domingo, 30 de abril de 2017

2945 - BATA ANTES DE ENTRAR

    
Keanu, como resistir, hein?
BATA ANTES DE ENTRAR (KNOCK, KNOCK, USA 2015) – Diversão e apelação andam de mãos dadas durante este filme que conta uma história pertubadoramente possível de acontecer com qualquer pessoa: um marido fiel, mas meio palerma (Keanu Reeves), abre a porta para duas garotas lindas e animadas e seu arrependimento pode levar a consequências nada agradáveis. No início, elas se insinuam, e ele se esquiva, mas as duas lançam mão de um, digamos, golpe baixo, e lá se vão 14 anos de de fidelidade conjugal pela janela. Típico exemplo do cinema de “exploitation” americano (filmes apelativos, com temática sensacionalista), KNOCK KNOCK bate na tecla da transgressão e carrega na violência e no uso instrumental do sexo. O filme é melhor do que se poderia imaginar especialmente por causa das duas atrizes que, além da beleza que o papel exige, também são talentosas no que lhe compete (não se quer aqui um altíssimo voo dramático, claro). Uma delas é Ana de Armas, uma cubana radicada na Espanha, dona de uma infantilidade e sex appeal pertubadores. A outra, Lorenza Izzo, chilena radicada nos EUA, é capaz de provocar tanto arrepios de medo quanto de lascívia. Keanu Reeves vai bem, com seu jeito de quem acabou de acordar, e parece genuinamente perdido nas consequências injustas de seu ato ingênuo. O filme oferece uma boa oportunidade para a reflexão sobre se realmente as mulheres têm esta posição tão inferior assim na sociedade e a latente misandria que, em muitos casos, se torna invisível e quase esquecida. Remake de DEATH GAME (1977), com Sondra Locke, então mulher de Clint Eastwood.   





2944 - CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL

  
Há de se ter uma paciência de ferro para aturar um chato desses
  CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL (CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR, USA 2016) – Esta edição de Os Vingadores serviu para confirmar o óbvio: o Capitão América é um chato! O personagem vivido por Chris Evans (muito bem, por sinal) é um daqueles exemplares do “politicamente correto” que, cá para nós, distoa do universo irreverente dos super-heróis das HQs. Por isso, Robert Downey Jr., muito à vontade na lataria do Homem de Ferro, é muito mais agradável de ver, por causa da irreverência e saudável autodepreciação que pontilha seus diálogos. Neste filme, mais uma vez, o excesso de heróis – e de atores do primeiro escalão – acaba por fragmentar a fruição da história (mal desenvolvida, por sinal). Não há, propriamente, um inimigo a ser combatido. O que vemos é mais uma briga em família, num drama tolstoniano, com dois grupos com visões opostas em relação a um assunto delicado: deveriam os Vingadores se submeterem a uma supervisão que controlasse suas missões e, principalmente, os danos colaterais decorrentes delas? O Homem de Ferro acha que sim, e o Capitão América acha que não. Os super-heróis se dividem e acabam lutando entre si. Os diálogos são mal construídos e longos demais, o que dispersa um pouco a atenção de quem espera mais ação – a taõ falada cena do aeroporto não foi lá assim tão vibrante. Scarlett Johansson continua linda como a Viúva Negra, o Hulk não deu as caras e Tom Holland, como o Homem-Aranha, foi uma boa surpresa. Prefiro os filmes solo.  



2943 - A MAIOR HISTÓRIA DE TODOS OS TEMPOS

      
Max Von Sidow , estreando em Hollywood em grande estilo
A MAIOR HISTÓRIA DE TODOS OS TEMPOS (THE GREATEST STORY EVER TOLD, USA 1965) – O diretor George Stevens (de SHANE) se empenhou para contar a vida de Jesus num filme curiosamente realizado logo depois do sucesso de REIS DOS REIS (1961), com o mesmo tema. Tão didático quanto o filme estrelado por Jeffrey Hunter (o primeiro capitão da Enterprise, no piloto não lançado de STAR TREK), neste filme, coube a Max Von Sidow o papel do filho de Deus. Irregular no ritmo, o filme fornece, involuntariamente, uma distração irresistível, a qual seria um pecado resistir: ficar prestando atenção para ver quando um ator famoso ia entrar em cena, coisa típica de grandes produções da época (e de época). E há vários, para todos os gostos: John Wayne, como centurião romano, que diz apenas uma frase, na cena da crucifixação; Victor Buono (que estava a cara e a barriga do rei Tut, de BATMAN); José Ferrer, como Herodes; Charlton Heston, como João Batista; Martin Landau, como Caifás, David McCallum, como Judas, Sidney Poitier, como Simão e muitos outros. Um dos apóstolos que aparecem na Última Ceia é David Hedison, o capitão Crane de Viagem ao Fundo do Mar. Telly Savallas, o futuro Kojac, raspou a cabeça para viver Pôncio Pilatos e, a partir daí, adotou o “look” para sempre.  

sábado, 29 de abril de 2017

2942 - CONRACK

Conrack e seus alunos: a aula ideal

  CONRACK (USA, 1974) Ao chegar a uma escola, numa ilha do litoral da Carolina do Sul, o professor Pat Conroy (Jon Voight), de depara com um quadro desolador: a comunidade negra, paupérrima, vive um mundo à parte, sem referências com a realidade, e os alunos da pequena escola são maltratados pela diretora e submetidos a um ensino retrógrado que os leva à apatia geral e à total destruição de seus sonhos. Percebendo que o problema não estava nos alunos, mas sim na pedagogia utilizada, Conroy (“Conrack” era como os alunos pronunciavam seu nome) os estimula a aprender, a interagir com a natureza, redimensionando uma relação professor-aluno, que antes era vertical, numa confluência de olhares, sempre com respeito mútuo e humanidade. A partir daí, os alunos começam a acreditar em si mesmos e a se libertar de limitações impostas por uma sociedade preconceituosa e injusta. Dos filmes com temática de sala de aula, este é um dos mais belos e sensíveis, principalmente por causa da simplicidade com a qual questões importantíssimas são apresentadas pelo roteiro. Embora com elementos simbólicos um pouco óbvios (Conroy, louro, olhos azuis, em oposição à comunidade negra), o filme é de uma beleza inacreditável, ainda hoje, com sua mensagem pedagógica libertadora e extremamente necessária, pois a situação de muitos seres humanos continua, infelizmente, imutável.
  





domingo, 23 de abril de 2017

2941 - O SUBSTITUTO

Adrien Brody, emocionante
   O SUBSTITUTO (DETACHMENT, USA, 2011) – O título original (“detachment”: indiferença, distanciamento, desapego) dá bem a dimensão do personagem principal, Henry Barthes (Adrien Brody, estupendo), um professor que apenas se candidata a vagas de professor substituto, justamente por não querer se envolver com os problemas dos alunos com quem lida – não bastassem seus próprios dramas pessoais. Chamado para realizar uma substituição em uma escola em um estado completo de caos, encontrará professores/as que não sentem apego nenhum pela sua profissão, estudantes desencantados e aborrecidos da vida antes mesmo de começá-la, adolescentes à procura de adultos em quem confiar. O filme começa com uma epígrafe de Albert Camus: “E eu nunca me senti tão imerso e ao mesmo tempo tão desapegado de mim e tão presente no mundo”. Essa é a situação pessoal de Henry (que também é Barthes, em todo o seu sentido simbólico). Na interação com os alunos, ele vai jogando luzes sobre sua história, procurando pontos de conexão com os dramas que encontra na sala de aula, como também na de professores. O roteiro questiona até que ponto somos indiferentes aos sofrimentos das pessoas em nossa volta e também o papel do professor numa sociedade que, na sua dinâmica cruel, apenas “tritura” os jovens e seus sonhos, transformando-os em adultos sem esperança. Brody, mais uma vez impressiona por sua capacidade de estabelecer uma empatia imediata com o espectador.







sábado, 22 de abril de 2017

2940 - UM LIMITE ENTRE NÓS

      
Denzel e Viola, magistrais
UM LIMITE ENTRE NÓS (FENCES, USA, 2016) - FENCES faz parte de um ciclo de dez peças do dramaturgo August Wilson (1945-2005) sobre a experiência de ser negro nos Estados Unidos em diferentes momentos do século 20. Troy (Denzel Washington, devastador) chega à meia-idade pululando numa existência em que despontam um descontentamento extremo, raiva e amargura. Ex jogador de beisebol, e com passagem pela polícia, ele agora está casado com a devotada Rose (Viola Davis, um assombro) e virou lixeiro. Analfabeto e amargurado por se ver fracassado como um chefe de família e figura masculina, Troy desconta nos filhos sua frustração, enquanto procura dar a eles o que ainda tem de honestidade e retidão na vida e lhes poupar das decepções reservadas ao homem negro em terras americanas na década de 50. A primeira parte do filme é, realmente, puro teatro, no qual Denzel mantém o caudaloso texto original na íntegra. Mas é quando Viola Davis, até então numa atuação em meios-tons, entra realmente em cena – ao Troy lhe comunica um fato que irá mudar o rumo da história dos dois – que sua Rose irrompe como uma onda gigante de amargura, numa interpretação calcinante que se constitui numa magistral composição iniciada por Denzel na primeira parte do filme . O Oscar foi mais que merecido.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

2939 - CHOCOLATE

   
Thierrée e Omar Sy
CHOCOLATE (CHOCOLAT, França, 2015)
– Na virada para o século XX, os números exuberantes da dupla Footit (James Thiérrée, neto de Chaplin) e Chocolat (Omar Sy) chama a atenção do dono de um grande circo em Paris, para onde leva os dois e os transforma no topo das atrações da capital. Mas mesmo com o sucesso e o dinheiro (ambos controlados por Footit), cada vez mais Chocolat se ressente do papel de saco de pancada e da estereotipagem ignorante que o acompanham. O diretor Roschdy Zem refaz a trajetória digna e emocionante de um personagem que enfrentou com coragem todos os revezes que encontrou durante sua vida, principalmente os causados pelo racismo atávico europeu e o ódio injustificado. Omar Sy tem uma atuação sensível que nos conquista desde a primeira cena. A última sequência é arrasadora.  










segunda-feira, 17 de abril de 2017

2938 - FUGINDO DO INFERNO

   
McQueen volta ao stalag
  FUGINDO DO INFERNO (THE GREAT ESCAPE, USA 1963) – Um clássico. Durante a II Guerra, um grupo de prisioneiros aliados fazem planos para fugir de um campo de concentração alemão, usando habilidades específicas de alguns deles para realizar a façanha. A primeira parte do filme é mais baseada na comédia (facilmente nos remete a GUERRA, SOMBRA E ÁGUA FRESCA e a M.A.S.H), e a segunda se concentra na aventura de fugir da Europa ocupada. No elenco, Steve McQueen, James Garner, Charles Bronson, Donald Pleasence, Richard Attenborough e James Coburn. McQueen se destaca mais nas cenas em que exibe sua destreza na motocicleta do que no protagonismo dramático que se espera dele. É Attenborough que carrega o filme. McQueen deixou as filmagens em determinado momento porque achava que o roteiro não o privilegiava. Estava certo.  

sábado, 15 de abril de 2017

2937 - SEM MEDO DE VIVER

   
O intimorato Bridges, depois da queda do avião
  SEM MEDO DE VIVER (FEARLESS, USA, 1993) – Depois de sobreviver a uma queda de avião, Max Klein (Jeff Bridges) tem sua vida transformada: fica completamente desconectado de sua vida familiar, a esposa (Isabella Rossellini, excelente), o filho e suas referências sociais. Passa a se sentir indestrutível, sem medo de nada, e começa uma relação de resgate de si próprio com uma outra sobrevivente, Carla (Rosie Perez). Bridges tem uma atuação digna do Oscar. Sente-se a sua transformação interna pela respiração, pelo olhar e, sobretudo, pelo silêncio. É um ator intenso que constrói pontes ( ! ) com emoções que estão prestes a explodir. Este filme de Peter Weir aborda a morte (ou a quase morte) como valorização da vida e nos faz refletir se um homem que perde totalmente o medo pode ainda continuar humano, no sentido lato do termo. O grande John Turturro faz o psicanalista que não consegue penetrar na nova vida de Max e resgatá-lo de sua incapacidade de se religar com o mundo, depois de emergir de um acontecimento emocionalmente transformador. A pergunta clássica – “Por que eu?” – assume ares de estranhamento, pois Max não entende sua sobrevida após a tragédia. Weir se debruça sobre os abismos emocionais de seus personagens, em histórias nas quais pessoas comuns são transformadas por causa de eventos radicais. Foi assim em A TESTEMUNHA (1985) e A COSTA DO MOSQUITO (1986), ambos com Harrison Ford.  



2936 - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

    
A sociedade
  SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (DEAD POET SOCIETY, USA 1989) – O filme de Peter Weir é essencial para reflexões mais aprofundadas sobre educação em geral e, mais especificamente, sobre o comportamento em sala de aula, com alunos prestes a descobrir as potencialidades da vida. O roteiro e as atuações de um elenco soberbo – onde desponta a presença sensível de Robin Williams – estão afinados em todos os temas que perpassam a história: drama, descoberta existencial, vocações, autoritarismo, liberdade e, sobretudo, poesia. Ver e rever este filme é a oportunidade que todos nós temos de, um dia, ter tido um professor tão marcante como Keating e nos deixarmos ser tocados por sua ingente e delicada sensibilidade.



sexta-feira, 14 de abril de 2017

2935 - A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ

    
 A FRENTE FRIA QUE A CHUVA TRAZ (BRASIL, 2016) – Jovens entendiados da classe-média da zona sul carioca sobem o Vidigal, para fazer uma rave na laje de um dos barracos da favela. É baseado neste argumento pobre que Neville d’Almeida volta às telas, depois de anos afastado. O que se vê é o mesmo cinema marginal que marcou a carreira do diretor e que podia ter tido um impacto estético em outras épocas, mas não atualmente. Diálogos artificiais e atuações exageradas, tudo em torno de personagens estereotipados – a menina pobre que se prostitui, os adolescentes que são "espertos" e as garotas ricas que acham o máximo ir atrás de drogas subindo o morro. Tudo muito ruim, a começar pelo elenco global de jovens que pensam que são atores a um diretor que acha que ainda está nos anos 70. Totalmente dispensável. 

2934 - KONG: A ILHA DA CAVEIRA

    
Goodman, Hiddleston e Brie Larson
 KONG - A ILHA DA CAVEIRA (KONG: SKULL ISLAND, USA 2017) – O filme tem a seu favor a excelência técnica e a criatividade na maneira de explorá-la: a inspiração icônica de Apocalypse Now, de Coppola, perpassa o desfile visual repleto de referências e citações. Tudo começa bem, mas o roteiro se perde ao não privilegiar mais cenas com seu protagonista símio, já que, atualmente, os CGIs podem (quase) tudo, se bem executados. É o caso aqui: assim como o Godzilla de SHIN GODZILLA, Kong está mais crível do que nunca, graças aos avanços ininterruptos da “performance capture” que dá vida a tais criaturas. O elenco é composto de grandes nomes, mas as atuações poderiam estar mais de acordo com a expectativa. Samuel L. Jackson está um pouco fora do tom, e o excelente John Goodman, mais magro, desde CLOVERFIELD 10, praticamente desaparece da história. Tom Hiddleston, que já foi o Loki, irmão de Thor, é bom ator, mas sua presença neste filme ficou ainda por ser explicada. A fotógrafa de guerra que acompanha o grupo, Brie Larson, parece ter entrado na trama apenas para ter um flerte com Kong. Sem mais o que fazer, acaba pagando o mico mor de um filme que, manuelbandeiramente, tinha tudo para ser ótimo, mas não foi.   
  



2933 - TWO AND A HALF MEN - TEMPORADA 11

   
Jon Cryer e a desenxabida Amber Tamblyn
 TWO AND A HALF MEN – TEMPORADA 11 (USA, 2011) – Todas as esperanças de que a série retomaria algo fundamental – ser engraçada – caem por terra nesta temporada. A inserção de um personagem que emulasse Charlie é a prova que os roteiristas não sabiam mais o que fazer: Jenny, sua surpreendente filha, não acrescentou nada, e a atriz Amber Tamblyn é fraca de dar pena. O personagem de Ashton Kutcher continua sem rumo, sem graça, sem salvação. Jon Cryer ainda tem boas cenas, mas Alan, nesta fase, vai se descaracterizando demais, a serviço de salvamento da estrutura cômica do programa, perdida desde a saída de Sheen. Os únicos dois episódios engraçados foram os que contaram com a presença especial de Carl Reiner, que fez Marty, o milionário nonagenário com quem Evelyn se casa. São dele as melhores cenas. A temporada é tão ruim que os erros de gravação, insertos no DVD, são muito mais engraçados do que qualquer episódio da temporada.  



quinta-feira, 13 de abril de 2017

2932- ANOMALISA

   
 ANOMALISA (USA, 2015) – Esta animação feita com bonecos de massa é um filme meio perturbador. O protagonista Michael (voz de David Thewlis, de Harry Potter) está em uma cidade para uma palestra motivacional sobre vendas. No quarto do hotel, o estranhamento é imediato: a sequências apresentam tempos mortos, repletos de silêncios e contemplações. Logo em seguida, nos damos conta de que todas as pessoas que Michael vê têm fisionomias quase idênticas e a mesma voz, sempre masculina. Estamos, pois, diante de um ensaio angustiante sobre a mesmice e a banalidade cotidianas. Michael parece preso numa espiral de cenas e pessoas iguais, planas, sem provocações. Até que conhece Lisa (a única voz feminina, a cargo de Jennifer Jason Leigh), que, também estranha ao seu próprio mundo, começa a adentrar o muro existencial de Michael – ou é ele que percebe a chance de abrir uma brecha no que, antes, era infenso ao mundo exterior. O trabalho de animação beira a perfeição, o que pode nos deixar mais inquietos, ao percebermos que ver a realidade sem diferenças pode acontecer com gente de carne e osso. Silvério aprovaria, creio, este magnífico trabalho técnico.   

segunda-feira, 10 de abril de 2017

2931 - JOGO DO DINHEIRO

Clooney e as popozudas
.       O JOGO DO DINHEIRO (MONEY MONSTER, USA, 2016) – George Clooney é Lee Gates, um apresentador de um programa de TV sobre investimentos, com direito a toda e qualquer fanfarronice possível: dança rap, se fantasia, faz-se acompanhar de dançarinas popozudas, dispara bordões vulgares, sem se importar com o que possa ser politicamente correto. Julia Roberts é a diretora do show, sempre tentando – em vão – controlar a histrionice do “clown” das finanças. Até que, um dia, Kyle Budwell (Jack O’Connel) invade o estúdio onde Gates está gravando o “Money Monster” (que nome!!!!) e, pistola em punho, obriga o apresentador a vestir um colete recheado de explosivos. Kyle quer uma explicação para ter perdido todo seu dinheiro por causa das dicas de investimento propagadas por Gates. A direção de Jodie Foster se equilibra precariamente entre a sátira e a fábula moral, aquela que vende sonhos impossíveis a um público perigosamente receptível. A abordagem crítica aos shows sem limites éticos também se dilui com o desenrolar da história, cujo fim nos deixa a impressão de que poderíamos ter assistido a outra coisa.  











domingo, 9 de abril de 2017

2930 - DÉJÀ VU


 
Paula Patton - um ótimo motivo para Denzel Washington voltar ao passado
 
    DÉJÀ VU (USA, 2006) – Denzel Washington é obrigatório. Anthony David Leighton Scott foi sempre obliterado pela fama de seu irmão mais velho, Ridley, responsável por joias como BLADE RUNNER, PERDIDO EM MARTE e ALIEN. No entanto, Tony foi responsável por excelentes obras, em parceria com Denzel: CHAMAS DA VINGANÇA, MARÉ VERMELHA e INCONTROLÁVEL, além do excepcional INIMIGO DE ESTADO, com Will Smith e Gene Hackman, e o clássico FOME DE VIVER, com David Bowie. Seu estilo de câmera acelerada, com imagens decupadas e trilha sonora instigante é inconfundível. Em DÉJÀ VU, ele mistura um thriller policial, entremeado de laivos políticos, (há um atentado terrorista logo no início do filme, numa sequência estupenda com a explosão de uma barca) com ficção científica (com o tema, sempre instigante, da viagem no tempo). É exatamente aí que Scott costura o roteiro magistralmente, para dar sentido, e alguma plausibilidade, a uma história que mesmeriza deste a primeira cena. Se Denzel, como o agente federal que quer capturar o terrorista (Jim Caviezel, excelente), dá crédito à trama, o ritmo frenético da direção de Scott faz o espectador embarcar no lado sci-fi da aventura, numa total imersão do “suspension of disbelief”, que só faz bem. Afinal, quem não iria atrás da cotia Paula Patton, para salvá-la, mesmo que tivesse de voltar no tempo e alterar os fatos? Em consonância com o título, eis um filme para se ver várias vezes.



sábado, 8 de abril de 2017

2929 - O PROTETOR

  
 O PROTETOR (BLACKWAY, USA, 2015) – O título em português remete ao filme homônimo com Denzel Washington, por algum motivo misterioso. Aqui, temos outro grande encabeçando o elenco – Anthony Hopkins – no papel de um lenhador que aceita ajudar uma moça (Julia Stiles) ameaçada por um ex-policial corrupto (Ray Liotta). Hopkins tem uma atuação apenas competente, muito prejudicada pelo roteiro ruim. Na última cena, porém, ele emociona, simplesmente olhando por uma janela. Julia Stiles é, de fato, uma atriz com imensa força cênica. A voz, o olhar, algo inefável na hora de entregar as falas – tudo isso a faz uma atriz interessantíssima. Seu personagem neste filme é muito parecido com o que ela fez na quinta temporada de Dexter, onde, também, ela impressiona pelo magnetismo – é quase impossível desgrudar os olhos dela. Foi assim como a Nicky Parsons da quadrilogia Jason Bourne.     

quinta-feira, 6 de abril de 2017

2928 - DEMOLIÇÃO

 
Gyllenhaal e Naomi Watts
    
DEMOLIÇÃO (DEMOLITION, USA 2015) - Jake Gyllenhaal é Davis, um homem que tem uma vida sem grandes problemas, com uma esposa não lhe desperta muita atenção. Quando ela morre num acidente de carro, Davis se dá conta de que não a amava, que ele vivia num mundo sem consciência do que acontecia em sua volta.  A partir daí, ele passa a ter um comportamento muito mais ativo, percebendo a realiade de forma mais arguta, interagindo com as pessoas mais profundamente. É quando conhece Karen (Naomi Watts), responsável pelo setor de reclamações de consumidores, ao fazer uma carta de insatisfação de um produto, sem esperar que seria respondido. Ambos iniciam uma inusitada relação, que o leva a conhecer o filho dela, Chris (Judah Lewis), um jovem problemático de quinze anos que logo percebe ter muito o que aprender com o jeito libertador e sincero que Davis passa a ter. A discussão do luto é um tema bem recorrente no cinema, mas aqui, o diretor Jean Marc Vallé (do sensacional CLUBE DE COMPRAS DALLAS) expõe este sentimento de forma não definitiva que nos leva a pensar na morte como algo libertador, um “drive” para uma atitude destrutiva e construtiva (assim é como Davis aparece para o espectador). O filme confirma as boas escolhas de Gyllenhaal e ainda oferece atuações marcantes de Naomi Watts e o sempre impecável Chris Cooper. A agradável ausência de clichês e das soluções óbvias resultam num filme cheio de humanidade e de reflexões sobre a culpa e os estereótipos que nos acompanham durante a vida.  

segunda-feira, 3 de abril de 2017

2927 - THE WALKING DEAD - TEMPORADA 7

  
Rick pensa: "O que faço agora?"
 THE WALKING DEAD – TEMPORADA 7 (TWD – SEASON 7, USA, 2017) – Esta temporada se arrastou como os walkers que as caracterizam desde o seu início. Muitos episódios se concentraram em personagens isolados, e foi aí que TWD desandou um pouco, pois alguns deles não são tão importantes para merecerem uma abordagem assim tão objetiva. Além disso, outro fator não funcionou: os roteiristas criaram comunidades isoladas geograficamente, algo assim como acontece em GAMES OF THRONES, e a ação se dispersou, sem que a dinâmica dramática se desenvolvesse. A esperada ofensiva contra Negan vai ficar mesmo para a 8.a temporada, e alguns personagens, como o inane Eugene e a desenxabida Tara, irritaram por sua indefinição. O último episódio mostrou um pouco mais de movimentação, mas não foi suficiente para causar a comoção e o envolvimento de outras temporadas.


domingo, 2 de abril de 2017

2926 - ASSASSINATOS NA GOLDEN GATE

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ASSASSINATOS NA GOLDEN GATE (THE GOLDEN GATE MURDERS, USA, 1979) – Estes é um dos filmes que ficaram na minha memória afetiva. A história é simples: um padre é considerado suicida pela polícia de São Francisco, mas Irmã Benecia (Susanah York, belíssima), que também era sua enfermeira, não acredita na versão oficial. Sua obstinação chama a atenção de um policial veterano (David Jassen, no último papel de sua carreira), e os dois passam a investigar o que estaria por trás deste e de outros assassinatos ocorridos na icônica ponte. É uma produção feita para a TV, mas com todo o charme dos melhores filmes da década de 70. Jassen está perfeito como o policial durão que, aos poucos, vai se envolvendo com o mais improvável interesse romântico de sua vida. Susanah York está inteiramente à vontade num personagem que descobre o amor em meio a uma tragédia pessoal. Sua conexão com Jassen é o que faz do filme uma daquelas pequenas joias que valem a pena ser revistas de tempos em tempos. O fato de ser o último filme de Jassen também reforça a carga dramática de uma história cuja última cena, no interior de um avião, é para corações fortes.  






2925 - SHIN GODZILLA

   
SHIN GODZILLA (JAPÃO, 2016) – De todos os filmes sobre Godzilla, este é o mais impressionante, sem qualquer dúvida. A bem da verdade, não há grande originalidade no roteiro – Godzilla, mais uma vez, desperta e ataca Tóquio. No entanto, nesta produção, os efeitos especiais são inacreditavelmente realistas, e ver Godzilla caminhar solenemente entre os edifícios e ruas da capital japonesa, como se estivéssemos ali mesmo, pertinho, quase sentindo o bafo quente do monstro, é a prova de que o cinema finalmente conseguiu dar vida, de forma convincente, a qualquer produto da imaginação humana. É importante dizer que este filme não segue o estereótipo dos seus congêneres – não espere ver apenas um monstro destruindo a cidade e pessoas correndo desesperadas. Grande parte do roteiro se passa em sala de reuniões, onde se discute uma crise nacional, depois que um grande terremoto provocou uma situação crítica no setor nuclear. Mas o centro de tudo é Godzilla. O Japão recupera, com louvor, a fama de seu monstro-ícone, agora muito mais assustador e muito acima do que Hollywood tentou, mas não conseguiu fazer.