Paula Beer, o grande motivo para se atirar de cabeça |
UNDINE (Alemanha, 2020) – Nos escritos alquímicos de Paracelso, é encontrada uma categoria de seres elementais associados à agua: são os undines. Entre suas várias adaptações, temos PEQUENA SEREIA, de Hans Christian Andersen. Nesta versão, na Berlim moderna, Undine (Paula Beer) trabalha em um museu e começa o filme sendo abandonada pelo namorado. Depois, conhece Christoph (Franz Rogowski, uma versão tedesca de Joaquin Phoenix) e se apaixona por ele. O filme do diretor Christian Petzold é uma espécie de A FORMA DA ÁGUA, com uma narrativa ponteada por referências ao mundo líquido, bem ao estilo de Bauman. A grande razão do filme é Paula Beer (ganhadora do Urso de Ouro de Melhor Atriz por este filme), também perfeita em NUNCA DEIXE DE LEMBRAR, outro filme alemão imperdível. Ela é a própria tradução do poema de João Cabral de Mello Neto, a IMITAÇÃO DA ÁGUA: “De flanco sobre o lençol, paisagem já tão marinha, a uma onda deitada, na praia, te parecias. Uma onda que parava ou melhor: que se continha; que contivesse um momento seu rumor de folhas líquidas. Uma onda que parava naquela hora precisa em que a pálpebra da onda cai sobre a própria pupila. Uma onda que parava ao dobrar-se, interrompida, que imóvel se interrompesse no alto de sua crista e se fizesse montanha (por horizontal e fixa), mas que ao se fazer montanha continuasse água ainda. Uma onda que guardasse na pária cama, finita, a natureza sem fim do mar de que participa, e em sua imobilidade, que precária se adivinha, o dom de se derramar que as águas faz femininas mais o clima de águas fundas, a intimidade sombria e certo abraçar completo que dos líquidos copias”. In the alchemical writings of Paracelso, “undine” is a category of elemental beings associated with water. Among several adaptations, we have Hans Christian Andersen’s THE LITTLE MERMAID. In this version, in modern Berlin, Undine (Paula Beer) works for a museum and is abandoned by her boyfriend in the beginning of the movie. Then she meets Christoph (Franz Rogowsk, a German version of Joaquin Phoenix) and falls in love with him. Christian Petzold’s movie is similar to THE SHAPE OF WATER, with a narrative fraught with references to the liquid world, in Bauman style. Paula Beer is the main reason to watch the movie (she won the Silver Bear for the role), as she was in WERK OHNE AUTOR, another great German movie. She is the translation of João Cabral de Mello Netto’s poem, THE IMITATION OF WATER: Lying on her side on the sheet, such a marine scenery, a lying wave, on the beach, you resemble. A wave that stood still, or contained itself, a wave that comprised a moment with its liquid layers rumor. A wave that stood still at that precise time in which the wave eyelid drops on its own pupil. A wave that stood still when it is bent, interrupted, a wave that froze on the top of its ridge and made itself a mountain (for horizontal and fixed), but being a mountain, it still continued being water. A wave that kept on the bed, finite, the endless nature of the sea it takes part with, and in its immobility, supposedly poor, the gift of pouring water in a female way, plus the deep waters’ mood, the somber intimacy and some kind of hugging copied from the liquidness. TC Cult.