J. EDGAR (USA, 2011) – Clint Eastwood é sempre obrigatório, mas este
não é dos seus melhores filmes, apesar da sempre ótima atuação de Leonardo
DiCaprio, num papel inesperado: o temível chefe do FBI, J. Edgar Hoover, cujo
arquivo secreto era o pesadelo de vários presidentes americanos, principalmente
Kennedy e Nixon. Tanto que, quando Edgar morre, a primeira coisa que Nixon faz
é ordenar a apreensão de seu arquivo particular. Não consegue porque a
secretária de Hoover, Helen Gandy (Naomi Watts), a pedido dele, destrói tudo. O
grande problema do filme é a maquiagem, nem sempre convincente na
caracterização dos personagens na velhice. Mas Eastwood tem crédito,
muito crédito. Clint Eastwood is always obligatory, but this is not one of his
best works, despite Leonardo Di Caprio’s remarkable performance, as always, in
an unexpected role: the frightening FBI boss, J. Edgar Hoover, whose secret
files were the nightmare of many US presidents, namely Kennedy and Nixon, who
wanted to get these records immediately after Edgar’s death. He did not succeed
because Hoover’s secretary, Helen Gandy (Naomi Watts), at his request,
destroyed everything. The problem of the movie is the unconvincing make-up of
the characters when they get older. However, Eastwood has credit.
JANGO – COMO, QUANDO E POR QUE SE DERRUBA UM PRESIDENTE (BRASIL, 1976) – Com muitas imagens do documentário JANGO, de Sylvio Tendler, este traz a reconstituição da trajetória de Goulart é feita através da utilização de imagens de arquivo e de entrevistas com importantes personalidades políticas como Afonso Arinos, Leonel Brizola, Celso Furtado, Frei Betto e Magalhães Pinto, entre outros. O sugestivo slogan do filme foi “Como, quando e por que se derruba um presidente”. O documentário captura a efervescência da política brasileira durante a década de 1960 sob o contexto histórico da Guerra Fria. Jango narra exaustivamente os detalhes do golpe e se estende até os movimentos de resistências à ditadura, terminando com a morte do presidente no exílio e imagens de seu funeral, cuja divulgação foi censurada pelo regime militar. Agora que acabei de ler a biografia de Jango, o documentário teve um outro significado para mim, muito mais profundo.
BASTARDOS INGLÓRIOS (INGLORIOUS
BASTERDS, USA, 2009) – Cada
fotograma deste filme de Tarantino vale o ingresso. Perfeito, do início ao fim.
Em cada cena, a emoção transborda, numa mistura de vingança e justiça. Os
diálogos são simplesmente aulas de cinema, já que abundam referências a outros
filmes. Tudo sob a batuta magistral de QT, um diretor que sabe como ninguém
colocar seus atores no contexto da história (basta ver ERA UMA VEZ EM
HOLLYWOOD...). Mas a grande atração é Christoph Waltz, simplesmente
galvanizante no papel de um histriôncio coronel nazista. Each photogram
of this Tarantino’s movie is worth buying the ticket. Perefct, from the
beginning to the end. In each scene, there is emotion along with revenge and
justice. The dialogues are lectures on cinema making, for several references
from other movies can be found. Everything under QT’s baton, a director who
knows how to insert his actor in the story atmosphere (just see ONCE UPON A
TIME IN HOLLYWOOD…). Furthermore, the greatest attraction is Christoph Waltz,
simply galvanizing in the role of a histrionic Nazi colonel.
ROBIN HOOD – PRÍNCIPE DOS LADRÕES
(ROBIN HOOD: PRINCE OF THIEVES, USA, 1991) – Obrigatórios: Kevin Costner e Morgan Freeman. Apesar de
algumas falhas na produção (visíveis, hoje), o filme ainda funciona como
entretenimento, além de contar com Costner no auge do estrelato, como Robin
Hood, e do auxílio luxuoso de Freeman, no papel de seu leal companheiro. Além
disso, Alan Rockman está muito bem como um histérico xerife de Nottingham
chegado a bruxarias. E um toque de classe: Sean Connery, nas cenas finais, como
King Richard. Obligatory: Kevin Costner and Morgan Freeman. Despite some production
flaws (visible today), the movie still works as entertainment, besides counting
with Costner, at his stardoom peak, as Robin Hood, sided by Freeman as his
loyal companion. Moreover, Alan Rickman is outstanding as the hysterical
sheriff of Nottingham. In addition, a touch of class: Sean Connery, in the
final scenes, as King Richard.
RESGATE (EXTRACTION, USA, 2020) – A Netflix resolveu ir fundo no
cinema de ação com este filme. A lógica de videogame se dilui em planos-sequência
memoráveis e uma quantidade de mortes idem. A violência estilizada se justifica
(vem de uma graphic novel) pelo enredo: Tyler (Chris Hemsworth), um mercenário letal e chegado à
bebida, é escalado para resgatar o filho de um narcotrafiante indiano, e faz literalmente
de tudo para cumprir sua missão. No processo, Tyler vai se abrindo
emocionalmente – sempre há um trauma, mesmo para Thor. Excelente
filme. Netflix invested heavily in this movie whose videogame logic is explained
by memorable sequence plans as well as a substantial number of deaths. The stylized
violence is justified by the plot: Tyler (Chris Hemsworth), a lethal and drunk
mercenary, is called to rescue an Indian narco dealer’s son, and he goes to any
lengths to accomplish his mission. In the process, Tyler starts to open himself
– there is always a trauma, even for Thor. Great movie.
1PERDIDOS
NO ESPAÇO, TEMPORADA 2 (LOST IN SPACE, SEASON 2, USA 2019) - Netflix’s reimagining
of the 1965 sci-fi series is still all about problem-solving, and the
frequently outrageous scenarios the Robinson family finds themselves in are
more varied and engaging this go-around. The goals are simple enough: Get to
Alpha Centauri and find Will’s Robot friend, but the stronger focus on the
Robinsons working with and against the Resolute’s crew and passengers is more
engaging than the ludicrous scenarios the family often put themselves into in
the prior season. The Robinsons are all likable enough and given just enough depth to
emphasize with, but there’s nothing particularly nuanced about their
personalities to cause them to truly stand out. Posey’s Dr. Smith, one of the
more maligned aspects of Season 1, also continues to be a mixed bag: Her
character still lacks any redeeming aspects and the new flashbacks about her
past do nothing other than reiterate information the audience already received,
but her actions and relationships with the protagonists are given more meaning
and payoff. It’s a convoluted and rushed ending that doesn’t offer much of an
emotional payoff, but its teases are interesting enough that series fans will
probably be willing to overlook the lack of a resolution. “Lost in Space”
stumbles in as many ways as it soars, but with a tighter and more original
narrative and more fleshed out characters, the series could become a genuinely
great sci-fi adventure if Netflix decides to renew it for a third season.
O GUARDA-COSTAS (THE BODYGUARD,
USA, 1997) – Ainda hoje, o
filme emociona, principalmente por causa da atuação cool e ao estilo Steve
McQueen de Kevin Costner. Sim, é um drama comum, sem nada de excepcional, mas é
um daqueles filmes de que gostamos, sem saber bem por quê. É um thriller
misturado com aqueles romances impossíveis que, quis o destino, se transformou
em um clássico. E é sempre bom ver de novo, em cena, Ralph Waite, o patriarca
dos Waltons. Still today, the movie works, chiefly because of Kevin
Costner’s cool McQueen-esque performance. Yes, it is a common unexceptional
drama, but is one of the movies we love and can not explain why. It is blend of
thriller and impossible love stories that has turned out being a classic.
Moreover, it is a pleasure to see again Ralph Waite, the Waltons patriarc.
NOSSAS
NOITES (OUR SOULS AT NIGHT, USA, 2017) – Escondido no cardápio da
Netflix, este filme sensível é sobre Louis, um viúvo que mora numa pequena
cidade do Colorado e tem muita dificuldade para dormir. Sempre acordado antes
do nascer do sol, ele é mais um homem solitário numa tela de Edward Hooper.
Então, sua vizinha, Addie, o convida para dormir com ela. Belo reencontro de
Redford e Fonda, que protagonizaram DESCALÇOS NO PARQUE, em 1967. Louis (Robert Redford)
is a widower who lives on the sleepy fringes of small-town Colorado, where he
is unable to get much shut-eye of his own. He’s always up before the sun comes
up, with the radio on and the newspaper open, just another lonesome old man
living an Edward Hopper existence. Then one night there’s a tap on the door and
in walks Addie (Jane Fonda), who lives across the street and is in pretty much
the same boat. Out of the blue, without preamble, Addie asks Louis if he
wouldn’t mind coming over to sleep with her. Not for the sex, just for the
company, because she is lonely and the nights are the worst. It’s a terrific
opening gambit and Fonda plays it with aplomb. Her appeal is so nakedly sincere
that something catches in your chest. Nice reunion of the stars of BAREFOOT IN
THE PARK (1967).
INFILTRADO NA KLAN (BLACKKKLANSMAN,
USA, 2018) - Parents need to know that
director Spike Lee's BlacKkKlansman is a sometimes-absurd
account of a real-life black cop's (John David Washington's) undercover mission in the Ku Klux
Klan in the 1970s. Expect strong language throughout, as well as mature
themes related to racism and terroristic violence -- but the film also portrays
courage and cooperation in the face of extreme racial hatred. Though very
little violence is actually shown, a particularly sadistic lynching is
described in disturbing detail. “BlacKkKlansman” has rightly been
praised for connecting its 1970s story about a black police officer’s
infiltration of the Ku Klux Klan with clips from last
year’s violent Unite the Right march in Charlottesville, Virginia. The closing
news footage devastatingly conveys how far we have come
CARNE TRÊMULA (CARNE TRÉMULA, Espanha,
1997) – Almodóvar fez uma bela paella dramática com todos os
ingredientes latinos que tanto nos fascinam: vingança, paixão, ciúmes, sexo e frustração.
Sua marca direcional está lá: um roteiro circular em que todos os personagens
repetem padrões de comportamentos, cruzando-se os caminhos e, inadvertidamente,
replicando suas ações. Coisa de gênio. Javier Barden está primoroso, num
personagem que passa a maior parte do tempo numa cadeira de rodas, tentando
entender os fantasmas que teimam em voltar de um passado que ele fez de tudo
para esquecer. Imperdivel.
TC Cult. Almodóvar made a nice dramatic paella with all the Latin ingredients:
vengeance, passion, jealousy, sex, and frustration. His directorial trademark,
the looping circular plot in which the characters both repeat and vary their pattern
of behavior, crossing one another’s paths and inadvertently echoing the actions of others, is completely there. A work of a genius. Javier Barden is
outstanding playing a character who spends most of the time in a wheelchair,
trying to understand the ghosts from the past, which he tried so hard to forget.
Unmissable. TC Cult.
1 ROCKETMAN
(USA, 2019) –
Seguindo o filão das cinebios musicais que têm tido muito sucesso (o excelente BOHEMIAN
RAPSODY prova isso), o filme de Dexter Fletcher é uma tocante (sem trocadilhos)
e intensa viagem pela vida de Elton John. Taron Egerton, o motor do filme, está
perfeito no papel do artista angustiado, com sérios problemas emocionais em relação
aos pais, mas imensamente talentoso. O talento sempre encontra um caminho. Egerton
ainda tem uma vantagem rara: tem uma voz excepcional e cantou todas as canções
do filme, da linda YOUR SONG a CROCODILE ROCK, sem truques e com impressionante
fidelidade ao espectro vocal de Elton. Following the path of musical biopix that have had
great success (the outstanding BOHEMIAN RAPSODY is an example of this), Dexter
Fletcher’s movie plays up (no pun intended) the facts in Elton John’s life in
an intense way. Taron Egerton, the motor of the film, is perfect on the role of
the anguished artist, with serious family issues, but immensely talented. Talent
always finds a way. Egerton still has a rare advantage: an exceptional voice
and he sang all the songs, from the beautiful YOUR SONG to CROCODILE ROCK, without
any ticks and with an impressive fidelity to Elton’s vocal scope.
SERGIO
(USA, 2020) – A
produção da Netflix sobre a vida de Sérgio Vieira de Mello foca nos seus últimos
dias no Iraque, onde uma bomba explodiu na sede das Nações Unidas. Flashbacks
procuram explicar como ele direcionou sua carreira e, paralelamente, como conheceu
Carolina Larriera e se apaixonou por ela. Portanto, o filme é mais um romance
do que um olhar mais próximo dos feitos de Sergio na relações internacionais. Wagner
Moura está correto, mas apenas isso. Não sei se foi a escolha correta para o personagem
principal. Por outro lado, Ana de Armas faz de Carolina uma figura solar, encantadora
e decidida, suave e forte, sem perder a delicadeza. Para mais informações, veja
o documentário SERGIO, na HBO. This Netflix production about Sérgio
Vieira de Mello’s life focuses on his last days in Iraq, where a bomb destroyed
the UN offices. Flashbacks try to explain his career and his love relationship with
Carolina Larriera. Thus, the movie is more a romance than a closer look at Sergio’s
accomplishments in terms of international relations. Wagner Moura is correct in
the role, but nothing more. It does not seem to me that he was the best choice
for the leading character. On the other hand, Ana de Armas turns Carolina into
a solar figure, enchanting and resolute, tender and strong, without losing her delicate
persona. For more information, check the documentary SERGIO, on HBO.
HOMEM-ARANHA: LONGE DE CASA (SPIDER-MAN: FAR FROM
HOME, USA, 2019) – Produção: ruim. Elenco: baixo nível. CGIs:
ruins. Direção: pouco profissional. Sem mais comentários. Production: lousy. Cast:
low level. CGIs: weak. Direction: amateurish. No more comments.
VESTÍGIOS DO DIA
(REMAINS OF THE DAY, USA, 1993) –
Anthony Hopkins é obrigatório. Neste filme, mais que obrigatório. Seu papel
como o mordomo de um lorde inglês é soberba. Incapaz de grandes demonstrações
de afeto, ele começa a se apaixonar pela governanta – outra impressionante
atuação de Emma Thompson -, sem saber o que fazer com seus sentimentos.
Paralelamente, percebe que seu patrão tem ligações com o Nazismo. Outros
eventos o colocam em contato com o mundo exterior e, assim, com suas emoções
represadas. Filme
lindo. Netflix. Anthony Hopkins is obligatory. In this movie, more than
obligatory. His performance as a Birtish lord’s butler is mind-blowing. Unable
of great affection displays, he falls for the housekeeper – another impressinve
performance of Emma Thompson -, without knowing how to deal with his feelings.
Parallel to this, he finds that his boss has connections with the Nazi. Other
events put him in contact with the outer world and with his repressed emotions.
1 BLÁCULA (BLACULA, USA, 1971) - Quando
foi lançado, BLÁCULA era uma forma de aproveitar o sucesso decadente dos filmes
de horror da Hammer e a ascensão do cinema blaxploitation do início da década
de 70, que eu particularmente adorava. A combinação dos dois gêneros resultou
num filme quase engraçado, quase aterrorizante, repleta de clichés, mas que
funciona. At the time of Blacula's release, studios such as American International
and Hammer were pumping out cheap horror flicks for an ever-thirsting legion of
young fans (myself included). At the same time, blaxploitation films were also
making big bank . . . so why not combine the two genres? It was a pure marketing
genius, backed by some of the biggest box offices of 1972. The great
Shakespearean actor William Marshall (Dr. Daystrom to you original Star Trek
fans) plays the tormented African prince magnificently; asleep for 200 years,
he awakes to find an African-American culture riddled with blaxploitation clichés.
It's bad enough such a dignified man has the hunger -- he also has to deal with
these people in giant heels and 'fros. The juxtaposition works as a statement
about what slavery did to African culture, but is never overtly mentioned. .
.after all, this is a horror flick too! Extra points for a musical appearance
by The Hughes Corporation (before their big hit, "Rock the Boat") and
a fine supporting performance by Denise Nicholas, a wonderful actress who
should have had a bigger career. More silly than scary, Blacula endures as a
unique film and pop-culture time capsule worth seeing.
MATAR OU MORRER (HIGH NOON, USA, 1952) – Este western é um dos clássicos do
cinema americano, com Gary Cooper no papel de um xerife recém aposentado, que
decide proteger sua cidade pela última vez, logo depois de se casar com Amy
(Grace Kelly, estonteantemente bela). Bem, podemos questionar suas razões, mas
devo dizer que eu nunca deixaria de viajar em lua de mel com Grace Kelly para
enfrentar um bando de vagabundos. O roteiro é bem simples, mas o carisma de
Cooper, a beleza irretocável de Grace e a direção segura de Fred Zinnemann
garantiram a HIGH NOON um lugar de destaque no panteão dos clássicos do cinema.
This western is one of the classics of the American cinema, with Gary
Cooper in the role o a newly married sheriff, who decides to protect his town
for the last time, after having married Amy (Grace Kelly, stunning gorgeous).
Well, we can question his reasons, but I should say that I would never leave
Grace Kelly in order to fight a bunch of outlaws. The script is quite simple,
but Cooper’s charisma, Grace’s flawless beauty and the firm direction of Fred
Zinnemann grant HIGH NOON a noble place in the movie pantheon.
1O LIVRO DE ELI (THE BOOK OF ELI, USA, 2010) – Denzel
Washington é obrigatório. Neste filme, ainda mais. Com um clima distópico turbinado
com uma belíssima fotografia esmaecida, Eli (DW) vai atravessando uma vastidão
desértica, depois que uma hecatombe atômica dizimou quase toda a civilização. Restaram
algumas boas pessoas e a grande maioria do que há de mais sórdido na raça
humana. À parte qualquer hermenêutica apressada em relação à religião ou outra
abordagem metafísica, é uma história sobre a importância dos livros na vida das
pessoas, e é exatamente por isso que o filme é profundamente belo. Especialmente
agora, num período de trevas, desgovernados por um genocida, além do medo real
da pandemia que se espalha pelo mundo, um filme como THE BOOK OF ELI é tão obrigatório
quanto o seu protagonista. E Mila Kunis prova que ainda pode haver esperança
para quem sabe ver. HBO. Denzel Washington is obligatory. In this movie, more than never. The dystopian
atmosphere is boosted with a spectacular faded photography, and Eli (DW)
crosses the desert vastness after humankind was destroyed by an atomic
hecatomb. What is left is only some good people and the scum of the mankind. Apart
any rush hermeneutics about religion or any other metaphysics approach, it is a
story about the importance of books in people’s lives, and that is why the
movie is so beautiful. Especially now, in this dark ages, ungoverned by a genocidal
president, besides the actual fear for the pandemics that is spread throughout the
world, THE BOOK OF ELI is as obligatory as its protagonist. Moreover, Mila
Kunis proves that there might be hope for those who can really see. HBO.
1.INVASORES (THE INVASION, USA 2007)–
Nada de especial neste sci-fi com Nicole Kidman e Daniel Craig: um vírus
alienígena toma conta das pessoas, como em OS INVASORES DE CORPOS, de 1956. A
única coisa interessante aqui é que Craig, no meio da filmagem, recebeu uma
chamada de Barbara Broccoli dizendo que ele fora escolhido para interpretar
James Bond. Nicole Kidman está com o rosto bem menos plastificado neste filme,
o que pode ser considerado um de seus pontos positivos. Fora isso, nada demais. Nothing special in this sci-fi
with Nicole Kidman and Daniel Craig: an alien virus takes control of the
people, as in THE INVASION OF THE BODY SNATCHERS (1956). The only interesting
thing here is that Craig, in the middle of the shooting, got a phone call from
Barbara Broccoli informing him he had won the role of James Bond. Nicole Kidman
has a less plasticized face in this movie, which can be considered one of its
highlights. Apart from this, nothing else.
1BONECA INFLÁVEL (AIR DOLL, Japão, 2009) – Mistura poética de Blade Runner, A.I., Pinocchio e Toy Story,
o filme do diretor Hirokazo Koreeda parte de uma premissa que pode dar uma
ideia equivocada sobre o roteiro: um garçom solitário compra uma boneca inflável
para mitigar sua solidão e, um dia, ela se percebe com um coração e uma
incontrolável curiosidade de conhecer o mundo. De forma poética (as cenas de Tóquio
são primorosas), lento e lindamente fotografado, o filme mostra o grande vazio
das grandes cidades. Vê-se que, assim como a boneca, as pessoas também são
vazias, solitárias e, em muitos casos, também facilmente substituíves. Há também
a discussão sobre o papel da mulher numa sociedade extremamente machista como a
japonesa e as relações descartáveis e tão pouco valorizadas que quase nem se nota
quando as jogamos, literalmente, no lixo. Poetic mixture of BLADE RUNNER,
A.I., PINOCCHIO and TOY STORY, the movie of Hirokazo Koreeda shows a premise
about a plot that can be misunderstood: a solitary waiter purchases an air
doll to mitigate his loneliness and, one day, she realizes that she has a heart
and an uncontrollable desire to discover the world. In a poetic way (the scenes
of Tokio are gorgeous), unhurried and beautifully photographed, the movie displays
the immense emptiness of the great cities. It is known that, like the dolls, people
are also shallow, solitary and, in many cases, easily replaced. There is also a
discussion about the women’s role in an extremely sexist society as Japan and
the disposable and underrated relationships that nobody notices when they are literally
thrown in the garbage. Petras Belas Artes.
HEADHUNTERS (Noruega, 2011) – O complexo de Napoleão que acomete o personagem principal
logo nas primeiras cenas dá o tom deste excelente thriller de suspense norueguês.
Kleber tinha razão. O filme é ótimo, apesar de alguns furos num roteiro, que é
bem diferente dos clichês hollywoodianos. É um bom exemplo do cinema nórdico,
combinando uma direção segura, boas atuações e um realismo repleto de violência
gráfica. Os twists não
são tão surpreendentes, porém são realizados com estilo e classe. Kleber was
right. It is a terrific
example of skilled Nordic filmcraft at its best, which combines good directing,
credible acting, dark realism and intelligent story, which all together make it
overall a very enjoyable package. There were some script quirks and the pace of
the film at times was breathtaking, but nothing major to gripe about. Even though the cast is small, they
are well used and the story rattles along at a pace that keeps the viewer
involved at every turn. There are some satisfying developments that don't really
qualify as twists, and there is nothing radical here, but it is done with style
and panache.
SE MEU APARTAMENTO FALASSE (THE APARTMENT, USA, 1960)– Poucos filmes conseguiram um equilíbrio tão perfeito entre drama e comédia quanto este clássico de Billy Wilder. O título em português, caprichando no subjuntivo malandro, que apenas sugere a safadeza que tinha lugar quando a porta se fechasse, é um dos poucos que ficaram melhor na língua de Camões e Drummond do que no original em inglês, simples demais para dar ideia do que o roteiro bolado por Wilder e I.A.L. Diamond tem a oferecer. Era uma história ousada para o início da década de 60: C.C. Baxter (Jack Lemmon) oferece seu apartamento para que os diretores da empresa em que trabalha se encontrem com suas amantes, na esperança de conseguir uma promoção profissional. Simples, ingênuo, quase simplório, Baxter se apaixona por uma das ascensoristas do enorme prédio onde é um modesto contador. Interpretada por Shirley MacLaine (linda, suave, encantadora), Fran tem um caso secreto com o dono da companhia (Fred McMurray), até que um espelho quebrado inadvertidamente releva a Baxter a verdade de sua vida. A cena é magistral. Wilder habilidosamente vai despindo a história do humor inicial, camada por camada, até focar na desolação e solidão que habita a vida de todos os personagens. Lemmon está perfeito num papel difícil, que só um ator do seu calibre poderia fazer. Shirley MacLaine, com todo o seu talento, nunca esteve tão bela num personagem literalmente partido. Few films could reach a so perfect balance between drama and comedy as this Billy Wilder’s classic. The title in Portuguese, focusing on the streetwise subjunctive that just suggests the twisted atmosphere inside four walls, is much better than the original, which is too simple to give the clue to what the script concocted by Wilder and I.A.L. Diamond has to offer. It was a bold story to be told at that time: C.C. Baxter (Jack Lemmon) is a young employee trying to climb the greasy pole of success in a huge Manhattan insurance company, who lends his apartment to the company directors to have their extramarital affairs. Simple, naïve, almost gullible, Baxter falls in love for an elevator operator of the building. Played by Shirley MacLaine (beautiful, tender and charming), Fran has also a secret affair with one of the high-ups (Fred McMurray), until a broken mirror inadvertently exposes the truth to Baxter. The scene is a masterpiece. Wilder masterfully strips the story from its humor, layer by layer, until the desolation and loneliness of the characters are left. Lemmon is perfect on a difficult role that only an actor of his caliber could play. The talented Shirley MacLaine has never been so mesmerizing in a character that is literally torn apart. TC Cult.
JOHN AND YOKO –
ABOVE US ONLY SKY (USA, 2019) – Documentário sobre a produção do icônico álbum IMAGINE, de John
Lennon. Seguindo o padrão dos gêneros, temos várias entrevistas e imagens da
intimidade de Lennon e Yoko. Além disso, a música de
Lennon é maravilhosa, com trechos de cada faixa do álbum ilustrando as
histórias daquele período. Documentary about the production of the iconic album IMAGINE. Following
the pattern of the genre, there are many interviews and images of John and
Yoko’s intimacy. Moreover, Lennon’s music is terrific, with snippets of every track from the album
illustrating the stories of the time. Netflix.
JOHN WICK 3: PARABELLUM (USA, 2019) –
Keanu Reeves aproveita sua persona estoica ao máximo nesta terceira edição da série
de violência tão extravagante quanto cômica – numa das cenas, ele despacha um
adversário com um livro. John Wick vaga por Nova Iorque, fugindo dos membros dos
assassinos que querem o prêmio de 14 milhões de dólares por sua cabeça. Visto agora
pela segunda vez, achei o pior da trilogia. Keanu Reeves makes the best of his stoic persona in
this third edition of this series as extravagant as comic – in one of the scenes,
he kills an adversary with a book. John Wick wanders throughout New York, escaping
from the assassins who want the 14 million dollar prize for his head. Seen now
for the second time, I consider this one the worst of the trilogy. Prime.
AMOR, SUBLIME AMOR (WEST SIDE STORY, USA, 1961) – Robert
Wise e Jerome Robbins trazem para as ruas de Nova Iorque a tragédia de Romeu e
Julieta em forma de coreografia, canções e gangues de rua. Tudo dá certo, principalmente
por Natalie Wood, devastadoramente bela, e pelo furacão Rita Moreno, namorada de
Marlon Brando, na época. Apesar de longo demais, o musical impressiona pela visível
energia do elenco, a graça da maioria das canções e pela ousadia da adaptação. Robert Wise and Jerome Robbins bring to the streets of
New York the tragedy of Romeo and Juliet through choreography, songs and feuding
street gangs. Everything works, chiefly due to Natalie Wood – she is devastating
gorgeous – and the hurricane Rita Moreno, Marlon Brandon’s girlfriend at the
time. Despite being too long, the musical impresses by the visible energy of the
cast, the graceful songs and the boldness of the adaptation.
O CRIADO (THE SERVANT, UK,
1963) - Jovem rico (James Fox que, anos mais tarde, faria VESTÍGIOS DO DIA) acaba de comprar residência no centro de Londres e contrata criado (Dick Bogarde) para lhe auxiliar. A relação dos dois vai se tornando complexa e, aos poucos, a insubordinação começa a tomar proporções catastróficas, que resultam em uma estranha inversão de papeis. Experienced manservant Barrett starts working for foppish aristocrat Tony. Barrett slowly insinuates himself in the house and manipulates his master by slyly rearranging the décor. The arrival of Barrett's alluring and sexually permissive 'sister' fatally severs the class barriers and the boundaries between master and servant, as Tony succumbs to the will of his stronger adversary.
CORRIDA CONTRA O DESTINO
(VANISHING POINT, USA, 1971) – Um dos maiores clássicos da
década de 70, VANISHING POINT é um dos melhores road-movies de todos os tempos.
Todos os elementos da contracultura da época estão lá: o carro como símbolo de
liberdade, os hippies, a polícia repressora e falsamente moralista (veja a cena
em que um policial assedia uma mulher dentro da sua viatura – novamente o carro
como instrumento de poder), a estrada como mundo primal a ser explorado, o rock
na veia (além de outras substâncias estupefacientes). Barry Newman – talvez um
parente de Dustin Hoffman – é o motorista que, depois de tantas derrotas na
vida, se propõe a levar um carro em tempo recorde do Colorado a São Francisco,
na Califórnia e é ajudado por um DJ cego (Cleavon Little, estupendo). É um
filme que te dirige (entendeu, entendeu?) para os sonhos que compuseram os anos
70 nos Estados Unidos. One of the greatest classics of the 70s, VANISHING POINT
is one of the best road-movies ever. All the countercultural elements of the
time are present: the car as a symbol of freedom, the hippies, the repressive and
falsely moralist police force (check the scene of a police officer harassing a
woman inside his vehicle – again the car a tool of power), the road as a primal
world to be explored. In addition, rock and roll pumped into the veins (besides
other stupefacient substances). Barry Newman – maybe an unknown relative of
Dustin Hoffman - is the driver, beaten by so many losses in life, decides to
take a car in a record time from Colorado to San Francisco, California, helped
by a blind DJ (Cleavon Littlem superb). The movie drives (no pun intended) you
to the dream that made the 70s so fascinating in America.
JOHN WICK:CHAPTER 2 (JOHN WICK:
CHAPTER 2, USA, 2017) - Keanu Reeves não é um grande ator dramático. Nem
precisa. Seu “star quality” já basta para que ele preencha a tela e galvanize
os espectadores. Esse é um dos aspectos mais fascinantes do cinema. Na série
JOHN WICK, Reeves entrega o que promete: um ar de mistério, um jeito meio
arredio, uma inconformidade com a violência do mundo que, paradoxalmente, é
combatida, meio a contragosto por ele, com mais violência ainda. Ademais,
Reeves é quem melhor esterça os carros que dirige, e isso é uma atração à
parte. Keanu
Reeves is not a great dramatic actor, and there is no need for that. His star
quality is enough for him to fulfill the screen and galvanize the viewers. This
is one of the most fascinating aspects of the cinema. In the JOHN WICK series,
Reeves delivers what is expected: mystery, a kind of aloofness, inconformity
with the violence of the world that he paradoxally and unwillingly fights off.
Moreover, Reeves’ driving is an extra attraction.
JANGO, O FILME (BRASIL, 1984) – O documentário de Silvio Tendler refaz a trajetória política de João Goulart, o 24° presidente brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1º de abril de 1964. O documentário captura a efervescência da política brasileira durante a década de 1960 sob o contexto histórico da Guerra Fria. JANGO narra exaustivamente os detalhes do golpe e se estende até os movimentos de resistências à ditadura, terminando com a morte do presidente no exílio e imagens de seu funeral, cuja divulgação foi censurada pelo regime militar. Silvio Tendler’s documentary shows João Goulart’s political career, the 24th Brazilian president, unseated by a military coup in the first hours of April 1st 1964. The production captures the boiling political scenario of the national politics during the 60s from the historical context of the Cold War. The movie gives an accurate account of the coup and of the resistance movements to the dictatorship and show images of Jango’s funeral, whose coverage was censured by the military regime.
ERA
UMA VEZ EM HOLLYWOOD (ONCE UPON A TIME IN HOLLYWOOD, USA, 2019) – Emocionante
homenagem de Tarantino ao ambiente cinematográfico de Los Angeles e ao período em
que o cinema americano claudicava diante de novos desafios profissionais e estéticos.
Os personagens de Leonardo Di Caprio e Brad Pitt vão costurando as histórias quase
banais, até a noite em que Sharon Tate (Margot Robbie, com um sorriso que
deveria estar no Guiness), com todos os elementos da contracultura que marcou o
fim dos anos 60. Ainda não consegui entender as críticas negativas a um filme
que, no fundo, é uma homenagem aos sonhos que o cinema inspira. Heartfelt homage to the cinematographic environment of
Los Angeles and to the period in which the American cinema staggered because of
the new aesthetic and professional challenges. Leonardo Di Caprio and Brad Pitt’s
characters interweave almost banal stories that lead to the night of the
assassination of Sharon Tate (played by Margot Robbie, whose smile should be registered
on the Guinness Book), with all the contra cultural elements that marked the
end of the 60s. I still cannot understand the negative reviews of a movie that
is, after all, a deference to the dreams inspired by the cinema.
PROJETO FLÓRIDA (THE FLORIDA
PROJECT, USA, 2017) – Em meio aos motéis baratos e coloridos dos
arredores da Disneyworld, famílias fragmentadas tentam sobreviver, apesar das
precárias condições de um mundo desolador – sim, são poucos os filmes em que
vemos a pobreza terceiro mundista grassando em pleno solo americano. PROJETO
FLÓRIDA (esse era o nome inicial da antiga Disneylândia) é apresentado sob o
ponto de vista de uma menina de seis anos (a incrivelmente talentosa Brooklynn
Kimberly Prince) que, com sua vivacidade incomum, vai levando o espectador
através da profusão de cores e movimento que caracteriza a maior parte do
filme, até o desfecho previsível, mas intensamente emocionante para quem já
viveu perdas na vida. Willem Dafoe, num papel de gente comum (o que é incomum
para ele) tem um belíssimo desempenho, que foi indicado ao Oscar de
coadjuvante. Amidst cheap and colorful
motels in the Disneyworld whereabouts, fragmented families try to survive, despite
de poor conditions of a decadent world – only in a few movies; the American
poverty is openly shown. THE FLORIDA PROJECT (this is the first name for Disneyland)
is presented from a six-year-old girl’s point of view (the incredibly talented Brooklynn
Kimberly Prince), the movie leads the viewer through a profusion of colors and
movements until the predicable but poignant end, especially for those who had
losses in life. Willem Dafoe, in a role of an ordinary man (which is uncommon for
him) has a touching performance for which he has an Oscar nomination.