SEM MEDO DE VIVER
(FEARLESS, USA, 1993) – Depois de sobreviver a uma queda
de avião, Max Klein (Jeff Bridges) tem sua vida transformada: fica completamente
desconectado de sua vida familiar, a esposa (Isabella Rossellini, excelente), o
filho e suas referências sociais. Passa a se sentir indestrutível, sem medo de
nada, e começa uma relação de resgate de si próprio com uma outra sobrevivente,
Carla (Rosie Perez). Bridges tem uma atuação digna do Oscar. Sente-se a sua
transformação interna pela respiração, pelo olhar e, sobretudo, pelo silêncio. É
um ator intenso que constrói pontes ( ! ) com emoções que estão prestes a
explodir. Este filme de Peter Weir aborda a morte (ou a quase morte) como
valorização da vida e nos faz refletir se um homem que perde totalmente o medo
pode ainda continuar humano, no sentido lato do termo. O grande John Turturro faz
o psicanalista que não consegue penetrar na nova vida de Max e resgatá-lo de
sua incapacidade de se religar com o mundo, depois de emergir de um acontecimento
emocionalmente transformador. A pergunta clássica – “Por que eu?” – assume ares
de estranhamento, pois Max não entende sua sobrevida após a tragédia. Weir se
debruça sobre os abismos emocionais de seus personagens, em histórias nas quais
pessoas comuns são transformadas por causa de eventos radicais. Foi assim em A
TESTEMUNHA (1985) e A COSTA DO MOSQUITO (1986), ambos com Harrison Ford.