sábado, 22 de março de 2025

4689 - A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO (2024)


A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO (DANE-YE ANJIR-E MA’ABED, França/ Alemanha, 2024) – Um juiz de instrução está prestes a ser promovido. Enquanto isso, sua família anseia por este upgrade no seu estilo de vida, que possibilitará, por exemplo, entre outras coisas, a mudança para uma casa maior. É daí o ponto de partida do diretor Mohammad Rasoulof para um filme extraordinário, mostrando como a política e a religião fanatizada, sob a égide de um regime autoritário, podem desfigurar a alma de um país e, num nível mais profundo, as relações profissionais, pessoais e, principalmente, familiares. A restrição da liberdade imposta pelo governo teocrático iraniano, misturada à uma crença religiosa retrógrada fazem, naquele país, as pessoas enxergarem o mundo numa lógica unidimensional, sem questionamento, e isso é explorado de maneira magnífica pelo roteiro. Regimes autoritários, invariavelmente, sufocam as pessoas, mesmo as que se beneficiam deles, e essa abordagem perversa é mostrada no drama vivido pela família do juiz, numa sucessão de acontecimentos parecida como uma faca a retalhar o coração dos personagens e de quem assiste. A troca de marcha narrativa do entrecho final pode ser entendida como a forma com a qual Rasoulof demonstra a força da arte (e das decisões estéticas do diretor) para dar um fechamento a um drama aparentemente insolúvel da sociedade iraniana. Uma obra-prima. An investigating judge is about to be promoted. In the meantime, his family is looking forward to this upgrade in their lifestyle, which will make it possible, for example, among other things, to move to a larger house. Hence director Mohammad Rasoulof's starting point for an extraordinary film, showing how politics and fanatical religion, under the aegis of an authoritarian regime, can disfigure the soul of a country and, at a deeper level, professional, personal and, above all, family relationships. The restriction of freedom imposed by the Iranian theocratic government, mixed with a retrograde religious belief, make people in that country see the world in a one-dimensional logic, without questioning, and this is explored magnificently by the script. Authoritarian regimes invariably suffocate people, even those who benefit from them, and this perverse approach is shown in the drama experienced by the judge's family, in a succession of events similar to a knife tearing the hearts of the characters and of those who watch. The narrative shift of the final plot can be understood as the way in which Rasoulof demonstrates the strength of art (and the director's aesthetic decisions) to give closure to an apparently unsolvable drama of Iranian society. A masterpiece.