ANOMALISA (USA,
2015) – Esta animação feita com bonecos de massa é um
filme meio perturbador. O protagonista Michael (voz de David Thewlis, de Harry
Potter) está em uma cidade para uma palestra motivacional sobre vendas. No quarto
do hotel, o estranhamento é imediato: a sequências apresentam tempos mortos,
repletos de silêncios e contemplações. Logo em seguida, nos damos conta de que
todas as pessoas que Michael vê têm fisionomias quase idênticas e a mesma voz,
sempre masculina. Estamos, pois, diante de um ensaio angustiante sobre a mesmice
e a banalidade cotidianas. Michael parece preso numa espiral de cenas e pessoas
iguais, planas, sem provocações. Até que conhece Lisa (a única voz feminina, a cargo
de Jennifer Jason Leigh), que, também estranha ao seu próprio mundo, começa a
adentrar o muro existencial de Michael – ou é ele que percebe a chance de abrir
uma brecha no que, antes, era infenso ao mundo exterior. O trabalho de animação
beira a perfeição, o que pode nos deixar mais inquietos, ao percebermos que ver
a realidade sem diferenças pode acontecer com gente de carne e osso. Silvério aprovaria,
creio, este magnífico trabalho técnico. |