P&B,
os enquadramentos imprevisíveis, as sombras projetadas e um mínimo de efeitos
especiais. No elenco, Gael Garcia Bernal e Laura Donnelly (de OUTLANDER). The “monster movies” made by the
Universal Studios, in the 30s, are, in my opinion, flawless. Embodying several cinematographic aesthetics, especially
Murnau and Fritz Lang’s German Expressionism, productions like FRANKENSTEIN
(1931), THE BRIDE OF FRANKENSTEIN (1932), and DRACULA (1931) have established
an artistic conception for the genre. Composer Michael Giachinno directs this
fair homage to these Universal monster movies using a simple narrative, B&W
photography, unexpected framework, projected shadows and scarce special
effects. Gael Garcia Bernal and Laura Donnelly (OUTLANDER). Disney Plus.
VALE TUDO COM TIM MAIA – 3 EPISÓDIOS - (BRASIL, 2022)– Dirigido por Nelson Motta,
esse documentário é imperdível, em três episódios da Globoplay, com áudios e imagens inéditas.
Tim Maia era um artista com talento imenso, e sua figura trágica – e ao mesmo
tempo engraçadíssima – mistura uma pulsão autodestrutiva com uma doçura inerente
ao menino ingênuo da Tijuca que não desapareceu com sua morte precoce em 1998 e
pode ser revisto nas três horas dessa produção. Directed by Nelson Motta, this three-episode
documentary (Globoplay), with never before seen footage of his career is unmissable. Tim Maia
was an immensely talented artist, and his tragic figure – at the same time extremely
funny – mixes a self-destructive drive with an inherent sweetness to the naïve boy
from Tijuca who is not lost after his precocious death in 1998 and that can be
seen again along the three hours of this production. Globoplay.
OS TRÊS MOSQUETEIROS (THE THREE MUSKETEERS, USA, UK, 1993) – Oliver Platt rouba as cenas nessa aventura baseada no livro de
Alexander Dumas. Seu Porthos acaba sendo o personagem mais interessante do lado
do bem. Tim Curry se deleita com o vilão, o cardeal Richelieu, enfunando seu
robe vermelho. A produção é bem-feita, com cores vibrantes e belos cenários,
mas nada mais belo do que Julie Delpy, uma mistura divina de doçura e determinação.
Oliver Platt steals
every scene of this adventure based on Alexander Dumas’s book. His Porthos ends
up being the most interesting character among the good guys. Tim Curry seems to
be delighted with his villain, Cardinal Richelieu, in his flowing red robe. The
production is high class with vibrant color and beautiful settings, but nothing
is more beautiful than Julie Delpy, a heavenly mixture of sweetness and
determination.
SCOOP (USA, UK, 2006)– Woody Allen reúne A Viúva
Negra e Wolverine nesta quase comédia, quase thriller de suspense policial, no
qual Scarlett é uma repórter seguindo a pista de um assassino em série (Hugh Jackman)
por Londres e pelo interior da Inglaterra. O foco é permanente sobre a figura
solar de Scarlett: de óculos, ao mesmo tempo recatada e ousada, ingênua, mas
também responsável pelo twist final, ela domina as ações em todas as cenas. Não
é o melhor de Allen, mas ainda assim SCOOP traz seu olhar tradicional sobre os
relacionamentos humanos e suas contradições num mundo essencialmente de aparências.
E, claro, há Scarlett, o real motivo de Deus ter descansado no sétimo dia da Criação.
Woody Allen reunites
Black Widow and Wolverine in this half comedy, half crime thriller in which
Scarlett Johansson is a reporter following the track of a serial killer (Hugh Jackman)
in London and in the British countryside. The focus is on Scarlett’s solar
figure: bespectacled, at the same time shy and venturesome, naïve and also able
to produce the final twist, she mastered all the scenes she is in. it is not
the best Allen, but still SCOOP has his traditional view of human relationships
and its contradictions in a world of appearances. And, of course, there is
Scarlett, the real reason God rested on the 7th day. Amazon Prime.
PAISÁ (Itália, 1946) – Terceiro filme da
trilogia do pós-guerra, dirigido por Roberto Rossellini, depois de ALEMANHA ANO
ZERO e ROMA, CIDADE ABERTA. São seis episódios sobre encontros dramáticos entre
italianos e soldados aliados. Usando um elenco não profissional, Rossellini
combina personagens de maneira magistral através de técnicas de improvisação,
num filme emocionante desde o primeiro fotograma. Obra-prima do neorrealismo
italiano, Paisà mostra a Itália marcada pela devastação, brutalidade e
incompreensão em todos os níveis, através de curtas histórias enfeixadas por um
elemento essencial no cinema: emoção pura. Atenção para a terceira história: um
soldado americano não reconhece a mulher amada na prostituta que o acolhe – o desfecho
é de partir o coração. Third
movie of Roberto Rossellini’s post-war trilogy, after GERMANIA ANNO ZERO and
ROMA CITTÀ APERTA. Six episodes about dramatic encounters between Italians and
allied soldiers. Using a number of non-professional cast, Rossellini masterfully
combines the characters with his improvisatory techniques, in a movie that is emotional
since the fist photogram. Italian Neo-realism masterpiece, PAISÀ displays a destroyed
Italy, marked by devastation, brutality and incomprehension, through short
stories fraught with pure emotion. Attention to the third story: an American
soldier does not recognize the woman he once loved in the prostitute who protects
him – the ending is heart-wrenching. TC Cult.
THE CROWN – TEMP 2 – 10 EPISÓDIOS (THE CROWN, UK, 2017) – Excepcional em todos os sentidos, a segunda temporada de THE CROWN dá
continuidade à história da família mais infeliz do mundo, os Windsors. O destaque,
além da magnífica Claire Foy, desta vez, é Vanessa Kirby, a party girl Princesa
Margareth. Sempre à sombra de sua irmã, Margareth se entregava a uma rotina convoluta
em romances e festas, sem encontrar sentido em sua vida que, no cotejo com a de
Elizabeth, era muito mais interessante. Kirby já chamava atenção em MISSÃO
IMPOSSÍVEL FALLOUT e PIECES OF A WOMAN, mas aqui ela foi além e transformou a
irmã mais nova da rainha no membro mais interessante da família real. Claire Foy
trouxe para seu personagem profundidade e nuanças através de uma silente
fragilidade e contenção. Matt Smith não teve dificuldade de fazer um Philip desagradável,
arrogante, superficial. Alguns bons episódios: DEAR, MRS KENNEDY (ep.8) foi particularmente
interessante, apesar da escalação equivocada de Michael C. Hall como JFK; e BERYL
(ep 4), no qual Margareth conhece Tony Armstrong-Jones (o excelente Matthew
Goode), seu futuro marido, com o qual foi muito infeliz. Outstanding in all senses, the second
season of THE CROWN goes on narrating the story of the most unhappy family
ever, THE WINDSORS. The highlight, besides the magnificent Claire Foy, is Vanessa
Kirby, the party girl Princess Margareth. Always in her sister’s shadow,
Margareth submitted herself to a routine of affairs and parties, without finding
any sense in her own life – much more interesting of compared to her sister’s. Kirby
had already drawn attention to her talent ion MISSION IMPOSSIBLE FALLOUT and
PIECES OF A WOMAN, but her she exceeds herself as the queen’s younger sister,
the most interesting royal family member. Claire Foy has brought such depth and
nuance to her character through a quiet fragility and restraint. Matt Smith had
no difficulty in playing Philip as a obnoxious, arrogant and shallow. Some good
episodes: DEAR MRS KENNEDY (ep 8) was particularly interesting, despite Michal
C. Hall being miscast as JFK; and BERYL (ep 4), in which Margareth meets Tony
Armstrong-Jones (the great Matthew Goode), her future husband, with whom she
was extremely unhappy. Netflix.
OS DONOS DA NOITE (WE OWN THE NIGHT, USA, 2007) – Bobby (Joaquin Phoenix) e Joe (Mark Wahlberg) são irmãos,
aquele, um gerente de uma boate controlada pela máfia Rússia, este um policial
condecorado e seguidor das leis. O pai, Burt (o maravilhoso Robert Duvall),
divide sua atenção com esses dois extremos. Amada (Eva Mendes), namorada de
Bobby, é uma daquela forças da natureza, sacudindo qualquer filme em que esteja
e não é diferente aqui. O bom começo não acompanha em ritmo a parte final do
filme. O roteiro é pouco original: dois irmãos em polos opostos se aproximam
por causa de uma tragédia. De qualquer forma, vale pela atuação febril de
Phoenix e pelo magnetismo de Eva Mendes. Bobby (Joaquin Phoenix) and Joe (Mark Wahlberg)
are Brothers, the former, a night club manager, the latter, a decorated New
York police officer. Their father (the wonderful Robert Duvall) is split
between them. Amada (Eva Mendes), Bobby’s girlfriend, is one of those forces of
nature, shaking up any movie she is in. The good start does not follow the rhythm
the movie’s final part. The script is not original: two brothers at opposite
end of the family spectrum require a major tragedy to bring them together. Anyway,
it is always good to see Phoenix’s feverish performance and Eva Mendes’
magnetism. Amazon Prime.
A ÚLTIMA NOITE (SILENT NIGHT, UK, 2021) – A premissa básica do filme
é o anúncio do fim do mundo, com o governo oferecendo uma “pílula final” para
que a população não tenha um sofrimento desnecessário. Já temos aí uma questão
filosófica, pois alguns personagens recusam a pílula, preferindo uma morte
natural (aparentemente, uma névoa venenosa tomou conta do mundo, num paralelo
com a COVID-19). O roteiro lembra MELANCOLIA, de Lars von Trier, e mistura humor,
desesperança, relações familiares e tragédia – todos esses elementos parecem
mal costurados numa narrativa meio irregular, mas com potencial para uma
reflexão profunda sobre vida e morte. The basic premise of the movie is the government announcing that the
world is ending, and they have handed out “exit pills” (suicide pills) to the
population so that they don not needlessly suffer. That is already a philosophical
issue, as some characters refuse the pill and preferring a more natural death
(apparently, a toxic cloud has poisoned the world, like COVID-19). The script
reminds of Lars von Trier’s MELANCHOLY, and mixes humor, despair, family
relationships and tragedy. All these elements are clumsily stitched together in
a somewhat irregular narrative with some potential for discussion about life
and death. HBO.
DEFENDOR (USA, 2009) – Arthur (Woody Harrelson), um homem simples,
adota a persona de um super-herói para capturar seu arqui-inimigo,
Dr.Indústria. Misturando comédia, ação, drama e romance, o filme confirma a qualidade de Harrelson, transformando um super-herói quase caricato num personagem
tão significativo quanto emocionante e divertido. Uma observação: Kat Dennings
num papel de acordo com seu talento. Ela é uma atriz excepcional, com uma presença
mesmerizante em cena. Arthur (Woody Harrelson), a regular
man who adopts a superhero persona, combs the city at night in search of his
archenemy, Dr, Industry. The movie is a blend of comedy, action, drama and
romance, and confirms Harrelson’s talent, who trransforms an almost
caricaturesque superhero into a powerful, gripping and entertaining character. One
note: Kat Dennings has a character in accordance with her talent. She is a
distinguished actress and her presence in scene is mesmerizing. HBO.
DAHMER, O CANIBAL AMERICANO – 10 EPISÓDIOS
- (USA, 2022) – A
história de Jeff Dahmer deveria ser esquecida. Uma série com 10 episódios, com
todos os horrores de uma narrativa mórbida e violenta, é um deserviço à
dramaturgia e ao conceito de entretenimento. Sim, há público (e não são poucos)
para consumir esse tipo de produção, mas, especialmente hoje, quando a
violência se transformou em royalty para uma parcela de uma população ressentida
e frustrada, uma série assim não ajuda em nada. Evan Peters (irmão de Wanda)
tem uma atuação impressionante e pertubadora: através dele fica clara a
existência patológica de um criminoso que contou com a leniência da polícia
americana para cometer, durante 10 anos, crimes cujas vítimas eram homens
negros. Até aí, eu vou, mas não dá para recomendar. Jeff Dahmer’s
story should be forgotten. A series with 10 episodes, with all the horrors of a
morbid and violent narrative, is a drawback to TV drama and to the concept of
entertainment. Yes, there is audience (and not small) to consume this kind of
production. However, especially today, when violence is a new kind of royalty
to part of an aggravated and frustrated populace, a production like this is
senseless. Evan Peters (Wanda’s brother) has an outstanding and disturbing performance:
it displays the pathological existence of a criminal who had the lenience of
the American police to perpetrate, along 10 years, crimes essentially against
black men. It is my limit: I will not recommend it. Netflix.
MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA (MAD MAX: FURY ROAD, Austrália, 2015) – Reduzindo a gramática cinematográfica ao que ela tem de mais
essencial e universal – tempo e movimento – George Miller reinventa seu
clássico de 1979, com Mel Gibson, turbinando esta história épica com os
recursos tecnológicos inexistentes naquela época. Com o primeiro MAD MAX,
Miller deu traços definitivos ao “futuro distópico”, como o conhecemos hoje,
uma Terra pós-apocalíptica, na qual a luta pela sobrevivência atinge níveis
impensáveis de violência. Em ESTRADA DA FÚRIA, a ação ininterrupta é a própria
história do filme – tudo é feito para sustentar as sequências de perseguição
pelo deserto, e o resultado é excepcional. Os poucos diálogos apenas pontuam a
narrativa onde os horrores do futuro perturbadoramente se parecem muito com o
do presente: a escassez de água, a degradação das relações humanas, o tráfico
sexual, escravidão, população oprimida, a genética a serviço da supremacia
racial e o domínio masculino numa sociedade que só encontrará esperança nas
mãos das mulheres. Daí ser Charlize Theron a força maior de MAD MAX: linda e sedutora,
mesmo lambuzada de graxa (ou mesmo por causa disso), é ela a razão da nova
ordem feminina. Reducing
the movie grammar to its universal essence – time and movement – George Miller
reinvents his 1979 classic with Mel Gibson, boosting this epic story technological
resources that did not exist at that time. With the first MAD MAX, Miller gave
final shape to the “dystopic future” as we know today, a post-apocalyptic Earth
in which the struggle to survive reaches unthinkable levels. In FURY ROAD, the
uninterrupted action is the story itself – everything serves the race through the
desert, and the outcome is exceptional. The few dialogues only mark the
narrative in which the horrors of the future are disturbingly similar to those
of the present: the lack of water, the destruction of human relationships,
sexual traffic, slavery, oppressed population, genetics at the service of
racial supremacy, and the masculine domain in a society that will only find
salvation in the hands of women. Hence, Charlize Theron is the paramount force
of MAD MAX: gorgeous and seductive, she is the reason for a new feminine order.
HBO.
RUAS DE FOGO (STREETS OF FIRE, USA, 1984) – Ainda no “modo Diane Lane”, fui rever este filme, especialmente por
causa dela e pela memória residual causada pela história de uma cantora de
rock sequestrada por bad boys (liderados por um Willem Dafoe jovenzinho) e
resgatada pelo ex-namorado (Michael Paré). Pois bem, fiquei decepcionado como
RUAS DE FOGO, pois já não me lembrava da produção preguiçosa, das atuações
ruins dos atores principais e de um roteiro fraco como os números musicais típicos
dos anos 80. O filme de Walter Hill combina bares esculachados, brigas de rua,
motocicletas, vilões musculosos e uma série de clichês destilando décadas de um
conjunto imagético representativo da juventude no cinema. A mensagem é que não
há mensagem, apenas ação vazia de qualquer coisa que lembre um roteiro coeso. Diane tem uma participação tímida. Still
in “Diane Lane mood”, I watch this movie again, especially because of Diane
Lane and the residual memory of a story about a rock singer kidnapped by bad
boys (led by a young Willem Dafoe) and rescued by an ex-boyfriend (Michael
Paré). In fact, STREETS OF FIRE is a
great disappointment, as I had forgotten the lazy production, the lousy performances
of the main actors and a script as weak as the 80’s musical numbers. Walter Hill’s
movie combines everything from seedy bars, street fights, motorcycles, beefy
heavies and a series of clichés that distills decades of imagery that represent
youth in cinema. The message is that there is no message, just a movie devoid
of anything resembling a cohesive plot. Diane has a shy performance. Amazon Prime.
